Porque Alguns Pecadores Não São Salvos

E por que não perdoas a minha transgressão, e não tiras a minha iniquidade?” Jó 7:21a (ACF) – Ninguém deveria descansar até ter absoluta certeza de que seu pecado foi perdoado. Pode ser perdoado, e necessita-se ter segurança do perdão recebido. E não deveria dar descanso a seus olhos, nem um sono rápido e tranquilo às suas pálpebras, enquanto não tiver recebido a segurança, com absoluta certeza, de que a sua transgressão foi perdoada e sua iniquidade retirada.

Vocês, queridos amigos, podem ser pacientes com o sofrimento, mas não deveriam ser pacientes com o pecado. Vocês podem pedir cura com resignação completa à vontade de Deus caso Ele queira concedê-la; mas devem importuná-Lo ao pedir perdão, sentindo que alcançarão. Podem não estar convictos de que seja a vontade de Deus livrá-los da enfermidade, mas devem ter a absoluta certeza que é a vontade d’Ele ouvi-los quando clamam a Ele para que os salve do pecado.

E, se no primeiro clamor não são salvos, procurem conhecer por que Ele recusa conceder-lhes a bênção que tanto desejam. É legítimo fazer esta pergunta a Deus uma e outra vez: “E por que não perdoas a minha transgressão e não tiras a minha iniquidade?”.

Precisamos também, refletir neste assunto com nosso coração e nossa consciência, para ver se poderíamos descobrir por que o perdão não nos é concedido durante um tempo, pois Deus nunca age arbitrariamente e sem razão; e, podem acreditar que se esquadrinhamos diligentemente à luz da lâmpada do Senhor, seremos capazes de encontrar uma resposta a esta pergunta de Jó: “E por que não perdoas a minha transgressão e não tiras a minha iniquidade?”.

A pergunta de Jó poderia ser formulada por um filho de Deus; mas poderia ser feita com mais frequência por outras pessoas que ainda não foram levadas conscientemente à família do Senhor.

I. Em primeiro lugar considerarei nosso texto como UMA PERGUNTA QUE, COMO NO CASO DE JÓ, UM VERDADEIRO FILHO DE DEUS PODERIA FAZER: “Por que não perdoas a minha transgressão e não tiras a minha iniquidade?“.

Algumas vezes, amados amigos, esta pergunta é feita debaixo de um mal entendido. Jó era um homem que sofria grandemente; e ainda que ele soubesse que não era tão culpado como seus impertinentes amigos queriam fazê-lo crer, ele realmente temia que suas grandes aflições fossem resultado de algum pecado; e, portanto, se apresentou ao Senhor com esta desconsolada pergunta: “por que continuas mandando-me toda esta dor e esta agonia? Se é por causa do pecado, por que, então não perdoas primeiro o pecado, e em seguida tiras suas consequências?”.

Agora, eu entendo que tivesse sido um mal entendido da parte de Jó supor que suas aflições eram o resultado do pecado. Atentem irmãos, para o fato que nós estamos tão cheios de pecado por natureza, que sempre podemos crer que há suficiente mal dentro de nós que nos poderia fazer passar por severa aflição, se Deus nos tratasse segundo Sua justiça; mas, por favor, lembrem que, no caso das aflições e provas de Jó, o propósito do Senhor não era castigá-lo por seu pecado, mas sim mostrar no patriarca – para Sua honra e glória – as maravilhas de Sua graça, concedendo a Jó grande paciência para que ainda se apegasse a Deus mesmo com o mais horrendo sofrimento, e para que triunfasse em tudo isso.

Jó não estava sendo castigado; ele estava sendo honrado. Deus estava concedendo-lhe um nome entre os grandes da terra. O Senhor estava elevando-o, estava promovendo-o, estava colocando-o em um posto superior, estava fazendo com que ele se convertesse em um dos pais e modelos da antiga igreja de Deus. Estava fazendo por Jó coisas extraordinariamente boas, para que vocês ou eu, ao revisar toda sua historia, pudéssemos muito bem dizer: “eu estaria muito contente em receber as aflições de Jó se pudesse contar também com a graça de Jó, e ter o lugar dele na Igreja de Deus”.

