Promovendo a Unidade: Uma Boa Obra?
Ao analisarmos a situação das igrejas locais em nosso país, aquelas que se reúnem sem serem filiadas a uma federação ou denominação, tantas vezes referidas como “os irmãos”, encontraremos entre elas uma diversidade de condições.
Certamente, grande parte dessas igrejas se encontra em estado de prostração, estagnadas espiritualmente, não experimentando um crescimento numérico por falta de conversões; outras passam por um período de declínio, perdendo membros por diversas razões:
- Famílias inteiras deixando as reuniões simples, atraídas ao envolvente movimento denominacional, especialmente o neopentecostalismo;
- Muitos jovens, por não estarem sendo instruídos na sã-doutrina, deixam as igrejas locais para engrossarem o rol das seitas e denominações evangélicas, atraídos ao movimento louvor gospel;
- Pequenas igrejas situadas na zona rural, ou em pequenas vilas perdem membros pelo êxodo rural;
- Outras pequenas igrejas perdem famílias inteiras, simplesmente porque estes irmãos se sentem atraídos por uma igreja maior e viajam longas distâncias para desfrutarem do conforto de uma “multidão cristã”.
Não são poucos os casos de igrejas locais desaparecerem, não restando mais irmãos para se reunirem nestas localidades, antes bem frequentadas. Em tantos outros casos, igrejas foram readaptadas para se amoldarem ao gosto popular, imitando as denominações modernas, ganhando muitos adeptos, mas perdendo a identidade de uma igreja neotestamentária e se afastando da comunhão com outras igrejas que ainda perseveram mantendo até certo ponto a simplicidade de reunião.
Entretanto, não podemos deixar de reconhecer que em tantas outras localidades boas igrejas locais mantêm suas atividades, crescendo, desenvolvendo, expandindo, tornando-se cada vez mais firmes na doutrina, na adoração, no evangelismo, nas orações, na visão mais ampla da obra do Senhor.
Não podemos ignorar, também, que muitas novas igrejas têm sido iniciadas sem que se faça alarde sobre este crescimento. Tendo em vista a implantação de novas igrejas locais, muitos pontos estratégicos de evangelismo têm sido estabelecidos e mantidos fielmente.
Não podemos fechar os nossos olhos para o despertamento que tem havido entre muitos jovens pela busca do conhecimento da Palavra de Deus e de um desejo por uma igreja mais próxima das Escrituras.
Não podemos menosprezar as muitas igrejas locais sadias, grandes, médias e pequenas, que têm investido muito em trabalhos sérios como conferências bíblicas, acampamentos bíblicos, grupos de estudos bíblicos nos lares, estudos sistemáticos da Bíblia, evangelismo em massa e de porta em porta, fazendo com que a Palavra – que é a Boa Semente – seja semeada de diversas maneiras.
Também não ignoramos o importante investimento que tem sido feito na área de literatura cristã como cursos bíblicos por correspondência, material evangelístico e de esclarecimento doutrinário, comentários bíblicos editados e periódicos que têm sido mantidos fielmente.
Não podemos nos esquecer daqueles que incansavelmente têm trabalhado com crianças de famílias não cristãs, pregando nas escolas, creches e repartições públicas.
Não podemos deixar de reconhecer que entre estas igrejas, centenas de irmãos sérios, comprometidos com o Senhor e Sua Palavra, homens de Deus e santas mulheres, sem nenhum interesse que seus nomes sejam publicados e reconhecidos, servem fielmente ao Senhor sem esperar honras aqui.
Todavia, na preocupação existente quanto aos recursos financeiros necessários para o suprimento da obra do Senhor, reconhecemos a falta de envolvimento e de visão espiritual, a indisposição de grande parte de cristãos e igrejas locais, pois isto é inegável. Porém, não podemos deixar de reconhecer que o Senhor em Sua graça, tem suprido de uma forma ou de outra as diversas necessidades da Sua Obra. Infelizmente, têm sido comum ouvirmos reclamações ou estatísticas levantadas afirmando que a obra do Senhor em algumas regiões poderá morrer por falta de recursos financeiros.
