Cada um de nós tem uma ideia própria sobre o que vem a ser uma vida agradável, e felizes são aqueles que sentem que a têm.
Mas a maioria da humanidade sente que o prazer de viver está sendo prejudicado por lembranças ruins e remorsos do passado, sentimento de inadequação e injustiça no presente e temor das incertezas e ameaças do futuro. Por mais esforços que façam, mesmo procurando a ajuda de médicos, conselheiros e psiquiatras, não encontram tranquilidade.
A Bíblia nos informa que o ser humano se compõe de três partes, interligadas enquanto estamos vivos aqui na terra, e a sua ordem de importância é:
- O espírito: a parte mediante a qual o homem pode se comunicar com Deus (Romanos 8:16);
- Depois a alma: é a vida que anima o corpo, incluindo suas emoções, desejos, afeições e inclinações (João 12:27);
- E por fim o corpo que Paulo chama de “nossa casa terrestre” (2 Coríntios 5:1).
Devido à nossa humanidade tendemos a dar importância a essas três partes em ordem inversa, colocando em primeiro lugar a saúde do corpo, em seguida a satisfação dos sentidos, deixando por último a comunhão com Deus. O resultado é que mesmo se o corpo estiver saudável, a alma estará insatisfeita e o espírito “morto”. Não é uma vida agradável.
O corpo é mortal e todos sabem que um dia ele se desfará. Quem procura tratar somente do seu corpo, por mais sucesso que tenha este será prejudicado se não acertar também as emoções, desejos, afeições e inclinações da sua alma. Ao procurar fazer também isto, encontrará um obstáculo que vai lhe parecer intransponível, pois o seu espírito está “morto”: não tem comunhão com Deus.
Esta é a “morte” do espírito, também chamada “morte espiritual”. É a ela que o apóstolo Paulo se refere em Efésios 5:14: “Pelo que (o Senhor) diz: Desperta, tu que dormes, e levanta-te dentre os mortos, e Cristo te iluminará”, uma adaptação de Isaías 26:19 e 60:1.
Quem for sábio e procurar ter uma vida realmente agradável, deve acertar essas três partes na ordem de importância que Deus nos indica.
O primeiro passo essencial para a felicidade é a ressurreição do espírito que se encontra “morto”, mediante a restauração da comunhão com Deus. Essa ressurreição requer como que um novo nascimento gerado pelo Espírito Santo de Deus. É efetivada mediante a conversão do pecador (que somos todos) a Jesus Cristo, recebendo-O como seu Senhor e Salvador. O pecador terá a partir de então um espírito novo, vivo por toda a eternidade, Deus o adota como seu filho, e é incluído entre os “eleitos” de Deus para usufruir uma série de privilégios e benefícios, e assumir responsabilidades decorrentes dessa posição.
Em sua primeira carta, o apóstolo Pedro dirigiu-se aos judeus cristãos dispersos por várias províncias romanas no seu tempo. Perseguidos e maltratados por aonde iam, por serem peregrinos em terras estranhas, judeus, e por cima ainda, cristãos, poderiam pensar que eram os mais infelizes entre os homens. Sua vida não era agradável, mas já tinham dado o primeiro passo.
Pedro, também judeu, cristão, perseguido e maltratado como eles, lhes deseja “graça e paz”: “graça” é o favor não merecido que Deus concede e “paz” é relacionada com o bem estar e a tranquilidade interna (do espírito). É o fundamento da vida agradável apresentada na conclusão deste artigo.
O segundo passo essencial para a felicidade é a correção da “alma”, também referida na Bíblia como o “coração”. A experiência humana pode fornecer algumas lições, mas a melhor fonte de informação é inegavelmente a Palavra de Deus, “porque a palavra de Deus é viva e eficaz, e mais cortante do que qualquer espada de dois gumes, e penetra até a divisão de alma e espírito, e de juntas e medulas, e é apta para discernir os pensamentos e intenções do coração (Hebreus 4:12).
