Sobre a Educação dos Filhos
‘Educa a criança no caminho em que deve andar; e até quando envelhecer não se desviará dele’. (Provérbios 22:6). Nós não devemos imaginar que essas palavras devam ser entendidas, em um sentido absoluto, como se nenhuma criança que tivesse sido instruída no caminho em que ela deveria ir, jamais tenha se afastado dele. Os fatos, de modo algum, irão concordar com isto: Ao contrário, tem sido uma observação comum, que ‘alguns dos melhores pais têm os piores filhos’.
É verdade, este poderia ser o caso, porque, algumas vezes, homens bons, nem sempre têm um bom entendimento, e, sem isto, dificilmente se deve esperar que eles vão saber como instruir seus filhos. Além disto, estes que são, em outros aspectos, homens bons, têm frequentemente muito mais comodidade de temperamento; de modo que eles não vão restringir seus filhos do mal, além do que o velho Eli fez, quando ele disse gentilmente: ‘Não, meus filhos, o relato que ouvi de vocês não é bom’.
(I Samuel 2:22-23) ‘Era, porém, Eli já muito velho, e ouvia tudo quanto seus filhos faziam a todo o Israel, e de como se deitavam com as mulheres que em bandos se ajuntavam à porta da tenda da congregação. E disse-lhes: Por que fazeis tais coisas? Pois ouço de todo este povo os vossos malefícios. Não, filhos meus, porque não é boa esta fama que ouço; fazeis transgredir o povo do Senhor’. Esta, então, não é uma contradição à afirmação; porque seus filhos não foram ‘instruídos no caminho onde deveriam ir’. Mas deve-se reconhecer que alguns têm sido instruídos com todo cuidado e diligência possível; e, ainda assim, antes que se tornem idosos; sim, no vigor da idade, eles se separam extremamente dele.
As palavras, então, devem ser entendidas com alguma limitação, e, então, elas conterão uma verdade inquestionável. Trata-se de uma promessa geral, embora que não universal; e muitos têm encontrado um feliz cumprimento dela. Como este é o método mais provável, que alguns pais podem adotar, para tornar seus filhos devotos, então, ele geralmente, embora que não sempre, atende com o sucesso desejado. O Deus de seus antepassados está com seus filhos; Ele abençoa a diligência deles, e eles têm satisfação em deixar sua religião, tanto quanto seus bens mundanos, para aqueles que descendem deles.
Mas qual é ‘o caminho em que uma criança deve seguir?’; e como nós devemos ‘instruí-la’ nele: O alicerce disto é admiravelmente bem colocado pelo Sr. Law, em seu ‘Um Chamado Sério para uma Vida Devota’. Partes de suas palavras é:
- “Tivéssemos continuado perfeitos, como Deus criou o primeiro homem, talvez, a perfeição de nossa natureza tivesse sido uma auto instrutora suficiente para cada um. Mas assim como as enfermidades e doenças têm criado a necessidade de medicamentos e médicos, então, as desordens de nossa natureza racionais têm introduzido a necessidade de educadores e tutores”.
- “E como a única finalidade de um médico é restaurar a natureza ao seu estado próprio; então, a única finalidade da educação é restaurar nossa natureza racional ao seu estado apropriado. Educação, portanto, deve considerada como razão usada como segunda-mão, para, tanto quanto ela puder, suprir a perda da perfeição original. E, como a Medicina pode justamente ser chamada de a arte de restaurar a saúde; então, a educação pode ser considerada, sob outro aspecto, como a arte de recuperar, para o homem, a sua perfeição racional”.
- “Este foi o objetivo diligenciado, pelos jovens que atenderam junto a Pitágoras, Sócrates e Platão. As lições e instruções diárias deles eram tantas preleções sobre a natureza do homem; sua finalidade verdadeira, e o correto uso de suas faculdades; sobre a imortalidade das almas; sua relação com Deus; a concordância da virtude com a natureza divina; sobre a necessidade da temperança, justiça, misericórdia, e verdade; e a insensatez de favorecer nossas paixões”.
- “Agora, como o Cristianismo tem criado, por assim dizer, o novo mundo moral e religioso, e estabelecido tudo que é razoável, sábio, santo e desejável em seu ponto de vista verdadeiro; então, alguém poderia esperar que a educação dos filhos pudesse ser tão melhorada pelo Cristianismo, como as doutrinas da religião são”.