Não nos esqueçamos do que Paulo, o apóstolo, escreveu acerca das igrejas da Macedônia: “Porque no meio de muita prova de tribulação, manifestaram abundância de alegria, e a profunda pobreza deles superabundou em grande riqueza da sua generosidade” (2 Coríntios 8:2). Hoje, as igrejas da Macedônia, devido a sua profunda pobreza, certamente estariam entre aquelas apontadas por estatísticas modernas como “igrejas prestes a fechar”. Possivelmente seriam usadas hoje como alvo de campanhas para levantamento de fundos para missões, no entanto foram elas que voluntariamente rogaram a Paulo o privilégio de socorrer os pobres da Judeia.
O que falar sobre o sustento do “missionário” Paulo? Ele falou acerca de si mesmo: “e estando entre vós, ao passar privações, não me fiz pesado a ninguém…”. (2 Coríntios 11:9); “em fome e sede, em jejuns muitas vezes; em frio e nudez…”. (2 Coríntios 11:27); “apesar de todas as nossas privações e tribulação” (1 Tessalonicenses 3:7); “Digo isto, não por causa da pobreza, porque aprendi a viver contente em toda e qualquer situação. Tanto sei estar humilhado, como também ser honrado; de tudo e em todas as circunstâncias já tenho experiência, tanto de fartura, como de fome; assim de abundância, como de escassez” (Filipenses. 4:11-12).
Foi justamente nesse tempo em que o principal propagador do Evangelho passava por grandes privações. As igrejas eram em sua grande maioria pequenas, pobres, e não contavam com o suporte de nenhuma entidade missionária, junta ou federação responsável por “promover a unidade”, realizar levantamentos e projetos para o campo missionário. Foi neste tempo, que o Evangelho foi anunciado a toda a criatura debaixo do céu (Colossenses 1:23).
Ao fazer estas considerações, não estou tentando negar a grande crise espiritual em que estamos mergulhados nestes últimos dias. Não estou desinformado sobre a triste realidade de muitas igrejas locais, especialmente em algumas regiões específicas. Não estou ignorante quanto à falta de comunhão e mútua cooperação entre as igrejas conhecidas como “os irmãos”. Ao contrário, me angustio com essa realidade, sofro com o atual estado de coisas, tenho orado suplicando ao Senhor por reavivamento nas igrejas.
Há os têm clamado por mais trabalhadores na extensa seara, ansiando por um avanço em áreas ainda não alcançadas. Mas, nessa angústia, pelo desejo de crescimento e desenvolvimento das igrejas, não podemos cometer os mesmos erros que nossos antepassados incorreram, trazendo prejuízos irreparáveis, quando a intenção era contribuir para o progresso.
O ERRO DE SE CRIAR UM MOVIMENTO ORGANIZADO PARA UNIR AS IGREJAS
Chamo a atenção para esse erro que já foi cometido diversas vezes na história da igreja, e que só serviu para dividir ainda mais os salvos, que são a expressão do corpo de Cristo, a Sua igreja, receba esse movimento o nome que for, prometendo ou não respeitar a autonomia de cada igreja local. Esses movimentos, criados muitas vezes com boas intenções, não fizeram e não farão bem ao Corpo de Cristo em época alguma. Por que não? O que pode haver de mal nisto?
1. O que nos diz a “Doutrina dos Apóstolos”, o “estatuto” da igreja?
Que “há somente um corpo e um Espírito, como também fostes chamados numa só esperança da vossa vocação; há um só Senhor, uma só fé, um só batismo; um só Deus e Pai de todos, o qual é sobre todos, age por meio de todos e está em todos” (Efésios 4:4-6).
Este texto afirma que “existe” somente um corpo e um Espírito, não diz que “haverá” de conformidade com o nosso esforço. A unidade do Corpo de Cristo já é uma realidade! Não algo que se realizará mediante o esforço das igrejas em busca da unidade. É algo que já foi realizado com perfeição pelo próprio Senhor. A unidade do Espírito já existe desde o dia de Pentecostes quando todos fomos batizados em um Corpo (1 Coríntios 12:13), é uma realidade espiritual da qual fazemos parte e aceitamos pela simples fé.
