Ressurreição!

“Mas alguém dirá: Como ressuscitarão os mortos? E com que corpo virão? Insensato! o que tu semeias não é vivificado, se primeiro não morrer. E, quando semeias, não semeias o corpo que há de nascer, mas o simples grão, como de trigo, ou de outra qualquer semente. Mas Deus dá-lhe o corpo como quer, e a cada semente o seu próprio corpo” (1 Coríntios 15:35-38).

Nós pregamos com palavras; Deus prega a nós em atos e ações. Se apenas percebêssemos isto, a Criação e a Providência são dois sermões contínuos, fluindo da boca de Deus. As estações do ano são quatro Evangelistas, cada um deles com o seu testemunho para proferir a nós. Será que o verão não nos prega sobre a bondade de Deus, a riqueza da Sua bondade, aquela generosidade com que Ele se agradou em prover a terra, não simplesmente com alimentos para o homem, mas com delícias para ambas as orelhas e olhos com a bela paisagem, os pássaros melodiosos e as flores de várias tonalidades? Alguma vez você já ouviu a voz mansa e delicada do outono, que carrega o molho de trigo e sussurra para nós no farfalhar das folhas videntes? Ele nos convida a nos prepararmos para morrer. “Todos nós”, diz ele, “nos desvanecemos como uma folha e todas as nossas justiças são apenas como trapos da imundícia”. Em seguida, vem o inverno, coroado de neve e ele troveja um mais poderoso sermão que, se apenas o ouvíssemos, ele nos impressionaria com os terrores da vingança de Deus e veríamos em quanto tempo ele pode retirar da terra todas as suas amabilidades e a revestir em tempestade, quando Ele vier, Ele mesmo, para julgar a terra com justiça e os povos com equidade. Mas parece-me que a primavera lê para nós um mais excelente discurso sobre a grande Doutrina da Revelação. Neste próprio mês de abril, que, se não é a própria entrada da primavera, mas certamente nos apresenta a sua plenitude; este mesmo mês – tendo por seu nome o título do mês de abertura, nos fala da Ressurreição. Como já temos andado através de nossos jardins, campos e bosques, nós temos visto os botões florais prestes a irromperem sobre as árvores e as flores das árvores frutíferas apressando-se para desdobrarem-se; temos visto as flores enterradas surgindo do relvado, e elas nos falaram com doces, doces vozes, as palavras: “Vocês, também, devem ressurgir novamente, vocês, também, serão enterrados na terra como sementes que se perdem no inverno, mas vocês deverão elevar-se novamente, e viverão, e florescerão na primavera eterna”.

Eu proponho nesta manhã, como Deus deva permitir, ouvir aquela voz de primavera, proclamando a Doutrina da Ressurreição – uma meditação em tudo a mais apropriada a partir do fato de que no Sabath retrasado consideramos o tema da morte – e eu espero que, nessa ocasião, impressões mui solenes tenham sido feitas sobre as nossas mentes. Que as impressões semelhantes voltem agora, acompanhadas por outras mais alegres, quando olharemos para além do túmulo, através do Vale da Sombra da Morte, para aquela luz resplandecente à distância – o esplendor e glória da vida e da imortalidade!

Ao falar para vocês sobre este texto, gostaria de observar no início que a Doutrina da Ressurreição dos mortos é uma Doutrina peculiar ao Cristianismo. Os pagãos, por meio da fraca luz da natureza, foram capazes de falar sobre a verdade da imortalidade da alma. Esses professores de religião que negam esta imortalidade, não estão tão aprimorados em aprender quanto os próprios gentios. Quando vocês encontrarem com alguém que acha que a alma do homem pode, eventualmente, tornar-se aniquilada, façam-lhes um presente daquele pequeno catecismo realizado pela Assembleia de Westminster, que leva o título de “Catecismo para Jovens e Ignorantes”. Deixem-nos ler este para que por meio do qual comecem a entender que Deus não fez o homem em vão! A ressurreição do corpo foi o que era novo nos tempos Apostólicos. Quando Paulo se levantou nas Colinas de Marte, no meio da erudita assembleia dos Areopagitas, se ele tivesse lhes falado sobre a imortalidade da alma, eles não teriam rido; ele teria sido respeitado, pois esta foi uma das verdades subli- mes que seus próprios homens sábios haviam ensinado. Mas, quando ele passou a afirmar que a carne e o sangue, que foram colocados no túmulo ainda devem ressurgir mais uma vez, que os ossos que se haviam tornado a morada de vermes, que a carne que havia corrompido e deteriorado deveria realmente começar, renovada, a viver – que o corpo, bem como a alma devem viver – alguns escarneciam, e outros diziam: “Vamos o ouviremos novamente sobre o assunto”. O fato é: a razão ensina a imortalidade do espírito – é a Revelação de Deus, que sozinha, ensina a imortalidade do corpo. É somente Cristo que traz a vida e a imortalidade à luz por meio do Evangelho! Ele foi o proclamador mais evi- dente desta grande Verdade de Deus. Apesar de que isto havia permanecido na fé secreta de muitos do antigo povo de Deus, anteriormente, ainda assim, Ele foi quem primeiro estabeleceu em termos claros a grande Verdade de Deus de que haverá uma ressurreição dos mortos, tanto dos justos quanto dos injustos. Tanto quanto eu sei, a Doutrina não foi contestada na Igreja Cristã. Houve alguns poucos hereges que negaram-na em momentos diferentes, mas eles têm sido tão poucos, tão absolutamente insignificantes, que em não vale a pena tomar qualquer aviso de seus escrúpulos, ou das objeções que eles incitaram. Ao invés disso, daqui, voltaremos para o nosso texto; um que assumirá que a Doutrina é verdadeira e assim continuará a proferir algumas palavras de explicação sobre isso.

