A notícia da morte inesperada de um querido amigo me levou aos seguintes pensamentos. Ele já se foi. Ele está em outro mundo. Eu também vou morrer em breve. Pode ser bem logo. Quero, então, pensar na morte, e na primeira hora após a morte. E se eu morrer entre amigos, meus olhos serão fechados, meu corpo será preparado para o sepultamento, a cortina branca o cobrirá, e será colocado na silenciosa urna mortuária. Ele agora está inconsciente, inanimado, um simples aglomerado de matéria. Logo ele será conduzido à cova, e ali será oculto da vista dos homens, ou se tornará repulsivo. Sim, o mais querido parente, aquele que mais me amava, dirá: “Enterrem o meu morto, não tenho mais condições de contemplá-lo!” Mas a alma, a parte imortal, o verdadeiro homem – o que aconteceu com ele?
Uma hora após a morte, ONDE estarei?
Ah, onde! Isso vai depender inteiramente daquilo que eu sou agora – aquilo que eu for quando a morte me encontrar. Assim como Judas, cada um de nós irá para o seu próprio lugar. Onde estarei eu?Talvez eu esteja no inferno, elevando meus olhos em tormentos, ávido por alguém ou alguma coisa que me dê algum alívio. Terrível hipótese! Mas não é impossível. Se eu morrer debaixo da culpa do pecado; se eu morrer sem ter provado um novo nascimento, isso com certeza será meu destino. Pois a não ser que um homem nasça de novo, ele não pode ver o reino de Deus.
Pensamento horrível – estar no inferno uma hora após a morte! Daí não haverá oração que ajude, nenhum sofrimento inspirará piedade, nenhum choro ou lágrima receberá atenção. A esperança será excluída para sempre. Agonia e desespero deverão ser suportados perpetuamente.
Mas se eu morrer como crente em Jesus; se for purificado no Seu sangue; se for vestido por Sua justiça; se for santificado pelo Seu Espírito; se for unido a Sua pessoa – então, onde estarei uma hora após a morte? Oh, pensamento glorioso – estarei com Jesus! Sim, ouvirei a Sua doce voz, verei o Seu amado rosto, e estarei de pé diante do Seu glorioso trono! Estarei no céu; o lar dos santos; a casa do Deus vivo – a região da santidade, alegria, e amor. Saberei, então, o que é o céu. Entenderei então o que significa perfeita santidade. Terei perdido, então todo desejo – e estarei de posse de tudo o que poderia desejar. Oh, estar com Jesus; sentar-me com Abraão, Isaque e Jacó no reino de Deus; gozar a companhia dos profetas, apóstolos, mártires, e santos ministros para sempre! Que lugar nobre, esse onde estarei então! Que gloriosas companhias eu terei então! Que alegrias, que êxtases então vou provar! Oh, que mudança eu vou experimentar!
Uma hora depois da morte, O QUE serei?
Talvez eu seja um espírito puro e santo, não mais acorrentado, preso, atrapalhado e afligido por um corpo de carne, ou um corpo de pecado e morte. Talvez seja um filho de Deus, concretizando meu relacionamento – na casa do meu Pai; cercado de milhares de irmãos e irmãs, todos perfeitamente santos, e perfeitamente contentes. Serei um santo, completamente satisfeito, inteiramente preparado para o uso do meu Senhor. Será impossível duvidar da minha eleição, ou questionar meu chamamento, ou desconfiar da minha sinceridade. Serei tão santo como meu Pai é santo. Serei tão perfeito como meu Salvador é perfeito. Estarei sem nenhum defeito diante do trono de Deus.
Oh, mistério tremendo, que alguém como eu, tão cheio de falhas, tão profundamente depravado, tão terrivelmente corrompido – possa ser declarado sem falta nenhuma pelo Juiz de toda a terra!Mas se eu morrer sem Cristo, sem arrependimento, sem santidade – então o que eu serei? Ah, o quê? Uma alma perdida! Um pecador arruinado! Condenado a sofrer a justa ira de Deus, as amargas acusações da minha própria mente, as terríveis fustigações da minha própria consciência – para todo o sempre! Autocondenado; condenado por todos ao meu redor; um espetáculo de miséria; um monumento da justiça de Deus; uma testemunha aterrorizada da santidade e da verdade de Deus. Ah, então entenderei o significado destas terríveis palavras: “Indignação e ira, tribulação e angústia, fogo, enxofre, e um horrível tormento”. Aí eu experimentarei o que significa ser “lançado vivo no lago de fogo que arde com enxofre”, e provarei todos os indescritíveis horrores da “segunda morte”.
