Por Quem Jesus Provou a Morte?

“Vemos, porém, aquele que foi feito um pouco menor que os anjos, Jesus, coroado de glória e honra, por causa da paixão da morte, para que, pela graça de Deus, provasse a morte por todos” (Hebreus 2:9).

Para aqueles a quem Ele veio salvar

Ontem marchei para Jesus, juntamente com milhares de pessoas nas cidades gêmeas (Minneapolis e Saint Paul) e com milhões ao redor do mundo. Quando fiz a curva do Nicollet Mall em direção à rua Sexta, estávamos cantando a segunda estrofe de “Oh, venham coroar Jesus o Salvador”. Eu provavelmente era o único que já estava pensando na mensagem desta manhã. E o título desta mensagem é: “Por quem Jesus provou a morte?”. A estrofe de “Oh, venham coroar Jesus o Salvador” é mais ou menos assim:

Coroe o Senhor da Vida

Que triunfou sobre o túmulo

E levantou-se vitorioso na contendaPara aqueles a quem Ele veio salvar

Sua glória agora nós cantamos

Quem morreu e subiu às alturas

Quem morreu para trazer a vida eterna

E vive para morte exterminar

Ele triunfou sobre a morte e ressurgiu vitorioso da luta por aqueles a quem veio salvar. “Para aqueles a quem Ele veio salvar”. Estas palavras parecem indicar que o escritor deste hino acredita que Jesus Cristo tinha um projeto para realmente salvar um determinado grupo de pessoas pela Sua morte. Ele triunfou sobre a morte para aqueles a quem Ele veio salvar. Parece haver alguns que ele veio salvar, e que para estes a morte foi derrotada e a vida eterna é dada.

Para Todos?

Minha questão nesta manhã é a seguinte: “Por quem Cristo provou a morte?”. Pergunte a 100 pessoas cristãs evangélicas na América e 95 provavelmente dirão: “Todos”. E há algo muito positivo nesta resposta – e algo negativo. O lado positivo é que não é faccioso ou elitista ou sectário. Olha-se para o mundo, querendo que outros desfrutem do perdão dos pecados que os crentes desfrutam. Não é restrito e limitado em suas afeições.

Ele tenta expressar a verdade bíblica de que Deus amou o mundo de tal maneira que deu seu Filho único para que todo aquele que crê não pereça, mas tenha a vida eterna (João 3:16). É saudável e correto acreditar que todo aquele que tem fé – não importa a raça, ou o grau de instrução, ou a inteligência, ou a classe social, ou a religião – todo aquele que coloca a fé em Jesus Cristo é justificado e aceito por Deus, com base no sangue derramado de Jesus. É saudável e correto acreditar que ninguém pode dizer: “Eu realmente quero ser salvo por Jesus acreditando, mas eu não posso ser, porque Ele não morreu por mim”. Ninguém pode dizer isso. Não há quem tenha verdadeira fé por quem Jesus não morreu.

Há muitas razões pelas quais esta resposta (que Jesus provou a morte por todos) é um sinal de boa saúde espiritual. Uma das razões mais óbvias está aqui, no nosso texto, Hebreus 2:9:

“Vemos, porém, aquele que foi feito um pouco menor que os anjos, Jesus, coroado de glória e honra, por causa da paixão da morte, para que, pela graça de Deus, provasse a morte por todos”.

A resposta que 95% dos evangélicos dariam é um sinal da existência da vontade de dizer o que a Bíblia diz.

Mas dizer o que a Bíblia diz e dizer o que ela significa não são necessariamente a mesma coisa. É por isso que eu disse que há algo de negativo em responder à pergunta “Por quem Jesus provou a morte?” simplesmente dizendo “todo mundo”. O que é negativo, não significa, em primeiro lugar, que seja errado. Pode não estar errado. Depende do que você quer dizer com isso. O que é negativo é que este argumento não se aprofunda no que Jesus realmente cumpriu quando morreu. Ele presume que todos sabemos o que Ele fez, e que realizou seu sacrifício por todos da mesma maneira. Isso não é saudável, porque não é verdade. Meu palpite é que a maioria desses 95% que dizem que Jesus morreu por todos teriam dificuldade em explicar exatamente o que é que a morte de Jesus realizou para todos – especialmente o que é que foi feito para aqueles que se recusam a acreditar e irão para o inferno.

Então por que nem todos são salvos?