Primeiro, então, o nosso texto sugere a verdadeira identidade do corpo ressurreto. O Apóstolo usa a figura de uma semente, um grão de trigo murcho. Ele é colocado no chão – ali morre. Toda a parte do amiláceo se decompõe e forma um particularmente bom solo, no qual o germe atinge a si mesmo e sobre o qual o germe da vida se alimenta. A semente em si morre, com a exceção de uma partícula quase tão pequeno para ser percebida, que é a vida real contida no interior da semente. Aos poucos, nós vemos uma lâmina verde surgindo – esta cresce, aumenta e cresce, até que se torna o milho na espiga e, posteriormente, o grão cheio na espiga. Agora ninguém tem qualquer suspeita, senão que o mesmo milho ressurge do solo em que fora lançado. Coloque-o na terra, nós acreditamos que ele brota e estamos acostumados a falar disto em nossa linguagem comum como sendo a mesma semente que semeamos, embora a diferença seja marcante e maravilhosa. Aqui vocês têm uma planta de cerca de três metros de altura, tendo muitos grãos de milho e ali vocês tinham no outro dia um pouco de grãos murchos; ainda assim, ninguém duvida, senão que os dois são a mesma coisa! Assim será na ressurreição dos mortos; o corpo está aqui, mas como uma semente atrofiada. Não há beleza nela para que a desejemos. Ele é colocado em um túmulo, como o trigo, que é semeado na terra, ali apodrece e se deteriora. Mas Deus preserva dentro de si uma espécie de germe de vida que é imortal e quando a trombeta do arcanjo estremecerá os céus e a terra, este deve expandir-se para a plena flor da huma- nidade! Ele florescerá da terra em uma forma muito mais gloriosa do que a humanidade que fora enterrada. Vocês são, meus Irmãos e Irmãs, hoje, apenas como um monte de trigo, um monte de pobre milho murcho. Apesar desta beleza terrena que alegra nosso semblante, estamos, afinal, murchos e sem valor, em comparação com o que os nossos corpos serão quando eles ressuscitarão de seus leitos de poeira silenciosa e frio barro úmido. No entanto, enquanto eles serão diferentes, eles serão precisamente os mesmos; devem ser o mesmo corpo! A identidade será preservada. Embora eles terão apenas pouca semelhança, ainda assim, nenhum homem dúvida de que o próprio corpo que foi semeado na terra ressurgiu para a vida eterna!

Eu suponho que se eu trouxesse aqui um certo grão de semente e você nunca tivesse visto a imagem da planta em que ela iria tornar-se e eu a submetesse a mil pessoas aqui presentes e lhes fizesse esta pergunta – “Qual será a forma que esta semente assumirá quando crescer em uma planta e carregar uma flor” – nenhum de vocês poderiam dizer qual seria. No entanto, quando vocês a vissem surgir, diriam: “Bem, eu não tenho nenhuma dúvida de que o girassol surgiu de sua própria semente. Estou certo de que uma violeta brota uma semente de violeta. Eu não posso duvidar de que o lírio tem a sua própria raiz adequada”. E outra vez, quando vocês veem a semente, vocês talvez imaginam ver alguma pequena semelhança, pelo menos vocês nunca desconfiam da identidade. Embora existam grandes extremos de diferença entre a pequena semente de mostarda e a grande árvore sob os ramos nos quais as aves do céu constroem seus ninhos, vocês nunca, por um momento, questionam que estas sejam exatamente a mesma coisa; a identidade é preservada. Assim será na ressurreição dos mortos – a diferença será extraordinária, mas o corpo ainda deve ser o mesmo.

Para afirmar isso, a antiga Igreja Cristã tinha o hábito em seu credo de acrescentar uma frase ao Artigo que assim segue: “Creio na ressurreição dos mortos”. Eles acrescentaram, em palavras latinas para este efeito – “Creio na ressurreição dos mortos, desta própria carne e sangue”. Eu não conheço que a adição já tenha sido autorizada pela Igreja, mas ela foi usado continuamente, especialmente no momento em que houve uma discussão quanto à veracidade da Doutrina da Ressurreição do corpo. A própria carne e sangue que estão enterrados, os próprios olhos que são fechados na morte, as próprias mãos, que endurecem ao lado de meu cadáver; estes mesmos membros viverão novamente – não as partículas idênticas da mesma matéria mais do que as mesmas partículas do mesmo trigo ressurgem para compor uma lâmina e tornar o grão cheio na espiga. Ainda assim, elas são idênticas, no verdadeiro sentido do termo. Elas brotarão deste corpo – serão o verdadeiro resultado e aperfeiçoamento destes miseráveis carne e sangue, que agora arrastam-se conosco aqui em baixo!