Que coisa medonha deve ser o pecado, o meu pecado – para demandar uma tão tremenda punição das mãos de um Deus justo; para exigir um tão terrível castigo da parte de um Deus que é acima de tudo amor! Oh, o pensamento de que eu posso ser uma alma perdida, uma companhia aos demônios e aos imortais amaldiçoados!
Uma hora após a morte, em que estarei OCUPADO?
Em que estou ocupado agora? Será que Jesus é meu Senhor, o Seu serviço o meu deleite, e a Sua glória o meu alvo? Se eu agora vivo para Deus, ando com Deus, e trabalho com a finalidade de agradar a Deus – então minha expectativa pode ser que estarei louvando o Seu nome, contemplando o Seu amor, e adorando os Seus gloriosos atributos. Minha ocupação será o meu prazer; e meu serviço, a minha alegria. Estarei entre os redimidos, andarei vestido de branco com Jesus, e louvarei Seu nome com minha harpa dourada para sempre!
Não mais pensamentos perambulantes, não mais imaginações vagueantes, Não mais diabo tentador, Não mais coração corrupto, Não mais companhias profanas – haverão de interromper, perturbar, ou atrapalhar-me em minha adoração ali. Não, tudo será tão puro como a luz, tão cheio de paz como o seio de Deus, e tão alegre como a presença de Deus e do Cordeiro o podem tornar!
Mas se Satanás é meu senhor, se o serviço dele agrada meu paladar, e se a autogratificação é meu alvo – então minha atividade será sombria, terrível, indizivelmente dolorosa! O que poderei fazer senão infligir tormento a mim mesmo, e aumentar o tormento de outros – odiar a mim mesmo, e a todos os que sofrem comigo? A mente estará sempre ativa; mas cada pensamento só fará aumentar a angústia que já estará sendo sentida. Cada pensamento sobre Deus, sobre a Sua justiça ou misericórdia – será outra gota amarga no copo do sofrimento. Cada pensamento sobre o passado agravará as agonias do presente. Mas olhar para o futuro será o pior de tudo. O que virá daqui para frente? ETERNIDADE! Existência sem fim. Existência sem mudança para melhor. Um horrível “para sempre”. Soou o dobre de finados da esperança. Começou o reinado sem fim do desespero. O tempo acabou. Por todo o futuro, os juízos de Deus terão de ser suportados, as Suas ameaças serão plenamente cumpridas. Quão horrível será a minha ocupação!
Uma hora após a morte, quais serão os meus SENTIMENTOS?
Se eu for para o céu; se a felicidade sem fim me for assegurada; se se tornar real a aprovação de Deus; se eu gozar a certeza da bênção imutável – quais serão os meus sentimentos? Que alegria, que gratidão, que paz, que santa exultação! Não há língua que consiga exprimir, não há pena que escreva, não há linguagem que descreva – os sentimentos do espírito feliz.
Ver Jesus, ouvir os cânticos dos santos, as glórias reveladas de Deus – Oh, que sentimentos isso tudo não haverá de produzir! A ausência da dor, a libertação do pecado, a plena vitória sobre Satanás, a plena concretização de todos os nossos mais altos e santos desejos – que sentimentos isso tudo não haverá de produzir! Mas nós primeiro temos de morrer, para conhecer plenamente quais serão nossos sentimentos de gratidão, alegria e amor – uma hora após a morte.
Mas se não alcançar o céu, se o inferno for meu destino, se minha porção for o eterno banimento da presença do Senhor – quais, então, Oh!, quais serão então os meus sentimentos! Que amargo remorso! Que lembranças agonizantes! Que terríveis apreensões! Que desespero sem esperança! Que terríveis sofrimentos! Mas nós temos de morrer primeiro – morrer debaixo da maldição de Deus, morrer rejeitando o Evangelho, morrer sem perdão – para conhecer quais serão os sentimentos de uma alma perdida – uma hora após a morte!
Quantos de meus leitores haverão de morrer nesse estado? Quantos se arriscarão a morrer assim – por viver em pecado, por negligenciar sua alma, por abusar da misericórdia de Deus, ou por se endurecer no pecado?
Uma hora depois da morte, quais serão meus PENSAMENTOS?
Como será diferente nossa forma de pensar sobre dinheiro, prazer, gratificação de nossos desejos, tudo o que agora chamamos importante, grande, e desejável – uma hora após a morte! Esforcemo-nos para pensar agora da forma que provavelmente haveremos de pensar uma hora após a morte!
Coloquemo-nos no céu – e tentemos pensar como será ali!
Coloquemo-nos no inferno – e tentemos pensar como será ali!
Quão diferentes as coisas então haverão de parecer!
Que busquemos entrada no céu com urgência, de coração, de modo importuno, que estejamos prontos e não descansemos até estarmos certos de irmos para lá!
James Smith (1802 – 1862), Standing For God.