2. O que é pedido de nós em relação à unidade?
“Esforçando-vos diligentemente por ‘preservar’ a unidade do Espírito no vínculo da paz” (Efésios 4:3)
Somos chamados pelo Senhor a PRESERVAR a unidade; não somos chamados a PROJETAR, arquitetar, ou construir a unidade. O “ato de preservar” a unidade, conforme o versículo 2, consiste em usar a humildade, a mansidão, sendo longânimo no relacionamento com os irmãos e igrejas locais; exercitando a capacidade de suportar debilidades uns dos outros e dispondo-se a um esforço diligente, cuidadoso até ao máximo para preservar esta preciosa unidade do Espírito, no vínculo da paz. Um esforço no sentido de impedir que a paz entre irmãos e igrejas seja banida pela separação.
Portanto, no momento em que “formamos uma unidade de igrejas”, por maior que seja o número de igrejas alcançadas, jamais conseguiremos a filiação de todas elas, mesmo em uma região limitada; consequentemente estaremos promovendo a separação de alguns e, desta forma, seremos culpados por excluir muitos que fazem parte do corpo de Cristo e ferindo a unidade do Espírito, a qual fomos chamados a preservar com grande e cuidadoso esforço.
Tentar formar uma unidade de igrejas, por melhores que sejam as intenções, só trará mais divisão entre o povo de Deus e possivelmente a criação de uma denominação entre aqueles que ainda se mantêm livres das cercas denominacionais, o que seria um fato desastroso e profundamente lamentável.
Um estudo cuidadoso da história eclesiástica revelará quantas vezes esta intenção foi levantada e levada avante e quais foram as consequências em cada época. Dentro mesmo daquilo que ficou conhecido como o “movimento dos irmãos”, que se originou de irmãos que deixaram os apriscos denominacionais, que reconheceram que as cercas denominacionais eram um pecado contra a unidade do Espírito e desejaram e buscaram a liberdade de se reunirem apenas como irmãos em torno do nome do Senhor Jesus, não permanecendo mais cúmplices de uma facção eclesiástica.
Mais tarde, com o grande aumento destas igrejas por toda parte, houve uma preocupação de se organizar instituições, juntas ou coisas semelhantes a uma federação, para amparar e apoiar financeiramente estas igrejas, e quais foram os resultados?
Cito aqui apenas o exemplo da “Fundação dos Mordomos”, criada com excelentes intenções para apoiar o avanço das igrejas locais nos EUA:
A Fundação dos Mordomos canalizou milhões de dólares para uma agressiva campanha, a fim de plantar novas igrejas… As assembleias de Ontário cresceram significativamente entre 1934 e 1970.
Durante os anos 50, as assembleias foram mais bem construídas e instaladas. Isto contribuiu para o seu crescimento interno, mas, neste processo, muitos crentes e pregadores perderam a paixão por alcançar o perdido ao redor deles. Muitas vezes, os valores da classe média se tornaram o padrão. Muitos obreiros pioneiros tiveram que ir para um emprego secular a fim de sustentarem a si e suas famílias.
Em 1964, a Fundação dos Mordomos tomou a decisão, a fim de atender o requerimento da Internal Revenue Service (Serviço Interno de Rendimento), que consistia na “criação de uma associação de igrejas”. Essa associação tornava a filiação à Fundação dos Mordomos acessível a assembleias individuais… (Na reunião dos membros da Fundação dos Mordomos em 1992, um administrador que esteve no conselho administrativo em 1964, lamentou publicamente tal decisão e o mecanismo de confusão política que isto criava nas assembleias).
Com efeito, a reorganização da Fundação dos Mordomos criou uma denominação das igrejas dos irmãos, no que diz respeito ao IRS… As assembleias haviam se tornado mais estruturadas do que eles queriam admitir… O imposto e os regulamentos do governo haviam estimulado as assembleias individuais e todo o movimento para um verdadeiro denominacionalismo. A doutrina dos Irmãos não aceita isso, por isso uma espécie de “gíria” criada tenta negar esta situação…
Desde o chamado para a renovação de 1980 e particularmente em anos recentes, sérias controvérsias têm se espalhado pelo movimento. A batalha violenta e difamadora sobre qual facção de assembleias o dinheiro e a influência da Fundação dos Mordomos controlaria. O processo aberto por esta Fundação, contra o Ministério dos Mordomos, para ganhar o controle dos fundos deste, ameaçaram dividir o movimento e até mesmo as assembleias locais… (O Movimento dos Irmãos – William W. Conard, páginas 130 a 133).
