Verdadeiramente Comendo a Carne de Jesus
“Respondeu-lhes Jesus: Em verdade, em verdade vos digo: se não comerdes a carne do Filho do Homem e não beberdes o seu sangue, não tendes vida em vós mesmos. Quem comer a minha carne e beber o meu sangue tem a vida eterna, e eu o ressuscitarei no último dia. Pois a minha carne é verdadeira comida, e o meu sangue é verdadeira bebida. Quem comer a minha carne e beber o meu sangue permanece em mim, e eu, nele” (Jo 6:53-56).
Nosso Senhor Jesus, nesta passagem, não alude à Ceia do Senhor, como alguns que, desejando manter suas superstições sacramentais, ousaram afirmar! Eu não vou me apoiar no argumento de que não havia ainda a Ceia do Senhor no momento para que se fizesse alusão a ela, por mais que haja certa força nessa ideia, mas eu prefiro lembrá-los que tal interpretação desta passagem não seria verdadeira. Deve-se confessar, mesmo pelo mais ardente advogado do significado do sacramento, que as expressões usadas por nosso Senhor não são universalmente e, sem exceção, verdadeiras se usadas nesse sentido, pois não é verdade que aqueles que nunca tomaram a Ceia do Senhor não têm vida em si mesmos, já que se diz em todos os lugares que centenas de milhares de crianças mortas na infância são, sem dúvida, salvas, e elas nunca comeram a carne de Cristo nem beberam Seu sangue, se a Ceia do Senhor é aqui mencionada.
Houve também muitos outros em tempos passados que, por sua conduta, provaram que a vida de Deus estava em suas almas, e eles não puderam comer o pão do altar, por causa de doenças, excomunhão, prisões e outras causas. Certamente há outros, mesmo que eu não os tenha por escusados, que negligenciaram vir àquela ordenança comemorativa abençoada, e ainda, entretanto e apesar disso, eles são verdadeiramente filhos de Deus. Poderia o maior dos maiores homens da igreja enviar qualquer Quaker, mesmo o mais santo e devoto, para o abismo sem fim? Se este texto realmente se referisse à Ceia do Senhor, então é certo que o ladrão que morreu na cruz com Jesus (Lc 23:39-43) não poderia entrar no céu, pois ele nunca se sentou na mesa da comunhão, mas se converteu na cruz – e sem Batismo ou Ceia do Senhor – foi direto com seu Mestre ao Paraíso!
Nunca ninguém poderá provar, sim, é totalmente falsa a ideia de que ninguém tem vida eterna se não recebeu o pão e o vinho da mesa da comunhão. Por outro lado, é certamente e igualmente inverídico que qualquer que comer a carne de Jesus tem vida eterna, se por isso se entende por qualquer pessoa que toma parte na Eucaristia, pois há recebedores indignos, não um ou outro, mas a serem achados aos milhares. Aliás, há apóstatas que deixam a mesa do Senhor pela mesa dos demônios e profanam o Santo nome que uma vez professavam amar! Há também muitos que receberam o pão e o vinho do sacramento e vivem em pecado – que aumentam seu pecado por ousarem vir à mesa e que, tememos, morrerão nos seus pecados como muitos outros.
Não-regenerados estão muito aptos a considerar como grande coisa o sacramento e nada de Cristo. Eles valorizam muito o pão e o vinho do (suposto) “altar”, mas eles nunca souberam o que é comer a carne e beber o sangue de Cristo. Esse comer e beber indigno – carnalmente comendo pão, mas não espiritualmente comendo a carne do Redentor – para eles a ordenança é mais uma maldição que uma bênção. Nosso Senhor não se referia à refeição de Sua ceia, e sua linguagem não sustenta tal interpretação. É evidente que os judeus não compreenderam o Salvador e pensara que Ele se referia ao comer Sua carne literalmente. Não admira que eles se escandalizem por tal discurso, pois, entendido literalmente, é horrível e revoltante ao máximo!
Mas mais admirável é o fato de que há milhões de pessoas que aceitam erro tão monstruoso como verdade e acreditam em literal alimentação com o corpo do Senhor Jesus! Esse é provavelmente o ponto mais alto de absurdo profano que a superstição jamais alcançou – acreditar que tal ato de canibalismo como implicaria o comer literalmente a carne de Cristo poderia prover graça à pessoa culpada de tal horror! Enquanto pasmamos que os judeus compreenderam tão mal o Salvador, pasmamos mil vezes mais que existe na face da terra homens em seu senso ainda não submetido a um sonho lunático que se prezam por defender tal erro assustador das Sagradas Escrituras e, ao invés de ficarem escandalizados, como os judeus ficaram, por um discurso medonho, na verdade consideram seu uma doutrina vital de sua fé – que eles literalmente devem comer a carne de Cristo e beber Seu sangue!
Irmãos e irmãs, se fosse possível que Nosso Senhor requeresse de nós acreditar em tal dogma, certamente exigiria o esforço de credulidade mais estupendo da parte de um homem razoável – e o deixar de lado todas as decências da natureza. De fato, pareceria ser necessário, antes que você pudesse se tornar cristão, que você devesse se livrar totalmente de sua razão e humanidade! Certamente seria um Evangelho mais adequado a selvagens e loucos que para pessoas em perfeito juízo e à parte do barbarismo absoluto! Eu realmente questiono se as guerras civis na África se usam de práticas tão antinaturais.