- “Como ele introduziu um novo estado de coisas, e nos informou tão completamente da natureza do homem, e a finalidade de sua criação; como ele tem fixado todas as nossas bondades e maldades, nos ensinado os significados de purificar nossas almas, de agradar a Deus, sermos felizes eternamente; alguém poderia naturalmente supor que cada região cristã afluiu com escolas, não apenas para ensinar poucas questões e respostas de um catecismo, mas para formar, instruir e treinar as crianças, em tal curso da vida como as doutrinas mais sublimes do Cristianismo requerem”.
- “E a educação sob a orientação de Pitágoras ou Sócrates teve nenhuma outra finalidade, a não ser ensinar as crianças a pensarem e agirem como Pitágoras e Sócrates faziam”.
- “E não é razoável supor que uma educação cristã possa ter nenhuma outra finalidade, a não ser ensinar a elas como pensarem, julgarem, e agirem de acordo com as regras mais rigorosas do Cristianismo?”.
- “De qualquer forma, alguém poderia supor que, em todas as escolas cristãs, o ensiná-las a começar suas vidas no espírito do Cristianismo, – em tal abstinência, humildade, sobriedade e devoção, como o Cristianismo requer – não deveria ser apenas mais; mas cem vezes mais, considerado, mais ainda, que todas as outras coisas”.
- “Porque aqueles que nos educam imitam nossos anjos guardiões; sugerem nada para nossas mentes, a não ser o que é sábio e santo; nos ajudam a descobrir todo julgamento falso de nossas mentes, e a conquistar toda paixão errada em nossos corações”.
- “E é tão razoável esperar e requerer todo este benefício de uma educação cristã, como requerer que o médico possa fortalecer tudo o que é certo em nossa natureza, e remover todas as nossas doenças”.
Que seja cuidadosamente lembrado, todo este tempo, que Deus, e não o homem, é o médico das almas; que é Ele, e ninguém mais, que dá o medicamento para curar nossa doença natural; que toda ‘a ajuda que é feita sobre a terra, é Ele quem faz’; que nenhum dos filhos dos homens é capaz de ‘trazer uma coisa limpa do que é sujo’; e, em uma palavra, que ‘é Deus quem opera em nós, o desejar e o fazer o que lhe agrada’. Mas é geralmente seu prazer trabalhar pelas suas criaturas; ajudar o homem através do homem. Ele honra os homens para serem, em um sentido, ‘trabalhadores junto com Ele’. Por esses meios, a recompensa é nossa, enquanto a glória resulta para Ele.
Isto sendo estabelecido como premissa, com o objetivo de ver distintamente qual é este caminho, em que nós devemos instruir uma criança, vamos considerar: Quais são as doenças de sua natureza? Quais sãos essas doenças espirituais que cada um que é nascido de uma mulher traz consigo para o mundo?
A primeira, não se trata do Ateísmo? Afinal, isto tem sido tão plausivelmente escrito, concernente ‘a ideia inata de Deus’; afinal, isto tem sido dito de sua existência comum a todos os homens, em todas as épocas e nações; não parece que o homem tem naturalmente alguma ideia a mais de Deus, do que alguma das bestas do campo; afinal, ele não tem conhecimento de Deus; nem temor de Deus; nem Deus está em todos os seus pensamentos. Qualquer que possa ser a mudança a ser forjada, mais tarde, (se pela graça de Deus, ou pela sua própria reflexão, ou pela educação); pela sua natureza, ele é um mero Ateísta.
De fato, pode ser dito que todo homem, pela sua natureza, é, por assim dizer, seu próprio deus. Ele adora a si mesmo. Ele é, em sua própria concepção, absoluto Senhor de si mesmo. O herói de Dryden [O grande poeta inglês, John Dryden, nasceu em 09 de Agosto de 1631] fala apenas de acordo com a natureza, quando ele diz: ‘Eu mesmo sou o rei de mim’. Ele busca a si mesmo em todas as coisas. Ele agrada a si mesmo. E, por que não? Quem é o Senhor sobre ele? A sua vontade própria é sua única lei; ele faz isto ou aquilo, porque é do seu bom prazer. No mesmo espírito, como o ‘filho da manhã’ diz do velho tempo, ‘Eu irei ocupar os lados do Norte’, diz ele, ‘Eu farei desta ou daquela maneira’. E nós não encontramos homens conscientes, de todos os lados, que são do mesmo espírito? Que, se perguntados, ‘Por que vocês fizeram isto?’, irão rapidamente responder, ‘Porque eu estava decidido a fazê-lo’.