Poderiam pensar, amados, que sua aflição presente é o resultado de algum pecado em vocês, mas poderia não ter nenhuma relação. Pode ser que o Senhor os ame de uma maneira muito especial porque são um ramo frutífero, e Ele os está podando para que possam produzir maior fruto.

Como Rutherford [1] disse em seus dias a uma preciosa dama que havia perdido a vários de seus filhos: “você é tão doce para o Bem Amado, que Ele está com ciúmes por sua causa, e lhe está tirando todos os objetos de seu amor terreno para poder absorver para Si todo o afeto de seu coração”.

Era a própria doçura do caráter da piedosa mulher que conduziu seu Senhor a atuar desta forma com ela, e eu creio que há alguns filhos de Deus que agora estão sofrendo simplesmente porque são agraciados.

Há certos tipos de aflição que só sobrevém aos mais eminentes membros da família de Deus; e se vocês são alguns daqueles que são honrados desta maneira, em vez de perguntar a seu Pai Celestial: “quando perdoarás meu pecado?”, poderiam dizer com mais propriedade: “Meu Pai, como Tu perdoaste minha iniquidade, e me adotaste como um membro da Tua família, aceito alegremente minha porção de sofrimento, já que em tudo isto Tu não estás trazendo à minha mente a lembrança de nenhum pecado não perdoado, pois eu sei que todas as minhas transgressões foram contadas sobre a cabeça do Cordeiro Macho da antiguidade. Como Tu não estás colocando diante de mim nenhum motivo de contenda entre Tu e eu, pois eu caminho na luz como Tu estás na luz, e tenho uma doce e bendita comunhão Contigo, me inclinarei diante de Ti, e amorosamente beijarei Teu cajado, aceitando de Tuas mãos qualquer coisa que Teu decreto infalível estabeleça para mim”.

Seria algo bendito, queridos amigos, que pudessem possuir este estado de mente e de coração; e poderia suceder que seu oferecimento da oração acima estivesse cimentado sobre um total mal entendido do que o Senhor está fazendo com vocês.

Algumas vezes, também, um filho de Deus usa esta oração com um sentido muito incomum de pecado.

Vocês sabem que quando estão contemplando uma paisagem, podem fixar seu olhar de tal forma sobre um objeto em especial, que já não olham o resto da paisagem. Poderiam deixar de ver suas grandes belezas porque observaram unicamente uma pequena parte da mesma.

Agora, de maneira semelhante, ante a observação do crente, há um amplo espectro de pensamento e de sentimento. Se colocarem seu olhar sobre sua própria pecaminosidade, como poderiam fazê-lo, poderia ser que se esquecessem da grandeza do amor do Todo Poderoso e da grandiosidade do sacrifício expiatório; mas, sem dúvida, ainda que não os esquecessem, não pensariam tanto neles como deveriam, pois pareceria que fazem de seu próprio pecado e de toda sua atrocidade e gravidade, o objeto central de sua consideração.

Há certos momentos em que não podes evitá-lo; esses pensamentos e esses sentimentos sobrevêm a mim, assim que posso falar com base em minha própria experiência. Dou-me conta que algumas vezes, sem importar o que eu faça, o pensamento que domina minha mente tem a ver com minha própria pecaminosidade, com minha pecaminosidade inclusive desde minha conversão, com minhas deficiências e meus desvios de meu Deus cheio de graça.

Agora, vejam bem, é bom pensar em nosso pecado desta maneira, mas não é bom pensar nele desproporcionalmente em comparação com outras coisas.

Quando vou ao médico porque estou doente, penso naturalmente na minha doença; mas, acaso não penso também no remédio que seria prescrito, e em muitos casos em que uma doença foi combatida com o uso deste remédio? Então, não seria indevido eu fixar meus pensamentos inteiramente sobre um fato e excluísse outros fatos compensatórios?

Sim, e é precisamente assim que atuamos muitos de nós, e logo clamamos a Deus como fez Jó: “Por que não perdoas a minha transgressão, e não tiras a minha iniquidade?”, quando, na verdade, já está perdoada e já foi retirada.

Se tentássemos vê-lo, flui diante de nós esse rio sagrado do sangue propiciatório de nosso Salvador que cobre toda nossa culpa, de tal forma que, ainda que seja grande, não existe aos olhos de Deus, pois o sangue precioso de Jesus apagou para sempre.

