Por natureza o ser humano sempre diz “não” a Deus, como está escrito: “Não há ninguém que entenda; não há ninguém que busque a Deus” (Rm 3:11). Porém, nos Evangelhos, encontramos cinco ocasiões quando pessoas disseram: “Sim, Senhor!”, manifestando assim a operação da graça de Deus nas suas vidas.
1. Confiança (Mt 9.28). Em algumas ocasiões o Senhor Jesus demorou a atender as pessoas que pediram a Sua ajuda, mas sempre houve algum motivo por que Ele assim o fez. Estes dois cegos seguiram o Senhor, não podendo ver nada, mas somente escutando a Sua voz e o som da multidão que O seguia. Porém, “a fé vem pelo ouvir, e o ouvir pela palavra de Deus” (Rm 10:17). O que os cegos ouviram da boca do Senhor Jesus, foi usado por Deus para mostrar-lhes que Jesus é o Cristo; e assim clamaram: “Tem compaixão de nós, filho de Davi”.
Contudo, o Senhor esperou para chegar à casa antes de atender o seu clamor. Não foi fácil para eles seguir só pelo ouvir, mas o Senhor queria que a luz que estava amanhecendo nos corações destes dois homens fosse manifesta a todos os discípulos. Ele quis demonstrar a bem-aventurança dos “que não viram e creram” (Jo 20:29).
Foi por esta razão que o Senhor os interrogou: “Credes vós que Eu possa fazer isto?” Sendo cegos, eles nunca haviam visto o Senhor fazer um milagre, mas Deus havia revelado Seu Filho neles (Gl 1:15-16) como todo-suficiente para suprir as suas necessidades. Assim responderam: “Sim, Senhor”, e foi-lhes feito segundo a sua fé (Mt 9:29).
“Em Ti confiarão os que conhecem o Teu nome; porque Tu, SENHOR, nunca desamparaste os que Te buscam” (Sl 9:10). Através desta “fé que vem por Ele” (At 3:16), Cristo, a Luz do mundo, liberta o pecador perdido das trevas e do domínio de Satanás. “Porque Deus, que disse que das trevas resplandecesse a luz, é quem resplandeceu em nossos corações, para iluminação do conhecimento da glória de Deus, na face de Jesus Cristo” (II Cor 4:6).
Porém, os que já foram iluminados ainda sentem uma certa cegueira espiritual, especialmente ao lerem a Palavra de Deus. Muitos costumam usar a petição do Salmo 119:18: “Abre Tu os meus olhos, para que eu veja as maravilhas da Tua lei”. A estes também o Senhor Jesus dirige a Sua pergunta: “Credes vós que Eu possa fazer isto?” Se a resposta for “Sim, Senhor”, a bênção será segundo a nossa fé!
2. Esclarecimento (Mt 13:51). O propósito principal das sete parábolas do Senhor em Mateus 13, é demonstrar a diferença entre os Seus discípulos e a multidão, os filhos do reino e os filhos do maligno. Havendo proposto todas estas parábolas Ele lhes perguntou: “Entendestes todas estas coisas?” e os discípulos responderam-Lhe: “Sim, Senhor”.
Não há nada no contexto que indique que esta resposta não foi sincera. De fato, este entendimento, dado por Deus, é uma das marcas mais destacadas da diferença entre o povo do Senhor e os filhos do maligno, como o Senhor disse: “Porque a vós é dado conhecer os mistérios do reino dos céus, mas a eles não lhes é dado … Mas, bem-aventurados os vossos olhos, porque veem, e os vossos ouvidos porque ouvem” (11 e 16).
É possível ler a Bíblia inteira sem entender nada. De fato, esse sempre será o resultado se o leitor ainda não nasceu de novo, pois o homem natural não compreende as coisas do Espírito de Deus (I Cor 2:14). E mesmo sendo regenerado pelo Espírito Santo, o crente poderá continuar sem entender nada, se ler a Bíblia sem oração, confiando na sua própria inteligência. Os discípulos haviam pedido: “Explica-nos a parábola” (36); talvez a petição que mais se encontra no livro dos Salmos é: “Ensina-me, Senhor”; e Paulo orava em favor dos Colossenses, pedindo que fossem “cheios do conhecimento da Sua vontade, em toda sabedoria e inteligência espiritual …”. (Cl 1:9). O Senhor tem o maior prazer em atender tais orações, como disse a Jeremias: “Clama a Mim, e responder-te-ei, e anunciar-te-ei coisas grandes e firmes que não sabes” (Jr 33:3). Ele quer que todos “venham ao conhecimento da verdade” (I Tm 2:4).
3. Humildade (Mt 15:27). Outra vez temos um caso quando o Senhor Jesus demorou de propósito. À primeira vista parece que Ele estava sendo muito brusco, ou até malcriado, com esta mulher cananéia. Porém, ao vermos o resultado podemos apreciar a sabedoria d’Ele. Aproximando-se d’Ele, ela mostrou que, embora estrangeira, tinha conhecimento a respeito d’Ele: “Senhor, Filho de Davi, tem misericórdia de mim …”. Mas conhecimento em si não salva. É possível saber que Jesus é Senhor, e que veio da descendência de Davi segundo a carne, sem ter uma fé salvadora n’Ele. Será que as palavras dela seriam apenas lisonja? Por esta razão é que o Senhor “não lhe respondeu palavra”.