Não nos é exigido, entretanto, acreditar em algo tão impossível, tão degradante, tão blasfemo, tão horrorizante a toda decência da vida! Nenhum homem jamais comeu a carne de Cristo ou bebeu Seu sangue em um sentido literal e corporal. Um ato tão bestial, não, tão demoníaco, nunca aconteceu, nem poderia. Não, irmãos, os judeus estavam em erro – eles cometeram o engano de tomar literalmente o que Cristo expressou espiritualmente. Totalmente cegos como resultado da incredulidade, eles tropeçaram no meio-dia como se estivessem de noite e se recusaram a ver o que havia sido explanado tão claramente. O véu estava em seus corações. Ah, quão pronto está o homem a perverter as Palavras do Senhor!
Eu creio que se Cristo tivesse a intenção de ser literal, então os judeus teriam espiritualizado Seu discurso, mas tal é a perversidade da mente humana, que quando Ele falou espiritualmente então imediatamente eles interpretaram-no de uma maneira carnal e grosseira. Não vamos cair no mesmo erro deles, mas que a Graça Divina nos leve a ver que as Palavras de nosso Senhor são espírito e são vida. Não vamos nos prender nas cadeias da letra que mata, mas seguir o espírito que vivifica. O significado espiritual é suficientemente claro para o homem espiritual, pois a ele pertence o discernimento espiritual. Mas para o não-regenerado, essas coisas são ditas em parábolas, porque, vendo, não veem; e, ouvindo, não ouvem, nem entendem (Mt 13:13).
Nosso primeiro objetivo será, o que significa, então, comer a carne e beber o sangue de Cristo? E nosso segundo ponto de inquirição deverá ser, quais as virtudes deste ato?
I. Primeiro, então, O QUE SIGNIFICA COMER A CARNE E BEBER O SANGUE DE CRISTO? É uma metáfora muito linda e simples, quando entendida como se referindo espiritualmente à Pessoa de nosso Senhor. O ato de comer e beber são transferidos do corpo à alma e a alma é apresentada como se alimentando – se alimentando de Jesus como o Pão da Vida. Comer é interiorizar dentro de si algo que está fora, que você recebe dentro de si e se torna uma parte de você e é usada para a sua construção e sustento. Esse algo supre uma grande necessidade da sua natureza e quando você o recebe, renova a sua vida. Essa é a essência da metáfora e bem descreve o ato e resultado da fé.
Para comer a carne e beber o sangue de Cristo, primeiro, precisamos crer na realidade de Cristo – não podemos tê-lo como um mito, uma personagem imaginária, uma invenção de gênio, ou uma concepção da mente Oriental, mas devemos acreditar que uma Pessoa como tal atualmente e de forma real viveu e ainda vive. Devemos crer que Ele era Deus e ainda assim condescendeu a encarnar na terra e aqui viveu, morreu, foi sepultado e ressurgiu. “Se não comerdes a carne do Filho do Homem e não beberdes o seu sangue”. É uma forma de expressar a existência atual e verdadeiro materialismo do corpo do Senhor e a certeza e veracidade de Sua existência em natureza humana. Você não pode ser salvo a não ser que creia em um Cristo histórico, uma Pessoa real…
Havia um homem, um homem real,Que uma vez no Calvário morreu,E veios de sangue e águaPelo seu lado ferido desceram
Essa mesma Pessoa, em Sua própria Personalidade, ascendeu aos céus. Ele agora está sentado à destra do Pai e certamente virá, não tardará, para ser o Juiz dos vivos e mortos. Não devemos usar os termos, carne e sangue, a não ser que queiramos indicar uma Pessoa – tal linguagem não descreveria a criação de um sonho, um fantasma, ou um símbolo. Antes de tudo, para você ser salvo, você precisa crer em Jesus Cristo, o Filho de Deus, como tendo se manifestado em natureza humana entre os filhos dos homens. “O verbo se fez carne e tabernaculou entre nós”, e os Apóstolos declaram que eles viram a Sua glória, glória como do unigênito do Pai, cheio de graça e verdade” (Jo 1:14).
Devemos crer não somente na realidade do Salvador, mas na realidade da Sua encarnação, entendendo que enquanto ele era divino, Ele era humano, também, que Ele não assumiu natureza humana em aparência externa, como certos hereges têm dito, mas que Cristo veio em carne e, como tal, foi ouvido, visto, tocado e segurado. Ele foi, em um corpo mesmo, realmente pendurado no madeiro, foi realmente levado à cova. Tomé, de verdade, pôs seu dedo nas feridas dos cravos e pousou sua mão no Seu lado. Devemos crer que Ele certamente e sem sombra de dúvida levantou de entre os mortos e que em Seu próprio corpo real, Ele ascendeu aos céus. Não devem restar dúvidas acerca desses fatos fundamentais. Se queremos nos alimentar de Cristo, Ele deve ser real a nós, pois um homem não come e bebe sombras e fantasias.