Dez mil objeções têm sido levantadas contra isso, mas todas elas são prontamente respondidas. Alguns disseram: “Mas, quando os corpos dos homens estão mortos e estão alocados na sepultura, eles muitas vezes são desenterrados e o sacristão descuidado os mistura com o molde comum. Não, às vezes acontece que eles são levados embora do jardim da igreja e espalhados sobre os campos, para se tornarem um adubo rico para o trigo, de modo que as partículas do corpo são absorvidas pelo milho que está crescendo e eles viajam em ciclo, até que tornam-se a alimentação do homem – de modo a que a partícula, que poderia estar no corpo de um homem entra no corpo de um outro!” “Agora,” eles dizem, “como é que todas estas partículas são localizadas?” Nossa resposta é, se for necessário, cada átomo pode ser localizado! A Onipotência e Onisciência poderiam fazê- lo; se fosse necessário que Deus buscasse e descobrisse cada átomo individual que já existiu, Ele seria capaz de detectar a atual morada de cada partícula! O astrônomo é capaz de dizer a posição de uma estrela pela refração do movimento da outra. Por seu cálculo, além da observação, ele pode descobrir um corpo celeste desconhecido – a sua imensidão o coloca ao seu alcance. Mas, para Deus, não há nada pequeno ou grande – Ele pode descobrir a órbita de um átomo pela refração na órbita de um outro átomo – Ele pode buscar e alcançar cada partícula separada. Mas lembre-se, isso não é necessário em absoluto, pois, como eu disse antes, a identidade pode ser preservada sem ser o mesmo com os átomos. Basta voltar para a excelente ilustração de nosso texto. O trigo é a mesma coisa, mas no novo trigo que cresceu pode não haver uma partícula solitária daquela matéria que estava na semente lançada ao chão. Uma pequena semente que não deve pesar a centésima parte de uma onça [1] cai na terra e brota e produz uma árvore da floresta que deve pesar duas toneladas. Agora, se houver qualquer parte da semente original na árvore, ela deve ser na proporção de uma parte milionésima, ou algo menos do que isto – e ainda assim a árvore é positivamente idêntica à semente – é a mesma coisa.

[1] Onça: Medida de peso, utilizada especialmente na Grã-Bretanha, nos Estados Unidos da América e no Canadá, e que equivale a 28,35 g. (Dicio.com.br)

E assim ali pode haver apenas uma milionésima parte das partículas do meu corpo no corpo novo que terei, mas ainda assim, ele permaneceria o mesmo. Não é a identidade da matéria que torna a identificação positiva. E eu demonstrarei isto a vocês novamente. Vocês não estão cientes de que os nossos corpos estão mudando – que em cerca de cada 10 anos temos corpos diferentes do que tínhamos há 10 anos atrás? Ou seja, pela decadência e o contínuo desgaste da nossa carne, não há neste corpo que eu tenho aqui, uma única partícula que estava no meu corpo há 10 anos e ainda assim eu sou o mesmo homem. Eu sei que sou exatamente o mesmo. E vocês também. Vocês devem ter nascido na América, e vivido ali por 20 anos; vocês, de repente, serão transferidos para a Índia e ali vivem outros 20 anos; vocês voltam para a América para ver seus amigos – vocês são o mesmo homem, eles conhecem vocês, reconhecem-nos – vocês são precisamente os mesmos indivíduos. Mas ainda assim, a filosofia nos ensina uma verdade que não pode ser negada – de que seu corpo teria mudado o dobro no período em que estiveram ausentes de seus amigos; de forma que cada partícula se foi e teve seu lugar cedido a outra; e ainda assim, o corpo é o mesmo! Assim, não é necessário que devam ser as mesmas partículas; não é necessário que vocês devem seguir cada átomo e o trazer de volta, a fim de que o corpo deva preservar a sua identidade.

Alguma vez você já ouviu a história da esposa de Pedro Mártir, um célebre Reformador que morreu alguns anos antes da época da Rainha Maria? Desde que os seus inimigos não conseguiram alcançar o seu corpo, eles levaram o corpo de sua esposa, depois que ela foi morta e a enterraram em um monturo! Durante o reinado de Elizabeth, o corpo foi removido de seu esconderijo desdenhoso; aquele fora, então, reduzido a cinzas, a fim de que os Romanistas, se eles alguma vez prevalecessem novamente, nunca pudessem desonrar aquele corpo, eles levaram as cinzas da esposa de Pedro Mártir e as misturaram com as cinzas de um santo Romanista de renome! Misturando os dois juntos, eles disseram: “Agora, esses Romanistas nunca profanarão este corpo, porque eles terão medo de profanar as relíquias de seu próprio santo”. Talvez alguns sabichões podem perguntar: “Como podem estes dois serem separados?” Ora, eles podem ser divididos prontamente, se Deus quisesse fazê-lo; pois certo que Deus é Onisciente e Onipotente, vocês nunca terão que questionar como, pois a Onisciência e a Onipresença colocam a questão fora dos tribunais e decidem a coisa de uma vez! Além disso, não é necessário que isto assim seja. As sementes da vida dos dois corpos não aperfeiçoadas e os dois corpos devem ressurgir separadamente ao som da trombeta do arcanjo! Lembrem-se, então, e não duvidem que o próprio corpo em que vocês pecaram deve ser o mesmo corpo em que vocês sofrerão no inferno – e no corpo em que vocês creram em Cristo e em que vocês entregaram-se a Deus, será o corpo em que vocês andarão pelas ruas de ouro e no qual vocês devem louvar o nome de Deus por todo o sempre!

