Quando a Doutrina Ultrapassa a Prática

Nunca foi a intenção que a vida cristã fosse uma coisa teórica. Sua própria natureza exige expressão em maneiras práticas através de nós. Crença e comportamento, preceito e prática, falar e andar devem caminhar juntos. Os que criticam colégios teológicos alegam que um dos perigos de treinamento intenso e formal, nas etapas formativas da mente de um jovem, é encher sua mente com vastas quantidades de conhecimento que ele nunca poderá esperar desenvolver em maneiras práticas durante o seu período de estudo. Excesso para a cabeça, não o suficiente para o coração. Se estes críticos estão certos, não posso dizer, mas o ponto é digno de consideração.

Um dos perigos entre cristãos bem instruídos é a falta de consistência entre a vida pública e a vida particular. Falar de grandes verdades e falhar em exibi-las na área privada e pessoal resultará em um ministério fraco e sem poder. “Exercer piedade para com a sua própria família” eram as palavras do apóstolo (I Tm 5:4). Eu devo demonstrar as verdades que eu falo na privacidade do meu lar, se verdadeiramente eu creio nelas. Certamente convencerá todos nós.

Os escritores do Novo Testamento poderiam tratar as doutrinas profundas da igreja, da pessoa de Cristo, assuntos proféticos, e ao mesmo tempo, rapidamente, tratar de assuntos práticos e nos exortar a mostrar estas grandes verdades da fé. “Vós, maridos, amai vossas mulheres, como também Cristo amou a igreja, e a si mesmo se entregou por ela” (Ef 5:25). Pedro diz: “pois também Cristo padeceu por nós”, e depois “deixando-nos o exemplo, para que sigais as Suas pisadas” (I Pe 2:21). O amado João escreve: “Bem-aventurado aquele que lê, e os que ouvem as palavras desta profecia” (Ap 1:3).

Esposas cristãs se submetem aos seus maridos, demonstrando a submissão da igreja a Cristo, pais cristãos falam brandamente aos seus filhos, criando-os “na doutrina e admoestação do Senhor” (Ef 6:4). Patrões cristãos se lembram do seu Mestre, e empregados cristãos executam um bom serviço, mesmo com patrões difíceis, “Não servindo à vista, como para agradar aos homens, mas como servos de Cristo, fazendo de coração a vontade de Deus; servindo de boa vontade como ao Senhor, e não como aos homens” (Ef 6:6-7).

É fácil criticar certos crentes a quem faltam ensino e entendimento de doutrina. Mas se tiver escolha, seria melhor ser consistente com o que sabemos, do que saber muito sem praticá-la. O apóstolo faz-nos lembrar que “a ciência incha, mas o amor edifica” (I Cor 8:1). Isto, porém, não é um caso de minimizar a importância de ensino e conhecimento da sã doutrina. Como W. Rogers nota no seu artigo sobre as epístolas pastorais, é a prática que prova a veracidade da doutrina. Paulo nunca castigou os coríntios com respeito ao seu conhecimento, mas por não viver o que aprenderam.

Então, como podemos ter a certeza de que o nosso andar será consistente com a nossa fala? Uma parte da resposta certamente deve ser achada nas palavras de Paulo em Cl 3:2, 16: “Portanto se já ressuscitastes com Cristo, buscai as coisas que são de cima, onde Cristo está assentado à destra de Deus. Pensai nas coisas que são de cima, e não as que são da terra (…) A palavra de Cristo habite em vós abundantemente, em toda a sabedoria, ensinando-vos e admoestando-vos uns aos outros, com salmos, hinos e cânticos espirituais, cantando ao Senhor com graça em vosso coração”.

A mente deve ser firmada nas coisas celestiais “onde Cristo está assentado à destra de Deus” (Cl 3:1), o coração permitindo que a palavra habite abundantemente, e a comunhão dos cristãos ajudando e encorajando uns aos outros em coisas espirituais. Tudo isto dá equilíbrio ao nosso andar; tudo baseado na Palavra de Deus, assim desenvolvendo a prática nas nossas vidas.

O Senhor Jesus foi o exemplo perfeito do homem que praticava o que ensinava. Nenhum amigo ou inimigo poderia apontar a menor inconsistência.

Passar tempo a sós com Ele e Sua Palavra, conserva-nos em harmonia com as coisas celestiais. Nós também precisamos seguir os Seus passos, para que a nossa doutrina não ultrapasse a nossa prática.

Brian Gunning – Traduzido por Jaime Crawford – “Counsel Magazine”.