Sangue, Suor e Lágrimas

Sangue, suor e lágrimas são três elementos preparados pelo corpo especificamente para manter a vida, a temperatura e proteção da pele, e a lubrificação dos olhos. Fazem parte do maravilhoso funcionamento da nossa “tenda” terrestre, desenhada segundo a infinita sabedoria do nosso Deus. Quando nossos primeiros antepassados pecaram, no Jardim do Éden, estes três elementos passaram a ter, além dessa vital utilidade, um significado ainda mais amplo, como veremos a seguir.

O pecado trouxe a morte espiritual para o ser humano, que é a perda de comunhão com Deus. Em seguida, a morte física eventual também se tornou uma realidade. A maldição de Deus veio ao resto da criação, que Deus havia antes declarado ser “muito boa”. Adão e Eva se acharam nus e procuraram se cobrir com folhas antes de comparecer diante de Deus. Mas o Senhor Deus lhes mostrou que era preciso mais do que isso: Ele fez roupas de pele e com elas cobriu Adão e sua mulher.

Aprendemos mais de uma lição com isso, mas o que mais interessa aqui é que, pela primeira vez, percebemos que houve morte: as peles vieram de animais, e os animais morreram para que Adão e Eva pudessem se cobrir. A nudez de Adão e Eva custou a vida deles. É o primeiro exemplo de “expiação”, em que o sangue (vida) dos animais foi derramado para cobrir (ou “expiar”) o pecado de alguém. É uma figura da expiação real feita pela morte do Filho de Deus.

Sangue, o elemento vital, passou a simbolizar a própria vida. Deus proibiu o assassínio, chamado de derramamento de sangue, pois Deus requer a vida de cada homem para si (Gênesis 9:5), mas permitiu matar os animais desde que não se beba o seu sangue (Gênesis 9:4). O sangue é símbolo de vida ainda hoje, na linguagem comum.

A lei dada por meio de Moisés ao povo de Israel manteve a proibição de beber sangue, mas concedeu que se usasse o sangue de certos animais, considerados ritualisticamente “limpos”, para purificação e expiação dos pecados do povo de Israel: “E quase todas as coisas, segundo a lei, se purificam com sangue; e sem derramamento de sangue não há remissão” (Hebreus 9:22).

No início da igreja, foi debatido em Jerusalém até que ponto os gentios deveriam se submeter à lei de Moisés, após o que os apóstolos e presbíteros escreveram uma carta aos cristãos gentios informando que “pareceu bem ao Espírito Santo e a nós não impor a vocês nada além das seguintes exigências necessárias: Que se abstenham de comida sacrificada aos ídolos, do sangue, da carne de animais estrangulados e da imoralidade sexual. Vocês farão bem em evitar essas coisas” (Atos 15:28-29 – NIV). Esta decisão, no que concerne beber sangue, é um dos primeiros mandamentos de Deus, dado muito antes da lei de Moisés, e não é cerimonial ou provisório como querem alguns. Realmente faremos bem em observá-lo.

Na oportunidade determinada por Deus, o Senhor Jesus Cristo verteu o Seu próprio sangue: Ele sangrou ao sofrer os açoites que precediam a crucificação. O procedimento deste cruel método de execução incluía açoites preliminares que causavam grande sangramento, enfraquecendo, desidratando e abreviando a morte do condenado que poderia ficar pendurado por vários dias. Além dos açoites, os soldados coroaram o Senhor com uma coroa de espinhos, para zombarem dele (Mateus 27:26-31, Marcos 15:15-20, João 19:1). Estavam longe de saber que Ele era na realidade o rei do universo. Continuando a sangrar, Ele sofreu as feridas dos cravos nas mãos e nos pés. Já morto, um dos soldados perfurou o lado do Senhor com uma lança para ter certeza, e logo saiu sangue e água, prova concludente (Salmo 69:20).

A morte do Senhor Jesus decorreu do derramamento do Seu sangue. O momento da morte foi determinado por Ele mesmo, quando exclamou “Está consumado!” (João 19:30) e “Pai, nas Tuas mãos entrego o meu espírito” (Lucas 23:46). O simbolismo do sangue com vida (física) ficou consagrado, e os dois termos são intercambiáveis no Novo Testamento. Desde aquele momento Ele pode salvar da pena do pecado a todo aquele que nele confia, pois o Seu sangue nos purifica de todo pecado (1 João 1:7).