Uma outra doença, que toda alma humana traz consigo para o mundo, é o orgulho; uma propensão contínua para pensar em si mesmo mais altamente do que deveria. Cada homem pode discernir, mais ou menos dessa doença em cada um – a não ser em si mesmo. E, realmente, se ele pudesse discerni-la em si mesmo, ela não iria subsistir muito tempo, porque ele iria, então, em consequência, pensar de si mesmo, justamente como deveria pensar.
A próxima doença natural a cada alma humana, nascida com cada homem, é o amor ao mundo. Cada homem é, pela natureza, um amante da criatura, em vez do Criador; um ‘amante do prazer’, de todo tipo, ‘mais do que um amante de Deus’. Ele é um escravo dos desejos tolos e danosos, de um tipo ou de outro, tanto para o ‘desejo da carne, o desenho dos olhos, quanto do orgulho da vida’. ‘O desejo da carne’ é uma propensão a buscar felicidade no que gratifica um ou mais dos sentidos exteriores. ‘O desejo dos olhos’, é a propensão a buscar a felicidade no que gratifica o sentido interno da imaginação, quer pelas coisas grandiosas, ou novas, ou belas. ‘O desejo da vida’ parece significar uma propensão a buscar felicidade no que gratifica o senso de honra. A este assunto, usualmente se refere, ‘o amor ao dinheiro’, uma das paixões mais básicas que pode ter lugar no coração humano. Mas pode-se duvidar, se esta não é uma intemperança adquirida, em vez de uma doença natural.
Quer isto seja uma doença natural ou não, o certo é que a ira é. O filósofo antigo a defina como ‘um sentido da injúria recebida, com um desejo de vingança’. Agora, existiu alguém nascido de uma mulher que não se afligiu debaixo disto? Na verdade, como outras doenças da mente, ela é muito mais violenta em uns, do que em outros. Porém é um furor breve, como fala o poeta; é uma loucura real, embora que breve, onde quer que esteja.
Um desvio da verdade é igualmente natural a todos os filhos dos homens. Alguém disse em sua precipitação, ‘Todos os homens são mentirosos’; mas nós podemos dizer, numa reflexão moderada: Todos os homens naturais irão, numa tentação pessoal, mudar, ou dissimular a verdade. Se eles não transgredirem a veracidade; se eles não disserem o que é falso; ainda assim, eles frequentemente irão transgredir a simplicidade. Eles usam de artimanhas; eles expõem cores falsas; eles praticam tanto a simulação, quanto a dissimulação. De modo que você não pode dizer verdadeiramente de alguma pessoa viva, até que a graça tenha alterado a natureza, “Observe um israelita, em quem, de fato, não existe fraude!”. (João 1:47) ‘Jesus viu Natanael vir ter com ele, e disse dele: Eis aqui um verdadeiro israelita, em quem não há dolo’.
Cada um é igualmente propenso, pela natureza, a falar ou agir contrário à justiça. Esta é uma das doenças que nós trazemos conosco para o mundo. Todas as criaturas são naturalmente parciais a si mesma, e, quando a oportunidade oferece, têm mais consideração ao seu interesse ou prazer próprios do que a justiça estrita permite. Nem algum homem é, pela natureza, misericordioso, como nosso Pai celeste é misericordioso; mas todos, mais ou menos transgridem aquela regra gloriosa da misericórdia, assim como justiça: ‘O que quer que queira que os homens façam a você, faça o mesmo a eles’.
Agora, se essas são as doenças gerais da natureza humana, não é a grande finalidade da educação curá-las? E não cabe a todos esses a quem Deus tem confiado a educação dos filhos, tomar todo cuidado possível, primeiro, para não aumentar, não alimentar alguma dessas doenças, (como a generalidade dos pais constantemente fazem), e, depois, usar todos os meios possíveis para curá-las?
