O hebraico, como era originalmente escrito, constava apenas de consoantes, sendo os sons vocálicos supridos pelo leitor. Esse processo obrigava o leitor a pensar e ir interpretando o texto, para descobrir lhe o exato sentido, pois três consoantes (assim eram formadas as palavras em hebraico) com vogais diferentes, podiam indicar coisas muito diversas.
Escrever usando apenas consoantes foi um processo adequado enquanto o hebraico continuou sendo um idioma falado. Quando aparecia uma palavra que podia ser ambígua eram usadas letras vogais para deixar o texto mais claro. Quatro consoantes fracas, algumas vezes eram usadas como vogais (Álefe, Hê, Vau e Iode). Quando o hebraico foi deixando de ser uma língua falada (já no tempo de Cristo não era uma língua viva) muito mais difícil ficou a pronúncia correta das consoantes sem sinais vocálicos. A pronúncia correta das palavras era transmitida pela tradição oral mas, muito rapidamente foi sentida a necessidade de ser esta representada por escrito.
A prova de que a palavra formada tão somente de consoantes é ambígua, na sua acepção, nós a temos em um exemplo da Bíblia em que as três consoantes não foram corretamente interpretadas. Hebreus 11:21 diz que Jacó “adorou encostado à ponta do seu bordão”, ao passo que em Gênesis 47:31 lemos que ele “… se inclinou sobre a cabeceira da cama”. A palavra hebraica para designar cama e bordão consta de três consoantes (M T H), as quais no texto hebraico são lidas com as vogais assim: M(i) T(a) H, “cama”. O autor da Epístola aos Hebreus tirou a citação da Septuaginta, cujos tradutores, leram a palavra desta maneira: M(a) T(e) H, “bordão”.
Os líderes do judaísmo em Alexandria foram responsáveis por uma tradução do Velho Testamento Hebraico para o Grego, a qual integraria a Biblioteca de Alexandria – Ela foi chamada de Septuaginta (LXX), que significa “Setenta”. Esta tradução já estava concluída em 150 a.C. e foi feita por eruditos judeus e gregos, provavelmente para o uso dos judeus alexandrinos.
Assim que a igreja primitiva passou a utilizar a Septuaginta como Velho Testamento, a comunidade judaica perdeu o interesse em sua preservação. Essa versão teve um papel muito importante para o estudo e divulgação do Velho Testamento em outras línguas, já que os textos hebraicos apresentam grande dificuldade de compreensão. Outras versões surgiram após a Septuaginta devido à oposição do Cânon Judaico a essa tradução, são elas:
- O Texto Massorético (100 d.C.) – Uma edição do Texto Hebraico;
- A Versão de Áquila (130 a 150 d.C.) – Manteve o padrão de pensamento e as estruturas de linguagem hebraicas, tornando-se uma das versões mais utilizadas pelos judeus;
- A Revisão de Teodócio (150 a 185 d.C.) – Revisão de uma versão anterior – a LXX ou a de Áquila;
- A Revisão de Símaco (185 a 200 d.C.) – Preocupou-se com o sentido da tradução, e não com a exatidão textual. Exerceu grande influência sobre a Bíblia latina, pois Jerônimo fez grande uso desse autor para compor a Vulgata Latina;
- Os Héxapla de Orígenes (240 a 250 d.C.) – Promoveu-se uma visão comparativa dos textos hebraicos com a tradução dos LXX, de Áquila, de Teodócio e de Símaco, procurando harmonizar os textos em busca de uma tradução fiel do hebraico.
Os Massoretas
Eram judeus sábios, chamados Massoretas, que iniciaram entre os séculos VI e X d.C. o trabalho de padronização dos textos hebraicos do Velho Testamento. Os textos originais foram escritos sem vogais e nesse trabalho de padronização eles simplesmente as inseriram, o que contribuiu em muito com o desaparecimento dos mesmos. Entre os séculos IX e X eles dividiram o texto hebraico em versículos.
Com hábitos monásticos e ascéticos, os Massoretas dedicavam suas vidas à recitação e cópia das Escrituras, bem como à formulação da gramática hebraica e técnicas didáticas de ensino do texto bíblico. Esses escribas judeus tinham grande preocupação em preservar e cuidar do manejo do texto hebraico. Às vezes o termo também é empregado para o comentarista judeu do livro sagrado. Eles substituíram os escribas (Sopherins) por volta do ano 500 d.C. e prosseguiram em seu dedicado trabalho até o ano 1000 d.C..