Temos estado por muito tempo sobre este primeiro ponto. Mas observem, enquanto a identidade é real, a transformação é gloriosa. O corpo aqui é mortal, sempre sujeito à decadência. Nós vivemos em uma miserável tenda desconfortável, continuamente está a lona sendo rasgada, os cabos estão sendo soltos e os pinos das tendas estão sendo puxados para cima. Estamos cheios de sofrimentos e dores, que são, apenas as premoni- ções da morte vindoura. Todos nós sabemos, alguns por nossos dentes deteriorados, que são, como eu disse em outro dia, apenas os emblemas de um homem em decomposição; outros por aqueles cabelos brancos que estão espalhadas aqui e ali; todos nós sabemos que nossos corpos são constituídos de tal forma que eles não podem permanecer aqui, exceto por um período limitado e devem – como Deus quis isso – retornar ao seu pó de origem. Não é assim, porém, com o novo corpo – “Semeia-se o corpo em corrupção; ressuscitará em incorrupção” [1 Coríntios 15:42].

Este será um corpo sobre o qual o dente do tempo não pode ter nenhum poder e no qual o dardo da morte nunca poderá ser cravado! Era transcorrerá após eras, mas este corpo deve existir em juventude eterna! Ele cantará, mas a sua canção nunca será suspensa por fraqueza; ele deve voar, mas nunca a sua bandeira de voo será com cansaço. Não haverá sinais de mortalidade! O sudário e a pá nunca são vistos no céu; uma coisa como uma sepultura aberta nunca aparecerá no Reino Celestial – ali eles vivem, vivem, vivem, mas nunca, nunca, nunca morrerão! Vejam então, quão diferente o corpo será; pois como este corpo é feito, cada nervo e cada vaso sanguíneo me diz que devo morrer – não pode ser de outra forma – devo suportar este decreto severo, “Pó ao pó, terra a terra, cinzas a cinzas”. Mas no Céu todos os nervos do novo corpo clamarão, “Imortalidade!” Cada parte desse novo corpo falará por si e dirá ao espírito imortal que eles são companheiros eternos, arranjados em casamento eterno.

Haverá, além disso, uma grande mudança no novo corpo em relação a sua beleza. “Semeia-se em ignomínia, ressuscitará em glória” [1 Coríntios 15:43]. A velha metáfora empregada por todos os pregadores sobre esta Doutrina deve ser usada novamente. Vocês veem aqui uma lagarta rastejando, uma imagem de vocês mesmos, uma criatura que come e bebe e pode ser facilmente pisada. Espere algumas semanas, esta lagarta terá em si mesma uma cobertura, deitar-se-á, tornar-se-á inativa e dormirá. Um retrato do que vocês farão. Vocês devem tecer vossas mortalhas e, em seguida, são colocados no túmulo! Mas esperem um pouco; quando vier o calor do sol, esta coisa aparentemente sem vida transbordará o seu invólucro! Mas no Céu todos os nervos do novo organismo deve clamar, “Imortalidade!” Cada parte desse novo quadro deverá falar por si e contar ao espírito imortal que eles são companheiros eternos, administrados em casamento eterno. A crisálida cairá e o inseto voará adiante equipado com asas brilhantes. Tendo chegado ao seu estado pleno de perfeição, a imagem, a própria imagem da criatura, deve ser vista por todos nós bailando no raio de sol. Assim, nós iremos, depois de passar por nosso absinto aqui para o nosso estado de crisálida na sepultura, irromper nossos caixões e montar em elevadas gloriosas criaturas aladas feitos como os anjos – as mesmas criaturas, mas, ó, tão mudados, tão diferentes, que malmente conheceríamos nossos antigos “eus” se fôssemos capazes de encontrá-los novamente depois de terem sido glorificados no céu!

Haverá uma mudança, então, em nossa forma e natureza. O velho mestre Spenser, que era uma mão rara em fazer metáforas, diz: “O corpo aqui é como um velho pedaço de ferro enferrujado, mas a morte será o ferreiro – que deve levá-lo e ela deve torná-lo quente em seu fogo – até que faiscará e conduzirá fogo abrasador e aparentará brilho e resplendor”. E assim certamente é. Somos empurrados para a terra como para o fogo e ali seremos feitos faiscar e brilhar e seremos cheios de brilho – não mais as coisas enferrujadas que já fomos, mas espíritos de fogo, como os querubins e os serafins – nós revestiremos de um poder e uma glória como o que nós mesmo ainda não concebemos!

Novamente – outra transformação terá lugar, ou seja, em poder. “Semeia-se em fraqueza, ressuscitará com vigor” [1 Coríntios 15:43]. O mesmo corpo que é fraco, deve ser ressus- citado com vigor. Somos coisas insignificantes aqui; há um limite para o nosso labor e nossa utilidade é embaraçada em razão de nossa incapacidade de realizar o que gostaríamos. E ó, quão fracos nos tornamos quando morremos! Um homem deve ser conduzido por seus próprios amigos para sua própria sepultura; ele não pode sequer deitar-se em sua última morada. Passivamente ele se submete a ser colocado, a ser embrulhado em sua mortalha e ser encerrado na escuridão da sepultura. Em silêncio, passivamente, ele se submete a ser levado com o manto coberto sobre ele e a ser colocado na terra. Os torrões são jogados sobre ele, mas ele não sabe, ele nem poderia resistir ao seu enterro se ele estivesse consciente disso! Mas este corpo impotente ressuscitará com vigor! Essa foi uma bela ideia de Martinho Lutero, a qual ele pegou emprestado de Santo Anselmo, que os santos hão de ser tão fortes quando ressuscitarem dos mortos, que, se quisessem, poderiam abalar o mundo. Eles podem puxar para cima as ilhas por suas raízes, ou arremessar montanhas para o ar! Alguns escritores modernos, emprestando suas ideias de Milton, onde ele fala das batalhas dos anjos, onde arrancaram até as colinas com todas as suas cargas desgrenhadas, rios e árvores de uma só vez e os atiravam sobre os espíritos caídos, ensinaram que seremos revestidos da força gigantes-ca. Eu acho que se nós não formos na extensão dos poetas, temos todas as razões para acreditar que o poder do corpo ressuscitado será absolutamente inconcebível. Estas, no entanto, são apenas suposições à verdade de Deus. Este grande mistério está ainda além de nós. Eu acredito que quando eu estiver em meu novo corpo, serei capaz de voar de um lugar para outro, como um pensamento, tão rapidamente quanto eu desejar; estarei aqui e ali, rápido como os raios de luz. De força em força, o meu espírito será capaz de saltar adiante para obedecer os ditames de Deus. Acima, carregado com as asas do éter, reluzirão o seu caminho através desse mar sem litorais e verei a Glória de Deus em todas as suas obras e, ainda assim sempre contemplarei a Seu face; pois os olhos, nesta ocasião, serão fortes o suficiente para perfurar léguas de distância e a memória nunca falhará! O coração será capaz de amar a um grau ardente e a cabeça compreender completamente certo. Ainda não é manifestado o que havemos de ser.

