Uso da Coreografia em Adoração

Existe base bíblica para permitir ou rejeitar a implantação de um grupo de coreografia para acompanhar o louvor nos cultos da igreja? Quando se diz que Davi dançou para o Senhor, isto significa que também podemos, ou não, incluir a coreografia em nossas reuniões? Antes de publicarmos nossa resposta, lemos as opiniões dadas nestes dias por diversos irmãos no Brasil e no exterior. Fizemos uma compilação delas, limitada apenas ao escopo das perguntas, e a transcrevemos a seguir, resumida pela premência de espaço. Um dos anciãos entre os nossos obreiros ponderou, sabiamente: “a boa interpretação das Escrituras e o bom senso é o que deve prevalecer para a glória e a honra do Senhor! “Assim seja!

Bases bíblicas para permitir a coreografia:

A Bíblia traz algumas menções de pessoas que dançaram em ocasião de alegria e festa, como Miriam (Ex 15:20) e Davi (I Cr 15:29), ou do povo de Deus se lamentar de não poder dançar por haver perdido o júbilo (Lm 5:15). Como toda expressão de comunicação, a música comunica alegria. Logo, a dialética recai não em cima da dança em si – o ‘se’. mas ‘a quem’ e ‘o que’ eu vou comunicar através da dança. Os que dançavam em louvor não dançavam PARA O POVO: eles dançavam PARA DEUS.

Qualquer expressão de louvor não deve ser dirigida A HOMENS, mas a Deus. E é Deus quem julga se o coração de quem dança é para Ele ou não. Não existe qualquer referência no Novo Testamento dizendo que os cristãos da igreja primitiva dançavam, assim como também não existe qualquer referência dizendo que eles usavam hinários e Bíblias impressos, ou que usavam batistérios nas igrejas, etc. O fato de uma prática não estar registrada no início da igreja não a desabona como prática abominável.

Bases bíblicas para rejeitar a coreografia:

Para que Deus aceite algo de nós (seja um sacrifício de louvor, algum serviço feito para Ele, etc.), além de uma atitude interna correta, é necessário um comportamento externo correto. As coreografias são algo que Ele não pediu! Essa prática pode nos levar para mais longe da simplicidade do modelo apresentado nas Escrituras (II Cor 11:3). Pode escandalizar alguns (I Cor 8:9, 10:32). O sacrifício de louvor é o fruto dos lábios que confessam o seu nome (Hb 13:15), portanto para que sejamos agradáveis a Deus a voz deve prevalecer ao som dos instrumentos.

A coreografia introduzida em algumas igrejas é imitação dos grupos do mundo, e não nos devemos amoldar a ele (Rm 12:1-2). A carne (Gl 5:13, 16-21), o mundanismo e Satanás impedem o perfeito louvor a Deus com o nosso corpo. Então devemos ter cuidado!

O exemplo de Davi significa que podemos segui-lo:

Não há absolutamente nada no texto e no contexto bíblico que nos leve a concluir que Davi teria praticado um ato mundano quando dançou diante do Senhor. O texto em questão ensina que ele “dançava com todas as suas forças diante do SENHOR”. Quando sua mulher o repreendeu ele respondeu que ainda mais desprezível ele se faria e se humilharia aos seus olhos perante o SENHOR (II Sm 6:21-22). Na nação de Israel a dança não só era usada no contexto de louvor a Deus como foi por Ele ordenada. Não podemos esquecer do Salmo 150 que diz ao povo de Israel onde e como louvar ao Senhor:

“Aleluia! Louvai a Deus no seu santuário; louvai-o no firmamento, obra do seu poder… louvai-o com adufes e danças… todo ser que respira louve ao SENHOR. Aleluia!” (Sl 150:1-6).

Lembremo-nos que toda a Palavra de Deus é inspirada. O exemplo de Davi não serve para nós, pois o vocábulo “dança” em II Samuel 6:14 vem da palavra hebraica “karar”, raiz primária que significa rodopiar. De nossa parte, ponderamos o seguinte:

Em adoração, bem como na apresentação do Evangelho, toda a glória deve pertencer ao Senhor. A doutrina bíblica proclama que todo o ministério cheio do Espírito Santo é focalizado em Deus, é modesto e não é exibicionista:

  • “não nos pregamos a nós mesmos, mas a Cristo Jesus, o Senhor” (II Cor 4:5);
  • “… é necessário que Ele cresça e que eu diminua” (Jo 3:30);
  • “… para que nenhuma carne se glorie perante ele” (I Cor 1:29);
  • “Eu sou o SENHOR; este é o meu nome; a minha glória, pois, a outrem não darei…”. (Is 42:8).

Ninguém pode se gloriar na presença do Deus onipotente. Ninguém pode ao mesmo tempo adorar a Deus e exibir-se. Na verdadeira adoração o individualismo deve retroceder e um crente em Cristo nunca deve adotar, imitar, divertir-se ou se entregar ao exibicionismo vão deste mundo. Devemos sempre estar de alerta contra a tendência humana de exaltar a carne, de sobre-estimar o homem e de servir-se a si próprio, de ser “mais amigos dos deleites do que amigos de Deus, tendo aparência de piedade, mas negando a eficácia dela” (II Tm 3:4).

A dança fazia parte da cultura dos israelitas (e ainda faz), sendo parte integrante das suas recreações e festas, mas não do seu culto no templo. Os eruditos nos informam que as danças de rodopios eram uma atividade comum nas aldeias, especialmente entre as crianças e os mais jovens, exigindo coordenação e dando uma imagem de energia, ação, entusiasmo e alegria, e como tal são mencionadas nos Salmos 149 e 150 (traduzidas como “flauta” na versão de Almeida).

A Bíblia também nos fala de mulheres dançando isoladamente ou em grupos como demonstração de alegria. Deve-se notar que nada tinham em comum com as danças e bailes de contato físico entre os sexos, nem com a “arte” da coreografia e drama “cristãos” de hoje. Não temos, portanto, exemplo de coreografia no templo no Velho Testamento para seguir, ou não, muito menos ainda no Novo Testamento.

Quanto à ocasião em que se alega que o rei Davi dançou, que alguns costumam usar como pretexto para dançar na igreja, lemos em II Samuel 6:14 “E Davi saltava com todas as suas forças diante do SENHOR” e, mais adiante, no versículo 16 “vendo o rei Davi, que ia bailando e saltando diante do SENHOR” (RCA-SBB 1998). Ele estava saltando e rodopiando na procissão triunfante em que a Arca do SENHOR era levada novamente ao tabernáculo em Jerusalém.

Notemos: não era um culto de louvor dentro do templo, nem se tratava de uma coreografia ensaiada. Ele deixou suas vestes reais para vestir uma simples vestidura sacerdotal e pular e rodopiar jubilosamente entre o povo. Sua mulher Mical o observou pela janela e o desprezou – aos seus olhos isso não era comportamento digno de um rei. Mical é chamada “filha de Saul” aqui, talvez para realçar que a sua atitude de desprezo ao culto a Deus lembrava a do seu pai.

Temos, sim, um exemplo sublime dado por Davi neste episódio: ele pôs de lado toda a pompa e os símbolos e vestes da sua própria realeza a fim de humildemente juntar-se ao povo jubilante, dando toda a glória e honra ao SENHOR, simbolizado pela arca. Que também seja esta a nossa atitude de espírito ao louvarmos ao nosso Deus, Salvador e Senhor, colocando de lado tudo o que poderia nos engrandecer e envaidecer, e nos juntando aos nossos irmãos com humildade para alegremente render a Ele, o nosso culto de adoração.

Richard D. Jones