Em outras palavras, não é saudável dizer que Jesus provou a morte por todos e não saber o que Jesus realmente cumpriu ao morrer. Suponha que você me diga: “Eu creio que Jesus morreu por todos,” e eu respondo: “Então por que nem todos são salvos?” Sua resposta provavelmente seria: “Porque você tem que receber o dom da salvação, você tem que crer em Cristo para que a morte d’Ele possa valer para você”. Eu concordo, mas então eu digo: “Então você acredita que Cristo morreu por pessoas que o rejeitam e vão para o inferno, da mesma forma que ele morreu por aqueles que o aceitam e vão para o céu?” Você diz: “Sim, a diferença é a fé daqueles que vão para o céu. A fé conecta você aos benefícios da morte de Jesus”.

Há vários problemas nessa resposta. Vou mencionar apenas um. E eu me debruço sobre isso porque, se é nisso que você acredita, então você está perdendo as profundas riquezas da aliança de amor que Deus tem para você, em Cristo, por causa desse entendimento de que o amor dele é o mesmo tanto para os que creem quanto para os que O rejeitam. E você está seriamente “negligenciando a sua grande salvação”, que vimos em Hebreus 2:3 que não devemos fazer. Se você acredita que aqueles que foram para o inferno foram amados e que a morte de Cristo vale tanto quanto vale para você, você nunca chegará a conhecer a total grandeza do amor do Calvário.

Seria como se uma esposa insistisse para que seu marido a amasse e se sacrificasse por ela, da mesma forma que ele ama e se sacrifica por todas as mulheres do mundo. Mas, na verdade, o apóstolo Paulo diz em Efésios:

“Cristo amou a igreja, e a si mesmo se entregou por ela, a fim de a santificar, tendo-a purificado com a lavagem da água, pela palavra, para apresentá-la a si mesmo igreja gloriosa, sem mácula, nem ruga, nem qualquer coisa semelhante, mas santa e irrepreensível”.

É isso que nós queremos dizer quando nos referimos que Ele morreu pela Igreja, Sua noiva. Em outras palavras, há uma preciosa e incomensurável aliança entre Cristo e Sua noiva, o que O levou a morrer por ela. A morte de Jesus é pela noiva de Cristo de maneira diferente que por aqueles que perecem.

Aqui temos um problema em dizer que Cristo morreu por todos da mesma forma que morreu pela Sua noiva. Se Cristo morreu pelos pecadores que ao final se perderão do mesmo modo que morreu pelos que serão salvos, então por qual motivo os perdidos serão punidos? Os pecados deles foram ou não cobertos pelo sangue de Jesus? Nós Cristãos dizemos: “Cristo morreu pelos nossos pecados” (I Coríntios 15:3). E nós queremos dizer que ele morreu para pagar a dívida que esses pecados geraram. A morte d’Ele removeu a ira de Deus de sobre mim. A morte d’Ele retirou a maldição da lei de sobre mim. A morte d’Ele comprou o céu para mim. Essas coisas realmente se cumpriram na morte dEle!

Mas o que significaria dizer que Cristo morreu pelos pecados de um incrédulo que irá para o inferno? Será que significaria que os pecados deste homem foram pagos? Se foram, então porque ele está pagando novamente no inferno? Significaria que a ira de Deus foi removida? Se sim, porque a ira de Deus foi derramada em punição pelos seus pecados? Significaria que a maldição da lei foi retirada? Se sim, porque ele está tendo que suportar a maldição no lago de fogo?

Uma possível resposta é essa: Alguém pode dizer que a única razão porque as pessoas vão para o inferno é o pecado de rejeitar a Jesus, e não por todos os pecados de suas vidas. Mas isso não é verdade. A Bíblia ensina que a ira de Deus virá sobre o mundo, não somente por rejeitarem a Jesus, mas por causa dos seus muitos pecados não perdoados. Por exemplo, em Colossenses 3:5-6, Paulo se refere à imoralidade, impureza, paixões do mundo, concupiscência e avareza, e diz que “por estas coisas vem a ira de Deus sobre os filhos da desobediência”. Então as pessoas que rejeitam a Jesus realmente serão punidas por seus pecados específicos, e não somente por rejeitarem a Ele.

Em que sentido Jesus provou a morte por uma pessoa no inferno?