Devemos também verdadeiramente acreditar na morte do Filho de Deus Encarnado. A menção de Sua carne como comida, fora Seu sangue que é bebida, indica morte. O sangue está na carne enquanto há vida. Sua morte é mais que subentendida no quinquagésimo primeiro verso de João 6, onde nosso Senhor diz, “e o pão que eu darei pela vida do mundo é a minha carne”. Irmãos e irmãs, nós devemos acreditar na morte do nosso Senhor pois ela alcança a expiação do pecado, para que a fé se alimente do Seu corpo como dado pela vida do mundo.
Há alguns que professam crer na vida de Cristo e eles O tem como um grande exemplo que nos salvará do egoísmo e outras maldades se O seguimos. Tal não é o ensino do texto – a bênção da vida eterna não é dada aos que seguem o exemplo de Cristo, mas aos que comem e bebem Seus carne e sangue, ou, em outras palavras, interiorizando Cristo em si mesmos! E a promessa não é feita para que se receba Seu exemplo ou Sua doutrina, mas Sua Pessoa, Sua carne, Seu sangue – Sua carne e sangue separados e, portanto, Ele como morto por nós e feito Sacrifício por nós. Assim como nas ofertas pacíficas o ofertante sentava e comia com o sacerdote a vítima que ele apresentou, assim Jesus Cristo, nosso Perdoador, é sacrificado por nós e devemos nos alimentar d’Ele como o Cordeiro de Deus, recebê-Lo no Seu Caráter sacrificial e propiciatório, dentro de nossas almas.
É vão esperar por salvação em qualquer outra coisa! O Pai estabeleceu Ele como uma propiciação através da fé no Seu sangue. Se O recusarmos nesse Caráter, Cristo se nos torna inútil. Cristo o Exemplar não poderá salvá-lo se você O rejeitar como o Cristo que ofereceu Sua cabeça para a morte, mesmo a morte de cruz, sofrendo no lugar do Seu povo. Cristo como Rei não pode salvá-lo enquanto você não acreditar em Cristo como uma Vítima. Isso é absolutamente necessário à fé salvadora – a não ser que você coma Sua carne e beba o Seu sangue, qual seja, aceitá-Lo em Sua verdadeira Personalidade, oferecido como Sacrifício pelo pecado, você não tem vida em si mesmo!
Isso é o que há para ser crido. Mas para comer, um homem não apenas crê que há pão à sua frente e aceita que o pão é alimento próprio a seu corpo, mas a próxima coisa que faz é se apropriar dele. Essa é uma parte importante no ato de se alimentar de Cristo. Como um homem, ao comer, dá as mordidas, as engole e diz, “isso é pão e creio que traz vida ao corpo e então deverá trazer vida a mim, e eu o tomo para ser meu pão”, assim devemos fazer com Cristo. Queridos irmãos e irmãs, devemos dizer, “Jesus Cristo foi feito propiciação pelos pecados, Eu O aceito como Propiciação do meu pecado. Deus O deu para ser o fundamento sobre o qual os pecadores devem construir sua esperança. Eu o tomo como o Fundamento das minhas esperanças. Ele abriu uma fonte para o pecado e para o imundo. Eu venho a Ele e desejo lavar o meu pecado e minha imundície na fonte do Seu sangue”.
Você não pode comer, evidentemente, a não ser que você faça a comida sua. De fato, nada é mais especificamente de propriedade de um homem do que aquilo que ele comeu – sua possessão daquilo não pode ser negada, nem se pode tirar dele. Assim você deve tomar Cristo para que Ele seja seu tanto quanto o pão que você come ou a água que bebe – Ele deve, sem restar dúvidas, ser seu pessoalmente e interiormente. Olhando para Ele em cima, na cruz, você deve dizer, “Salvador dos pecadores, aqueles que confiam em Ti são remidos. Eu também confio em Ti como meu Salvador e estou, assim, certamente redimido pelo Seu preciosíssimo sangue”. Comer consiste, em parte, em se apropriar da comida e assim, a não ser que você se aproprie da carne e do sangue de Cristo para ser sua esperança pessoal e confiança, você não pode ser salvo.
Eu me concentrei por hora em uma apropriação pessoal, pois cada homem come por si mesmo, e por mais ninguém. Você não pode comer por ninguém a não ser por si mesmo. E assim, ao tomar Cristo, você O toma para si. Fé é uma ação e responsabilidade sua – ninguém pode crer por você, nem tampouco você pode crer salvificamente por outro. Eu falo isto com reverência – o Espírito Santo, ele mesmo, não pode crer por nós, apesar de Ele poder, e de fato o faz, nos levar a crer. E, na verdade, se o Divino Espírito cresse por nós, nós não poderíamos obter a promessa, pois ela não é feita para a fé por procuração, mas somente para a fé pessoal. Não somos passivos na fé – devemos ser ativos e realizar o ato pessoal de se apropriar do Senhor Jesus para ser a comida e bebida da nossa alma.
Esse crer em Jesus e se apropriar d’Ele deve ir além para explicar o que significa comer Sua carne e beber Seu sangue. Comer e beber também consistem principalmente em receber. O que um homem come e bebe, ele apropria para si, e isso não por colocar em algum baú ou cofre, mas por receber em si mesmo. Você se apropria de dinheiro e coloca em seu bolso – poderá perdê-lo. Você faz o seguro de um pedaço de terra e descansa sobre isso, mas seu descanso poderá acabar. Mas quando você recebe, ao comer e beber, você colocou aquelas coisas boas aonde você nunca será roubado delas! Você as recebeu no sentido mais verdadeiro e seguro da palavra, pois você tem real possessão e usufruto dentro de si mesmo.