Para ser mais específico. O que os pais podem fazer, e as mães mais especialmente, para cujos cuidados nossas crianças estão necessariamente comprometidas em suas tenras idades, com respeito ao Ateísmo que é natural a todos os filhos dos homens? Como isto é alimentado, pela generalidade dos pais; mesmo aqueles que amam, ou, pelo menos, temem a Deus; quando eles passam horas, talvez dias, com seus filhos, e dificilmente mencionam o nome Dele! Neste meio tempo, eles falam de milhares de outras coisas no mundo que estão em volta deles. E as coisas do mundo atual, que circundam essas crianças, não irão, então, naturalmente tomar seus pensamentos, e colocar Deus a uma distância maior deles (se isto for possível) do que Ele estava antes? Os pais não alimentam o Ateísmo de seus filhos, mais além, atribuindo as obras da criação à natureza? Não é a maneira comum de falar a respeito da natureza deixar Deus completamente fora da questão? Eles não alimentam essa doença, quando quer que eles falem, nos ouvidos de seus filhos, de alguma coisa acontecendo deste ou daquele modo? Das coisas vindas por acaso? Pela boa ou má sorte? Como também, quando eles se referem a este ou aquele evento, pela sabedoria ou poder dos homens; ou, realmente, a alguma outra segunda causa, como se esses governassem o mundo? Sim, eles, sem perceberem, não a alimentam, enquanto eles falam de sua própria sabedoria, ou bondade, ou poder para fazer isto ou aquilo, sem expressamente mencionar que todos esses são o dom de Deus? Tudo isto, tende a confirmar o Ateísmo de seus filhos, e manter Deus fora de seus pensamentos.
Mas nós estamos, de modo algum, limpos do sangue deles, se nós apenas formos assim tão longe, se nós meramente não alimentamos a sua doença. O que pode ser feito para curá-la? Da primeira alvorada da razão, inculcar, continuamente, que Deus está nisto e em toda parte. Deus fez você e a mim, e a Terra, e o sol, e a lua, e todas as coisas. E todas as coisas são Dele; céu e terra, e tudo que nela existe. Deus ordena todas as coisas. Ele faz o sol brilhar, e o vento soprar, e as árvores produzirem frutos. Nada vem por acaso; esta é uma palavra tola; não existe tal coisa como acaso. Já que Deus criou o mundo, então, Ele governa o mundo e todas as coisas que estão nele. Nem um pardal cai no chão, se não for pela vontade de Deus. E como Ele governa todas as coisas, então, ele governa todos os homens, bons e maus, pequenos e grandes. Ele dá a eles todo o poder e sabedoria que eles têm. E Ele governa tudo. Ele nos dá toda a bondade que temos; todo bom pensamento e palavra, e obra são Dele. Sem Ele, nós não podemos pensar coisa alguma certa, ou fazer coisa alguma correta. Assim é que nós inculcamos neles que Deus é tudo em tudo.
Assim, nós podemos neutralizar, e, pela graça de Deus nos assistindo, gradualmente curar o Ateísmo natural de nossas crianças. Mas o que podemos fazer para curar a vontade própria dela? Ela está igualmente enraizada em sua natureza, e é, de fato, a idolatria original, que não está confinada a uma época ou região, mas é comum a todas as nações debaixo do céu. E quão poucos são os pais, que não são culpados neste assunto, mesmo em meio aos cristãos que verdadeiramente temem a Deus! Quem não alimenta, e aumenta continuamente essa intemperança em seus filhos? Permitir-lhes a vontade própria faz isto mais efetivamente. Permitir a eles seguirem seu próprio caminho é o método certo de aumentar a vontade própria sete vezes mais. Mas quem tem a resolução de fazer o contrário? Um pai em cem! Quem pode ser tão singular, tão cruel, para não condescender, mais ou menos, a seu filho? ‘E por que você não poderia? Que dano pode haver nisto, que todos fazem?’.
O dano é que isto fortalece a vontade deles, cada vez mais, até que ela não se submeta nem a Deus, nem ao homem. Condescender aos filhos é, tanto quanto em nós se coloca, fazer a doença deles, incurável. Os pais sábios, por outro lado, devem começar a coibir a vontade deles, no primeiro momento em que ela aparece. Em toda a sabedoria da educação cristã, não existe coisa alguma mais importante do que isto. A vontade dos pais está, para o filho pequeno, no lugar da vontade de Deus. Portanto, cuidadosamente os ensine a se submeterem a isto, enquanto são crianças, para que eles possam estar prontos a submeterem-na à vontade de Deus, quando forem homens. Mas, com o objetivo de conduzir este ponto, você irá precisar de firmeza e resolução incríveis; porque, depois de você ter começado, uma vez, você não deverá mais desistir. Você deverá manter-se firme ainda no mesmo curso; você nunca deverá intermitir sua atenção por uma hora, do contrário você perderá seu trabalho.
