Nas Escrituras, essas palavras expressam um desejo, um objetivo, um convite? A quem elas se aplicam? O que elas significam? — Gálatas 3:28 contém quatro afirmações positivas. Na Versão Revisada, o versículo diz:
“Não pode haver judeu nem grego, não pode haver escravo nem livre, não pode haver homem nem mulher: Porque todos vós sois um só homem em Cristo Jesus”.
A linguagem não é: “Você deveria ser”, ou “Eu lhe peço que seja”, ou “Você pode alterar sua conduta para ser”, mas “Todos vós sois um só homem em Cristo Jesus”. Isso é positivo, inequívoco. A unidade é um fato consumado.
Que isso seja compreendido, com firmeza e determinação. Em seguida, perguntemos se a expressão se refere à prática ou à posição. As quatro afirmações devem pertencer, é claro, à mesma categoria, seja ela qual for. Tomemos, então, a afirmação de que não pode haver macho e fêmea. Isso é verdade para a vida prática? Não seria absurdo dizer isso? Nessa esfera, é claro, deve haver macho e fêmea. Não está claro, portanto, que o versículo não pode se aplicar à prática, à experiência, à caminhada, ao testemunho? Ele deve, então, referir-se à posição do crente. Aqui, todas as distinções de todos os tipos são eliminadas, não modificadas ou sombreadas, ou fundidas, mas completamente abolidas. Aqui todos os crentes são iguais, embora, quanto à prática, todos sejam diferentes. Todos nós devemos admitir imperfeições quanto à nossa prática, mas, quanto à nossa posição, Deus nos aperfeiçoou para sempre (Hebreus 10:14). E a perfeição não admite graus.
Os detalhes da passagem de Gálatas 3:24 a 4:8, para a qual o leitor é solicitado a se voltar agora, combinam-se para estabelecer a posição do crente. Veja a justificação de 3:24, “para que sejamos justificados pela fé”. Isso é o que temos, não dos homens ao verem nossas boas obras, mas de Deus em Seu cálculo judicial. Todos os cristãos a têm da mesma forma, sem exceção.
Considere 3:26: “Porque todos vós sois filhos de Deus, pela fé, em Cristo Jesus” (Ver Versão Revisada – “filhos” e não “crianças”). Observe “todos os filhos”: homens e mulheres? Certamente, pois “filhos” aqui tem a ver, não com sexo, mas com status. Considere a influência de duas passagens sobre isso. A primeira é Mateus 9:15, que menciona “filhos da câmara nupcial” (ver R.V.), significando convidados do casamento, independentemente do sexo. A segunda é Lucas 20:34, na qual se diz que os “filhos deste tempo” (R.V.) compreendem aqueles que se casam, ou seja, os homens, e aqueles que são dados em casamento, ou seja, as mulheres. Essas duas passagens exemplificam um uso figurativo da palavra “filho” que não a limita ao sexo masculino.
Qual é o contexto de Gálatas 3:24 a 4:7?
Era costume que o menino romano frequentasse a escola por cerca de dez anos. Quando tinha cerca de 17 anos, o pai considerava adequado conferir-lhe esse status, ele recebia o status de adulto. Agora ele é conhecido publicamente como “filho”, sendo totalmente independente dos escravos da casa, ao passo que antes estava sob a responsabilidade desses vários “guardiões e administradores” (Gl 4:2). Um escravo chamado “paidagogos” (grego – o latim é “paedagogus”) tinha o dever de cuidar dele na ida e na volta da escola. Em 3:4 (A.V.) ele é chamado de “mestre-escola”, na R.V. de “tutor”, mas essas são traduções errôneas, ele não era tutor nem professor, mas um acompanhante ou líder de crianças. O versículo 23 caracteriza a lei de Moisés, funcionando por um tempo, não permanentemente, como um guarda, fechando Israel para proteção. O versículo 24 apresenta a lei como um filho-escudeiro, funcionando por um tempo, não permanentemente. A lei era transitória, conforme demonstrado nesses dois versículos, e preparatória para o advento do Messias prometido. Nele está a finalidade, não a transitoriedade: a permanência, não o que é preparatório. Tendo Cristo vindo, os crentes agora são filhos de Deus, não menores, mas adultos em status, superiores, nesse aspecto, a Daniel, Isaías e outros santos sob a lei, uma vez que esses não tinham o status de filhos. Cristo foi enviado por Deus, o Filho pelo Pai, para nos dar o lugar, ou status, de filhos. (“Adoção de filhos” em Gálatas 4:5 significa “lugar de filhos”). O versículo 27 em inglês é lido como se alguns dos cristãos da Galácia não tivessem sido batizados. Mas o original implica que todos eles haviam sido batizados, não para ter Moisés como líder (esse é o significado do batismo de 1 Coríntios 10:2, sendo a referência aos 603.550 de Números 2:32), mas para ter Cristo como Senhor. Diz-se aqui que a crença em Cristo é um revestir-se Dele. Qual é a imagem? É o costume romano novamente. A mudança de status de menoridade para a idade adulta era acompanhada por uma mudança no vestuário. Quando era menor de idade, o menino romano usava uma toga (a vestimenta externa permitida somente aos cidadãos romanos livres) feita de lã branca com bordas roxas. Mas ao se tornar filho, tendo a idade adulta conferida a ele, ele usava a vestimenta masculina totalmente branca (“toga virilis” é o nome latino para ela). Portanto, diz Paulo aqui, crer em Cristo pode ser considerado como um vestir-se Dele. Resumindo brevemente, vamos perceber claramente que todos os crentes são um por terem se revestido de Cristo, todos os crentes são um por terem sido justificados pela fé, todos os crentes são um por serem filhos de Deus, todos os crentes são um por estarem todos em Cristo Jesus – todos, sem exceção, são um em uma unidade vital realizada.
Mas não somos todos um em Cristo Jesus porque temos amor uns pelos outros, como deveríamos ter de acordo com João 13:35, ou porque nos unimos para ter reuniões grandes e harmoniosas, ou porque concordamos em abandonar todas as nossas diferenças.
by Rowland C. Edwards — “Escritos dos Irmãos de Plymouth”, 1967.
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