Agora, poder dizer, ‘Cristo é meu’, é uma bem-aventurança. Mas realmente tomar Cristo dentro de si por um ato de fé é a vitalidade e o prazer da fé! Ao comer e beber, o homem não é um produtor, mas um consumidor – Ele não é um doador ou entregador, mas ele simplesmente toma para si. Quando uma rainha come, quando uma imperatriz come, ela se torna tanto recebedora quanto o miserável na casa de trabalho. Comer é um ato de receber em todos os casos. E é, pois, com a fé – você não tem de fazer, ser, ou sentir, mas apenas receber! O ponto da salvação não é algo que vem de você, mas o receber algo para você, Fé é um ato que o pecador mais miserável, o pecador mais vil, o mais fraco, o mais condenado pode realizar pois não é um ato que requer qualquer poder de sua parte, nem o desenvolver de algo dele, mas o simples receber em si mesmo!
Um vaso vazio pode receber e receber tudo mesmo porque está vazio. Oh, alma, você deseja ardentemente receber Jesus Cristo como o presente da misericórdia divina? Você, hoje, diz, “Eu assim o recebi?”. Se é assim, você comeu Sua carne e bebeu Seu sangue! Se você recebeu o Deus Encarnado em sua alma, de tal forma que agora você confia n’Ele e n’Ele somente, então você comeu Sua carne e bebeu Seu sangue! O processo de comer envolve ainda outra questão que eu dificilmente chamaria de uma parte dele, mas que está indissoluvelmente conectada com ele, a saber, a assimilação. O que é recebido, ao comer, desce às partes de dentro e lá é digerido e tomado para o corpo. Da mesma forma, a fé recebe e absorve dentro do homem o Pão que desceu dos céus, Cristo Crucificado. “Mas a palavra que ouviram”, lemos em Hebreus 4:2, “não lhes aproveitou, visto não ter sido acompanhada pela fé naqueles que a ouviram”. No original, há a ideia de comida sendo levada dentro do corpo, mas que não chega a se misturar ao suco gástrico e, consequentemente, permanece indigesta, não-assimilada, sem proveito e até maléfica. Fé é para a alma o que o suco gástrico é para o corpo – tão rápido quanto Cristo é recebido dentro do homem, fé começa a agir sobre Ele – para extrair nutrientes de Sua Pessoa, obras e ações. E então Cristo começa a ser levado ao entendimento e ao coração, edifica todo o sistema do homem e se torna parte e natureza do homem renovado.
Assim como o pão, ao ser comido, se dissolve e é absorvido e depois se torna sangue e flui por todas as veias e ajuda a construir o corpo, assim também Cristo faz à alma. Ele se torna nossa vida e entra misteriosamente em vital união conosco. Como o pedaço de pão que comemos ontem não poderia, agora, ser retirado de nós, pois é parte de nós agora, assim também Jesus se torna um conosco. Você comeu o pão ontem e onde ele está agora nenhum filósofo poderia dizer. Parte dele poderia ter ido formar o cérebro e outras partes formar os ossos, tecidos e músculos. Mas sua substância se tornou sua substância, de tal forma que o pão habita em você agora e você nele, visto que ele constrói sua casa corporal.
Isso é se alimentar de Cristo – tomá-Lo de tal forma que sua vida está oculta n’Ele, até você crescer e ser como Ele – até sua própria vida ser Cristo e o grande fato de que Jesus viveu e morreu se torna a mais elevada Verdade de Deus debaixo dos Céus para a sua mente – guiando toda a sua alma, tomando o controle e então a elevando ao mais alto posto. “Pois o amor de Cristo nos constrange, julgando nós isto: um morreu por todos; logo todos morreram. E Ele morreu por todos, para que os que vivem não vivam mais para si mesmos, mas para aquele que por eles morreu e ressuscitou” (II Cor 5:14-15). Tal qual as flores se alimentam da luz do sol até estarem pintadas com as cores do arco-íris, assim recebemos o Senhor Jesus até nos tornarmos atraídos com Sua formosura e Ele vive, de novo, em nós! Isso é comer Sua carne e beber Seu sangue.
Mas agora eu farei uma série de comentários, um pouco fora de ordem, tendo em vista apresentar esse comer e beber misterioso em uma forma mais clara. Observe que Cristo é tão necessário a alma quanto o pão é para o corpo. Comida e bebida são requisitos absolutos – e assim você deve ter Cristo, ou você não pode ter vida no real sentido da palavra. Prive o corpo de comida, e ele morrerá – negue Cristo a um homem e ele está morto enquanto vive! Há em nós um desejo natural por comida e bebida, um apetite que nasce da necessidade e nos lembra – devemos trabalhar para ter um apetite tão grande por Cristo! Sua sabedoria está em saber que você precisa ter Jesus como seu Salvador pessoal e ao perceber isso você perecerá se não o receber! E está tudo bem com você se essa percepção lhe faz empregar todos os meios por Ele. Tenha fome dEle! Tenha sede dEle! Bem-aventurados os que têm fome e sede d’Ele, pois ele irá saciá-los.
