“Sonda-me, ó Deus, e conhece o meu coração; prova-me, e conhece os meus pensamentos. E vê se há em mim algum caminho mau, e guia-me pelo caminho eterno” (Salmos 139:23-24). O Salmo 139 é uma meditação sobre a onisciência de Deus. Deus vê e sabe perfeitamente todas as coisas. O salmista apresenta esse perfeito conhecimento afirmando que Deus conhece todas as nossas ações (“Sabes quando me assento e quando me levanto“, 2a); todos os nossos pensamentos (“de longe penetras os meus pensamentos“, 2b); todas as nossas palavras (“Ainda a palavra me não chegou à língua, e tu, Senhor, já a conhece toda“, 4).
Depois ele ilustra a impossibilidade de fugir da presença divina:
“Para onde me ausentarei do teu Espírito? Para onde fugirei da tua face? Se subo aos céus, lá estás; se faço a minha cama no mais profundo abismo, lá estás também; se tomo as asas da alvorada e me detenho nos confins dos mares, ainda lá me haverá de guiar a tua mão, e a tua destra me susterá. Se eu digo: as trevas, com efeito, me encobrirão e a luz ao redor de mim se fará noite, até as próprias trevas não te serão escuras: as trevas e a luz são a mesma coisa” (7-12).
Em seguida, fala do conhecimento que Deus tinha dele até mesmo antes do seu nascimento:
“Pois tu formaste o meu interior, tu me teceste no seio de minha mãe. Os meus ossos não te foram encobertos, quando no oculto fui formado e entretecido como nas profundezas da terra. Os teus olhos me viram a substância ainda informe, e no teu livro foram escritos todos os meus dias, cada um deles escrito e determinado, quando nem um deles havia ainda” (13, 15, 16).
Depois disso, o salmista observa o que deve ser inferido como uma consequência necessária da onisciência de Deus: “Tomará, ó Deus, desses cabo do perverso” (19).
Finalmente, o salmista faz uma aplicação prática da sua meditação sobre a onisciência de Deus: ele implora para que Deus o sonde e o examine e veja se há nele algum caminho mau, e que o guie pelo caminho eterno.
Obviamente, o salmista não está implorando que Deus o sonde para que Deus possa obter qualquer informação. O objetivo de todo o Salmo é a declaração de que Deus sabe todas as coisas. Por essa razão, o salmista está orando para que Deus o sonde a fim de que o próprio salmista possa ver e ser informado do pecado do seu próprio coração.
Davi obviamente examinou seu próprio coração e seus caminhos, mas não confiou nisso. Ele ainda temia que pudesse ter algum pecado desconhecido que tivesse escapado de sua própria sondagem; então pediu para que Deus o examinasse.
Em outro lugar, Davi escreveu: “Quem há que possa discernir as próprias faltas? Absolve-me das que me são ocultas” (Sl 19.12). Quando disse “faltas ocultas” ele quis dizer que elas lhe eram “secretas“, mas não era consciente delas.
Todos nós deveríamos nos preocupar em saber se vivemos com algum tipo de pecado que até nós mesmos desconhecemos. Se alimentamos algum desejo secreto ou negligenciamos algum dever espiritual, nossos pecados escondidos são tão ofensivos a Deus e o desonram tanto quanto os conhecidos, evidentes e os notórios. Desde que somos tendentes ao pecado, e o nosso coração está cheio deles, devemos tomar um cuidado especial para evitar aqueles que são insolentes, involuntários e cometidos na ignorância.
Por Que as Pessoas Vivem no Pecado Sem Saber
Nosso problema em reconhecer se há em nós algum caminho mau não é por falta da luz externa. Certamente Deus não falhou em nos dizer clara e abundantemente quais são os maus caminhos. Ele nos deu mandamentos mais do que suficientes que mostram o que deveríamos e o que não deveríamos fazer; e eles estão claramente colocados diante de nós na sua Palavra. Então, nossa dificuldade em conhecer nosso próprio coração não é pelo fato de nos faltarem normas adequadas.
Como é possível as pessoas viverem de maneira que desagradam a Deus e no entanto parecerem completamente insensíveis a isso e seguirem em frente totalmente esquecidas de seus pecados?Diversos fatores contribuem para essa tendência maligna da humanidade:
A Natureza Cega e Enganosa do Pecado
O coração humano é cheio de pecado e corrupção; e a corrupção tem um efeito espiritual de cegueira. O pecado sempre carrega um grau de obscuridade. Quanto mais ele prevalece, mais ele obscurece e ilude a mente. Ele nos cega para a realidade que está no nosso próprio coração. Assim, o problema não é, em absoluto, a falta da luz da verdade de Deus. A luz brilha suficientemente ao nosso redor, mas a falha está nos nossos olhos; estão obscurecidos e cegos pela incapacidade mortal que resulta do pecado.