Este testemunho deveria ser suficiente para alertar-nos quanto ao perigo da criação de qualquer movimento que possa um dia tomar a mesma direção e proporção a que estes irmãos chegaram. A história nos ensina lições a fim de que não repitamos os mesmos erros.
Porém, é de se admirar que os “herdeiros dos primeiros irmãos” estejam hoje apreciando, invejando e desejando aquilo que os nossos antepassados desprezaram e abandonaram. É de se espantar que os irmãos de hoje estejam desprezando e abandonando aquilo pelo que os nossos antepassados lutaram e conquistaram.
BOAS INICIATIVAS
Apreciamos muito as iniciativas de algumas igrejas locais em incentivar o inter-relacionamento entre igrejas mais próximas, providenciando encontros ou conferências para o ensino sadio das Escrituras e tempo para confraternização. Isto tem resultado em uma aproximação das igrejas, maior liberdade entre elas, contribuição mútua em vários aspectos, melhor relacionamento entre os membros destas igrejas, e até mesmo o desenvolvimento da tolerância e respeito quanto às pequenas diferenças entre elas, que fortalecem os laços da comunhão cristã.
Isto sem contar o enriquecimento espiritual dos crentes consequente da pregação firme e sistemática das Escrituras Sagradas. Isto sim deveria ser incentivado, uma iniciativa para fortalecer, preservar, aperfeiçoar na prática, a unidade do Espírito no vínculo da paz. Isto não atenta contra a unidade do Espírito, mas, ao contrário, pode propiciar um ambiente saudável para a sua manifestação prática. Que sejamos encontrados entre estes, que promovem a paz e a edificação uns dos outros.
UNIDADE PELO NOME
Tem sido bem perceptível a inclinação de se unificar as igrejas locais em torno de um nome, a fim de que se tenha reconhecimento público como as denominações.
A inscrição Casa de Oração que tem sido a mais utilizada no Brasil (unicamente no Brasil) tem sido o nome preferível para identificar a “nossa igreja”. É preciso dizer àqueles que insistem em que precisamos reafirmar os valores e princípios dos “irmãos”, que o nome Casa de Oração não fazia parte dos seus princípios.
Esta inscrição não identificou os irmãos George Müller, Anthony Norris Groves, John Nelson Darby, J. G. Bellett, Henry Craik, Robert Chapman, Kelly, C. H. Mackintosh e tantos outros “irmãos”, e quando se usou pela primeira vez no Brasil esta inscrição em Conceição de Carangola-MG, não significou que estava sendo criada uma nova denominação e que de agora em diante todas as igrejas seriam reconhecidas uniformemente como Casas de Oração, isto iria contra os princípios dos irmãos e contra os princípios bíblicos por eles ensinados.
Não havia uniformidade entre eles em relação à identificação do prédio onde as igrejas se reuniam e ainda não há no exterior entre os irmãos esta regra. Por que no Brasil tem que haver uniformidade quanto ao nome? O que há de tão importante neste nome? O Nome de Cristo não é suficiente? Sentimo-nos humilhados por não termos outro nome além do de Cristo?
Não condeno o uso da inscrição Casa de Oração para “identificação do prédio” usado pela igreja para suas reuniões, desde que ele seja usado apenas com este objetivo e não para denominar a igreja da qual fazemos parte. No entanto, devo reconhecer as muitas igrejas locais espalhadas pelo nosso país, que não se utilizam desta inscrição, mas que são igrejas sérias em seu proceder, procurando andar conforme a doutrina dos apóstolos e não tomando nenhum partido sectário denominacional.
Quanto a mim, tenho tido o prazer de desfrutar de comunhão com muitas igrejas locais, muitas delas usam a inscrição Casa de Oração, muitas outras não usam uma inscrição específica. Em ambos os casos, o que me dá liberdade para desfrutar comunhão com elas é o fato de reconhecerem o Senhor Jesus como Cabeça da Igreja e centro da reunião, e por não estarem em cumplicidade com o denominacionalismo, de não fazerem parte dos que dividem o corpo de Cristo, tornando-se assim culpados por golpear a unidade do Espírito.