Comida e bebida realmente satisfazem. Quando um homem ingere pão e água, tendo comido o suficiente, ele tem o que sua natureza requer. A necessidade é real e é também real a sua satisfação. Quando você ingere Cristo, seu coração obtém exatamente o que precisa. Você não pode, por si mesmo, saber quais são as necessidades da alma, mas sabendo ou não sabendo, suas necessidades todas serão supridas na Pessoa de Jesus Cristo. E se você O aceitar, tão certo quanto comida e bebida interrompem fome e sede, assim também Ele satisfará o anseio da sua alma.
Não deseje mais nenhuma outra satisfação além d’Ele e não busque nada além ou menos que Ele. Cristo é tudo e mais que tudo! Ele é comida e bebida, também. Contente-se com Ele e com nada menos que Ele. Tenha fome d’Ele mais e mais, mas nunca deixe Ele para gastar o seu dinheiro naquilo que não é pão, e o vosso suor, naquilo que não satisfaz (Is 55:2).
Amados, um homem com fome nunca se livra de sua fome falando sobre se alimentar, mas por comer. Assim também não falem tanto sobre Cristo quanto O recebam. Não olhe para as pilhas de comida e diga, “Sim, isso me satisfará – oh, se eu as tivesse”, antes, coma de uma vez. O Senhor o convida ao banquete, não para que você olhe, mas para que se sente e coma! Sente de uma vez! Não espere um segundo convite, mas sente-se e se alimente com o que é gratuitamente dado a você pela Pessoa de nosso Senhor Jesus Cristo. Você precisa que Ele forme em você a esperança do Céu – mas isso nunca ocorrerá enquanto você não receber Ele dentro de sua alma.
No comer saudável há prazer. Nenhuma pessoa saudável precisa ser convencida a comer, pois o paladar está consciente do prazer enquanto nos alimentamos – e de fato, ao nos alimentarmos de Jesus há uma doçura deliciosa que invade toda a alma. Reais são Seus pratos! Nada pode trazer mais prazer aos comedores imortais que Jesus agradando os crentes! Ele satisfaz a alma. Mil céus são experimentados no corpo e no sangue do Salvador. Se você algum dia perder o gosto por Cristo, com certeza você está sem saúde. Não pode haver sinal mais seguro de um estado triste do coração que não ter prazer no Senhor Jesus Cristo. Mas quando Ele é bem doce ao seu paladar. Quando mesmo uma palavra sobre Ele, como uma gota que cai do favo de mel, docemente sobre sua língua – então não há nenhum problema com você – seu coração vai muitíssimo bem. Mesmo que você esteja a ponto de desmaiar, é o desmaio da natureza, e não uma falha da graça! E se você se sentir doente, se é uma doença por Ele que sua alma ama, é então uma doença pela qual seria ótimo morrer!
Coma várias vezes já que nossos corpos vêm várias garfadas por dia – então vigie para que você tome parte da carne e do sangue de Jesus constantemente. Não se satisfaça por ter recebido Jesus ontem, mas o receba hoje também. Não viva com base no velho relacionamento ou experiências, mas vá a Jesus toda hora e não se contente até que Ele lhe encha de novo e de novo com Seu amor. Eu desejo que nós possamos nos tornar espiritualmente como certos animais que eu conheço que ficam no mercado e comem o dia inteiro e ainda durante a noite. Eu realmente me encheria de alegria ao possuir o apetite do carrapato do cavalo e nunca sentir que eu preciso parar! Feliz é o cristão que pode comer abundantemente da comida celestial, como sua esposa o alimenta, e nunca pára de comer enquanto Cristo está perto, mas continua comendo até adentrar bem na noite – e então acorda com o desejo de se alimentar do Pão do Céu!
É adequado estabelecer o quanto comer. As pessoas normalmente não têm vigor quando elas comem como podem sem ter refeições regulares. É adequado ter tempos estabelecidos quando você pode sentar à mesa e comer a comida de forma apropriada. Certamente, é sábio ter períodos certos de comunhão com Cristo, de meditar sobre Ele, para considerar Seu trabalho e receber Sua Graça. Com as crianças, vocês bem sabem, é “pequeno e constante”, e assim conosco, que seja preceito sobre preceito, preceito e mais preceito; regra sobre regra, regra e mais regra; um pouco aqui, um pouco ali (Is 28:10). Um lanche entre as refeições regulares geralmente cai muito bem ao homem que trabalha e assim, mesmo que você tenha tempos separados para estar sozinho com Cristo, não se negue uma “boquinha” no meio do caminho. Pegue um doce entre as refeições, e o leve à língua para adoçar a boca – um pensamento, um texto das Escrituras, ou uma preciosa promessa sobre Jesus.
Estou certo que posso dizer sobre alimentar-se de Cristo que nunca um homem foi culpado de glutonaria ao se alimentar do corpo e do sangue de Cristo. Quanto mais você come de Cristo, mas você pode comer d’Ele. Rapidamente enjoamos de qualquer comida, mas nunca do Pão do Céu! Constantemente nos encontramos doentes quando o assunto é o Senhor porque nós não nos alimentamos dele o quanto deveríamos, mas nunca podemos dizer que comemos demais. Quando o recebemos até nos enchermos, descobrimos que ele amplia nossa capacidade e estamos mais aptos a usufruir de Sua preciosidade.