O pecado engana facilmente porque controla a vontade humana, e isso altera o julgamento. Quando a concupiscência prevalece, predispõe a mente para aprová-la. Quando o pecado influencia nossas preferências, ele parece agradável e bom.
A mente é naturalmente predisposta a pensar que tudo o que é agradável é correto. Portanto, quando um desejo pecaminoso vence a vontade, também lesa o entendimento. Quanto mais a pessoa anda no pecado, provavelmente, mais a sua mente será obscurecida e cega. Assim é que o pecado assume o controle das pessoas.
Portanto, quando elas não estão conscientes do seu pecado, fica extremamente difícil fazê-las enxergar o erro. Afinal de contas, o mesmo desejo maligno que as levou ao pecado, as cegará. Quanto mais uma pessoa raivosa consente com a malícia ou com a inveja, mais esses pecados cegarão seu entendimento para que ela os aprove. Quanto mais um homem odeia o seu vizinho, mais ele tende a pensar que tem uma boa causa para odiar, e que aquele vizinho é digno de ódio, que merece ser odiado, e que não é seu dever amá-lo. Quanto mais prevalecem os desejos de um homem impuro, mais doce e agradável o pecado lhe parecerá, e mais ele tenderá a pensar que não há mal nisso.
Semelhantemente, quanto mais uma pessoa deseja coisas materiais, provavelmente mais pensa que é desculpável por agir assim. Dirá a si mesma que precisa de certas coisas, e que não pode viver sem elas. Se são necessárias, raciocina ela, não é pecado desejá-las. E as concupiscências do coração podem assim ser justificadas. Quanto mais prevalecem, mais cegam a mente e influenciam o julgamento que as aprova. Por isso, a Bíblia denomina os apetites mundanos de “as concupiscências do engano” (Ef 4.22). Até pessoas piedosas podem por um tempo permanecer cegas e iludidas pela concupiscência, e assim viverem de uma maneira que desagrada a Deus.
A concupiscência também incita a mente carnal a inventar desculpas para as práticas do pecado. A natureza humana é muito sutil quanto se trata de racionalizar o pecado.
Alguns são tão devotados às suas maldades que quando a consciência os importuna, torturam a mente a fim de encontrar argumentos que façam com que ela se cale e que os convençam de que procederam licitamente quando pecaram.
O amor a si mesmo também predispõe as pessoas a desculparem o seu pecado. Elas não gostam de se condenar. São naturalmente preconceituosas em seu próprio favor. Procuram bons nomes para denominar suas tendências pecaminosas. Elas as transformam em “virtudes” ou no mínimo em tendências inocentes. Rotulam a avareza de “prudência“, ou então chamam a ganância de “negócio inteligente“.Quando se alegram com as calamidades do próximo, fingem que é porque esperam que isso trará algum bem à pessoa. Se bebem muito, é porque sua constituição física o exige. Se caluniam, ou falam do vizinho, afirmam ser zelosos quanto ao pecado.
Se entram numa discussão, dizem ter uma consciência obstinada e consideram sua discórdia mesquinha uma questão de princípios. E assim, encontram bons nomes para todas as formas de mal.
As pessoas têm a tendência de adaptar os seus princípios à sua prática, e não o contrário. Além de permitir que seu comportamento se conforme com a consciência, despenderão uma energia tremenda tentando fazer com que sua consciência se adapte ao seu comportamento.
Como o pecado é tão enganoso, e como temos muito pecado no coração, é difícil julgar nossos próprios caminhos com justiça. Por causa disso, deveríamos fazer um autoexame diligente e nos preocupar em descobrir se há em nós algum caminho mau.
“Tende cuidado, irmãos, jamais aconteça haver em qualquer de vós perverso coração de incredulidade que vos afaste do Deus vivo; pelo contrário, exortai-vos mutuamente cada dia, durante o tempo que se chama Hoje, a fim de que nenhum de vós seja endurecido pelo engano do pecado” (Hb 3.12-13).
As pessoas veem mais facilmente os erros dos outros do que os seus. Quando veem os outros errarem, imediatamente os condenam “até mesmo enquanto se desculpam pelos mesmos pecados!” (Rm 2.1). Todos vemos um argueiro nos olhos dos outros e não a trave nos nossos olhos. “Todo caminho do homem é reto aos próprios olhos” (Pv 21.2). “Enganoso é o coração, mais do que todas as coisas, e desesperadamente corrupto; quem o conhecerá?” (Jr 17.9) Não podemos confiar em nosso coração nesta questão. Em vez disso, devemos nos vigiar, interrogar nosso coração cuidadosamente, e pedir a Deus que nos sonde completamente. “O que confia no seu próprio coração é insensato” (Pv 28.26).