Se você não está disposto a perder todo o trabalho que tem tido, para coibir a vontade de seu filho, e trazê-la, em sujeição, à sua, para que ela possa estar, mais tarde, sujeita à vontade de Deus, existe um conselho que, embora pouco conhecido, deve ser particularmente observado. Pode parecer uma circunstância pequena; mas tem uma consequência maior do que alguém pode facilmente imaginar. É este: Nunca, de maneira alguma, dê para a criança alguma coisa, pela qual ela chorou. Porque é uma observação verdadeira (e você poderá fazer o experimento, tão frequentemente quanto lhe agradar) que, se você der a uma criança o que ela pede a você chorando; ela certamente irá chorar novamente.
‘Mas, se eu não dou a ela, quando ela chora, ela irá gritar o dia todo’.
Se ela fizer isto, será por sua culpa; uma vez que está em seu poder efetivamente impedi-la: Porque nenhuma mãe precisa suportar um filho gritando alto, depois que ele tem um ano de idade.‘Porque é impossível impedi-la’.
Assim, muitos supõem, mas trata-se de um completo equívoco. Eu sou testemunha, exatamente do contrário; e assim muitos outros são. Minha mãe teve dez filhos, cada um tinha vitalidade o suficiente; ainda assim, nenhuma delas era ouvida gritar alto depois que tivesse um ano de idade. A senhora de Sheffield (diversas dessas crianças, eu suponho, ainda estão vivas) me afirmou que ela teve o mesmo sucesso com respeito aos seus oito filhos. Quando alguns estavam contestando a possibilidade disto, o Sr. Parson Greenwood (bem conhecido no norte da Inglaterra) replicou:
‘Isto não pode ser impossível: Eu tive prova disto em minha família. Mais do que isto. Eu tenho seis filhos de minha primeira mulher; e ela não aceitou que algum deles chorasse alto, depois que eles tivessem dez meses de idade. E ainda assim, nenhum vigor deles foi tão coibido, de maneira a incapacitá-los para algum, dos ofícios da vida’.
Isto, portanto, pode ser feito por alguma mulher de bom-senso, que pode, por meio disto, evitar a si mesma uma abundância de problema, e prevenir aquele barulho desagradável; os berros das crianças jovens, que podem ser ouvidos debaixo do telhado dela. Mas eu admito que ninguém, a não ser uma mulher de juízo será capaz de efetuar isto; sim, e uma mulher de tal paciência e resolução, que somente a graça de Deus pode dar. De qualquer modo, isto é sem dúvida, o caminho mais excelente: e ela que é capaz de recebê-lo, que o receba!
É difícil dizer se a vontade própria ou orgulho seja a mais fatal intemperança. Foi principalmente o orgulho que atirou para baixo, tantas estrelas do céu, e tornou anjos em demônios. Mas o que os pais podem fazer, com o objetivo de parar isto, antes que ele possa ser radicalmente curado?
Primeiro: Cuide de não acrescentar combustível à chama; de alimentar a doença que você deve curar. Quase todos os pais são culpados de fazerem isto, por elogiarem seus filhos na frente deles. Se você está consciente da tolice e crueldade disto, veja que você inviolavelmente abstenha-se de fazê-lo. E, a despeito do temor ou complacência, dê um passo adiante. Não apenas não encoraje, mas não aceite que outros façam o que você mesmo não se atreve a fazer. Quão poucos pais estão suficientemente atentos a isto – ou, pelo menos, suficientemente resolutos a praticar isto – parar cada um, na primeira palavra, dos que forem elogiá-los na frente deles! Mesmo estes que, de modo algum, estariam solícitos ao elogio próprio; todavia, não hesitariam de estarem solícitos ao elogio de seus filhos; sim, e isto na frente deles! Oh! Reflitam! Isto não é espalhar armadilha para os pés deles? Este não é um incentivo grave ao orgulho, mesmo se eles forem elogiados pelo que é verdadeiramente louvável? Não é duplamente danoso, se eles são elogiados por coisas não verdadeiramente elogiáveis; – coisas de uma natureza indiferente, como razão, boa conduta, beleza, elegância de vestuário? Isto esta sujeito, a não apenas ferir os corações deles, mas seu entendimento também. Isto tem uma tendência manifesta e direta a infundir orgulho e insensatez juntos; a perverter ambos seu gosto e julgamento; ensinando-os a valorizarem o que é esterco e refugo aos olhos de Deus.