Observe que o texto nos diz que o crente irá comer Sua carne e beber Seu sangue, para observar que Cristo é verdadeira comida e bebida. Ele é Tudo em Tudo, e Tudo em Um. Um homem não deve somente comer Cristo, deve também beber Cristo – o que quer dizer, ele não pode receber Cristo de uma forma somente, mas em todas as formas; não uma parte de Cristo, mas tudo de Cristo – Não somente a carne de Cristo como Encarnado, mas o sangue de Cristo como o Sacrifício oferecido e o Cordeiro sangrento. Você deve ter um Cristo inteiro e não um Cristo dividido! Você não recebeu de verdade a Cristo se você diz ter selecionado esta e aquela virtude n’Ele. Você deve abrir a porta e deixar um Cristo inteiro entrar e tomar posse da sua alma.
Você deve receber não apenas Seu trabalho, obras, Graças, mas Ele mesmo, Ele por inteiro. Aqueles que rejeitam o sangue de Cristo não recebem Graça de fato, pois o sangue tem menção especial. Oh, que duras fincadas eu ouvi dizer, mesmo há pouco, sobre aqueles que pregam o sangue de Cristo! Deixem-nos dizer se quiserem, é por sua própria conta e risco! Mas para mim, meus irmãos e irmãs, eu espero merecer a censura deles ainda mais e pregar o sangue de Cristo mais abundantemente, pois não há nada que possa dar satisfação à alma e calar aquela dura, forte sede que acomete nossa natureza, que não o sangue de Jesus como o Cordeiro que foi morto antes da fundação do mundo! (Ap 13:8).
Amados, é um doce pensamento que a carne e o sangue de Cristo é comida para toda ocasião. Ela serve para bebês na Graça e igualmente se adéqua aos anciãos. Ela serve cristãos doentes – eles não poderiam tem um bocado melhor – e serve os cristãos no vigor da sua força. É adequada para a manhã, para a noite, e para o meio-dia! É comida pela qual se vive e comida pela qual se morre – sim, aquele que a come não verá a morte eternamente! É comida para dias de festa e para dias em que choramos e nos lamentamos. É comida para o lugar inóspito e comida para os jardins reais – comida, eu já ia dizer, para o Céu mesmo – pois qual melhor comida nossas almas irão achar, mesmo lá, que Seus carne e sangue? E lembre-se que todo o povo de Deus é livre para comê-la – sim, e toda alma que tem fome é bem-vinda! Ninguém precisa perguntar se pode comer ou não. Está estabelecida como comida para todas as almas dos crentes, qualquer que tenha sido seu caráter anterior. Venham e sejam bem-vindas, venham e sejam bem recebidas, almas famintas, almas sedentas! Venham comer Sua carne e beber Seu sangue!
Tenho tentado mostrar, em tópicos, o que é comer Sua carne e beber Seu sangue. É receber inteiramente a Cristo dentro de si ao confiar-se a si mesmo inteiramente a Ele como um homem confia sua vida no pão que come e na água que bebe. Como vocês sabem que o pão irá alimentar vocês? Como vocês sabem que a água lhes dará sustento? Bem, vocês sabem por experiência – vocês experimentaram – e descobriram que pão e água lhes fazem bem. Porque vocês não comem do concreto de Paris? Porque vocês não bebem ódio? Vocês sabem bem porquê!
Vocês sabem que podem confiar no pão para lhes constituir e na água para lhes refrescar e, da mesma forma, vocês não comem de sacerdócio forjado e de falsas doutrinas, mas a bendita Pessoa e obra de Jesus Cristo em Sua vida e em Sua morte sacrificial. Vocês comem disso, pois sentem que podem se alimentar disso – essas são as delicadas provisões que suas almas amam!
II. Agora vamos considerar brevemente QUAIS SÃO AS VIRTUDES DE COMER E BEBER DE CRISTO. Olhem para as suas Bíblias, e no quinquagésimo terceiro verso vocês descobrem que esse ato é essencial. “Em verdade, em verdade vos digo: se não comerdes a carne do Filho do Homem e não beberdes o seu sangue, não tendes vida em vós mesmos”. É essencial, pois se você não possui vida em si mesmo, você não tem nada que seja bom. “Não tendes vida e vós mesmos”.
Vocês conhecem a moderna teoria de que há germes de vida em todo homem que apenas precisam de se desenvolver. A Paternidade Universal coloca algum bem em todos nós e o que Ele precisa fazer é educar-nos e trazer isso à tona. Essa é a noção filosófica, mas não é como Cristo nos apresenta! Ele diz, “se não comerdes a carne do Filho do homem e não beberdes o seu sangue, não tendes vida em vós mesmos”. Não, nenhum átomo de vida de verdade! Não há vida para ser educada. O pecador está morto (Ef 2:1) e nele não há nada bom. Se for para ele ter algo bom terá de entrar dentro dele – deve ser uma importação – e não poderá nunca vir até ele exceto em conexão com o comer a carne e beber o sangue de Cristo!
