Se você perguntasse a um habitante de um país em guerra: “Qual é a sua maior necessidade?”, ele responderia: “O fim da guerra, de todo o derramamento de sangue e de toda esta matança“. Se você fizesse esta mesma pergunta ao morador de um país em fome, ele responderia: “Comida, nossas crianças estão sentindo muita fome, e nosso povo está morrendo“. Se você fizesse esta mesma pergunta a milhões de pessoas em um país onde há falta de emprego, qual seria a resposta: “Precisamos da dignidade de sair de casa e ganhar nosso pão de cada dia“. E se fizesse a pergunta a alguém que se encontra na cama de um hospital, sofrendo de uma enfermidade terminal, é claro que essa pessoa responderia: “Eu quero a restauração de minha saúde“. Você pode compreender todas essas respostas. Mas todas elas foram ditadas pelas circunstâncias. Existe uma necessidade que ultrapassa todas estas, uma necessidade que supera todos os dilemas dos homens, quer eles vivam na África, na Ásia ou na Europa.
A Grande Necessidade
A grande necessidade do homem sempre tem sido, e sempre será, o tornar-se aceitável a Deus. Deus é o fator comum na vida de todos os homens, não importando qual seja o nosso país ou as nossas circunstâncias.
Todos os homens e mulheres foram criados por Deus e para Deus e, por isso, têm de prestar contas a Ele. Portanto, quando a guerra acabar em um país, o seu povo ainda precisará do Senhor Jesus Cristo, porque ainda são pecadores que estão sob o julgamento e a ira de Deus. Quando for satisfeita toda a fome de um povo, em determinado país, eles ainda precisarão do Evangelho do Senhor Jesus Cristo. Quando não houver mais qualquer desempregado, em algum lugar, os homens ainda necessitarão do Senhor Jesus – este é o fator comum.
O problema para nós é este: Deus é santo e justo. Não existe n’Ele nenhum pecado, nenhuma falta, nenhuma culpa. Deus não tolera o pecado, e nós (você e eu) somos pecadores.
O homem, assim como ele é, não pode ser aceito por Deus. O homem não satisfaz as exigências de Deus, nem atinge os padrões divinos. Em muitas igrejas, eu creio, há pessoas imaginando que podem satisfazer os padrões de Deus. Mas a verdade é: toda a justiça dos homens assemelha-se a um monte de trapos imundos, aos olhos de Deus (Is 64.6).
Permita-me ilustrar isso da seguinte maneira: imagine que um homem está limpando o seu carro, não o exterior, e sim o interior. Ele está limpando o motor. Em suas mãos, ele tem um trapo sujo. Ele está removendo o óleo que caiu sobre o motor, e o trapo está se tornando cada vez mais sujo. Então, a sua esposa o chama, porque sua filhinha, que está em casa, ficou doente. O homem entra com o trapo imundo em suas mãos e tem de limpar com ele o vômito da filhinha. Imagine o estado em que ficará este trapo?
Trapo de Imundície
Depois, o esposo vem para a sala de visitas e coloca o trapo sobre a mesa de café! Você já sabe o que a esposa dirá, não sabe? “Tire da minha casa esse trapo de imundície. Eu não o quero em minha casa!” Isso é exatamente o que Deus diz, quando você Lhe traz as suas justiças: “Tire da minha casa esse trapo de imundície”. Se você se sente revoltado com o pensamento deste trapo sujo de óleo e de vômito, essa é a maneira como Deus vê a sua justiça; não é a maneira como Ele vê o seu pecado, e sim como Ele vê a sua bondade, na qual você se deleita e se gloria.
E o fato terrível é afirmado em Romanos 3.10, onde o apóstolo Paulo declarou: “Não há justo, nem um sequer” – em todo este mundo.
Ora, sendo esse o fato, a maior necessidade do homem é ser capaz de satisfazer o padrão de Deus e tornar-se aceitável a Ele.
Deus Clama
De acordo com Romanos 1.17, as boas-novas de Deus nos revelam a própria justiça que necessitamos desesperadamente – “A justiça de Deus se revela no Evangelho”. A justiça de Deus é revelada. O Evangelho não é constituído de ideias de homens a respeito do que o cristianismo deveria ser, nem o resultado de séculos de esforço do homem buscando a Deus. O Evangelho é uma mensagem vinda do céu. Deus afirma: “Eis a resposta para a sua falta de justiça, para o seu pecado, para a sua depravação e para a sua alienação”. Deus está clamando dos céus: “Eis a resposta”.