Se, ao contrário, você deseja, sem perda de tempo, golpear na raiz do orgulho deles, ensinar seus filhos, tão logo quanto possível, que eles são espíritos caídos; que eles caíram daquela gloriosa imagem de Deus, na qual eles foram primeiro criados; que eles não são agora, como eles foram uma vez, imagens incorruptíveis do Deus da glória; carregando a semelhança explícita da sabedoria, da bondade, do santo Pai dos espíritos; mas mais ignorantes, mais tolos, e mais pecaminosos, do que eles podem possivelmente conceber. Mostrar a eles que no orgulho, paixão, e vingança, eles são agora como o diabo. E que, nos desejos tolos e apetites rastejantes, eles são como as bestas do campo. Zele diligentemente neste respeito, para que, sempre que a ocasião oferecer, você possa ‘identificar o orgulho, em seus primeiros movimentos’, e impedir a mesma primeira aparição dele.
Se você me perguntar: ‘Mas como eu posso encorajá-los, quando eles fazem o certo, se eu nunca os aprovo?’.
Eu respondo, que eu nunca afirmei isto. Eu nunca disse tal coisa como: ‘Você não deve nunca elogiá-los!’. Eu conheço muitos escritores que afirmam isto, e escritores de devoção eminente. Eles dizem que elogiar o homem é roubar a Deus, e, por conseguinte condenam isto completamente. Mas o que dizem as Escrituras? Eu li que o próprio nosso Senhor frequentemente elogiava seus discípulos; e o grande Apóstolo não hesita em elogiar os Corintos, Filipenses, e concorda com outros a quem ele escreve. Ele não pode, portanto, condenar isto completamente. Mas eu digo, use isto muito moderadamente. E, quando o fizer, faça-o, com a mais extrema precaução, dirigindo-os, ao mesmo tempo, a verificarem que tudo que eles têm é dom gratuito de Deus, e com a mais profunda humilhação própria diga: ‘Não a nós! Não a nós! Mas a teu nome seja dado o louvor!’.
Próximo à vontade própria e ao orgulho, a doença mais fatal com o que somos nascidos, está o ‘amor ao mundo’. Mas quão cuidadosamente a generalidade dos pais cuida disto, em suas diversas ramificações! Eles alimentam ‘o desejo da carne’, ou seja, a tendência a buscarem a felicidade, em agradarem aos sentidos exteriores, arquitetando ampliarem o prazer do paladar de seus filhos ao extremo; não apenas dando a eles, antes que eles desmamem, outras coisas além do leite, o alimento natural dos filhos, mas dando a eles, ambos, antes e depois, toda sorte de carnes ou bebidas que eles terão. Sim, eles os seduzem, muitos antes que a natureza requeira isto, a tomarem vinho ou bebidas fortes; e os fornecem com frutas cristalizadas, bolo de gengibre, uva-passa, e qualquer fruta a que eles estejam inclinados. Eles alimentam ‘o desejo dos olhos’, a propensão a buscarem a felicidade no prazer da imaginação, dando a eles lindos brinquedos reluzentes, fivelas ou botões brilhantes, roupas finas, sapatos vermelhos, chapéus com laços, ornamentos supérfluos, como fitas, colares, franzidos; sim, e propondo estes como recompensa por fazerem a obrigação que lhes cabe, o que imprimi um grande valor sobre estas coisas. Com igual cuidado e atenção eles estimulam neles, a Terceira ramificação do amor ao mundo, ‘o orgulho da vida’; a propensão a buscarem a felicidade na ‘honra que vem dos homens’. Nem o amor ao dinheiro é esquecido; eles ouvem muita exortação sobre aproveitarem a melhor chance; muitas leituras concordam exatamente com aquele antigo ateu: ‘Ganhe dinheiro, honestamente se você puder; mas, se não puder, ganhe dinheiro!’. E eles são cuidadosamente ensinados a buscarem as riquezas e honras como a recompensa para todos os trabalhos deles.