Mas suponha que um homem tenha muita convicção de pecado? Ele começa a ver o mal do pecado e se apavora com a ira vindoura. Isso é esperançoso, mas eu relembro solenemente todos os que estão neste estado, que se não comerdes a carne do Filho do Homem vocês não têm vida. Enquanto não crerem em Cristo, vocês não têm vida. Enquanto não tiverem se lavado no Seu precioso sangue, vocês continuam mortos em delitos e pecados. Oh, não se sintam satisfeitos porque sentem algumas convicções legais! Não sentem em gratidão porque vocês estão de alguma forma incomodados na mente! Você não se pode ter por satisfeito enquanto não receber a Cristo! Você NÃO TEM VIDA em si mesmo até ter recebido Cristo!
Mas talvez você tenha participado de cerimônias. Você se batizou e tomou os sacramentos. Sim, mas se você nunca comeu Cristo, O tomou dentro de si, você não tem vida em si mesmo! Você está morto enquanto vive! Agora, aqui há prova em nosso texto de que vida não quer dizer existência, como as pessoas hoje dizem, que, quando lêem, “o pecador morre”, dizem que ele deixa de existir. Homens ímpios têm existência em si, mas é algo totalmente diferente da vida eterna – e você nunca deve confundir existência com vida ou morte, com não-existência – Elas são coisas bem diferentes!
O homem não convertido, sem Cristo, não tem de fato vida em si mesmo. Vocês membros da Igreja, têm vida em vós mesmos – verdadeira vida? Vocês não têm se não comeram da carne de Cristo! Vocês podem ter sido por muitos anos professos, mas já alguma vez comeram Cristo e beberam Cristo? Se não, vocês NÃO têm vida em vós mesmos! Vocês podem ser excelentes pessoas morais. Seu caráter pode ser um padrão para os outros. Talvez tudo que haja em você seja lindo. Mas se Cristo não está no seu coração, você é o filho da natureza, vestido elegantemente, mas morto. Você não é o filho vivo da Graça – você é a estátua lindamente polida, mas, como no mármore frio, não há vida em você! Nada além de Cristo pode ser vida para a alma e as maiores excelências que a natureza humana pode alcançar sem Ele passam longe da salvação. Você PRECISA ter Jesus, ou a morte existe em você e você existe na morte!
Essa é a primeira virtude de se alimentar de Cristo, é absolutamente essencial. Agora, em segundo lugar, é vital. Leia o verso seguinte – “Quem comer a minha carne e beber o meu sangue tem a vida eterna, e eu o ressuscitarei no último dia”. Isso equivale a dizer que ele foi vivificado por receber dentro de si um Cristo inteiro – ele está, portanto, vivo! Por mais que ele seja levado, vez ou outra, a duvidar disso pelo estado do seu coração, se ele realmente recebeu a Cristo, ele foi ressuscitado de entre os mortos e está vivo! E ainda, ele sempre estará vivo, pois “tem a vida eterna”. Agora, uma vida que pode morrer evidentemente não é vida eterna e a vida que o arminiano obtém como resultado da fé, de acordo com seu próprio testemunho, não é vida eterna pois pode chegar a um fim.
Boa alma, eu sei que se ele realmente creu em Jesus, ele docemente irá descobrir o seu erro e sua alma vai seguir em tentação e tentativa, pois será nele, “uma fonte a jorrar para a vida eterna” (Jo 4:14). Será nele uma semente “incorruptível, mediante a palavra de Deus, a qual vive e é permanente” (I Pe 1:23). Oh, que creiamos na preciosa doutrina da Preservação Final dos Santos! “Quem comer a minha carne e beber o meu sangue TEM a vida eterna”. Ele a tem agora! É uma vida que durará tanto quanto Deus, Ele mesmo – eterna como o Trono de Javé!
E então, sobre o corpo, irá morrer, não? Sim, mas tal é o poder da vida que Cristo coloca em nós, que o corpo, ele mesmo, há de ressurgir! Temos a palavra de nosso Senhor empenhada nisso – “E eu o ressuscitarei no último dia”. Ainda que o corpo esteja morto por causa do pecado, pelo espírito vive para a justiça – mas há uma redenção vindo para esta pobre natureza – e para este mundo material em que vivemos. Quando Cristo vier, então a criação será liberta da condição em que foi presa e nossos corpos materiais, com o resto da criação, serão emancipados! Os corpos dos santos serão livres de toda imperfeição, corrupção e desvio! Viveremos, então, na imagem gloriosa de Cristo e o Senhor cumprirá Sua palavra graciosa, “eu sou a ressurreição e a vida. Quem crê em mim, ainda que morra, viverá” (Jo 11:25). Esse comer e beber de Cristo, então, é vital.
Em terceiro lugar é substancial, “Pois a minha carne é verdadeira comida, e o meu sangue é verdadeira bebida”. Isso entra em contraste com o caráter não substancial dos símbolos. Os judeus comendo dos sacrifícios eram uma mera sombra, “mas”, diz Jesus, “minha carne é verdadeira comida”. Isso também é dito em oposição à comida carnal. Comida carnal, sendo comida, apenas constitui o corpo e então desaparece, mas não toca a alma. Mas se alimentando de Cristo, a alma é alimentada e alimentada com vida eterna, de tal forma que Jesus afirma ser – verdadeira comida”.