Mas, Irmãos e Irmãs, para voltarmos à realidade e deixarmos a ficção por um momento, embora não seja manifesto o que havemos de ser, sabemos que, quando Ele se manifes- tar, seremos semelhantes a Ele, porque O veremos como Ele é! E você sabe o que havemos de ser, se seremos semelhantes a Ele? Eis o retrato do que Jesus Cristo é semelhante e seremos semelhantes a Ele. “Eu vi”, diz João, “um semelhante ao Filho do homem, vestido até aos pés de uma roupa comprida, e cingido pelos peitos com um cinto de ouro. E a sua cabeça e cabelos eram brancos como lã branca, como a neve, e os seus olhos como chama de fogo; E os seus pés, semelhantes a latão reluzente, como se tivessem sido refinados numa fornalha, e a sua voz como a voz de muitas águas. E ele tinha na sua destra sete estrelas; e da sua boca saía uma aguda espada de dois fios; e o seu rosto era como o sol, quando na sua força resplandece. E eu, quando o vi, caí a seus pés como morto” [Apocalipse 1:13-17]. Tal seremos quando formos semelhantes a Cristo! Que língua pode contar, que alma pode imaginar as glórias que cercam os santos quando eles começam a partir de seus leitos de poeira e ressurgirem para a imortalidade? Mas agora, afastem-se destes, que eu temo que para muito que muitos, vocês são mais particu- larmente desinteressantes, deixe-me dar-lhes uma ou duas figuras que podem mostrar a vocês a mudança que deve ocorrer em nós no dia da Ressurreição. Vocês veem aquele mendigo? Ele está pegando trapos de um monturo; ele retira pedaço por pedaço do amontoado de poeira, enquanto ele usa o seu ancinho. Vocês pode ver semelhante a qualquer dia, se vocês vão para aqueles grandes estaleiros de poeira em Agar Town. Ali ele arranca pedaço por pedaço e o coloca em sua cesta. Qual pode ser o valor desses velhos trapos miseráveis? Ele os leva para longe, eles são levados fora, apanhados, classificados, trapo para seu próprio trapo, igual por igual. Aos poucos eles são lavados, eles são colocados na fábrica, eles são batidos duramente, eles são esma-gados, eles são moídos até a polpa e o que é que eu vejo saindo dali da fábrica? Uma folha branca transparente, sem mancha, e de onde veio isso? “Eu sou o filho do velho trapo”, diz ele, “não, eu sou o mesmo trapo que foi apenas há algumas horas colhido a partir do monturo”. Ó, estranho! A pureza sai da impureza e que essa beleza, essa utilidade saiu daquilo que não era nem formoso, nem útil, mas que os homens detestavam e jogaram fora como uma coisa sem valor? Vejam aqui, Irmãos e Irmãs, a imagem de si mesmos! Seus corpos são como trapos, colocados neste grande monturo, a Terra, e ali enterrados. Mas o anjo virá e os ordenará, o corpo ao seu corpo, os justos para os justos, os ímpios para os ímpios – virão juntos, cada osso ao seu osso e carne a sua carne. E o que eu vejo? – Eu vi um corpo semelhante a um anjo, com olhos de fogo e um rosto como o brilho do sol e as asas como um raio em rapidez! De onde é que você vem, você, espírito brilhante? “Eu sou aquele que foi sepultado; Eu sou aquela coisa que uma vez foi alimento de vermes, mas agora eu sou glorioso por meio do nome de Jesus e pelo do poder de Deus”. Vocês tem aqui diante de vocês, uma figura da ressurreição, uma ima-gem caseira, é verdade, mas uma que pode vividamente transmitir a ideia para mentes domésticas.