A Sutileza de Satanás
O demônio trabalha corpo a corpo com as nossas paixões enganosas. Ele labuta para tornar-nos cegos às nossas faltas. Continuamente se esforça para nos levar ao pecado, e então, trabalha com a nossa mente carnal nos bajulando com a ideia de que somos melhores do que realmente somos. Assim, ele cega a consciência. É o príncipe das trevas. Cegar e enganar têm sido seu trabalho desde os nossos primeiros pais.
A Força do Hábito
Algumas pessoas se esquecem dos pecados que lhe são habituais. Frequentemente os pecados habituais entorpecem a mente, e dessa maneira, tais pecados, que uma vez afligiram a consciência, começam a parecer inofensivos.
O Exemplo dos Outros
Alguns se tornam insensíveis ao próprio pecado porque deixam a opinião popular ditar o seu padrão. Observam o comportamento dos outros a fim de discernir o que está certo ou errado. Porém, a sociedade é tão tolerante com o pecado que muitos deles perderam seu estigma. As coisas que não agradam a Deus e são consideradas abomináveis à sua vista parecem inocentes quando visualizadas através dos olhos da opinião popular. Talvez as vejamos sendo praticadas por pessoas que estimamos, ou nossos superiores, ou por aqueles que são considerados sábios. Isso tende a favorecer essas coisas e a diminuir o sentido de sua pecaminosidade. É especialmente perigoso quando homens piedosos, líderes cristãos respeitados são vistos comprometidos com práticas pecaminosas. Isso especificamente tende a calejar o coração do observador e a cegar a mente a respeito de qualquer hábito maligno.
Obediência Incompleta
Aqueles que obedecem a Deus indiferentemente ou pela metade correm o risco de viverem em pecado encoberto. Alguns cristãos professos negligenciam parte de seus deveres espirituais enquanto se concentram em outra parte. Seus pensamentos talvez estejam completamente voltados à oração secreta, à leitura bíblica, à adoração pública, à meditação e a outros deveres “religiosos” enquanto ignoram os deveres morais: suas responsabilidades em relação à esposa, aos filhos ou aos vizinhos.
Sabem que não devem defraudar o seu vizinho, mentir ou fornicar. Mas parecem não considerar quanto mal há em falar dos outros de modo leviano, censurar o vizinho, contender e brigar com as pessoas, viver hipocritamente diante da família ou negligenciar a instrução espiritual de seus filhos.
Esse tipo de pessoa parece ser muito consciente em algumas coisas, “aquelas áreas de sua obrigação sobre as quais se mantém vigilante“, mas negligência completamente outras áreas importantes.
Como Descobrir o Pecado Desconhecido no Íntimo
Como observamos, naturalmente, é muito difícil avaliar honestamente o nosso próprio pecado. Mas, se estivermos realmente preocupados com isso, se formos rígidos e sondarmos totalmente o nosso coração, podemos, na maioria das vezes, descobrir o pecado no íntimo. As pessoas que querem agradar e obedecer a Deus, com toda luz que desfrutamos, certamente não precisam continuar nos caminhos pecaminosos por causa da ignorância.
É verdade que o nosso coração é muito enganoso. Mas Deus, em sua santa palavra, nos deu luz suficiente para o estado de trevas em que nos encontramos. Por meio do cuidado e da averiguação, podemos conhecer nossas responsabilidades espirituais e saber se estamos vivendo em algum caminho mau. Todo aquele que tem algum amor a Deus ficará grato pela ajuda bíblica nesta questão. Tais pessoas estão preocupadas em andar em todas as coisas que Deus queria que andassem, como agradá-lo e honrá-lo. Se a vida delas, de alguma maneira, ofende a Deus, terão prazer em saber disso e de maneira nenhuma optam por ocultar de si mesmas o próprio pecado.
Também, aquele que pergunta com sinceridade, “O que eu devo fazer para ser salvo?”. Irá querer identificar o pecado em sua vida, já que é o pecado o que o separa de Cristo.
Há duas maneiras pelas quais chegamos ao conhecimento do nosso pecado:
1. Conhecimento da Lei de Deus
Se você deseja saber se vive em pecado desconhecido, deve familiarizar-se totalmente com o que Deus quer de você. Na Bíblia, Deus nos deu normas perfeitas e verdadeiras pelas quais devemos andar. Ele expressou seus preceitos clara e fartamente, assim, somos capazes de saber “a despeito das nossas trevas e desvantagens espirituais” exatamente o que ele requer de nós. Que revelação da mente divina completa e abundante temos nas Escrituras! Quão clara é em nos instruir sobre como nos comportar! Quão frequentemente seus preceitos são repetidos! E quão explicitamente são revelados, de várias maneiras, a fim de que pudéssemos entendê-los completamente!