Em seguida, “chegou ela e adorou-O, dizendo: Senhor socorre-me”. Quem poderá duvidar de sua sinceridade agora? Porém o Senhor ainda manifesta uma certa relutância, e objeta: “Não é bom pegar no pão dos filhos (os judeus) e deitá-lo aos cachorrinhos (os gentios)”. Se nós estivéssemos no lugar dela, talvez teríamos ficado muito ofendidos com isso.
Mas ela respondeu: “Sim, Senhor, mas também os cachorrinhos comem das migalhas que caem da mesa dos seus senhores”. Ou, em outras palavras: “Sim, Senhor, é verdade que sou estrangeira, separada da comunidade de Israel, estranha às alianças da promessa, não tendo esperança, e sem Deus no mundo, mas Tu és bondoso, Tua graça é abundante, e apenas as sobras que caem da mesa do Rei seriam mais do que suficientes para mim e minha filha”.
“Ó mulher, grande é a tua fé”, replicou o Senhor Jesus, e lhe concedeu a cura de sua filha. Assim vemos como o Senhor quis mostrar a ela e aos discípulos d’Ele a realidade desta verdadeira fé que o próprio Senhor lhe deu. Sua fé foi grande porque engrandeceu o Senhor, magnificando as riquezas da Sua graça e bondade, e humilhando-se a si mesma.
4. Consolação (Jo 11:27). Geralmente não pensaríamos em dar ensino doutrinário a uma pessoa que estivesse de luto. Porém aqui o Senhor demonstra que a recepção da Sua verdade é a principal fonte de consolação. Amargurada por causa da morte de seu irmão Lázaro, e talvez por causa da demora do Senhor, Marta dá a impressão de que, para ela, Jesus não passava de um homem bom, a cujas orações Deus atende: “Sei que tudo quanto pedires (como um ser inferior) a Deus, Deus to concederá” (22).
Por isso, o Senhor mostrou-lhe que Ele tinha determinado a morte de Lázaro como uma ocasião para manifestar a Sua glória divina: “Eu sou a ressurreição e a vida; quem crê em Mim, ainda que esteja morto, viverá”. A ressurreição de Lázaro serviu não somente para consolar suas irmãs e manifestar Seu divino poder aos judeus, mas também para mostrar como o que crê n’Ele já “passou da morte para a vida”, “nunca verá a morte”, e que, num sentido verdadeiro “todo aquele que vive, e crê em Mim, nunca morrerá” (26 – pois sua alma estará presente com o Senhor, e seu corpo apenas “dormindo em Jesus” até a ressurreição).
Em seguida o Senhor examina Marta com respeito a estas verdades preciosas: “Crês tu isto?” Ela responde: “Sim, Senhor”, eu não entendo, mas “creio que Tu és o Cristo, o Filho de Deus, que havia de vir ao mundo”. É assim que devemos enfrentar todas as aflições e angústias da vida, não tentando explicar a situação, mas crendo no poder e sabedoria d’Aquele que faz todas as coisas, segundo o conselho da Sua vontade: “Não temas, crê somente” (Mc 5:36).
5. Restauração (Jo 21:15-16). Fingimento e hipocrisia não subsistem na presença do Senhor. Na Sua luz as coisas ocultas das trevas e os segredos dos corações são todos revelados. A pergunta: “Simão, filho de Jonas, amas-Me?” penetrou além das camadas de remorso e desanimo no coração de Pedro, para mostrar se a verdade realmente tinha raiz nele ou não.
Toda a coragem e firmeza, que ele pensava ter, tinha sido despedaçada pela pergunta de uma mera criada. A inimizade natural da carne contra o Senhor e Seu Ungido se manifestara preferindo que Jesus não existisse em sua vida a fim de não participar das aflições do Evangelho.
Porém, agora a pergunta do Senhor demonstrou que ainda havia algo da natureza divina (II Pe 1:3) em Simão Pedro. Três vezes, com muita emoção, Pedro afirmou o seu amor, desfazendo, assim, as suas três negações. Imediatamente ele foi restaurado totalmente ao Senhor e ao Seu serviço: “Apascenta os Meus cordeiros … as Minhas ovelhas”.
O amor para com Cristo é a principal evidência da salvação. Este foi o teste final para os crentes rebeldes em Corinto: “Se alguém não ama ao Senhor Jesus Cristo, seja anátema” (I Cor 16.22). Mas aos efésios, Paulo diz: “A graça seja com todos os que amam a nosso Senhor Jesus Cristo em sinceridade” (Ef 6:24).
Que nós possamos dizer de todo o coração e prostrados aos pés de Cristo: “Sim, Senhor, Tu sabes que Te amo”.
Terry Julian Blackman