Tome uma outra – uma usada no passado por aquele poderoso pregador, Crisóstomo – aqui há uma casa antiga, uma casa de campo estreita e apertada e os moradores muitas vezes tremem com o frio do inverno e são muito oprimidos pelo calor do verão. Ela está pouco adaptada às suas necessidades – as janelas são muito pequenas e muito escuras – ele não pode guardar o seu tesouro com segurança dentro dela; ele é muitas vezes um prisioneiro; e quando eu passei por sua casa, o ouvi suspirar na janela – “Ó, miserável homem que eu sou, quem me livrará do corpo desta morte?” O bom mestre vem, o proprietário da casa – ele fala com o inquilino e ele o manda sair – “Eu estou a ponto de puxar para baixo a sua antiga casa”, diz ele, “e eu o quero aqui, enquanto eu esteja puxando-a, pedra por pedra, para que você não seja ferido e prejudicado. Venha comigo e viva no meu palácio, enquanto eu estou fazendo a sua antiga casa em pedaços”. Ele faz assim, e cada pedra da velha casa é lançada para baixo; ela é nivelada com o solo e até mesmo as fundações são desenterradas. Outra é construída – é de lajes caras de mármore, as janelas dela são puras e claras, todas as suas portas são de ágata e todas as suas fronteiras de pedras preciosas – enquanto todos os fundamentos são de berilo e o telhado é de jaspe! E agora o dono da casa fala com o velho habitante, “Volte e vou mostrar-lhe a casa que eu edifiquei para você”. Ó, que alegria quando aquele habitante entra e encontrá- la tão bem adaptada às suas necessidades – onde todo poder terá plena variedade, onde verão a Deus fora de suas janelas, não como por espelho em enigma, mas face a face, onde ele poderia convidar mesmo Cristo, Ele próprio, para vir e com cear com ele, e não sentir que o casa está abaixo da dignidade do Filho do Homem! Vocês conhecem a parábola, vocês sabem como a vossa antiga casa, este corpo de argila, deve ser puxado para baixo, como seu espírito habitará no céu por um tempo, sem um corpo, e como posteriormente vocês deverão entrar em uma casa não feita com mãos, eterna, nos céus, uma mansão que é santa, incorruptível, sem mácula, e que nunca decairá!

Para usar ainda uma figura fresca – Vejo um mendigo passando pela porta de um homem rico. Aquele pobre desgraçado está coberto com sujeira. Suas vestes estão penduradas sobre ele aos pedaços, como se o vento pudesse soprar tudo fora e levar tanto o homem e roupas entre os trapos para cima do monturo! Como é que ele treme, como ele procura puxar sobre ele aquele pouco manto que não alcançará o entorno de seus lombos, e não o protegerá da corrente de ar! Quanto aos seus sapatos, eles são, na verdade, velhos e remendados e todas as suas roupas são de tal sorte que nunca se poderia conhecer o original, pois foram consertadas e remendadas mil vezes – e agora elas precisam ser consertados e remendados novamente. Ele é livremente convidado a entrar na sala de homem rico. Não vamos dizer-lhes o que é feito nesse meio tempo, mas vamos vê-lo sair por aquela porta de novo e, vocês o reconheceriam? Será que vocês acreditam que ele é o mesmo homem? Ele foi lavado e limpo; em suas costas paira um púrpura imperial; enquanto na cabeça resplandece uma brilhante coroa. Seus pés estão calçados com prata e em suas mãos há anéis de ouro. Sobre o seio ele usa um cinturão de ouro, e enquanto ele vem para o exterior, espíritos brilhantes os servem e lhe prestam honra – anjos esperam para ser seus servos, e imaginam ser o seu maior prazer que voem para fazer a sua vontade! É este o mesmo homem e é esta a mesma veste? É o mesmo! Por meio de algum poder maravilhoso, e por uma energia Divina, Deus recebeu este mendigo, o levou para a câmara interna do túmulo – lavou-o de todas as imperfeições – e agora ele sai como um dos príncipes de sangue real do Céu. E como é a sua natureza, como é a sua aparência; como é a sua dignidade, tal é sua condição e tal a companhia dos servos que esperam por ele!

Para não multiplicar ilustrações, nós usaremos apenas mais uma. Vejo diante de mim uma velha e surrada taça que muitos lábios sombrios e pecaminosos tocaram, da qual muitas gargantas receberam umidade. Ela é maltratada e coberta de sujeira. Quem poderia dizer de que metal é? Ela é trazida e dada ao ourives. Ele não logo a recebe, ele começa a quebrá-la em pedaços – ele a arremessa em fragmentos uma e outra vez! Ele a bate até que ele a quebre e, em seguida, coloca-a em seu crisol e derrete-a. Agora vocês começam a vê-la brilhar novamente, e, aos poucos, ele a amassa e a molda em um cálice formoso, do qual um rei pode beber! É esta a mesma? Exatamente a mesma! Este cálice glorioso; é esta velha prata desgastada que vimos ainda há pouco? Prata, que eu disse, parecia com imundície desgastada! Sim, é a mesma e nós que estamos aqui na terra, como vasos, infelizmente, muito impróprios para o uso do Mestre; navios que têm ainda dado conforto para os maus e ajudado a fazer a obra de Satanás – nós seremos colocados no forno da sepultura e lá seremos derretidos e aquecidos e formados em um cálice de vinho glorioso que estarão sobre a mesa de banquete do Filho de Deus!