Mas que proveito há em tudo isso se negligenciamos a revelação de Deus e não nos esforçamos em nos inteirar dela? Que proveito há em se ter princípios piedosos se ainda não os conhecemos? Por que Deus revelaria a sua mente, se não nos importamos em saber o que é ela?
No entanto, a única maneira pela qual podemos saber se estamos pecando é conhecendo sua lei moral: “Pela lei vem o pleno conhecimento do pecado” (Rm 3.20).
Entretanto, se não queremos continuar desagradando a Deus, devemos estudar diligentemente os princípios do certo e do errado que ele revelou. Devemos ler e pesquisar muito mais as santas Escrituras. E devemos fazer isso com a intenção de conhecer todo o nosso dever, assim a Palavra de Deus pode ser “lâmpada para os [nossos] pés e luz para os [nossos] caminhos” (Sl 119.105).
E, assim sendo, está claro que a maior parte das pessoas é muito mais culpada simplesmente por causa da sua negligência aos deveres espirituais. Antes de tudo, são culpáveis porque desprezam a Palavra de Deus e outras fontes que poderiam informá-las. Agem como se o estudo fosse somente um trabalho dos pastores. Tal ignorância é frequentemente uma negligência proposital e deliberada. Se não são conscientes do que Deus quer delas, é sua própria falta. Elas têm oportunidade suficiente para saber, e poderiam saber se o quisessem. Além disso, se esforçam para ter outros tipos de conhecimento. São bem treinadas em qualquer interesse mundano que lhes agradam. Aprendem qualquer coisa que seja necessário para ganhar a vida no mundo. Porém, não gastam nenhuma energia para buscar o que conta para a eternidade.
2. O Autoconhecimento
Segundo, se você deseja saber se está odiando o seu pecado secreto deve examinar a si mesmo. Compare a sua vida com a lei de Deus, e veja se você se conforma com o padrão divino. Este é o caminho primário que devemos tomar para descobrir nosso próprio caráter. Esta é uma diferença importante entre o ser humano e os animais irracionais: o homem é capaz da autorreflexão, capaz de contemplar seus próprios atos e avaliar a natureza e a qualidade deles. Sem dúvida nenhuma isso foi parte do motivo pelo qual Deus nos deu o seu poder “a fim de que pudéssemos conhecer e avaliar nossos próprios caminhos“.Devemos nos examinar até descobrirmos se concordamos ou não com os princípios da Bíblia. Isso requer a máxima atenção, a fim de não omitir os nossos próprios erros, ou de não permitir que nenhum caminho mau se esconda de maneira dissimulada.
Como Examinar a Si Mesmo
Você poderia pensar que já temos mais informação sobre nós mesmos do que sobre qualquer outra coisa. Afinal de contas, estamos sempre junto de nós. Somos totalmente conscientes dos nossos atos. Instantaneamente sabemos tudo o que acontece conosco, e tudo o que fazemos.
Mas, em alguns aspectos, é mais difícil obter um conhecimento verdadeiro sobre nós mesmos do que sobre quase qualquer outra coisa. Portanto, devemos investigar diligentemente no segredo do nosso coração e examinar cuidadosamente todos os nossos caminhos e condutas. Aqui estão algumas diretrizes para ajudar neste processo:
Sempre una a auto-reflexão com a leitura e o ouvir da Palavra de Deus.
Quando você ler a Bíblia ou ouvir sermões, reflita e compare os seus caminhos com o que você leu ou ouviu. Pondere que harmonia ou desarmonia existe entre a Palavra e os seus caminhos. A Bíblia testifica contra todo tipo de pecado e tem direções para qualquer responsabilidade espiritual, como escreveu Paulo: “Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção, para a educação na justiça, a fim de que o homem seja perfeito e perfeitamente habilitado para toda boa obra” (2 Tm 3.16-17). Portanto, quando ler os mandamentos dados por Cristo e seus apóstolos, pergunte-se: Vivo de acordo com essas regras? Ou vivo de maneira contrária a elas?
Quando ler histórias da Bíblia sobre os pecados e sobre os culpados, faça uma auto-reflexão enquanto avança na leitura. Pergunte a si mesmo se é culpado de pecados semelhantes. Quando ler como Deus reprovou o pecado de outros e executou julgamentos por seus pecados, questione se você merece punição semelhante.
Quando ler os exemplos de Cristo e dos santos, questione se você vive de maneira contrária aos seus exemplos. Quando ler sobre como Deus louvou e recompensou seu povo pelas suas virtudes e boas obras, pergunte se você merece a mesma bênção.
Faça uso da Palavra como um espelho pelo qual você examina cuidadosamente a si mesmo “e seja um praticante da palavra” (Tg 1.23-25).