Nosso Salvador Jesus Cristo nos deixou outro símbolo do Seu sangue, lembrando-nos da Sua morte pelos nossos pecados, que é o cálice da Ceia do Senhor: deste devemos todos tomar, pois é o Seu desejo e mandamento (Mateus 26:27-28, etc.).

O suor é mencionado pela primeira vez em Gênesis 3:19: “No suor do teu rosto comerás o teu pão, até que te tornes à terra; porque dela foste tomado; porquanto és pó e em pó te tornarás“. O suor, essencial para o conforto da pele quando sobe a temperatura do meio ambiente (Ezequiel 44:18), passou a ser um símbolo do esforço do trabalho intensivo, da angústia e do sofrimento, usual ainda na linguagem de hoje.

Em Lucas, capítulo 22, versículo 44, lemos que, no jardim de Getsêmani no monte das Oliveiras, logo antes de ser preso, “estando angustiado, ele orou ainda mais intensamente; e o seu suor era como gotas de sangue que caíam no chão” (NVI). É o único texto bíblico que nos conta isto e ele tem dado origem a várias interpretações, especialmente porque existe uma tradução antiga, mas ainda usada, que indevidamente omite o vocábulo “como”, e muitos comentaristas se esforçam em explicar como Ele teria exalado gotas de sangue ao invés de suor!

Lucas, sendo médico, observou e nos contou esse detalhe. Não é difícil entender que o suor em abundância goteja, que sangue forma gotas maiores por causa do rápido processo de coagulação, logo as gotas de suor eram grandes como se fossem de sangue coagulado. Sem dúvida o Senhor estava em grande sofrimento mental, sabendo que iria sofrer a terrível ira do Seu Pai e seria abandonado por Ele por causa do pecado do mundo que levava sobre Si (Mateus 27:46). Este era o suor da extrema aflição.

Lágrimas, tão importantes para a proteção dos olhos, são vertidas em profusão em ocasiões de fortes emoções, especialmente nas de grande tristeza. Sem dúvida o choro acompanhado de lágrimas começou com o pecado, porque antes, havendo perfeita comunhão com Deus, não havia motivo para tristeza. As lágrimas são mencionadas muitas vezes no Velho Testamento, relacionadas com o pecado próprio, ou alheio. A lágrima é uma das últimas coisas relacionadas na Bíblia que não existirão nos novos céus e na nova terra (Apocalipse 21:4).

Jesus Cristo, quando revestido do Seu corpo humano, experimentou fortes emoções entre o povo que O rodeava, até entregar esse corpo na cruz do Calvário como sacrifício aceitável a Deus pelo pecado. Ele sentia profunda compaixão pela humanidade. Ele chorou ao chegar ao túmulo de Lázaro, em simpatia com os que ali lamentavam a sua morte (João 11:35), também chorou sobre Jerusalém por causa da incredulidade dos seus habitantes e dos dias de terrível perseguição e destruição que viriam sobre ela (Lucas 19:41). No jardim de Getsêmani Ele começou a entristecer-Se e angustiar-Se “numa tristeza mortal” (Mateus 26:37-38), e lemos que Ele “ofereceu orações e súplicas, em alta voz e com lágrimas…” (Hebreus 5:7 – NVI).

Passaremos também por momentos de grande tristeza e mesmo angústia enquanto estivermos neste mundo, pois não somos melhores do que o nosso supremo Mestre. Lembremos as Suas palavras: “Bem-aventurados os que choram, porque eles serão consolados” (Mateus 5:4), e as de Pedro: “Alegrai-vos no fato de serdes participantes das aflições de Cristo, para que também na revelação da sua glória vos regozijeis e alegreis. Se, pelo nome de Cristo, sois vituperados, bem-aventurados sois, porque sobre vós repousa o Espírito da glória de Deus” (1 Pedro 4:13-14). As aflições causadas pela nossa fidelidade ao nome de Cristo são provas de que sobre nós repousa o Espírito da glória de Deus. Isto nos deve alegrar, pois somos bem-aventurados, e nos regozijaremos e nos alegraremos na revelação da glória de Cristo, quando Ele voltar ao mundo. A nossa alegria nunca será interrompida, pois “Deus limpará de seus olhos toda lágrima, e não haverá mais morte, nem pranto, nem clamor, nem dor, porque já as primeiras coisas são passadas” (Apocalipse 21:4).

Richard David Jones, Fatos Bíblicos.