Então, voltamos ao problema: em que sentido Cristo provou a morte pelos pecados deles? Se eles ainda são culpados pelos seus pecados e ainda sofrem punição por causa de seus pecados, o que aconteceu na cruz pelos seus pecados? Talvez alguém use uma analogia. Você poderia dizer que Cristo comprou o ticket deles para o céu e ofereceu isso a eles gratuitamente, mas eles recusaram-se a receber, e por isso estão no inferno. E você estaria parcialmente correto: Cristo realmente oferece o perdão d’Ele livremente a todos, e qualquer que recebê-lo como o tesouro que é, será salvo por Sua morte. Mas o problema com a analogia é que a compra do ticket para o céu é, na verdade, o cancelamento de pecados. Mas o que nós vimos é que aqueles que recusam o ticket são punidos pelos seus pecados, não podem apenas recusar o ticket. Logo, que significado há em se dizer que os pecados deles foram cancelados? Esses pecados trarão destruição a eles e os manterão fora do paraíso; portanto seus pecados não foram realmente cancelados na cruz e, assim, o ticket não foi comprado.

O ticket para o céu que Jesus obteve para mim pelo seu sangue é limpeza de todos os meus pecados, cobrindo-os, suportando-os em seu próprio corpo para que eles nunca me levassem à ruína – nunca poderão ser colocados sobre mim novamente – nunca. Foi isso que aconteceu quando ele morreu por mim. Hebreus 10:14 diz: “Pois com uma só oferta tem aperfeiçoado para sempre os que estão sendo santificados”. Aperfeiçoados perante Deus para sempre, pela oferta da vida dele! É isso que significa que ele morreu por mim. Hebreus 9:28 diz: “Cristo, oferecendo-se uma só vez para levar os pecados de muitos”. Ele suportou meus pecados. Ele realmente os suportou (veja Isaías 53:4-6). Ele realmente sofreu por causa deles. Eles não podem e não recairão sobre minha cabeça no julgamento.

Se você me diz que, na cruz, Cristo apenas cumpriu por mim o que ele cumpriu por aqueles que sofrerão no inferno por causa dos pecados deles, então você esvazia a morte de Jesus em seus efetivos cumprimentos por mim, e me deixa com o quê? – uma aliança que perdeu seu precioso poder de assegurar que meus pecados foram realmente cobertos e que a maldição foi verdadeiramente retirada e a ira de Deus removida. Esse é um alto preço a se pagar por dizer que Cristo morreu por todas as pessoas no mesmo sentido.

Eu não creio que a Bíblia nos mande ou, de fato, nos permita dizer que Cristo morreu por todos da mesma maneira. O contexto de Hebreus 2:9 é um bom lugar para mostrar que a morte de Cristo teve um plano ou objetivo especial para os escolhidos de Deus, diferentemente do que para outros.

O Que “todos” significa?

No final do verso 9, o autor diz: “para que, pela graça de Deus, (Cristo) provasse a morte por todos”. A questão aqui é se “todos” refere-se a todos os seres humanos sem distinção, ou se refere a todos dentro de um certo grupo. Quanto digo “Todos estão presentes?” eu não quero dizer todos os seres humanos do mundo. Eu quero dizer todos do grupo que tenho em mente. Qual é o grupo que o escritor tem em mente: toda a humanidade sem distinção ou algum outro grupo?

Vamos deixá-lo responder, ao averiguar o verso seguinte. O verso 10 é fundamento do 9: Cristo provou a morte por todos “porque convinha que aquele, para quem são todas as coisas, e por meio de quem tudo existe, em trazendo muitos filhos à glória, aperfeiçoasse pelos sofrimentos o autor da salvação deles”. Em outras palavras, imediatamente após dizer que, pela graça de Deus, Cristo provou a morte por todos, o autor explica que o plano de Deus para o sofrimento de Cristo foi “trazer muitos filhos à glória”. Então os versos 9 e 10 se juntam assim: Cristo provou a morte por todos, porque convinha a Deus que o caminho para levar seus filhos à glória fosse através do sofrimento e morte de Cristo.

Isso significa que “todos” do verso 9 provavelmente refere-se a todos os filhos levados à glória no verso 10. Em outros termos, o plano de Deus – o objetivo e propósito de Deus – ao enviar Cristo para morrer foi especialmente para levar seus filhos desde o pecado, morte e inferno, para a glória. Ele tinha um olhar especial aos seus próprios filhos eleitos. É exatamente o que o Evangelho de João diz em 11:52 – que Jesus morreria para “congregar num só corpo os filhos de Deus que estão dispersos”. Esses “filhos de Deus”, por quem Cristo morreu, são os “filhos” que Deus está levando à glória através da morte de Cristo em Hebreus 2:10.