Poucos são aqueles que fazem como deveriam! Enquanto o ministro testifica contra o pecado, a maioria está ocupada pensando em como os outros falham em estar à altura. Podem ouvir centenas de coisas em sermões que se aplicam adequadamente a eles; mas nunca pensam que o que o pregador está falando lhes diz respeito. A mente deles está fixa em outras pessoas para quem a mensagem parece se encaixar, mas eles nunca julgam necessitar dessa pregação.
Se você faz coisas que geralmente são evitadas por pessoas perspicazes e maduras, tenha um cuidado especial em questionar-se se tais atos poderiam ser pecaminosos.
Talvez você tenha argumentado consigo mesmo que tal ou tal prática é lícita; você não vê mal algum nela. Porém, se a coisa é geralmente condenada por pessoas piedosas, com certeza isso parece suspeito. Será prudente de sua parte considerar conscientemente se isso desagrada a Deus. Se uma prática não é aprovada por aqueles que em tais casos, em geral, provavelmente são mais corretos, você deveria considerar, com o maior cuidado, se a coisa em questão é lícita ou ilícita.
Pergunte a si mesmo se no seu leito de morte terá lembranças agradáveis em relação à maneira que viveu.
Pessoas saudáveis frequentemente aceitam o que não se aventurariam a fazer se pensassem que logo estariam perante o Senhor. Pensam na morte como algo distante, e assim acham muito mais fácil tranquilizar a consciência sobre o que estão fazendo no presente. Porém, se pensassem que poderiam morrer logo, não achariam tão confortável contemplar o Senhor com tais atos. A consciência não é facilmente cegada e silenciada quando o fim da vida parece iminente.
Solenemente pergunte a si mesmo e veja se está fazendo algo agora que pode trazer problemas quando você estiver no leito de morte. Pense nos seus caminhos e examine-se a si mesmo com a expectativa sensata de logo partir deste mundo para a eternidade. Empenhe-se com sinceridade para julgar imparcialmente as coisas com as quais você terá “prazer no seu leito de morte” bem como as que você vai desaprovar e desejar deixar.
Considere o que outros podem dizer sobre você.
Embora as pessoas estejam cegas quanto às suas próprias faltas, facilmente descobrem “os erros dos outros” e consideram-se aptas o suficiente para falar deles.
Algumas vezes, as pessoas vivem de maneiras que absolutamente não são adequadas, porém estão cegas para si mesmas. Não veem seus próprios fracassos, embora os erros dos outros lhes sejam perfeitamente claros e evidentes. Elas mesmas não veem suas falhas; quanto às dos outros, não podem fechar os olhos ou evitar ver em que falharam.
Alguns, por exemplo, são inconscientemente muito orgulhosos. Mas o problema aparece notório aos outros. Alguns são muito mundanos ainda que não sejam conscientes disso. Alguns são maliciosos e invejosos. Os outros veem isso, e para eles lhes parecem verdadeiramente dignos de ódio. Porém, aqueles que têm esses problemas não refletem sobre eles. Não há verdade no seu coração e nem nos seus olhos em tais casos. Assim devemos ouvir o que os outros dizem de nós, observar sobre o que eles nos acusam, atentar para que erro encontram em nós, e com diligência verificar se há algum fundamento nisso.
Se outros nos acusam de orgulhosos, mundanos, maus ou maliciosos ou nos acusam de qualquer outra condição ou prática maldosa, deveríamos honestamente nos questionar se isso é verdade. A acusação pode nos parecer completamente infundada, e podemos pensar que os motivos ou o espírito do acusador está errado. Porém, a pessoa perspicaz verá isso como uma ocasião para um autoexame.
Deveríamos especialmente ouvir o que os nossos amigos dizem para nós e sobre nós.
É imprudente, bem como não-cristão, tomar isso como ofensa e se ressentir quando os outros apontam nossas falhas. “Leais são as feridas feitas pelo que ama, porém os beijos de quem odeia são enganosos” (Pv 27.6). Deveríamos nos alegrar que nossas máculas foram identificadas.
Mas, também deveríamos atentar para as coisas sobre as quais os nossos inimigos nos acusam. Se eles nos difamam e nos insultam descaradamente até mesmo com uma atitude incorreta, deveríamos considerar isso como um motivo para uma reflexão no íntimo, e nos perguntar se há alguma verdade no que está sendo dito. Mesmo se o que for dito é revelado de modo reprovável e injurioso, ainda pode ser que haja alguma verdade nisso. Quando as pessoas criticam outras, mesmo se seus motivos forem errados, provavelmente têm como alvo verdadeiros erros. Na verdade, nossos inimigos provavelmente nos atacam onde somos mais fracos e mais defeituosos; e onde demos mais abertura para a crítica. Tendem a nos atacar onde menos podemos nos defender. Aqueles que nos insultam “embora o façam com um espírito e modos não-cristãos” geralmente identificarão as genuínas áreas onde mais podemos ser achados culpados.