UNIDADE DE PROJETO
O Senhor tem dotado a igreja com irmãos excepcionais, alguns que possuem mentes brilhantes e que as utilizam para o bem, tanto para armazenar conhecimentos quanto para administrar áreas importantes na obra de Deus. Porém, nossa mente precisa estar cativa pela Palavra de Deus, se a deixarmos solta poderá se tornar perigosa e nos inclinar para direções erradas.
Na preocupação com a situação de ruína de muitas igrejas, podemos ser levados a projetar muitas coisas que achamos ser a solução, deixamos a nossa brilhante mente solta para investigar, pesquisar e arquitetar. Com o tempo nos tornamos “engenheiros” do Senhor e não mais “obreiros”, que significa servo. Estejamos atentos a esta inclinação; não saiamos da nossa posição de servos.
Não estamos precisando de “engenheiros” para promover “projetos” a fim de salvar ou direcionar a obra de Deus entre nós. Nós já temos “O Engenheiro”, o Senhor da Obra; é Ele quem fez o projeto; é Ele quem contrata os trabalhadores; é Ele quem nos deu as ferramentas; o Seu projeto não ficou velho, ainda é o mesmo; não faltarão materiais ou recursos, pois Ele é o dono da Obra. O que está faltando, não é “engenheiro”, porém servos, humildes e submissos para executar o que o Senhor da Obra já mandou. Não se espera que os servos inventem projetos novos, mas que cumpram com o projeto original, ainda que o considerem antigo.
Não é o meu propósito neste artigo, tratar do que consta no “Projeto Original do Senhor”, mas poderíamos pelo menos lembrar rapidamente de algumas atividades simples e básicas que foram projetadas pelo Senhor da obra para nós cumprirmos:
1. A igreja iniciou-se aqui na Terra, não com a apresentação detalhada de um projeto espiritual por parte de Pedro, ou Tiago, ou João; iniciou-se com dez dias perseverantes de REUNIÃO DE ORAÇÃO, até que fossem revestidos do poder do Espírito Santo. Temos praticado a oração coletiva perseverante e sistemática? Ou organizamos detalhadamente o nosso projeto ministerial e só nos lembramos da oração coletiva quando nos encontramos em dificuldades para executá-lo?
2. A pregação do CRISTO CRUCIFICADO, por parte de Pedro, e a necessidade de ARREPENDIMENTO foi o lançamento da pedra fundamental. Temos praticado este tipo de pregação pública e particular? Somos reconhecidos como propagadores do Cristo crucificado, ou como executivos de missões ou gestores departamentais de igreja? Pregamos Cristo crucificado com a Bíblia aberta ou preferimos uma peça teatral?
3. A obra continuou com todos os convertidos atraídos e submissos à DOUTRINA DOS APÓSTOLOS, esta era a regra para todos (1 Coríntios 7:17; 14:33-34) e se constituía no alicerce do grande edifício que se iniciara. Temos respeitado a doutrina dos Apóstolos, ensinando-a à igreja local? Defendendo-a quando atacada por pregadores modernos? Praticando-a em nossas vidas e reuniões? Ou a deixamos de lado, como algo que embaraça, pesa, constrange? Ou a praticamos em apenas alguns poucos pontos que combinam com nossa conveniência, ou que não nos torna ridículos aos olhos da sociedade?
4. O EVANGELISMO INDIVIDUAL e público foi praticado em praças, sinagogas, escolas, ruas, presídios, estradas desertas, montanhas, de casa em casa. Este trabalho foi realizado enfrentando-se situações das mais adversas possíveis, alguns sendo açoitados, presos, apedrejados. Estes serviços foram realizados obedecendo-se ao projeto do Espírito Santo. Temos praticado este tipo de evangelismo, que na maioria das vezes não é notado e não é publicado nas redes sociais? Ou somos mais dedicados investindo mais tempo e esforço aos grandes eventos nacionais ou internacionais que terão ampla divulgação? Não atravessamos a rua para evangelizar nosso vizinho, mas atravessamos estados inteiros, oceanos, para participarmos de constantes conferências onde muitas vezes um novo projeto será lançado, e o “velho projeto” desprezado.