Tenho, assim, procurado ilustrar a mudança, e agora ocuparei a sua atenção, apenas um ou dois minutos em outro pensamento que parece estar dentro do alcance do meu texto. Nós temos tido a real identidade sob a transformação gloriosa. Eu vos trago de volta a um pensamento semelhante ao primeiro. Haverá nos corpos dos justos, uma incontestável personalidade de caráter. Se vocês semeiam cevada, não produzirão trigo – se vocês semeiam joio – eles não surgirão na forma de centeio. Cada grão tem sua própria forma peculiar – Deus deu a cada semente o seu próprio corpo. Assim, meus Irmãos e Irmãs, há diferenças entre nós aqui; não dois corpos que sejam exatamente iguais – há marcas no nosso semblante e em nossa conformação corporal que mostram que nós somos diferen- tes. Somos do mesmo sangue, mas não de um molde! Bem, quando somos colocadas no túmulo, vamos desmoronar de volta e chegar aos mesmos elementos. Mas quando subir- mos, vamos, todos nós, ressurgir diferentes uns dos outros! O corpo de Paulo não produzirá um corpo exatamente como o de Pedro; nem a carne de André trará um novo corpo como o dos filhos de Zebedeu; mas a cada semente o seu próprio corpo. No caso de nosso bendito Senhor e Mestre, vocês se lembrarão que, quando Ele levantou a Si mesmo da morte, Ele preservou sua personalidade – ainda havia as feridas em Suas mãos e ainda havia a marca da lança no seu lado. Eu não tenho dúvida de que, quando Ele foi submetido a Sua Transfiguração e no momento da sua Ascensão ao Céu, ele ainda conservava as marcas de suas feridas. Pois, nós não cantamos e não é a nossa canção baseada na Escritura? –

“Ele pareceu como um cordeiro que foi morto, E ainda reveste-se de Seu sacerdócio”?

Assim, Irmãos e Irmãs, embora, naturalmente, não retenhamos nenhuma fraqueza, nada que nos causará dor, mas cada Cristão manterá a sua individualidade. Ele será semelhante e diferente de todos os seus companheiros! Como discernimos Isaías de Jeremias aqui, assim vamos conhecê-los no alto. Como me diferencio de vocês aqui, se nós dois juntos louvamos a Deus, haverá alguma diferença entre nós lá em acima; não a diferença de falhas, mas a diferença em perfeição da forma do novo corpo. Às vezes penso que os mártires revestir-se-ão de suas cicatrizes. E por que não deveriam? Seria uma perda para eles, se eles perdessem as suas honras. Talvez eles usarão a sua coroa de rubi no Paraíso e vamos conhecê-los –

“Em primeiro lugar entre os filhos da luz Em meio às pessoas resplandecentes duplamente brilhantes”.

Talvez os homens que vêm das catacumbas de Roma revestir-se-ão de algum tipo de palidez em seu rosto que mostrará que eles vieram das trevas, aonde não viram a luz do sol. Talvez o ministro de Cristo, embora ele não precisará dizer aos seus companheiros, “conheçam o Senhor”, continuará a ser o principal entre os proclamadores dos caminhos de Deus. Talvez o doce cantor de Israel ainda será mais importante no coro das harpas douradas e mais alto entre eles que devem conduzir a estirpe. E se estas são imagina- ções, todavia tenho certeza de que uma estrela difere de outra estrela em glória. Órion não deve ser confundida com Arcturo, nem Mazarote por um momento ser confundida com Órion. Vamos todos ser separados e distintos. Talvez tenhamos cada um a nossa constelação ali, como nos agruparemos em nossas próprias sociedades e nos reuniremos em torno daqueles que melhor conhecemos na terra. A personalidade será mantida. Eu não duvido, senão que vocês conhecerão Isaías no céu e vocês reconhecerão os grandes pregadores da antiga Igreja Cristã. Vocês serão capazes de falar com Crisóstomo e falarão com Whitefield. Pode ser que vocês terão por seus companheiros aqueles que foram seus companheiros aqui, aqueles com quem vocês obtiveram doce conselho e caminharam para a Casa de Deus, estarão com vocês lá, e vocês os conhecerão. E, com alegria entusiasmada vocês devem ali, juntos, contar as suas antigas provações e triunfos passados – e as glórias que vocês são igualmente feitos para compartilhar!

Apreciem, então, essas coisas: a identidade de seu corpo após a sua gloriosa transformação e, ao mesmo tempo, a personalidade que prevalecerão.

Quero, agora, vossa atenção solene por cerca de cinco minutos, enquanto eu esboço um mais terrível contraste aqui. As coisas que eu já falei devem fazer felizes os filhos de Deus. Em Stratford-le-Bow, nos dias da Rainha Maria, houve uma vez uma estaca ergui-da para a queima de dois mártires, um deles um homem coxo, o outro um homem cego. Tão logo o fogo foi aceso, o homem coxo atirou longe seu cajado e voltando-se, disse ao cego: “Coragem, Irmão, este fogo nos curará”. Assim, pode o justo dizer da sepultura, “Coragem, a sepultura curará a todos nós; deixaremos as nossas fraquezas para trás”. Ó, que paciência isto deve dar-nos para suportar todas as nossas provações, pois elas não são de longa duração. Elas são apenas como o entalhar das ferramentas da sepultura, moldando esses blocos brutos de barro, para trazê-los para a correta forma e molde, para que tenham a imagem celestial. Mas o contraste é terrível. Os pecadores, os ímpios também ressuscitarão dos mortos! Os lábios com os quais vocês beberam a bebida inebriante até que vocês tenham cambaleado novamente – aqueles lábios devem ser usados para beber a ira ardente de Deus! Lembre-se, também, mulher ímpia, os olhos que estão cheios de luxúria serão um dia cheios de horror – os ouvidos com os quais você ouve conversa lasciva ouvirão os gemidos soturnos, os gemidos ocos e gritos de espíritos torturados! Não se engane; você pecou em seu corpo, você será condenado em seu corpo. Quando você morrer, seu espírito deve sofrer sozinho – isto será o começo do Inferno, mas seu corpo subirá novamente, então essa própria carne na qual você tem transgredido as Leis de Deus – este próprio corpo deve sofrer por isso! Este deve estar no fogo e queimar e estalar e contorcer-se por toda a eternidade! Seu corpo ressuscitará incorruptível, por outro lado, o fogo o consumirá. Este se tornará como a pedra de amianto, que fica na chama e ainda assim nunca é consumido. Se fosse esta a carne e sangue que em breve morreriam sob as dores que temos de suportar – mas será um corpo quase onipotente! Enquanto eu falava do justo tendo um poder tão grande, assim você o terá; mas será o poder de agonizar, poder para sofrer, poder de morrer e ainda viver, não triturado pelo severo pé da morte! Pensem nisso, vocês sensualistas, que não cuidam de suas almas, mas que cuidam de seus corpos; vocês terão aquela bela aparência chamuscada – aqueles membros que se tornaram instrumentos de luxúria, devem se tornar instrumentos do Inferno! Apodrecendo como eles o serão na sepultura, devem, no entanto, ressurgir com uma imortalidade ardente sobre eles e suportarão uma eternidade de indizíveis agonia e angústia e punição! Não é o suficiente para fazer um homem tremer e clamar: “Deus tem piedade de mim, pecador”?