Vocês já foram a uma ministração em que o pregador prega sobre tudo e qualquer coisa que não Cristo? Vocês ficaram alimentados? Bem, se vocês são avoados, talvez se emocionem com qualquer coisa que seja dita. Mas eu sei, se vocês são filhos de Deus, não importa quem pregue, ou quão pobre seja sua linguagem – se ele prega Cristo vocês sempre sentem como tendo sido alimentados – sua alma é satisfeita com as gorduras quando Cristo é o assunto! Não há comida para a alma que se compare a Cristo – e o frescor mais doce vem das partes mais fracas de Cristo – visto que a força de Deus é perfeita em Sua fraqueza!
Você me diz “o que você quer dizer?”. Bem, nosso Senhor, no texto, diz, “minha carne é verdadeira comida”, e não, “minha Divina cabeça”. “Meu sangue é verdadeira bebida”, não minha Ressurreição e Ascensão. Não “meu segundo advento”, mas minha fraqueza como homem, minha morte como homem, meus sofrimentos, meus lamentos, meus gemidos – essas são as melhores comidas para os crentes. Vocês não acham isso também? Oh, eu me regozijo com a segunda vinda de Cristo, mas há momentos em que essa doutrina não me dá um átomo de conforto! As estrelas mais brilhantes que servem de luz do dia para o peregrino ignorante são aquelas que queimam em volta da Cruz! Estranho é que nos voltemos àquele ponto aonde o sofrimento culmina para achar nosso mais puro conforto, mas assim é – “Minha carne é verdadeira comida” – Cristo em Sua fraqueza! “Meu sangue é verdadeira bebida” – Cristo derramando sua alma na morte (Is 53:12)! Essa é a mais verdadeira e a melhor comida para o coração!
Agora, irmãos, se vocês querem crescer na Graça, se alimentem de Cristo! Se vocês desejam se tornar fortes no Senhor, se alimentem de Cristo! Se você deseja aquele algo que lhe constituirá por inteiro, permanentemente e bem, se alimente de Cristo, pois outras coisas há que são comida e bebida, mas Sua carne é verdadeira comida, e Seu sangue é verdadeira bebida! É um prato substancial! E, por último, outra virtude dessa dieta é que produz união. Note no verso seguinte – “Quem comer a minha carne e beber o meu sangue permanece em mim, e eu, nele”. Que palavras maravilhosas – “permanece em mim”. Você obtém, ao ter Cristo em você como um Cristo inteiro, o viver em Cristo e Cristo em você!
Há essa diferença entre esses dois privilégios – viver em Cristo é a paz da Justificação. Você crê n’Ele, confia a si mesmo a Ele, você sente que morreu com Ele e ressuscitou com Ele (Rm 6:4) – que você subiu aos céus com Ele – e, assim, você é aceito nele e assim vive n’Ele! O Ele viver em você é outra coisa, a saber, a paz da Santificação, pois quando você se alimentou de Cristo, ele entrou em você e permanece em você, vivendo, de novo, em você. Ele fala pelos seus lábios, ama com seu coração, olha pelos seus olhos, trabalha com suas mãos e testemunha entre os filhos dos homens pela sua língua – Ele vive em você! Oh, estrondosa união! Bendita união!
O verso seguinte faz tudo ficar mais maravilhoso, ainda, pois diz “Assim como o Pai, que vive, me enviou, e igualmente eu vivo pelo Pai, também quem de mim se alimenta por mim viverá”. Três coisas vivas – o Pai que vive, o Filho que vive, e então o crente que vive. Há o Pai que tem vida em Si mesmo como Deus. E há o filho como mediador, Deus-Homem, que deriva sua vida do Pai. E então o crente, vivendo da vida que vem de Deus através de Jesus Cristo. Ó abençoada união é essa, não somente com Jesus, mas através de Jesus com o Pai! Assim Cristo diz, “porque eu vivo, vós também vivereis” (Jo 14:19). Ele vive pelo Pai e nós vivemos por Ele – e tudo isso porque nós o recebemos e nos alimentamos dEle!
Oh, meus irmãos e irmãs, eu lhes desafio, abram suas bocas amplamente para Cristo e O comam para si mesmos! Dêem a Ele um lote em vossos corações, sim, deixem Ele viver para sempre no melhor espaço da sua natureza, no lugar mais escondido da alma! Tenham fome dele! Se alimentem d’Ele todos os dias e quando o fizerem, e ele habitar em vocês a vocês n’Ele, então conte aos outros sobre Ele e espalhem Seu nome querido em todo lugar, para que pecadores famintos e perecendo saibam que há milho no Egito e pão para se receber em Cristo! E que muitos venham e comam e bebam d’Ele como vocês. Eu lhes constranjo, irmãos e irmãs, lembrem-se disso, e que o Senhor abençoe vocês, por amor do Seu nome. Amém!
Charles Haddon Spurgeon – Sermão entregue na manhã do dia do Senhor, 9 de Abril de 1876, no “The Metropolitan Tabernacle Pulpit”, Newington – Londres | Projeto Spurgeon.
Fonte: Traduzido do Original em inglês “Truly Eating the Flesh of Jesus”, de “Spurgeon Gems & Other Treasures of God´s Truth”.