5. Os servos que iniciaram e continuaram aquela esplêndida obra, tinham uma DISPOSIÇÃO SACRIFICIAL! Por amor ao Senhor, às almas e às igrejas, andavam muitos quilômetros a pé mesmo depois de longas viagens desgastantes de navio, ou após serem presos ou açoitados. Quando chegavam numa cidade não havia uma mansão à espera, com piscina, sauna, praia, elevador, ar-condicionado. Aqueles servos não consultavam a situação financeira da igreja para onde foram convidados para se certificarem de que teriam sua passagem aérea paga pelos irmãos. Não escreviam cartas para várias igrejas para arrecadar fundos para financiar suas viagens dividindo-as em parcelas suaves de maneira que não precisassem mexer na sua Poupança. Temos tido um pouco daquela disposição inicial, disposição sacrificial em favor das igrejas? Visitamos pequenas igrejas? Igrejas da zona rural? Igrejas domésticas? Igrejas da favela? Andamos a pé para visitação pastoral? Evangelizamos por estradas de chão? Compramos literaturas com nossos próprios recursos para distribuição, ou só distribuímos se as ganharmos? Visitamos igrejas sem esperar receber ofertas? Aceitamos convites de “igrejas pobres”?
6. Aqueles primeiros servos cumpriram com a ordenança do Senhor quanto ao DISCIPULADO PESSOAL: “fazei discípulos… batizando-os e ensinando-os a guardar todas as coisas que vos tenho ordenado” (Mateus 28:19-20). A igreja, consequentemente, cresceu saudável e foi capaz de enfrentar provas e tribulações de toda sorte. Temos praticado o discipulado pessoal investindo tempo com “cada um”, procurando ensiná-los a responsabilidade do discipulado e assim desenvolvendo igrejas robustas? Ou não temos tempo para este serviço devido às nossas agendas executivas cheias? Não praticamos o discipulado pessoal porque tememos assustar as pessoas e especialmente os jovens de nossas igrejas? Com o intuito de manter igrejas cheias, não discipulamos, ao invés disto inventamos uma diversidade de atividades para segurar os jovens e famílias em nosso meio?
7. As igrejas primitivas praticaram a DISCIPLINA PÚBLICA, obedecendo à ordenança do Senhor para manter a santidade que convém à Casa de Deus. O pecado era tratado conforme as instruções para cada caso, visando a restauração do caído e a preservação do temor do Senhor. Temos praticado a disciplina pública em seus vários aspectos? A disciplina tem sido imparcial? Quando um “obreiro” cai, seja em que área for, recebe a mesma disciplina, ou é acobertado para que não perca as suas ofertas? Sendo disciplinado na igreja local, continua livre para ministrar em outras regiões?
Estes e muitos outros princípios faziam parte da prática dos primitivos irmãos, refiro-me aqui às igrejas apostólicas, mas faziam parte também daquelas igrejas que em determinada época da história foram conhecidas como “os irmãos”. No entanto, parece não fazer parte dos muitos projetos modernos que têm sido levantados para salvar as igrejas locais dos nossos dias.
CONCLUINDO
Se verdadeiramente desejamos um avivamento espiritual, se sinceramente estamos preocupados com as igrejas locais, anelando profundamente uma renovação espiritual do povo de Deus, voltemos ao projeto original! Voltemos à vontade do Senhor; não às nossas próprias vontades; não à vontade dos irmãos; não à ansiedade das multidões, mas voltemos ao Senhor! À Sua vontade! À Sua Palavra! À dependência total e absoluta à Sua Suficiência!
Concluo citando mais uma vez o livro “O Movimento dos Irmãos” em sua página final:
Nosso futuro repousa não em promover ou projetar um movimento, mas em manifestar a verdade e a vida do Novo Testamento – o poder da Palavra, a mudança de vida nos relacionamentos, o poder da comunhão e a adoração dinâmica da igreja, do incisivo e prático ensino da Bíblia e do poder das vidas repletas de Cristo. A menos que Ele e Seu Espírito andem conosco, nós trabalhamos em vão. Se eles andarem conosco, cada assembleia independente recebendo força do Senhor nos céus, da mesma maneira que mantém laços espirituais com outras assembleias andará de força em força! (O Movimento dos Irmãos – William W. Conard, página 149).
Adir Ramos Magalhães | Boletim dos Obreiros