Mas, além disso, lembrem-se que, enquanto o seu corpo será exatamente o mesmo, ainda assim, ele também será transformado e como o trigo produz o trigo, assim, a semente de urtiga produz a urtiga. A que o seu corpo será semelhante eu não posso dizer, mas talvez enquanto o corpo dos justos serão semelhantes a Cristo, vocês podem se tornar semelhantes ao corpo do Diabo. O que quer que seja – a mesma conformação hedionda, a mesma contemplação demoníaca e olhar infernal que caracterizam esse arcanjo orgulhoso deve caracterizar vocês! Vocês terão a imagem e as feições do primeiro traidor estampadas em seu rosto de fogo permanente! Sementes do pecado, vocês estão preparadas para amadurecer na flor desabrochada da destruição? Você sementes do mal, vocês estão prontos para serem espalhados, agora, da mão de Morte e, em seguida ressurgirem uma colheita terrível de pessoas atormentadas? No entanto, assim será, a menos que vocês se voltem para Deus. A não ser que vocês se que você arrependam, Ele disse e Ele o fará, Ele é capaz de lançar o corpo e a alma no Inferno.

E deixe-me lembrá-los ainda uma vez, que haverá em vocês uma personalidade incontes- tável – vocês serão conhecidos no inferno. O bêbado terá a punição de bêbado; o que jura terá o canto do que jura para si mesmo. “Atai-o em molhos para o queimar” [Mateus 13:30]. Assim diz a voz da Justiça inflexível! Vocês não sofrerão no corpo de outro ho-mem, mas em seu próprio, e vocês serão conhecido por serem os homens que pecaram contra Deus. Vocês serão olhados por alguém que vocês veem hoje em dia, se vocês morrerem impenitentes, que dirão a vocês: “Nós fomos até aquela capela juntos; ouvimos um sermão sobre a ressurreição, que teve um final terrível; rimos, mas descobrimos que ele é verdadeiro”. E um dirá ao outro: “Eu deveria conhecê-lo, apesar de que não nos encontrarmos há tantos anos até que nos encontrássemos no Inferno. Eu deveria conhecer você, há algo em seu novo corpo que me permite saber que é o mesmo corpo que tinha na terra”. E então vocês mutuamente dirão um ao outro: “Estas dores que agora estamos suportando, este horror de grandes trevas, essas cadeias de fogo que estão reservados para nós – eles não são bem merecidos” e vocês amaldiçoarão a Deus juntos novamente e sofrerão juntos e serão levados a sentir que vocês receberam apenas a devida recompensa de seus atos. “O homem não nos avisou”, vocês dirão, “ele não nos ordenou a correr para Cristo em busca de refúgio? Será que nós não o desprezamos e fizemos uma zombaria do que ele disse? Nós estamos justamente condenados. Nós condenamos a nós mesmos, cortamos as nossas próprias gargantas – nós acendemos o Inferno para nós mesmos e encontramos o combustível de nossa própria queima para todo o sempre”.

Oh, meus queridos Ouvintes, eu não posso suportar permanecer sobre o assunto! Deixe- me terminar com apenas esta palavra. “Aquele que crê no Senhor Jesus Cristo será salvo”. Isso significa que você, pobre homem, embora talvez você esteve bêbado ontem à noite e malmente se levantou a tempo suficiente para vir aqui esta manhã. Se você crê, William, você será salvo! Isto significa que você, pobre mulher, embora você seja prostituta – se você se lançar em Cristo você será salva! Isto diz de você, homem respeitável, que confia em suas próprias obras – se você confiar em Cristo, você será salvo – mas não se você confiar em si mesmo. Ó, seja sábio, seja sábio! Que Deus nos dê a Divina Graça agora para aprendermos aquela elevada sabedoria, e que possamos agora olhar para a Cruz e para o trêmulo Cordeiro que sangra sobre ela, e O vejamos, como Ele se levanta de entre os mortos e ascende ao alto – e creiamos n’Ele – para que possamos receber a esperança e a certeza de uma ressurreição bem-aventurada n’Ele.

Charles Haddon Spurgeon – Sermão pregado na manhã de domingo, 1 de Abril, 1860 no “Exeter Hall”, Strand. Título Original: “Resurgam”, adaptado de “The C. H. Spurgeon Collection”, Version 1.0, Ages Software, Spurgeon Gems.