Quanto Devemos ao Senhor
Em Lucas 16:1-13 deparamos com uma passagem de difícil interpretação. Há quem afirme que alguns pontos nela existentes somente serão esclarecidos na vinda do nosso amado Redentor. É evidente que não existe nenhuma imperfeição na passagem, e a dificuldade existente é por conta do nosso limitado entendimento.
Diante das inúmeras interpretações existentes, há que se ter todo o cuidado para não se extrair preceitos doutrinários que de fato não estão contidos nesta passagem em que Senhor faz o relato acerca de um administrador infiel, em cujo contexto constatam-se alguns pontos fundamentais:
- A prudência de se estar preparado para os acontecimentos futuros;
- A necessidade de se fazer bom uso das coisas materiais que nos chegam às mãos;
- A obrigatoriedade de sermos fiéis mesmo nas coisas menores.
Todavia, o assunto que aqui irei expor não está relacionado diretamente ao contexto desta passagem, mas, mais especificamente, à indagação existente no verso: “Quanto deves ao meu Senhor?” (Lc 16:5b).
Ao receber a sugestão para a elaboração de um artigo sobre este tema, veio-me à lembrança a afirmação do salmista: “Que darei ao Senhor por todos os seus benefícios para comigo?” (Sl 116:12). E, como ele, pus-me a meditar sobre o quanto devo ao Senhor, não somente no ponto de vista espiritual, pois não há preço que pague a graça recebida através do nosso Salvador, mas, notoriamente, pelas coisas materiais, pois é aí que muitos têm tropeçado e deixado de aumentar seu crédito diante d’Aquele a quem tanto devemos.
Para melhor entendermos o motivo pelo qual somos materialmente devedores ao nosso Deus, devemos compreender que “ao Senhor pertence a terra e tudo o que nela contém”. (Sl 24:1). Assim, possuímos tão somente a posse precária daquilo que realmente pertence ao Senhor, e como tudo é da Sua exclusiva propriedade, tanto a terra e as obras que nela existem, como os mares e os céus, todas essas coisas serão desfeitas por Ele, porque Ele é o dono de tudo (I Pe 3:7, 10, 12).
A verdade absoluta é que tão somente somos administradores daquilo que Ele nos tem entregue. Resta-nos, portanto, saber se temos sido leais ou infiéis ao Senhor pela Sua imensa longanimidade a nosso favor.
Desde os tempos antigos esta realidade era transmitida ao povo de Deus da época. Quando no deserto, Moisés lembrou aos israelitas para que não se esquecessem de Deus ao pensarem que a força e o poder dos seus braços é que teriam conquistado tudo aquilo que lhes havia de chegar às mãos (Dt 8:1-20). Lamentavelmente, como muitos fazem em nossos dias, eles não deram conta disso, e uma vez fartos ensoberbeceu-se lhes o coração e se esqueceram do Senhor (Os 13:5-6).
Todavia, houve aqueles que nos deixaram testemunhos notáveis, a exemplo de Davi, que por amar tanto a Deus, afora tudo que tinha preparado para o Santuário a ser construído, ele deu toda a riqueza particular que possuía para a Casa de Deus. Por que teria agido Davi de uma forma tão maravilhosamente liberal para com Deus? Porventura teria ele roubado a Deus e por isso se considerava um devedor? Estaria ele nesse momento pensando nas obrigações dos dízimos segundo à lei ou estava agindo segundo um coração enormemente agradecido? Essa resposta encontramos em II Cr 29:14 nas palavras do próprio Davi:
“… quem sou eu, e quem é o meu povo para que pudéssemos dar voluntariamente estas coisas? Porque tudo vem de ti e das tuas mãos to damos… Senhor, nosso Deus, toda esta abundância, que preparamos para te edificar uma casa ao teu santo nome, vem da tua mão, e é toda tua. Bem sei, meu Deus, que tu provas os corações, e que da sinceridade te agradas; eu também, na sinceridade do meu coração dei voluntariamente todas estas coisas e acabo de ver com alegria que o teu povo que se acha aqui te faz ofertas voluntariamente”.
Cabe-nos, neste momento, a seguinte pergunta: Nós, que fazemos parte do atual povo celestial de Deus, temos sido sinceros em nossas ofertas à Sua gloriosa obra?
Isto é algo muito grave, pois na medida que não entregamos aquilo que pertence ao Senhor, de fato nós O estamos roubando! É isso mesmo! A palavra é dura mas é autenticamente verdadeira e quem diz isso não sou eu, mas o próprio Senhor através do Seu profeta:
“Roubará o homem a Deus? Todavia vós me roubais e dizeis: em que te roubamos? Nos dízimos e nas ofertas vós me roubais. Com maldição sois amaldiçoados, porque a mim me roubais…”. (Ml 3:8-9).