As Nações Unidas, os conselhos das igrejas e todos os esforços sociais dos homens não poderiam nos providenciar esta resposta. Mas Deus a está anunciando.
A palavra “justiça”, neste versículo, não está descrevendo algo a respeito de Deus, tal como a sua santidade ou pureza. Ela realmente significa uma justiça que vem de Deus e que Ele nos dá. O versículo não está dizendo: “Esta é a justiça de Deus, contemplem-na e admirem-na”, e sim: “Eis a justiça que Deus nos outorga”.
O Dom Gratuito
Esta é a razão por que o Evangelho é boas-novas. Ele não nos diz o que nós temos de alcançar, e sim o que já foi conseguido por nós e o que temos de receber como um dom gratuito.
Se você contasse às pessoas de seu país que ir à Califórnia é o único meio de ter o céu garantido, muitos não o conseguiriam, pois estaria além de suas capacidades. O Evangelho, porém, não nos fala a respeito do que temos de conseguir; ele nos fala sobre o que Deus nos dá como um dom gratuito, um dom oferecido a todos os homens.
Lembre-se de que o Evangelho foi idealizado por Deus, foi produzido por Ele. O propósito do Evangelho é satisfazer as exigências de Deus e o seu empreendimento é a nossa salvação. Mas esta é uma verdade-chave: a nossa salvação somente pode ser realizada, se as exigências de Deus forem satisfeitas.
As Exigências de Deus
Quais são as exigências de Deus? Ele exige de você uma justiça tão boa quanto a d’Ele mesmo. Deus não tem dois padrões diferentes. Ele tem apenas um. Deus exige de mim e de você uma justiça semelhante à d’Ele mesmo.
Você argumentará que isto é ilógico? Não, não é, visto que Deus criou o homem sem pecado, à sua própria imagem. Deus quer que sejamos conforme Ele nos criou. Isto não é ilógico. Mas é impossível. Você pode seguir a lógica desta verdade? Ela não é ilógica, porém é impossível. É impossível porque nosso pecado a torna impossível.
Em que situação isto nos deixa? Isto nos deixa incapazes de salvar a nós mesmos, necessitados de alguém para nos salvar. Aquele que nos salvará tem de providenciar para nós uma justiça tão boa quanto a justiça de Deus.
No entanto, não existe entre os homens tal justiça. A única maneira possível de sermos salvos, a única maneira possível de nos tornarmos aceitáveis a Deus é possuirmos a justiça d’Ele mesmo.
Mas já dissemos que isto é impossível! Não, o Evangelho torna isto possível; e esta é a sua glória. O Evangelho torna possível para você (não importando o que você é, nem o que você faz, nem qual foi a sua vida no passado) o ter uma justiça – não uma justiça tão boa quanto a de Deus – a própria justiça de Deus. Isto é o que o Evangelho nos oferece, nada menos. Deus providencia a própria justiça que Ele exige de você, que diz: “Eu não posso”. Mas Deus declara: “Não se preocupe; Eu já o fiz”.
Venha a Jesus
Então, como podemos obter esta justiça? Receba-a de Jesus.
Através do Evangelho, você pode se voltar para Jesus; e, quanto mais rápido você vier a Jesus, tanto melhor isto lhe será. Não apresente desculpas para não se voltar a Jesus, nunca retroceda ante a exclusividade e a singularidade do Senhor Jesus Cristo. Ele não é um profeta semelhante a Maomé.
Jesus é Deus, que se tornou homem, o Filho de Deus – igual ao Pai em glória, majestade, justiça e santidade. Ele veio a este mundo para satisfazer as exigências de Deus em nosso lugar. Jesus veio para satisfazer, por você, aquelas razoáveis e impossíveis exigências.
A Bíblia nos diz que o Senhor Jesus se colocou sob a Lei de Deus, prestando-lhe perfeita obediência. Nos Evangelhos, encontramos uma admirável declaração feita por Jesus, na noite que antecedeu o Calvário: “Aí vem o príncipe deste mundo, e ele nada tem em mim” (Jo 14.30). Adore a Deus, Jesus não tinha pecado.
O diabo tem muitas razões para acusar você. Ele poderia escrever um livro a respeito de mim ou de você, mas nada tem em Jesus. Não havia qualquer mácula n’Ele, nada em seu caráter que o diabo pudesse apontar e dizer: “Este Jesus é um pecador”. O Senhor Jesus é o imaculado, impecável e santo Cordeiro de Deus. E, porque n’Ele não há pecado, Deus foi capaz de colocar sobre Jesus o pecado de todos nós. Ele levou sobre Si a nossa culpa, recebeu a nossa punição na cruz do Calvário.