Em oposição direta a tudo isto, pais sábios e verdadeiramente amorosos tomam cuidado extremo, para não nutrirem, em seus filhos, o desejo da carne; a propensão natural deles de buscarem felicidade, no gratificarem os sentidos exteriores. Com esta visão, a mãe não irá permitir que eles provem alimento algum, a não ser leite, até que eles sejam desmamados; o que milhares de experimentos mostram, é feito, mais seguramente e facilmente, no final do sétimo mês. E, então, acostumá-los a um alimento mais simples, principalmente de vegetais. Ela pode habituá-los a provar apenas uma espécie de alimento, além do pão, no jantar, e, constantemente para o café da manhã, e jantar, com o leite, tanto frio ou aquecido, mas não fervido. Ela pode acostumá-los, a que se sentem à mesa consigo, às refeições; e a não pedirem por nada, a não ser o que lhes é dado. Ela não precisa fazer com que eles conheçam o gosto do chá, até que eles tenham, pelo menos, nove ou dez anos de idade; ou fazerem uso de alguma outra bebida às refeições, a não ser água ou ninharia [small beer]. E eles nunca desejarão provar carne ou bebida, entre as refeições, se não forem acostumados a isto. Se frutas, confeitos, ou alguma coisa do tipo forem dados a eles, que eles não toquem neles, a não ser às refeições. Nunca proponha alguma dessas coisas como uma recompensa; mas os ensinem a ver mais alto do que isto.
Mas uma dificuldade irá surgir nisto; e vai precisar de muito mais resolução para vencer. Seus criados, que não irão entender seu plano, irão continuamente dar pequenas coisas para seus filhos, e, por meio disto, irão desfazer de todo seu trabalho. Isto você deve evitar, se possível, advertindo-os, quando eles primeiro vieram para sua casa, repetindo o aviso de tempos em tempos. Se eles, não obstante, fizerem isto, você deve mandá-los embora. Melhor perder um bom criado do que estragar uma boa criança.
Possivelmente, você pode ter outra dificuldade para enfrentar, e uma de natureza mais penosa. Sua mãe, ou a mãe de seu marido pode morar com você; e você fará bem em mostrar a ela todo respeito possível. Mas não a deixa ter, de maneira alguma, a mínima participação no manejo de seus filhos. Ela poderia desfazer tudo o que você teria feito; ela iria fazer a vontade deles em todas as coisas. Ela poderia permitir a eles a destruição de suas almas, se não, de seus corpos também. Em oitenta anos, eu nunca encontrei uma mulher que soubesse manejar com um neto. Minha própria mãe, que governou seus filhos tão bem, nunca pode governar uma neta. Em todos os outros pontos, obedeça a sua mãe. Desista da sua vontade pela dela. Mas, com respeito ao manejo de seus filhos, firmemente mantenha as rédeas em suas próprias mãos.
Pais sábios e amorosos serão igualmente cautelosos em não alimentarem ‘o desejo dos olhos’ em seus filhos. Eles não darão a eles brinquedos bonitos e resplandecentes, fivelas e botões brilhantes, roupas finas e alegres; nem ornamentos desnecessários de qualquer tipo; nada que possa atrair os olhos. Nem eles irão permitir que alguma outra pessoa dê a eles o que eles mesmos não darão. Alguma coisa do tipo que é oferecida pode ser tanto civilmente recusada, quanto recebida e guardada. Se eles ficam insatisfeitos com isto, você não pode fazer nada. Complacência, sim, e interesse temporal, necessitam ser colocados de lado, quando o interesse eterno de seus filhos está em jogo.
Suas dores serão bem retribuídas, se você puder inspirá-los, logo cedo, com um desprezo a todos os ornamentos; e, por outro lado, com um amor e estima a uma simplicidade e modéstia de vestuário: Ensinando a eles a associarem as ideias de simplicidade e modéstia; e aquelas de uma mulher refinada e relaxada. Igualmente, instile neles, tão logo quanto possível, um temor e desdém à pompa e grandeza; uma aversão e horror ao amor ao dinheiro; e uma profunda convicção de que as riquezas não podem trazer felicidade. Desacostumá-los, portanto, de todas esses objetivos falsos; habituá-los a fazerem de Deus seu objetivo em todas as coisas; e acostumá-los, em tudo que eles façam, a objetivar conhecer, amar e servir a Deus.
