Vitória Para os Fracos
“Orando em todo o tempo com toda a oração e súplica no Espírito, e vigiando nisto com toda a perseverança e súplica por todos os santos”. Aqui temos um versículo que realmente coloca a oração no contexto de conflito espiritual com o inimigo. Os versículos anteriores descrevem nosso conflito com Satanás e os recursos que Deus nos providencia para que, embora fracos e vulneráveis, tenhamos a vitória. O ponto-e-vírgula no final de Efésios 6:17 mostra que o verso 18 faz parte essencial do ensino sobre a guerra contra “as hostes espirituais da maldade”, e a necessidade de tomar “toda a armadura de Deus”.
Às vezes pensamos em oração como se fosse algum tipo de calmante. Num sentido é, como, por exemplo, em Filipenses 4:6-7: “Não estejais inquietos por coisa alguma; antes as vossas petições sejam em tudo conhecidas diante de Deus … e a paz de Deus, que excede todo o entendimento, guardará os vossos corações e os vossos sentimentos em Cristo Jesus”. Porém, quando Paulo, no v.7, fala da “paz de Deus que guardará os vossos corações e sentimentos”, a palavra traduzida “guardará” quer dizer “guardar com guarnição de soldados”. Este fato indica que o coração e entendimento sempre estão sendo ameaçados pelo inimigo e precisam de proteção da paz de Deus, que vem pela oração.
Realmente, o v.18 mostra como e quando se trava essa batalha espiritual. Nas orações é que lutamos contra inimigos fortes e numerosos aliados com o diabo. Por causa disso, Paulo começa no v.10 dizendo: “Irmãos meus, fortalecei-vos no Senhor e na força do Seu poder”. Deus chama as “coisas fracas” para a salvação (1 Cor 1:27). O cristão está sempre fraco em si mesmo, porém no Senhor é mais do que vencedor (Rm 8.37).
Palavras como “todo”, “toda”, “todos”, “todas”, e “tudo”, ocorrem frequentemente na Epístola aos Efésios. Deus não faz as coisas pela metade; ele dá “todas as bênçãos” (1:3), usa “toda a sabedoria” (1:8) e “há de congregar em Cristo todas as coisas”. O cristão também deve fazer tudo “de todo o coração” (Cl 3.23).Neste versículo encontramos quatro afirmações absolutas:
- Orando em todo o tempo
- Com toda a oração e súplica
- Vigiando nisto com toda a perseverança
- Por todos os santos.
Vamos basear nossa meditação nestas afirmações.
1. Conquistando todo o momento para orar. Os momentos sem oração são justamente os momentos quando Satanás encontra sua oportunidade para atacar. Como podemos orar sem cessar? É claro que não é possível estar incessantemente na postura de oração formal. Porém, é possível, e necessário também, estar sempre numa atitude de dependência de Deus, e sempre pronto para expressar esta dependência em oração a Deus. Um exemplo notável disso é Neemias. Quando, de repente, surgiu a necessidade de tomar uma decisão importante, não foi possível ajoelhar-se para orar, pois estava na presença do rei Artaxerxes, a quem servia como copeiro-mor. Mas mesmo assim Neemias orou a Deus (Neemias 2:1-4). O próprio Senhor Jesus é o exemplo supremo disso. Quantas vezes Ele simplesmente levantava os olhos ao céu e falava com seu Pai, sem cerimônia e sem formalidade, porém nunca sem reverência e respeito (Hb 5:7). Para ele a oração era tão natural quanto a respiração. Ver todos os contratempos e problemas da vida como oportunidades para orar e falar com o Pai realmente transforma tudo … até poderia transformar tudo em ação de graças!
2. Utilizando todo método de oração. “Com toda a oração e súplica” demonstra como a oração é uma arma de muita utilidade. A palavra traduzida “oração” indica em sua raiz a ideia de aproximação de Deus. “Súplica” indica uma petição específica, uma necessidade que sentimos e que nos leva a clamar ao Senhor. Às vezes a oração é intercessão ou petição, às vezes é um clamor ou gemido, às vezes ação de graças e louvor. Que estejamos prontos e aptos para o uso da arma de “toda a oração e súplicas” para que sejamos vitoriosos na força do Senhor contra nosso inimigo poderoso.
3. Concentrando todo o esforço do coração. “…E vigiando nisto com toda a perseverança e súplica”. Como o soldado nunca deve dormir quando está de sentinela, o cristão nunca deve ter uma atitude relaxada em relação à oração, pois está numa situação de guerra contra as forças do maligno.
A palavra “vigiando” quer dizer não só olhar, mas sim, prestar bem atenção e estar acordado e pronto para qualquer emergência. Esta atitude de vigilância deve continuar sem cessar, como a expressão “com toda a perseverança” indica. Esta palavra “perseverança”, no original grego, quer dizer: “continuar firmemente numa coisa com atenção infatigável” (Dicionário de W. E. Vine), e mais uma vez a palavra “toda” dá ênfase à urgência e importância disso.
4. Intercedendo em favor de todo e qualquer cristão. “… por todos os santos”.
No capítulo 1 desta carta, Paulo afirma ser sinal de vida espiritual o fato de os irmãos de Éfeso terem amor “por todos os santos” . Em sua oração do capítulo 3, ele deseja o crescimento dos efésios, juntamente “com todos os santos”, no conhecimento do Senhor (3:18). Agora diz que devem orar com toda essa diligência “por todos os santos”. Infelizmente há muitas coisas que causam divisões entre os cristãos. Às vezes são apenas opiniões diferentes sobre questões que não têm muita importância. Às vezes são heresias e outros problemas que são mais difíceis, talvez, impossíveis de resolver. Porém, devemos continuar sempre orando por todos os santos. E realmente, quanto mais percebemos algum erro num irmão ou numa irmã, quer na doutrina quer na prática, tanto mais devemos orar por eles, pedindo que Deus os esclareça e os leve ao arrependimento.
Ilustração do Patriarca Jó. Em toda a Bíblia não há ninguém (fora do próprio Senhor Jesus) que experimentasse mais conflito com Satanás do que Jó, embora talvez Jó não soubesse a origem de suas aflições. Porém, podemos observar como Jó foi equipado com toda a armadura de Deus.
- O cinto da verdade: Jó falou de Deus o que era reto, Jó 42.7-8.
- A couraça da justiça: a grande preocupação de Jó era saber “como se justificaria o homem para com Deus?” (9:20).
- A preparação do Evangelho da paz: “apega-te, pois a ele, e tem paz” (22.21).
- O escudo da fé: disse Jó: “Ainda que me mate, n’Ele esperarei” (13.15).
- O capacete da salvação: Jó afirmou: “Sei que o meu Redentor vive” (19.25).
- A espada do Espírito: disse Jó: “As palavras da Sua boca prezei mais do que o meu alimento” (23.12).
Qual foi o resultado das provações de Jó? Ele foi assim preparado e equipado para orar e interceder em favor dos outros. Veja 42.8: “O meu servo Jó orará por vós”, e, (10): “O Senhor virou o cativeiro de Jó, quando orava pelos seus amigos”.
Pelos conflitos com Satanás, e pela armadura que recebemos do Senhor, nós também estamos sendo preparados para sermos ainda mais úteis na preciosa obra da intercessão. Portanto, estejamos “orando em todo o tempo, com toda a oração e súplica no Espírito, e vigiando nisto com toda a perseverança e súplica por todos os santos”.
Terry Julian Blackman