O autor o intitulou “Uma Oração do Crente Mais Santo do Mundo para sua Vida e Morte”. Este hino de louvor e oração a Cristo, a “Rocha Eterna”, que morreu por nós, cujo sangue nos lava, e que oferece “perdão, pureza e salvação”, é um dos hinos mais difundidos e amados no mundo inteiro. Era o costume de Augustus escrever hinos para sua congregação cantar após o seu sermão.
Este hino foi registrado depois do seu sermão sobre Gênesis 12:5. O tema principal da vida deste pastor anglicano era a suficiência da morte de Cristo para a nossa salvação. Augustus queria que todos entendessem bem que “nem trabalho, nem penar” contribuem para a nossa salvação, e que “nada eu tenho a te ofertar”; quem simplesmente crer n’Ele subirá para o céu e verá Seu rosto em glória!
Há diversas histórias sobre a inspiração da frase “Rocha Eterna”, mas uma pesquisa cuidadosa revela a mais provável. No prefácio do hinário “Hymns on the Lord’s Supper” (Hinos sobre a Ceia do Senhor), publicado por Charles Wesley em 1745, foram citadas algumas linhas de um sermão intitulado “O Sacramento e Sacrifício do Cristão”, pelo Dr. Daniel Brevint:
“Não deixe que meu coração arda com menos zelo, para segui-Lo e servi-Lo agora enquanto o pão está quebrado na mesa, do que ardiam os corações dos Teus discípulos quando quebraste o pão em Emaús, Ó Rocha de Israel, Rocha de Salvação, Rocha ferida e partida por mim (…) Não deixe que minha alma tenha menos sede do que se eu estivesse com [Teu povo] no Monte Horebe, onde jorrou o santo sangue das feridas do meu Salvador”.
Augustus e John Wesley não concordavam em assuntos de teologia. Eram oponentes acerbos nos assuntos da Graça e do Livre Arbítrio. Seus hinos, porém, permanecem lado a lado no hinário; nenhum outro hino expressa melhor a doutrina da Expiação, a impossibilidade do homem salvar a si próprio e o pleno poder do sangue de Cristo para a Salvação. Augustus comparou o “Débito do Pecado” do homem ao Débito Nacional da Inglaterra, e mostrou a futilidade do homem em querer pagar sua própria divida e então diz:
“Necessitamos a Deus, o Pai, por eleger-nos; a Deus, o Filho, por assumir nossas dividas; e a Deus, o Espírito Santo, por seu dom da fé em Cristo”.
A grande semelhança de fraseologia de Augustus no original dá crédito a esta posição. Augustus publicou uma estrofe deste hino em 1775 no “The Gospel Magazine” (A Revista do Evangelho), da qual era editor, juntamente com um artigo intitulado “A Vida é Uma Viagem”. Depois de apresentar uma série de perguntas e respostas que demonstravam que a Inglaterra jamais poderia pagar sua dívida nacional, comparou isso com o homem e seus pecados. Calculou quantos pecados um homem poderia cometer até certas idades – 20, 30, 40, chegando aos 80 anos, o total seria de 2.522.890.000. Então apresentou a única solução, a que Cristo oferece, citando Gálatas 3.13:
“Cristo nos resgatou da maldição da lei, fazendo-se maldição por nós; porque está escrito: Maldito todo aquele que for pendurado no madeiro”. (…) Isto, não somente contrabalançará, mas infinitamente sobre-balançará todos os pecados de todo o mundo que crê.
A poesia completa de quatro estrofes apareceu na mesma revista, em março de 1776. Este hino tem sido o consolo de pessoas em todos os continentes. Albert, o príncipe-Consorte da rainha Vitória, recebeu grande consolação dele e pediu que fosse cantado no seu culto fúnebre. Foi cantado nos funerais do primeiro ministro da Grã-Bretanha, William Gladstone.
Ao ouvir o hino nesta ocasião, o hinólogo A. C. Benson declarou:
“Ter escrito palavras que atendam à necessidade das pessoas em momentos de emoção profunda e de aflição, consagrando, consolando, enaltecendo – dificilmente pode haver algo que tenha mais valor do que isto!”.
Augustus Montagne Toplady nasceu em Farnham, no condado de Surrey. Seu pai, Major no exército da Grã-Bretanha, foi morto no cerco de Cartagena (Espanha), pouco depois do seu nascimento. Estudou na renomada “Escola Westminster”, em Londres, e mudando-se a família para a Irlanda, fez seu mestrado em artes na Faculdade Trinity, em Dublin, capital.