Você pode observar isso nos versos 11 e 12 também:

“Pois tanto o que santifica (Cristo) como os que são santificados (os filhos que ele leva à glória), vêm todos de um só; por esta causa ele não se envergonha de lhes chamar irmãos, dizendo (Salmo 22:22): ANUNCIAREI O TEU NOME A MEUS IRMÃOS, CANTAR-TE-EI LOUVORES NO MEIO DA CONGREGAÇÃO”.

Os filhos que Deus leva à glória pela morte de Cristo são agora chamados de irmãos de Cristo. Foi por todos estes que Cristo provou a morte.

O versículo 13 chama-os agora não somente de irmãos, mas, em outro sentido, de filhos de Cristo:

“E outra vez: POREI NELE A MINHA CONFIANÇA (A própria confissão de fé de Cristo em seu Pai, junto com seus irmãos). E ainda: EIS-ME AQUI, E OS FILHOS QUE DEUS ME DEU”.

Note que os filhos que estão sendo levados à glória pela morte de Cristo agora são chamados de filhos que Deus deu a Cristo. Eles não somente se tornaram filhos por escolherem a Cristo. Deus agiu em favor deles e os trouxe a Cristo – os deu a Cristo. E por todos estes, ele provou a morte e leva-os à glória. Esse é exatamente o modo que Jesus falou sobre seus discípulos na oração de João 17:6: “Manifestei o teu nome aos homens que do mundo me deste. Eram teus, e tumos deste”. O cenário que temos é um povo escolhido que o Pai livremente e graciosamente deu ao Filho como seus filhos.

Agora note como os versos 14 e 15 ligam o objetivo da encarnação e da morte de Cristo com seu grupo escolhido de filhos:

“Portanto, visto como os filhos são participantes comuns de carne e sangue (visto que aqueles que o Pai deu ao Filho têm natureza humana), também ele semelhantemente participou das mesmas coisas (natureza humana), para que pela morte derrotasse aquele que tinha o poder da morte, isto é, o Diabo; e livrasse todos aqueles que, com medo da morte, estavam por toda a vida sujeitos à escravidão (pelo nome, todos os filhos e irmãos que Deus deu ao Filho para levar à glória por sua morte)”.

A razão aqui explicada para a encarnação e morte de Jesus (no verso 14) é que os “filhos” compartilham da carne e do sangue. É por isso que Cristo veio em carne e sangue. E os “filhos”, conforme o verso 13, não são humanos comuns, mas filhos de Deus dados a Jesus. E, assim, todo o plano e objetivo da encarnação e morte de Jesus foi levar os filhos, os irmãos, dados por Deus a Jesus, à glória.

Sua fé foi comprada pela morte de Cristo

Vou parar por aqui no nosso texto, mesmo podendo expor pelo resto do capítulo que o objetivo de Deus em enviar Jesus para morrer foi cumprir algo definitivo pelos seus irmãos, seus filhos, dados por Deus a Ele, retirados do mundo. Mas encerrarei e farei uma aplicação para concluir.

Eu não estou nem um pouco interessado em privar o valor infinito da morte de Jesus de ninguém. Que seja conhecido e ouvido muito claramente: “Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê”, eu digo novamente: “todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna”. Cristo morreu para que todo aquele que (aqui nesta manhã) acredita não pereça, mas viva.

E quando você crê como deve crer, descobrirá que a sua fé, como todas as outras bênçãos espirituais, foi comprada pela morte de Cristo. O seu pecado da descrença foi coberto pelo sangue e, portanto, o poder da misericórdia de Deus foi derramado através da cruz para reprimir sua rebelião e trazê-lo para o Filho. Você não fez a cruz efetiva em sua vida pela fé. A cruz tornou-se eficaz em sua vida ao comprar a sua fé.

Quanta glória há nisso, irmãos! Glória que seus pecados foram realmente cobertos quando Jesus provou a morte por você. Glória que a culpa realmente foi removida quando Jesus provou a morte por você. Glória que a maldição da lei foi realmente retirada e que a ira de Deus foi realmente removida, e que a preciosa fé que une todos vocês a este tesouro, em Cristo, foi um presente comprado pelo sangue de Jesus.

Jesus provou a morte por todo aquele que tem fé. Porque a fé de todo o que crê foi comprada pela morte de Cristo.

Para maiores reflexões veja:

  • 1 Timóteo 4:10
  • Efésios 5:25–27
  • Tito 2:14
  • João 10:15; 11:52; 17:6, 9, 19
  • Atos 20:28
  • Apocalipse 1:5; 3:9; 5:9
  • Romanos 8:28–32
  • 1 João 2:2 (compare João 11:52)
  • 2 Pedro 2:1

John Stephen Piper