Em Lucas 7:1-9 vemos o Senhor Jesus destacando a fé de um centurião romano, dizendo à multidão: “Digo-vos que nem ainda em Israel tenho achado tamanha fé”. Meditemos um pouco neste centurião anônimo (que nos lembra muito Cornélio; veja Atos 10).
Em primeiro lugar, pense neste testemunho impressionante, vindo do próprio Senhor! Um testemunho que concorda com a opinião dos judeus acerca deste homem: “É digno de que lhe concedas isto, porque ama a nossa nação, e ele mesmo nos edificou a sinagoga”. Lembre que os judeus desprezavam os gentios (principalmente militares romanos que dominavam sobre eles), mas este centurião tinha bom testemunho entre seus “inimigos”!
Pouco antes disso, temos a primeira pregação do Senhor em Nazaré, quando Ele disse: “Em verdade vos digo que muitas viúvas existiam em Israel nos dias de Elias … e a nenhuma delas foi enviado Elias, senão a Sarepta de Sidom …. E muitos leprosos havia em Israel no tempo do profeta Eliseu, e nenhum deles foi purificado, senão Naamã, o siro” (Lc 4:25-27).
Ou seja, vemos gentios sendo abençoados e honrados, enquanto judeus se afastam de Deus! Isso nos lembra de um fato que Deus fez questão de enfatizar na Sua Palavra: fazer parte do povo de Deus, coletivamente, não é garantia de agradar a Deus, individualmente!
Nunca houve dúvida no VT que o povo de Deus era apenas Israel, “dos quais é a adoção de filhos, e a glória, e as alianças, e a Lei, e o culto, e as promessas; dos quais são os pais, e dos quais é Cristo segundo a carne” (Rm 9:4-5). O povo eleito e a nação santa eram os judeus, não os gentios. Mas diversas vezes Deus passava por cima do Seu povo e mostrava o Seu prazer em um gentio!
Podemos aplicar isto à nossa posição como igreja de Deus hoje. Não tenho a menor dúvida que a única forma de reunião que a Palavra de Deus autoriza hoje em dia é reunir-se ao nome do Senhor Jesus, separado das denominações. Mas também não tenho a menor dúvida de que, no Tribunal de Cristo, eu, que reúno desta forma, ficarei atrás de muitos irmãos e irmãs que, por falta de instrução, passaram a vida inteira servindo a Deus numa denominação, mas o fizeram com uma devoção e humildade que eu não tive!
É solene pensar nisto! Por um lado, desejamos exaltar o grande privilégio de pertencer a uma igreja local, e fazer parte do testemunho coletivo que Deus aprova — mas tememos que a contemplação deste privilégio nos faça complacentes, acomodados e orgulhosos (atitudes que ofendem a Deus!).
Que possamos agradecer a Deus pelo privilégio de andar em “terra santa”, mas sempre reconhecendo que devemos isto totalmente a Ele.
Digamos, como Paulo: “Não eu, mas a graça de Deus, que está comigo” (I Cor 15:10).
Continuando a meditar sobre o centurião de Lucas 7, pense um pouco na sua humildade (nem sempre lembramos que confiar em Deus exige não confiar em si mesmo — impossível ser crente e orgulhoso!).
Ele não se considerava digno de receber uma atenção especial do Senhor. Leia o que ele disse: “Senhor, não Te incomodes, porque não sou digno de que entres debaixo do meu telhado. E por isso nem ainda me julguei digno de ir ter contigo”.
Ah, como isto é diferente do padrão que vemos no mundo evangélico hoje! Os religiosos hoje dão uma ênfase exagerada ao amor de Deus pelos Seus filhos, esquecendo-se da nossa insignificância, e insistem que temos o direito de exigir que Deus faça tudo que queremos. E depressa, pois eu não posso esperar! Eu mereço o melhor, sempre!
Não! Na realidade, precisamos de equilíbrio neste assunto (como em tudo na vida)! O amor de Deus por cada um dos Seus é inesgotável, sim — mas não porque nós somos especiais! É o amor de Deus que é especial!
O que nós realmente merecemos é o inferno — mas basta ter uma dorzinha de cabeça, um pneu furado numa hora imprópria, uma receita especial que desandou porque o leite estava talhado, e já choramingamos: “O que eu fiz para merecer isto? Ah, como eu sofro!”
Precisamos mais deste contentamento do centurião! “Senhor, não Te incomodes! Eu não quero nenhum tratamento especial, pois não sou digno disto! Só peço que cure o meu servo!”
Precisamos observar mais atentamente tudo que Deus faz por nós, e obedecermos a instrução do NT: “Sede agradecidos” (Cl 3:15).
Finalizando esta pequena série, quero destacar a fé do centurião, propriamente dita: “Dize, porém, uma palavra, e o meu criado sarará. Porque também eu sou homem sujeito à autoridade, e tenho soldados sob o meu poder, e digo a este: Vai, e ele vai; e a outro: Vem, e ele vem; e ao meu servo: Faze isto, e ele o faz.”
Que confiança notável! Ele está dizendo: “Da mesma forma que eu sempre obedeço ao Imperador, e meus soldados sempre me obedecem, assim a doença do meu servo é subordinada a Ti! Se o Senhor mandar, a doença precisa ir embora, assim como um soldado precisa obedecer seu superior!”
Cremos, sinceramente, que todas as coisas (todas!) estão totalmente debaixo da autoridade do Senhor? Cremos que quando Ele ordena, o Universo e o átomo, o Sol e o vaga-lume, o vento tempestuoso e a frágil borboleta — e a minha saúde também — precisam obedecê-lo?
Não estou sugerindo que não devemos tomar um remédio quando precisamos (se estou com dor de cabeça, um analgésico é indicado, por exemplo), nem que nossos erros não tenham consequências (se eu comer demais, provavelmente vou passar mal). Mas precisamos crer que há um Deus que pode interferir em toda circunstância, se esta for a Sua vontade.
Ou, em outras palavras: no final das contas, tudo depende de Deus. Ele quer que nós vivamos a vida normal dos homens, tomando os mesmos cuidados de saúde que eles tomam, e nunca prometeu que não ficaríamos doentes, ou que não deveríamos confiar no diagnóstico dos médicos. Mas Ele quer que creiamos que Ele (e apenas Ele) tem poder (todo o poder) de interferir imediatamente em qualquer situação, conforme à Sua vontade.
“Dize uma palavra, e meu criado sarará!”
“E, ouvindo isto Jesus, maravilhou-Se dele, e voltando-Se, disse à multidão que o seguia: Digo-vos que nem ainda em Israel tenho achado tanta fé” (Lc 7:2-9).
W. J. Watterson
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