Assim, quando ouvirmos outros falando de nós nas nossas costas, não importa o espírito de crítica, a resposta certa é a autorreflexão e uma avaliação quanto à verdade da culpa em relação aos erros de que nos acusam. Com certeza essa resposta é mais piedosa do que ficar furioso, revidar ou desprezá-los por terem falado maldosamente. Desse modo talvez tiremos o bem do mal, e esta é a maneira mais certa de derrotar o plano dos nossos inimigos, que nos injuriam e caluniam.
Eles fazem isso com motivação errada, querendo nos injuriar. Mas, dessa maneira converteremos isso em nosso próprio favor.
Quando vir os erros dos outros, verifique se você tem essas mesmas deficiências.
Muitos estão prontos para falar dos erros dos outros, apesar de terem as mesmas falhas. Nada é mais comum para orgulhosos do que acusar o orgulho de alguém.
Semelhantemente, é comum para o desonesto reclamar de ter sido enganado por outra pessoa. As características ruins e os maus hábitos dos outros parecem muito mais odiosos nos outros do que em nós mesmos. Facilmente podemos ver quão desprezível é este ou aquele pecado em outra pessoa. Vemos muito prontamente nos outros como o orgulho é detestável, ou quão má a malícia pode ser, ou quão pernicioso é o erro dos outros. Mas, embora vejamos facilmente muitas imperfeições nos outros, quando olhamos para nós mesmos essas coisas ficam obscurecidas por um espelho de ilusão.
Entretanto, quando você vê o erro dos outros, quando percebe quão impróprios são os atos de alguém, que atitudes rudes eles mostram, ou quão inadequado seu comportamento e, quando ouve outros falarem sobre isso, ou quando vê erros no tratamento deles em relação a você, reflita. Avalie se não há algum erro semelhante na sua conduta ou atitude. Perceba que essas coisas são tão inconvenientes e ofensivas em você como são nos outros. O orgulho, o espírito arrogante, e os maneirismos são tão odiosos em você como são no seu vizinho. Seu espírito malicioso e vingativo em relação ao seu vizinho é tão desprezível quanto o dele em relação a você. É exatamente tão pecaminoso o seu erro ou o dolo do seu vizinho quanto isso é para ele em relação a você. É tão indelicado e destrutivo você falar dos outros pelas costas quanto os outros fazerem o mesmo em relação a você.
Avalie como os outros são cegos em relação aos próprios pecados, e pergunte a si mesmo se você sofre do mesmo tipo de cegueira.
Você sabe que as pessoas são cegas pelas próprias paixões. Os mesmos apetites e paixões carnais da mente já o cegaram? Veja como os outros estão cegos pelo mundanismo. Questione se sua ligação com este mundo pode estar lhe cegando de tal forma que o leve a justificar coisas na sua vida que não estão certas. Você é tão propenso à cegueira por causa dos desejos pecaminosos quanto os outros. Você tem o mesmo coração enganoso e desesperadamente corrupto. “Como na água o rosto corresponde ao rosto, assim, o coração do homem ao homem” (Pv 27.19).
Sonde sua consciência buscando os pecados secretos.
Examine os segredos do seu coração. Você negligencia algum dever que somente você e Deus conhecem? Você aceita alguma prática secreta que ofende os olhos de Deus que tudo vê? Examine-se a si mesmo em relação às responsabilidades básicas: leitura da Bíblia, meditação, oração secreta. Você cumpre totalmente todos esses deveres? Se sim, você os cumpre de uma maneira irregular e desatenta? Como é o seu comportamento quando está escondido dos olhos do mundo “quando você não tem limites” além da sua consciência? O que ela lhe diz?
Mencionarei duas questões em particular:
1. Pergunte a si mesmo se negligencia a leitura bíblica.
Certamente a Bíblia foi escrita para ser lida não somente por ministros, mas também pelas pessoas. As Escrituras nos foram dadas para estarem conosco continuamente, para atuarem como regra da vida. Assim como o artesão precisa da medida padrão e o cego do seu guia, assim como aquele que caminha na escuridão carrega uma luz, assim a Bíblia deve ser a “lâmpada para os nossos pés e luz para os nossos caminhos” (Sl 119.105).
Josué 1.8 diz: “Não cesses de falar deste Livro da Lei; antes, medita nele dia e noite, para que tenhas cuidado de fazer segundo tudo quanto nele está escrito, então, farás prosperar o teu caminho e serás bem-sucedido“. Deuteronômio 6.6-9 ordenou aos israelitas:
“Estas palavras que, hoje, te ordeno estarão no teu coração; tu as inculcarás a teus filhos, e delas falarás assentado em tua casa, e andando pelo caminho, e ao deitar-te, e ao levantar-te. Também as atarás como sinal na tua mão, e te serão por frontal entre os olhos. E as escreverás nos umbrais de tua casa e nas tuas portas”.