Há outros momentos nos quais o crente poderia, talvez, articular a pergunta de nosso texto; sempre que se meta em problemas com seu Deus. Vocês sabem que depois de sermos completamente perdoados – como o somos no momento em que cremos em Jesus – não somos considerados mais como criminosos diante de Deus; antes, nos convertemos em Seus filhos.

Vocês sabem que é possível que um homem que tenha sido levado à corte como prisioneiro, seja perdoado; mas suponham que, depois de ser perdoado, fosse adotado por aquele que atuou como seu juiz, e fosse integrado à sua família convertendo-se em seu filho. Agora, depois de fazer isso, supomos que não seria possível levá-lo novamente diante do tribunal para julgá-lo e colocá-lo na prisão. Não; se ele se converteu em filho do juiz, sei o que seria feito; o juiz o colocaria debaixo das regras de sua casa às quais, se espera, sejam acatadas por todos os membros da sua família. Logo, se ele se comportasse mal na sua condição de filho, então não haveria a liberdade de relacionamento e a comunhão de pai e filho que deveria existir. Pela noite, o pai poderia se recusar a beijar o filho desviado e desobediente. Quando seus irmãos se alegrassem com o sorriso do pai, a sua porção poderia ser um cenho franzido; não que o pai o tivesse expulsado de sua família, ou que ele passasse a ser menos filho do que era, mas há uma nuvem entre eles devido ao seu comportamento indevido.

Temo, meus queridos amigos, que alguns de vocês devem ter sentido, algumas vezes, o que esta experiência significa; pois entre vocês e seu Pai Celestial –ainda que vocês estejam seguros de que Ele nunca os apartará de Si – há uma nuvem. Vocês não estão caminhando na luz, e seu coração não é reto aos olhos de Deus. Eu os exorto sinceramente a que não permitam que esta triste situação ocorra; ou se alguma vez aconteça, rogo a vocês que não permitam que esse triste estado de coisas dure nem sequer um dia. Resolvam a contenda com seu Deus antes de irem deitar-se à noite. Talvez o filho tenha enfadado-se e seu pai teve que falar muito asperamente; durante longo tempo foste muito orgulhoso para ceder; mas, no final, o pequenino veio e disse: “pai, me comportei mal, sinto muito”; e no mesmo instante a perfeita paz se instalou entre os dois. O pai lhe disse: “isso é tudo que eu precisava ouvir, meu filho querido. Eu te amei inclusive quando fostes avesso e irado, mas eu queria que sentisse e reconhecesse que estavas agindo mal; e agora que o sentes e reconheces, minha dor terminou. Vem me abraçar pois tu és tão amado para mim como o resto da família”.

Posso imaginar muito bem que, quando tiveram propósitos que se encontravam com Deus, Ele tenha recusado por algum tempo depositar o sentimento de Seu amor paterno em seus corações. Então eu lhes suplico que se acheguem a Ele, e lhes sugiro que a oração mais apropriada a Ele é com as palavras do texto: E por que não perdoas a minha transgressão, e não tiras a minha iniquidade?”. Ou peçam em oração como fez Jó um pouco mais tarde: “Faze-me saber por que contendes comigo, pois quero estar em paz contigo, e meu espírito recém nascido não pode ter descanso enquanto haja alguma causa de contenda entre nós”.

Até aqui estive me dirigindo aos filhos de Deus. Agora peço suas sinceras orações para que seja guiado a falar sábia e poderosamente aos demais.

II. A PERGUNTA DE NOSSO TEXTO PODERIA SER FORMULADA POR ALGUNS INDIVIDUOS QUE NÃO SÃO CONSCIENTEMENTE FILHOS DE DEUS: “E por que não perdoas a minha transgressão, e não tiras a minha iniquidade?“.

E, primeiro, parece que escuto alguém que faz este tipo de interrogação: “Por que Deus não tira a minha iniquidade e acaba com ela? Quando venho a este lugar, ouço muito sobre a expiação pelo sangue, e da reconciliação através da morte de Cristo; mas, por que Deus não me diz simplesmente: “É certo que fizeste o mal, mas eu te perdoo, e ali termina todo o assunto?”.

Com suma reverência para com o nome e o caráter de Deus, devo dizer que tal curso de ação é impossível. Deus é infinitamente justo e santo, Ele é o Juiz de toda a terra, e deve castigar o pecado.