Porventura, temos roubado a Deus na medida em que temos deixado de dar voluntariamente as nossas dádivas ao Senhor? Quanto estaremos devendo ao Senhor? O que diz a sua consciência acerca disso meu prezado irmão?
Quando Paulo se prepara para ir a Jerusalém a serviço dos santos, ele não deixou de mencionar o magnífico procedimento das igrejas da Macedônia e Acaia que levantaram uma coleta em benefício dos irmãos que viviam em Jerusalém, vítimas que eram do pesado jugo de Roma e do desprezo e desamparo das autoridades judaicas daqueles dias. O que teria levado aquelas igrejas a serem tão altruístas? Paulo dá o motivo:
“Isto lhes pareceu bem por se considerarem devedores; porque se os gentios têm sido participantes dos valores espirituais dos judeus, devem também servi-los com bens materiais”. (Rm 15:27).
Na medida em que nos esquecemos dessa realidade e pensamos que as coisas que temos conseguido no presente século, quer seja pouco quer seja muito, são frutos da nossa capacidade pessoal e por isso esses bens somente a nós pertencem, a verdade é que de fato estamos sendo desleais a Deus retendo, egoisticamente, aquilo que de fato é do Senhor.
Nós não somos donos de absolutamente nada. Tudo que nos chega às mãos é vindo por intermédio d’Ele e a Ele pertence. Quanto estamos fazendo uma oferta ao Senhor nós não estamos dando algo que é nosso mas devolvendo aquilo que é d’Ele.
Quando Jesus falou em dar, Ele não se limitou a uma parte de alguma coisa, mas ao todo. No diálogo mantido entre o Senhor e o jovem rico, que no seu legalismo acreditava estar cumprindo com todos os preceitos de Deus, “disse a ele o Senhor: uma coisa ainda te falta: vende tudo o que tens, dá-o aos pobres, e terás um tesouro nos céus; depois vem, e segue-me” (Lc 18:22). Jesus não disse ao jovem que doasse uma parte dos seus bens, mas que tivesse o desprendimento de entregar tudo.
Em outra oportunidade, estando Jesus no Templo, observava a multidão colocar dinheiro no cofre; os ricos punham muito. Porém, uma viúva, pobre, lançou no cofre duas pequenas moedas, e o Senhor exaltou a atitude daquela mulher por ela ter dado tudo quanto possuía, todo o seu sustento (Mc 12:41-42). Jesus contempla o todo e não a parte, porque Ele veio para servir e dar, e Ele não Se deu parcialmente, Ele Se deu por completo, totalmente, pois Ele deu a Sua própria vida em resgate de muitos (Mt 20:28).
Se não dermos tudo o que possuímos a Deus estaremos em débito com Ele. A esta altura o irmão deverá estar pensando que enlouqueci, mas não! Experimente em sua vida aquilo que muitos servos bem sucedidos vêm usufruindo. Dê tudo ao Senhor, cem por cento, e depois acerte, intimamente com Ele, o quanto você gostaria que permanecesse consigo. A princípio você achará que 90% de tudo o que você possui ou de todo o seu ganho deverá ficar consigo, posteriormente, você irá observar que isso é muito e o inverso passará a ser verdadeiro, ou seja, você estará retendo para você apenas dez por cento de tudo que possui, pois o Senhor lhe estará abrindo as janelas dos céus e derramando sobre você bênçãos sem medida – essa é a promessa! (Ml 3:10).
Deixemos, pois, de roubar a Deus, retendo para nós aquilo que é d’Ele. Bilhões de almas estão destinadas à perdição eterna caso não sejam alcançadas pela maravilhosa graça do nosso Senhor Jesus. Para isso é necessário que o Evangelho as alcance. Para que o Evangelho as alcance é preciso que haja quem pregue e se dedique exclusivamente ao serviço do Evangelho. Estes servos consagrados que saem por amor às almas perdidas têm que ter as suas necessidades básicas atendidas. Um filho de Deus não deve passar por privações! Para isto é necessário que haja recursos para o seu sustento. Donde vêm esses recursos? De cada um de nós, desde que não fiquemos devendo ao Senhor. Portanto, quanto devemos ao Senhor? Oxalá você esteja em dia com Ele, prezado irmão, pois essa é a minha oração!
José Carlos Jacintho