Da mesma maneira Cristo nos ordenou a buscar as Escrituras (Jo 5.39). São estas as minas que temos que cavar a fim de alcançarmos os tesouros escondidos. Você negligencia este dever?
2. Pergunte a si mesmo se secretamente você está entretendo alguma paixão sensual.
Há muitas maneiras e muitos graus de agradar a nossa concupiscência carnal, mas cada um deles está provocando a um Deus que é santo. Você até mesmo se reprime de um prazer indecente, mas, de vez em quando, de algum modo você gratifica suas paixões e se permite testar a doçura de um prazer ilícito? Você percebe que ofende a Deus, até mesmo quando faz isso apenas em pensamento e imaginação? Você é culpado desse pecado?
O Perigo do Pecado Não Abandonado
As instruções para você auto-examinar-se quanto a algum pecado do qual talvez você não esteja crente já foram dadas. Como estão as coisas na sua vida? Você acha que está vivendo em algum caminho mau? Não estou perguntando se você está livre de pecado. Isso não é o esperado, pois não há quem não peque (1Rs 8.46). Mas há algum tipo de pecado incorporado ao seu estilo de vida e prática? Sem dúvida alguns estão limpos nessa questão, alguns “irrepreensíveis no seu caminho, que andam na lei do Senhor que guardam as suas prescrições, e o buscam de todo coração; não praticam a iniquidade e andam nos seus caminhos” (Sl 119.1-3).
Permita que sua consciência responda sobre como você vê sua própria vida. Você pratica algum pecado pela força do hábito? Você se deu permissão para isso? Se esse for o caso, considere o seguinte:
Se você tem procurado a salvação e ainda não a encontrou, a razão disso pode ser algum tipo de pecado em sua vida.
Talvez tenha se perguntado qual é o problema que o deixa tão preocupado em relação à sua salvação “quando diligentemente você a tem buscado” e ainda não teve retorno.
Muitas vezes já implorou a Deus, e ele ainda não atentou para você. Outros recebem conforto, mas você ainda permanece em trevas. Mas isso não deve surpreender, se você se agarrou a algum pecado por muito tempo. Não é isso uma razão suficiente para que todas as suas orações e todas as suas pretensões deixem de ser atendidas?
Se você tem tentado reter seu pecado enquanto busca o Salvador, você não está buscando a salvação da maneira correta. O caminho certo é abandonar sua perversidade. “Se você tem algum membro corrupto e não o corta fora, corre o risco de ele o levar para o inferno” (Mt 5.29-30).
Se a graça parece estar definhando ao invés de florescer na sua alma, talvez a causa disso seja algum tipo de pecado.
A maneira de crescer na graça é andar em obediência, e ser muito determinado nisso.
A graça vai florescer no coração de todo aquele que vive dessa maneira. Se você vive em algum caminho mau, ele será como uma doença incubada sugando sua vitalidade. O pecado então o manterá pobre, fraco e desfalecido.
Basta que um pecado seja praticado habitualmente para anular sua prosperidade espiritual e frear o crescimento e a força da graça em seu coração. Ele entristecerá o Espírito Santo (Ef 4.30). Ele impedirá a boa influência da Palavra de Deus. O tempo que ele permanecer será como uma úlcera, que o mantém fraco e deficiente, embora você se alimente da melhor e mais proveitosa comida espiritual.
Se você caiu em grande pecado, talvez algum tipo de pecado na sua vida tenha sido a raiz fundamental do seu grande fracasso.
Uma pessoa que não evita o pecado e não é meticulosamente obediente, não pode ser guardada dos grandes pecados. O pecado em que vive será sempre uma abertura, uma porta aberta pela qual Satanás encontrará a entrada. É como uma brecha na fortaleza, por onde o inimigo pode entrar e encontrar seu caminho. Se você caiu num pecado terrível, talvez seja essa a razão.
Ou se você permite algum tipo de pecado como um escape para sua corrupção, ele será como uma brecha numa represa que, se abandonada, se abrirá sempre mais até que não seja mais possível contê-la.
Se você vive em trevas espirituais, sem sentir a presença de Deus, a razão disso pode ser algum tipo de pecado.
Se você lamenta não ter um pouco da doce comunhão com o Senhor; se sente que Deus o desertou; se Deus parece ter lhe escondido sua face e raramente lhe mostra evidências da sua glória e graça; ou se parece que você foi deixado tateando e “vagueando no deserto” essa pode ser a razão. Talvez você clame a Deus frequentemente. Talvez você passe noites em claro e dias tristes. Se está vivendo desta maneira, é muito provável que essa seja a causa, a raiz dos seus desenganos, o seu Acã, o causador de problemas que ofende a Deus e traz tantas nuvens de trevas sobre sua alma. Você está entristecendo o Espírito Santo, e por isso você não recebe o seu conforto.