Vocês sabem, queridos amigos, que há momentos, inclusive na história dos reinos terrenos, em que os governantes dizem, mesmo que não por palavras, mas com suas ações: “há sedição por toda parte, mas deixaremos que continue; não queremos parecer severos, assim que não queremos suprimir os rebeldes”.

Qual é a consequência inevitável de tal conduta? Pois bem, que o mal se torna pior e pior; os homens rebeldes se vangloriam baseando-se na liberdade que lhes é concedida, e agem com maior liberdade; e, a menos que o legislador tenha a intenção que sua lei seja chutada por toda a rua como uma bola de futebol, a menos que pretenda que a paz e a segurança de seus súditos que cumprem a lei seja absolutamente destruída, se obrigará a agir; e diz: “não; não se pode permitir que este estado de coisas continue. Eu seria cruel para com os outros a menos que desembainhe a espada e faça justiça para ser respeitado por todo meu reino”.

Eu digo a vocês, queridos amigos, que a coisa mais terrível do universo seria um mundo cheio de pecado, e, que não houvesse um inferno para seu castigo. A mais espantosa condição em que se poderia encontrar alguém é a condição de absoluta anarquia, quando cada pessoa faz o que lhe apraz, e a lei se torna totalmente desprezada.

Agora, se depois que os homens tivessem vivido vidas de impiedade e pecado, dos quais nunca se arrependeram, e de cuja culpa não foram exonerados, Deus os levasse tranquilamente ao céu, todo governo moral teria chegado do fim, e o próprio céu não seria um lugar para onde alguém tivesse almejado chegar. Se os ímpios fossem para o céu na mesma condição em que se encontram na terra, o céu se converteria em uma espécie de antessala do inferno, um respeitável lugar de condenação; mas esse não poderia jamais ser o caso. “O Juiz de toda a terra, não há de fazer o que é justo?”.

Ele formulou um maravilhoso plano pelo qual pode perdoar ao culpado sem abalar, no mínimo grau, as estruturas de Seu trono, ou colocar em perigo Seu governo. Querem ser salvos dessa maneira ou não? Se rejeitarem o caminho de salvação de Deus, se perderão, e a culpa permanecerá à sua própria porta. Deus não permitirá a anarquia para satisfazer seus caprichos, nem deixará vazio o trono do céu para que possamos ser salvos segundo nosso próprio capricho.

Com um infinito custo do amor de Seu coração, pela morte de Seu próprio amado Filho, Ele providenciou uma via de salvação; e se vocês rejeitam isso, não precisariam fazer a pergunta de Jó, pois saberiam por que não perdoa sua transgressão e não perdoa sua iniquidade; e sobre sua cabeça recairá o sangue de sua alma imortal.

Talvez alguém diga: “bem, então, se essa é a via de salvação de Deus, creiamos em Jesus Cristo, e obtenhamos o perdão imediatamente. Mas tu falas da necessidade de um novo nascimento, e de deixar o pecado, e de seguir a santidade, e dizes que sem santidade ninguém verá ao Senhor”.

Sim, com efeito, digo, porque a Palavra de Deus o diz; e eu repito que, se Deus outorgasse o perdão e em seguida permitisse que os homens continuassem no pecado justamente como o faziam antes, seria uma maldição para eles ao invés de uma bênção.

Vejamos, se o homem desonesto prosperasse no mundo, isso acaso seria uma bênção para ele? Não, certamente não; pois com certeza se faria mais desonesto. Se um homem pratica a libertinagem e escapa de suas consequências nesta vida, isso acaso é uma bênção para ele? Não; pois se converterá em um libertino ainda maior; e se Deus não castigasse aos homens por seu pecado, antes permitisse que fossem felizes no pecado, seria uma maldição maior para eles se Ele viesse e lhes dissesse: “Por cada transgressão da minha lei justa, haverá um castigo devido; e para todo mal moral sobrevirá também males físicos naqueles que os cometem”.

Eu dou graças a Deus por não permitir que o pecado produza felicidade; abençoado seja Deus que põe o castigo nas costas do mal, pois assim deveria ser. A maldição do pecado está no próprio mal mais que em seu castigo; Se um homem sendo pecador, se convertesse em algo feliz, então os homens pecariam, e pecariam repetidamente, e pecariam ainda mais gravemente; e isto Deus não tolerará.