Os massoretas tinham publicado manuais que serviam de orientação para copiar o texto. Nesses manuais, chamados “massora” (termo hebraico técnico para a primitiva tradição quanto à forma correta do texto das Escrituras), se encontravam:
- Normas orientadoras que os copistas deviam seguir enquanto estivessem copiando o texto sagrado;
- Princípios sugeridos pelo Talmude na transmissão do texto;
- Regras gramaticais sobre a língua hebraica.
O minucioso e consciencioso trabalho estatístico que os massoretas realizaram é impressionante, pois empregavam toda a técnica que é possível ao ser humano para assegurar a exata transmissão do texto. Dentre as estritas e minuciosas regras a serem seguidas na cópia dos manuscritos, uma era que “nenhuma palavra ou letra devia ser escrita de memória”. Antes de iniciarem propriamente a cópia, eles contavam os versos, as palavras e letras de cada seção e se os números não correspondessem na nova cópia, o trabalho era rejeitado. Eles notaram, por exemplo, que a letra central da Lei se achava em Levítico 11:42 e , quanto aos Salmos, a letra central está no Salmo 80:4 e o versículo central é o 36 do Salmo 78 (Hb 78:36).
Desde que o supremo alvo dos massoretas era transmitir o texto tão fielmente como o tinham recebido, não faziam nele nenhuma alteração. Onde presumiam que tinha havido algum erro de transcrição, ou onde uma palavra não estava mais em uso polido, colocavam a palavra certa ou preferível, na margem. Neste caso, a palavra correta ou preferida e que tencionavam que fosse lida, chamavam “Qerê” – o que deve ser lido, mas as suas vogais eram postas sob as consoantes da palavra no texto inviolável (esta era chamada de Kethibi, “o escrito”).
Tradutores Portugueses
O pioneiro na tradução das Escrituras para o Português foi D. Diniz (1279 – 1325). Conhecedor de Latim Clássico e leitor da Vulgata Latina, traduziu até o capítulo 20 do livro de Gênesis, abrindo caminho para seu sucessor, D. João I (1385 – 1433). Esse atribuiu a tradução a padres letrados e o trabalho prosseguiu com seu sucessor, D. João II. Outros amplamente conhecidos por seus trabalhos são:
João Ferreira de Almeida
Nasceu em 1628, próximo a Lisboa. Convertido ao protestantismo, iniciou a tradução das Escrituras aos dezessete anos, mas perdeu seu primeiro manuscrito e reiniciou seu trabalho em 1648. Conhecia Hebraico e Grego, e utilizou-se de vários manuscritos dessas línguas para compor sua tradução.
Os princípios que regem a tradução de Almeida são os da equivalência formal, que procura seguir a ordem das palavras que pertencem à mesma categoria gramatical do original. A linguagem utilizada é clássica e erudita. Em outras palavras, Almeida procurou reproduzir no texto traduzido os aspectos formais do texto bíblico em suas línguas originais (hebraico, aramaico e grego), tanto no que se refere ao vocabulário quanto à estrutura e aos demais aspectos gramaticais (SBB).
Em 1676 foi concluída a tradução do Novo Testamento, que só viria a ser publicada em 1681, na Holanda, por problemas de revisão. Quando da sua morte, em 1641, já havia traduzido o Velho Testamento até o livro do profeta Ezequiel. Seu trabalho foi continuado pelo pastor Jacobus Op Den Akker, de Batávia, em 1748. Cinco anos depois, em 1753, foi impressa a primeira Bíblia em Português.
Antônio Pereira de Figueiredo
Nascido em Portugal em 1725, iniciou a tradução das Escrituras, editada em 1819. Baseou sua tradução na Vulgata de Jerônimo, por não dominar outros idiomas, e incluiu nesse trabalho os Apócrifos. A sua tradução foi muito utilizada em Países de Língua Portuguesa.
Matos Soares
Publicou uma tradução em 1930, baseada na Vulgata Latina, e incluiu os Apócrifos. Sua tradução contou também com comentários a favor dos dogmas da Igreja Católica. Por isso, recebeu o apoio papal, sendo a sua tradução a mais popular dentro do catolicismo.
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