Novamente: A generalidade dos pais alimenta a ira em seus filhos; sim, a pior parte dela; ou seja, a vingança. A mãe tola diz: ‘O que feriu meu filho? Vingue-se, por mim’. Que trabalho horrível é este! Um antigo assassino irá ensinar-lhes, rápido o suficiente, esta lição? Que os pais cristãos não poupem dores em ensiná-los justamente o contrário. Lembrar a eles das palavras de nosso abençoado Senhor: (Mt 5:38-40) ‘Ouvistes que foi dito: Olho por olho, e dente por dente. Eu, porém, vos digo que não resistais ao mal’; não retornando o mal pelo mal. Preferivelmente a isto, ’se qualquer te bater na face direita, oferece-lhe também a outra; e, ao que quiser pleitear contigo, e tirar-te a túnica, larga-lhe também a capa’. Lembre-se das palavras do grande Apóstolo: (Rm 12:19) ‘Não vos vingueis a vós mesmos, amados, mas dai lugar à ira, porque está escrito: Minha é a vingança; eu recompensarei, diz o Senhor’.
A generalidade dos pais alimenta e aumenta a falsidade de seus filhos. Quão frequentemente eles podem ouvir aquela palavra absurda: ‘Não, não foi você; não foi meu filho que fez isto; diga, foi o gato’. Que tolice espantosa é esta! Você não sente remorso, enquanto está colocando uma mentira na boca de seu filho, antes que ele possa falar claramente? E por acaso você pensa que isto terá boa proficiência, quando chegar a maioridade [direito inglês aos 14 anos]? Outros os ensinam a tanto dissimularem quanto mentirem, através de sua severidade desarrazoada; e, ainda outros, por admirarem e aplaudirem suas mentiras engenhosas e embuste astuto. Que os pais sábios, ao contrário, os ensinem a ‘descartarem toda mentira’, nas pequenas e nas grandes coisas; na galhofa e na sinceridade, falando a mesma verdade de seus corações. Que ensinem a eles que o autor de toda falsidade é o diabo, que ‘é um mentiroso e o pai da mentira’. Ensinem a abominar e a desdenhar, não apenas toda mentira, mas todas as expressões ambíguas, toda a astúcia e dissimulação. Que usem de todos os meios para fazê-los amar a verdade, – veracidade, sinceridade, e simplicidade, e a franqueza do espírito e comportamento.
A maioria dos pais aumenta, em seus filhos, a tendência natural à injustiça, por serem coniventes, nas transgressões um ao outro; se não rindo, ou mesmo aplaudindo sua engenhosa sagacidade para enganar um ao outro. Tomem cuidado, com todas as coisas deste tipo; e, em suas infâncias, semeiem as sementes da justiça em seus corações, e os eduquem na prática mais exata dela. Se possível, os ensinem a amar a justiça, e isto nas coisas menores, assim como, nas coisas maiores. Imprimam, em suas mentes, um velho provérbio: ‘Aquele que é capaz de roubar um lápis, será capaz de roubar uma libra’. Habituem seus filhos a devolverem tudo que eles devem, mesmo que um centavo.
Muitos pais são coniventes igualmente na maldade de seus filhos, e, por meio disto, a fortalecem. Porém, os pais verdadeiramente afetuosos não irão ter indulgência com eles, de qualquer tipo, ou grau de crueldade. Eles não irão aceitar que eles aflijam seus irmãos ou irmãs, quer por palavras ou ações. Eles não irão permitir que eles firam ou causem dores à coisa alguma que tem vida. Eles não irão permitir que eles roubem ninhos de pássaros; muito menos matem alguma coisa sem necessidade, – nem mesmo cobras que são tão inocentes quanto minhocas, ou sapos, o que tem sido provado, sempre e sempre, não obstante a feiura e a má fama deles, serem tão inofensivos quanto insetos. Que eles ampliem, na sua medida, a qualquer animal que seja, a regra de fazer a eles o que eles gostariam que lhes fosse feito. Vocês que são pais verdadeiramente amorosos, de manhã, de tarde, e em todo o dia, pressionem todos os seus filhos ‘a caminharem no amor, como Cristo também os amou, e deu a Si mesmo por nós’; a ter em mente um ponto, ‘Deus é amor; e aquele que habita no amor, habita em Deus, e Deus nele’.
John Wesley