“Bem” – dirá algum outro amigo – “esse não é meu problema. Eu desejo ser salvo pela expiação de Cristo, e estou perfeitamente ansioso de ser conduzido a deixar de pecar, e a receber de Deus um novo coração e um espírito reto; por que, então, não me perdoa, e apaga minhas transgressões?”.

Bem, em primeiro lugar, pode ser, porque tu não confessaste teu mal proceder. Lembrarás que o apóstolo João diz: “Se confessamos nosso pecado, ele é fiel e justo para perdoar nossos pecados”. Você pergunta: “a quem confessarei meus pecados?” Por acaso deve vir a mim com sua confissão? Oh, não, não, não! Eu não poderia suportar isso. Existe um velho provérbio que descreve a imundície assim: “é tão imundo como o ouvido de um padre”. Não posso imaginar algo mais sujo que isso, e não tenho nenhum desejo de ser participante da imundície. Busca auxílio em Deus, e confessa a Ele o seu pecado; verte no ouvido d’Aquele a quem ofendeste com a triste história de seu coração; diga como Davi: “Contra ti, contra ti somente pequei, e fiz o que é mal à tua vista”.

Querido amigo ansioso, se me dissesse: “durante muitos meses busquei ao Senhor, e não posso encontrá-lo, nem alcanço paz na consciência”; eu lhe aconselharia que tentasse esse plano: se tranque em seu quarto, sozinho, e faz uma detalhada confissão de sua transgressão. Talvez tivesse a oportunidade de ser hipócrita ao confessá-la de maneira pouco exaustiva; assim que, tenta confessá-la em detalhe, refletindo especialmente naqueles pecados mais graves que provocam demasiadamente a Deus e sujam mais a consciência, da maneira que Davi orou: “Livra-me dos homicídios, oh Deus”. Esse era seu grande crime; ele havia causado a morte de Urias, assim que confessou que era culpado do sangue, e orou para ser livrado.

Da mesma maneira, confessa seu pecado, qualquer que tenha sido. Eu estou convencido que, seguidamente, a confissão a Deus alivia a alma do seu fardo de culpa. É como quando um homem tem um tumor em formação, e um médico sábio afunda seu bisturi, e o que se havia formado é retirado, e a inflamação cede, sucede com frequência o mesmo com o que a consciência acumulou, se, pela confissão, o coração é operado e o mal acumulado se dispersa. Como poderíamos esperar que Deus dê descanso à nossa consciência se não lhe confessamos nosso pecado?

Não poderia ser possível, também, queridos amigos que não possam obter perdão e paz, porque vocês ainda estão praticando algum pecado conhecido? Agora, seu Pai Celestial tem o propósito de lhes outorgar misericórdia de uma maneira que será para seu benefício permanente.

O que vocês estão fazendo de errado? Eu não os conheço tão intimamente como para poder dizer o que é que está mal com vocês; mas conheci a um homem que não podia obter de forma alguma a paz com Deus porque havia brigado com seu irmão, e como não queria perdoá-lo, não era razoável que esperasse receber o perdão de Deus.

Havia outro homem que buscou ao Senhor durante um longo tempo, mas não conseguia obter paz por esta razão: era um vendedor ambulante de tecidos, e tinha o que se supunha ser uma fita métrica, mas a fita não tinha as medidas completas; e, um dia, durante o sermão, pegou a fita no lugar de adoração, e a arrebentou, desse momento em diante encontrou a paz com Deus quando claramente renunciou ao que havia sido seu instrumento de crime. Ele havia buscado em vão o perdão todo o tempo em que havia perseverado no mal; mas tão logo renunciou a isso, o Senhor sussurrou paz à sua alma.

Acaso algum de vocês toma “uma embriagadora dose em excesso” em sua casa? Por acaso esse é o seu pecado urgente? Dirijo-me às mulheres da mesma forma que aos homens quando faço esta pergunta. Vocês riem pela sugestão, mas não é um assunto para rir-se, pois é tristemente certo que muitos, de quem não se suspeita que façam, são culpados de beber em excesso. Agora, pode ser que nunca haja paz entre Deus e sua alma até que a taça seja suprimida. A taça deve desaparecer se Deus há de perdoar seu pecado. Assim, quanto mais cedo desaparecer, melhor será para vocês.