O apóstolo Paulo esclarece em sua carta aos cristãos colossenses: “Revesti-vos, pois, como eleitos de Deus, santos e amados, de coração compassivo, de benignidade, humildade, mansidão, longanimidade, suportando-vos e perdoando-vos uns aos outros, se alguém tiver queixa contra outro; assim como o Senhor vos perdoou, assim fazei vós também. E, sobre tudo isto, revesti-vos do amor, que é o vínculo da perfeição. E a paz de Cristo, para a qual também fostes chamados em um corpo, domine em vossos corações; e sede agradecidos. A palavra de Cristo habite em vós ricamente, em toda a sabedoria; ensinai-vos e admoestai-vos uns aos outros, com salmos, hinos e cânticos espirituais, louvando a Deus com gratidão em vossos corações. E tudo quanto fizerdes por palavras ou por obras, fazei-o em nome do Senhor Jesus, dando por ele graças a Deus Pai… etc”. (Colossenses 3:12-17).
Paulo ensina “tende em vós aquele sentimento que houve também em Cristo Jesus” (Filipenses 2.5). Jesus Cristo sofreu e morreu fisicamente pelo pecador que se converte, e assim ele cessa (ou é libertado) dos seus pecados. Não obstante, o crente ainda é capaz de cair em pecado, mas já não é mais dominado por ele, nem continua a ter vontade de pecar. Nutrindo em si o amor pelos outros, o crente deixa de ser incitado pelas ambições do mundo à medida que vive o resto do seu tempo neste mundo, mas vive para a vontade de Deus, em obediência a Ele (Romanos 12.1,2). É essencial estudar a Sua Palavra a fim de saber a Sua vontade, de modo que, permitindo que o Espírito de Deus o encha, possa viver para a retidão.
Tendo ressuscitado o seu espírito, e se exercitado na correção da alma, o cristão passa a ter um grande alvo em sua vida: ser agradável ao Senhor Deus. Para atingir esse alvo, ele aprende que terá que “apresentar o seu corpo como …um sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o seu culto racional” (Romanos 12:1). Vai cuidar do seu corpo, evitar poluição física e atividades não condizentes com ele porque agora é o santuário do Espírito Santo, e em seu corpo vai glorificar a Deus (1 Coríntios 6:18-20). É por isso que o crente se afasta dos vícios, que dominam e adoecem o seu corpo, e não participa de jogos e atividades violentas e agressivas que podem danificá-lo.
Finalmente, temos o mandamento “Não reine, portanto, o pecado em vosso corpo mortal, para obedecerdes às suas concupiscências; nem tampouco apresenteis os vossos membros ao pecado como instrumentos de iniquidade; mas apresentai-vos a Deus, como quem voltou da morte para a vida, e os vossos membros a Deus, como instrumentos de justiça” (Romanos 6:12-13).
Levando em conta estas ponderações, podemos agora refletir um pouco no que consiste uma “vida agradável”. Assumimos aqui que tratamos de vida agradável para quem a vive, portanto deve ser livre daquilo que o desagrada e cheia daquilo de que gosta. A vida aqui na terra é de duração indeterminada e ninguém pode prever o que lhe virá antes de morrer. Resta uma luta constante para afastar o que é desagradável e conquistar o que agrada. A satisfação nunca será completa ou duradoura.
Felizmente existe outra alternativa: preparar para uma nova vida com o nosso Criador, que nos é oferecida gratuitamente. Sua promessa é de uma vida eterna, em comunhão com Ele numa posição como de filhos adotivos. Está muito além da nossa imaginação. Por outro lado, enquanto vivermos aqui, que é relativamente pouco tempo, estaremos sujeitos a muitas provações e dissabores. Se andarmos segundo o amor, em justiça, na paz e na alegria do Espírito Santo servimos a Cristo, somos agradáveis a Deus e aceitos aos homens (Romanos 14:15-18). Poderá ser uma vida agradável, apesar dos dissabores, mas estaremos nos preparando para uma vida muito melhor ainda, com o Senhor Jesus. “Se é só para esta vida que esperamos em Cristo, somos de todos os homens os mais dignos de lástima” conforme afirma Paulo em 1 Coríntios 15:19. Mas que não seja assim, e confiemos firmemente na autoridade da Palavra de Deus.
Richard David Jones