Foi neste país que este culto jovem inglês teve a experiência que mudou sua vida. Decidiu ir a um culto dos “Metodistas Wesleyanos”, um braço calvinista da denominação. Foi a um celeiro, onde ouviu um evangelista leigo, James Morris, pregar sobre o texto de Efésios 6.13. Ali Augustus nasceu de novo! Nas suas próprias palavras:
“Estranho, que eu, que tanto tempo estava exposto aos meios da graça, pudesse ser levado direto a Deus numa parte obscura da Irlanda, com um punhado de gente reunindo-se num celeiro, e pelo ministério de um que mal podia soletrar seu próprio nome. Certamente foi o Senhor que fez isto, e é maravilhoso. A excelência do poder tem que ser de Deus e não do homem”.
Julian John nos afirma que o pregador James Morris realmente não era tão mal instruído. Embora humilde, possuía um cérebro privilegiado e era um orador nato. Não foi a primeira, nem será a última vez, que um homem das grandes cidades julga mal a capacidade e a cultura do homem simples do interior.
Voltando a Inglaterra, Augustus foi consagrado ao ministério anglicano em 1762. Serviu em três Igrejas e, de 1775, em diante, pregou numa igreja Calvinista francesa em Londres. Ardente calvinista, escreveu o livro “Prova Histórica da Doutrina do Calvinismo da Igreja Anglicana”. Levou, em boa tradição inglesa, um debate longo e acirrado com João Wesley sobre diferenças doutrinárias. Escreveu muitos hinos. Publicou um livro de poesia sacra, “Psalms and Hymns for Public Worship” (Salmos e Hinos para o Culto Público). Suas obras completas foram publicadas postumamente em seis volumes, em 1825.
Augustus, altamente respeitado como líder evangélico espiritual, faleceu muito jovem, aos 38 anos, de sobrecarga de trabalho e tuberculose. Pouco antes de morrer, disse:
“Meu coração bate cada dia mais e mais forte para a Glória. Enfermidade não é aflição, dor nenhuma causa, morte nenhuma dissolução (…). As minhas orações agora estão convertidas em louvor”.
Julian John disse dele que, mesmo que fosse às vezes um homem de palavras impetuosas, “uma chama de devoção genuína queimava na frágil candeia do seu corpo sobrecarregado e gasto. (…) Sua é a grandeza da bondade”.
Quanto à música, Thomas Hastings, O extraordinário músico albino da república americana, embora sofresse muito da visão, foi autor de mais de 50 volumes de música sacra: 1000 melodias e 600 textos originais, além de publicar mais de 50 coletâneas de muito valor. Dedicou sua vida à tarefa de elevar e melhorar a música das igrejas do seu país. Uma vez escreveu:
“A homenagem que devemos ao Deus onipotente requer o mais nobre e reverente tributo que a música pode render”.
“O SENHOR é o meu rochedo, e o meu lugar forte, e o meu libertador…” (Sl 18:2).
Bibliografia: Gospel Magazine, março de 1776, in: Julian John, A Dictionary of Hymnology, Dover Edition,New York, Dover Publications, 1957.
Rocha eterna
Rocha eterna, meu Jesus,
Que, por mim, na amarga cruz,
Foste morto eu meu lugar,
Morto para me salvar;
Em Ti quero me esconder,
Só Tu podes me valer.
Minhas obras, eu bem sei,
Nada valem ante a lei;
Se eu chorasse sem cessar.
Trabalhasse sem cansar,
Tudo inútil, tudo em vão!
Só em Ti há salvação.
Nada trago a Ti, Senhor!
‘Spero só em Teu amor!
Todo indigno e imundo sou,
Eis, sem Ti, perdido estou!
No Teu sangue, ó Salvador,
Lava um pobre pecador.
Quando a morte me chamar,
E ante Ti me apresentar,
Rocha eterna, meu Jesus,
Que por mim, na amarga cruz,
Foste morto em meu lugar,
Quero em Ti só me abrigar.
Letra: Augustus Montagne Toplady – Nasceu no dia 4 de novembro de 1740. Faleceu no dia 11 de agosto de 1778.
Música: Thomas Hastings – Nasceu no dia 15 outubro de 1784. Faleceu no dia 15 de maio de 1872.