Talvez, em seu caso, o pecado seja porque não governam adequadamente suas famílias. Quando seus filhos fazem algo errado, não são censurados nunca? De fato é permitido a eles que cresçam para que sejam filhos do demônio? Esperam que Deus esteja de acordo com vocês enquanto isto acontece? Pensem na queixa que Deus tinha contra Eli em relação a esse tema, e lembrem-se como terminou esta contenda, porque Eli chamou a atenção de seus filhos muito brandamente: “Por que fazem coisas semelhantes?”, mas não os reprimiu quando se aviltavam.

Observem, queridos amigos: Deus não nos salvará pelas nossas obras; a salvação é inteiramente de graça, e ela se mostra imediatamente ao pecador sobre quem é concedida levando-lhe a renuncia ao pecado ao qual havia se entregado anteriormente.

Então, que escolherão: seu pecado ou seu Salvador? Não tratem de segurar o pecado com uma mão e o Salvador com a outra, pois ambos não poderiam ser seus; assim que, escolham por qual optarão. Rogo a Deus que lhes mostre qual é o pecado que está impedindo que tenham paz, e logo lhes conceda a graça para renunciar a ele.

“Bem” – dirás – “não creio que este seja meu caso em absoluto, pois eu na verdade me esforço de todo coração, a renunciar a todo pecado, e estou buscando sinceramente a paz com Deus”.

Bem, amigo, talvez não a tenhas encontrado porque não tens sido completamente sincero ao buscá-la. Parecerias ser sincero enquanto estás aqui no domingo à noite, mas, quão sincero és na segunda à noite? Talvez sejas bastante sincero então, porque vens à reunião de oração, mas, o que acontece na terça, na quarta, e no resto da semana? Quando um homem realmente quer que sua alma seja salva, deveria abandonar tudo enquanto não resolvesse esse assunto de suma importância. Sim, me aventurarei a dizer tudo isso.

Recordem o que fez a mulher de Samaria quando recebeu a palavra de Cristo junto ao poço de Sicar. Ela havia ido ao poço em busca de água; mas olhem para ela quando regressa à cidade. Por acaso há algum cântaro sobre sua cabeça? Não; a mulher deixou seu cântaro, e esqueceu o que tinha sido para ela uma ocupação necessária uma vez que foi conduzida a pensar seriamente sobre sua alma e seu Salvador.

Não quero que esqueçam que, quando encontrarem a Cristo, podem carregar seu cântaro e ao mesmo tempo segurar a Cristo; mas, enquanto não o tiverem recebido realmente pela fé, eu gostaria de vê-los tão plenamente absorvidos na busca da única coisa necessária, que todo o restante é colocado num lugar secundário, ou mais baixo que isso; e se chegassem a dizer: “enquanto não seja salvo, não vou fazer absolutamente nada; irei ao meu quarto e vou clamar a Deus pedindo misericórdia, e deste lugar não sairei enquanto não me abençoe”, eu não os acusaria de fanatismo, nem ninguém mais o faria que conhecesse o valor relativo das coisas eternas e das coisas do tempo e do sentido.

Vamos, homem, para salvar seu abrigo, desperdiçaria sua vida? “Não”, responderias; “o abrigo é insignificante comparado com minha vida”. Bem, então, como tua vida vale mais que seu abrigo, e como sua alma é de maior valor que seu corpo, e como a primeira coisa que necessita é obter o perdão de seu pecado para que sua alma seja salva, enquanto não se tenha feito isso, todo o demais pode ser colocado de lado. Que Deus lhes conceda tal desesperada ousadia que os induza a querer e ter essa bênção! Quando alcancem essa determinação, a terão; quando não possam receber uma negativa de Deus, não receberão uma negativa.

Todavia há algo mais que vou mencionar como uma razão pela qual alguns homens não encontram ao Salvador, e seus pecados não são perdoados; e é porque não se apartam da base errada e se colocam sobre a base correta. Se fores perdoado alguma vez, querido amigo, deve ser inteiramente por um ato do favor divino e imerecido.