Cristo prometeu que se revelaria aos seus discípulos, mas com a condição de que eles guardassem os seus mandamentos: “Aquele que tem os meus mandamentos e os guarda, esse é o que me ama; e aquele que me ama será amado por meu Pai, e eu também o amarei e me manifestarei a ele” (Jo 14.21). Mas se você rotineiramente vive em desobediência aos seus mandamentos, não é de se admirar que ele não se manifeste a você. A maneira de receber o favor divino é andar perto dele.
Se você duvida da sua salvação, talvez algum tipo de pecado na sua vida tenha levantado essas dúvidas.
O melhor jeito de se ter a clara evidência da sua salvação é por meio de um andar junto a Deus. Isso, como já notamos, é também a maneira de se ter a graça florescendo na alma. E quanto mais graça vigorosa de Deus em nós, mais provável é que seja vista. E quando Cristo se revela a nós, temos a certeza do seu amor e favor.
Mas se você vive com algum tipo de pecado, não é de surpreender que isso diminua grandemente a sua certeza. Afinal de contas, isso subjuga o exercício da graça e esconde a luz da face de Deus. E pode acontecer de você nunca saber se é um verdadeiro cristão até que tenha abandonado totalmente o pecado no qual vive.
Se Deus o reprovou, talvez algum tipo de pecado em sua vida explique o motivo.
Provavelmente a prática de um hábito pecaminoso ou o fato de tolerar um ato maldoso tenha sido a razão de ter recebido uma reprovação e um castigo doloroso. Às vezes, Deus é excessivamente severo no trato com seu povo pelos seus pecados neste mundo. Deus não permitiu que Moisés e Arão entrassem na Terra Prometida porque o haviam desobedecido e pecado com seus lábios nas águas de Meribá. E como Deus foi terrível quando tratou com Davi! Que aflição levou para sua família! Um dos seus filhos violentou sua irmã; outro matou o irmão e depois de expulsar seu pai do trono na vista de todo Israel, deflorou a concubina de seu pai perante todos. O seu fim foi terrível; machucou completamente o coração de seu pai (2 Sm 18.33). Imediatamente depois, aconteceu a rebelião de Seba (2 Sm 20). No fim da vida, Davi viu seu outro filho usurpar o trono.
Quão severamente Deus tratou Eli por ele ter vivido no pecado, não refreando seus filhos da maldade! Os dois filhos foram mortos no mesmo dia, e o próprio Eli morreu violentamente. A arca foi levada cativa (1 Sm 4). A casa de Eli foi amaldiçoada para sempre; o próprio Deus jurou que a iniquidade da casa de Eli nunca seria expiada por meio de sacrifícios e ofertas (1Sm 3.13-14). O sacerdócio foi tirado de Eli e transferido para outra linhagem. Nunca mais houve um sacerdote na família de Eli (2 Sm 12.31).
O motivo das repreensões divinas que recebeu é algum tipo de pecado na sua vida?
Na verdade, no tocante aos acontecimentos da Providência, você não pode ser julgado pelos seus vizinhos, porém com certeza você deveria se perguntar se Deus está contendendo com você (Jó 10.2).
Se a morte lhe causa medo, talvez seja porque você está vivendo em algum tipo de pecado.
Quando pensa na morte, você se encolhe a esse pensamento? Quando tem uma doença, ou quando alguma coisa ameaça sua vida, você sente medo? Os pensamentos de morte e a eternidade alarmam você, embora seja um cristão?
Se você vive num caminho mau, provavelmente essa seja a razão de seus medos. O pecado deixa a sua cabeça sensual e mundana e, portanto o impede de desfrutar de uma alegria celestial. O pecado diminui a graça e impede o desfrute das antecipações do conforto celestial que, de outra maneira, você desfrutaria. O pecado impede o sentimento da presença e do favor divinos. Sem isso, não é de espantar que você não veja a morte diante de si sem temor.
Não permaneça em qualquer tipo de pecado.
Se, ao ler este texto, você percebeu que vive em um tipo de pecado, considere que de agora em diante, se viver da mesma maneira, estará vivendo com um pecado conhecido. Se era ou não era conhecido no passado, você talvez tenha vivido assim inadvertidamente. Mas, agora que é consciente dele, se continuar nele, seu pecado não será um pecado da ignorância, mas você se mostrará como um dos que vivem intencionalmente em caminhos de pecados conhecidos.
Jonathan Edwards – Extraído de John MacArthur, Jr. “Sociedade sem Pecado”. 1 Edição, Editora Cultura Cristã, 2002 . São Paulo, SP. Apêndice 3: 225-241. “Adaptado e parafraseado para o inglês moderno a partir do ensaio de Edwards, “Christian Cautions: The Necessity of Self-Examination”. Impresso pela primeira vez em 1788.