Existem somente dois lugares onde Deus lida com o nosso pecado. Um destes lugares é o inferno; o outro é o Calvário. Você terá o problema de seu pecado resolvido na cruz do Calvário, onde existe perdão, ou no inferno, onde o seu pecado receberá eternamente o juízo e a ira de um Deus santo?
Deus exigia que seu pecado fosse punido. Jesus, porém, levou sobre Si a nossa culpa e nossa punição, pagando-a completamente. Nada foi deixado sem pagamento. Não existe mais nada que a Lei possa exigir.
Jesus satisfez toda a Lei na cruz do Calvário, e, por causa disso, Deus cancela nossa dívida. Ele tem de cancelar tal dívida, porque ela já foi totalmente paga. Em seguida, Ele imputa sobre nós ou nos credita a própria justiça de Cristo.
A Grande Lista
Deixe-me apresentar uma ilustração. Este assunto é como se existisse no céu uma grande lista com o seu nome no topo. É uma conta imensa; e, em cada vez que você peca, esse pecado é acrescentado àquela lista – ira, orgulho, inveja, adultério, roubo, cobiça; a lista é enorme. A única diferença entre um pecador de 70 anos de idade e um de 17 anos é que o idoso tem mais pecados pelos quais tem de prestar contas. Imagine 70 anos de pecado!
No entanto, Deus na graça do Evangelho, apaga completamente essa lista. Ele declara que não existe nada pelo que você tem de pagar, porque todos aqueles pecados foram colocados sobre Jesus, no Calvário. A conta ainda está lá, no céu; seu nome está sobre ela, mas ela está vazia.
Entretanto, Deus não a deixa vazia. Ele acrescenta naquela conta a justiça do Senhor Jesus. Assim, ao invés de ira, pecado, inveja, amarguras e mentiras, Deus escreve agora na lista a justiça de Jesus – pureza, amor, paciência, bondade – creditando para você a própria beleza do Senhor Jesus Cristo.
Isto é maravilhoso: estar vestido de uma beleza que não resulta de mim mesmo. É a beleza de Jesus que nos cobre como um manto de justiça e uma vestimenta de salvação – “Visto que a justiça de Deus se revela no Evangelho” (Rm 1.17). A justiça de Deus é revelada para nós.
Pela Fé
A justiça que vem de Deus se realiza pela fé. Nosso texto bíblico diz: “De fé em fé” (Rm 1.17). Deixe-me esclarecer isto. A fé não nos salva. É a justiça de Cristo que nos salva, mas obtemos esta justiça pela fé, ou seja, a fé é o instrumento pelo qual recebemos a justiça de Deus.
Pergunto a mim mesmo: quantas pessoas estão no inferno, depois de haverem passado mais de vinte anos frequentando uma igreja? Talvez você diga: “Deus, eu fiz isto e aquilo; fui bonzinho para o meu próximo, cuidando dele, quando estava doente”. Louve a Deus por isso, mas isso não o salvará. Você pode continuar apresentando os seus muitos trapos de imundície na presença de Deus e perguntar: “Deus, estas coisas não são maravilhosas?”.
A fé é o oposto disso. A fé descansa na justiça de Cristo. Ela viu a sua justiça própria como um monte de lixo. A fé não contempla outra coisa, exceto Jesus. Mas, que maravilhosa contemplação de Jesus – levando o meu pecado e minha culpa, bem como suportando toda a ira de Deus, em meu lugar! A fé se deleita em Jesus, ama-O e confia n’Ele.
Dois Montes
Existiu um pregador escocês, David Dickson, no século XIX, que disse: “Tomei todos os meus atos maus e fiz deles um monte; peguei todos os meus bons atos e fiz deles outro monte. Afastei-me tanto de um deles quanto do outro e corri para Jesus”. Isto é o que significa a fé.
Quando nos achegamos a Deus desta maneira, Ele nos outorga a justiça de Cristo; e, quando somos vestidos com esta justiça, tornamo-nos aceitáveis a Deus. Você pode ver a maravilha que existe nisto? Podemos nos dirigir ao homem mais vil deste mundo, ao pior assassino, ao mais terrível traficante de drogas e dizer-lhe: “Em Cristo existe salvação para você, porque não depende do que você é ou do que você tem feito. Você pode receber a justiça de Cristo pela fé”.
Peter Jeffery