Agora, talvez esteja tratando de fazer algo que te recomende diante de Deus; você rejeitaria com desdém a doutrina de ser salvo por seus próprios méritos; mas, ainda assim, você tem um conceito de que há uma coisa ou outra em você que pode lhe recomendar ante Deus em alguma medida ou grau, e ainda pensa que a base de seu perdão deve radicar em alguma medida em ti.

Bem, agora, nunca poderias ter o perdão dessa maneira. A salvação é ou toda por obras, ou ao contrário, toda de graça. Concordas em ser salvo como um pecador culpado e merecedor do inferno, como alguém que não merece a salvação, muito pelo contrário, merece suportar a ira de Deus? Estás disposto a que, a partir deste momento em diante, se dirá de ti: “esse homem foi perdoado gratuitamente de todas suas transgressões, não por ele mesmo, mas unicamente por causa de Cristo”? Essa é uma boa base sobre a qual se apoiar; essa é uma rocha sólida.

Mas alguns homens parecem colocar um pé sobre a rocha, e dizem: “sim, a salvação vem por Cristo”. E, onde está teu outro pé, meu amigo Oh! Diz que foi batizado, ou que foi confirmado, ou que de alguma maneira ou outra fez algo em que pode confiar.

Agora, toda essa confiança não é nada senão apoiar-se sobre areia; e independentemente de quão firme esteja plantado teu outro pé sobre a rocha, tu cairias se este pé está sobre a areia. Necessitas uma boa base para ambos os pés, querido amigo; e procuras consegui-la. Este deve ser seu idioma:

“Tu, oh Cristo, és tudo o que necessito;

O que encontrei em Ti sobrepuja tudo”.

Não busque em nenhuma outra parte algo ou alguém que possa salvar-lhe; somente olhe para Cristo, e somente para Cristo. Acaso és demasiado orgulhoso para fazer isso? Terás que humilhar-te debaixo da poderosa mão de Deus, e quanto mais rápido o faças, melhor será para ti. “Oh, mas, eu, eu… eu realmente devo fazer algo! Escuta:

“Enquanto não te apegues à obra de Jesus

Por meio de uma fé simples,

‘Fazer’ seria algo mortal,

‘Fazer’ termina na morte.

“Derruba teu ‘fazer’ que é mortal,

E coloca-o aos pés de Jesus,

Apoia-te n’Ele, unicamente n’Ele,

Que é gloriosamente completo!”.

Este é o Evangelho: “Crê no Senhor Jesus Cristo, e serás salvo”. Nunca verás lá em cima no céu, um letreiro que mostre os nomes de “Cristo e Companhia”. Não, é Cristo, e somente Cristo, quem é o Salvador do pecador. Ele reclama isto para Si: “Eu sou o Alfa e o Ômega”; isto é, “Eu sou A, e Eu sou Z. Eu sou a primeira letra do alfabeto, e Eu sou a última letra, e Eu sou cada uma das letras desde a primeira até a última”. Querido amigo, deixarás que Ele seja isso para ti? O receberás como teu Salvador agora? “O que crê em mim, tem vida eterna”. Um amigo nos disse, em uma de nossas reuniões de oração, que “se soletramos T-E-M significa que já é sua”. “O que crê no Filho” é um pecador salvo, possui essa vida eterna que não morre nunca, e que não lhe pode ser tirada.

Portanto, amados amigos, creiam em Jesus, e vocês também terão esta vida eterna, terão o perdão, terão paz, terão a Deus, e terão o mesmo céu para gozá-lo antecipadamente. Que Deus lhes conceda isso, por Sua grande misericórdia em Cristo Jesus! Amém e Amém.

Charles Haddon Spurgeon – Sermão nº 2705 pregado na noite de Domingo 30 de Outubro, 1881 no “The Metropolitan Tabernacle Pulpit”, Newington, Londres. Lido no Domingo 16 de Dezembro, 1900 | Traduzido do espanhol “Por Qué No Son Perdonados Algunos Pecadores” por Allan Román, com autorização e permissão deste para o português de La Vieja Historia | Todo direito de tradução protegido por Lei Internacional de Domínio Público.

NOTAS:

[1] Samuel Rutherford (1600 ? – março 1661) nasceu em Nisbet, Escócia: foi teólogo e escritor presbiteriano, e um dos comissários escoceses para a Assembleia de Westminster .

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