Este é um universo sofredor. Sofrer é o fato mais patente em todos os lugares e entre todas as classes. Não há classe isenta de sofrer. O rico sofre tanto quanto o pobre. Os homens sofrem no corpo, na mente e na alma. Se todos os corações sofredores pudessem ser colecionados e mostrados, quem ia querer olhar tal cena? Os santos (salvos, ou crentes) sofrem tanto quanto os pecadores. Todo este sofrimento é o resultado poderoso da devastação que o pecado fez.
“Porque também Cristo padeceu uma vez pelos pecados, o justo pelos injustos, para levar-nos a Deus; mortificado, na verdade, na carne, mas vivificado pelo Espírito” (I Pe 3:18).
Mas nosso texto fala do sofrimento de alguém que foi Justo. E a pergunta diante de nós é: Por que Jesus Cristo sofreu? Por que Cristo morreu?
Negativamente
1. Não por ter sido vencido por seus inimigos. Os homens vencem e matam uns aos outros desde os dias em que Caim matou Abel. E de acordo com as aparências, Cristo foi perseguido até à morte por seus inimigos. Onde quer que fosse ele era criticado e caluniado. Do primeiro ao último sermão, os homens estavam determinados para destruí-lo. Mas Jesus não morreu como uma vítima das circunstâncias criadas por eles. “Respondeu Jesus: Nenhum poder terias contra mim, se de cima não te fosse dado; mas aquele que me entregou a ti maior pecado tem” (Jo 19:11); “Ou pensas tu que eu não poderia agora orar a meu Pai, e que ele não me daria mais de doze legiões de anjos”? (Mt 26:53).
2. Ele não morreu para fazer Deus nos amar. Cristo não comprou o amor de Deus pelos pecadores. Foi o amor que fez Cristo morrer por nós: “Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna” (Jo 3:16). Cristo foi o canal pelo qual o amor de Deus nos alcançou. Sua morte foi a maneira pela qual Deus mostrou seu amor por nós. O amor sempre faz algo para aqueles que são os recipientes deste amor. O amor de Deus entregou Cristo nas mãos da Justiça, com todos os nossos pecados sobre ele, e a Justiça O sentenciou à morte. O amor levou Cristo ao tribunal da Justiça e clamou: “O espada, desperta-te contra o meu pastor, e contra o homem que é o meu companheiro, diz o SENHOR dos Exércitos. Fere ao pastor, e espalhar-se-ão as ovelhas; mas volverei a minha mão sobre os pequenos” (Zc 13:7).
O amor de Deus é soberano; não é um amor baseado num relacionamento; não é um amor por obrigação.
Positivamente
1. A morte de Cristo foi voluntária. Os injustos são os únicos punidos contra a vontade. A Justiça não punirá o inocente contra a vontade dele. A morte de Cristo foi o ato voluntário da vontade de Deus. Sua obediência até a morte não foi uma obediência forçada, mas voluntária e amorosa. Cristo estava feliz por morrer pelos pecadores. Foi amor tanto pelo Pai, quanto por nós que o fez morrer. Falando sobre sua morte, ele disse: “Ninguém ma tira de mim, mas eu de mim mesmo dou; tenho poder para a dar, e poder para tornar a tomá-la. Este mandamento recebi de meu Pai” (Jo 10:18).
2. A morte de Cristo foi expiatória e substituinte. Ele morreu, o justo pelo injusto. Sacrifício é algo feito pelo interesse dos outros. Sacrifício é tirar algo de si para dar aos outros. O sacrifício dói em quem o fez, mas ajuda quem o recebe. A morte fez Jesus clamar: “Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste”? (Mt 27:46).
3. A morte de Cristo teve um propósito. Havia um desígnio em sua morte. Ele não morreu por acaso, isto é, sem qualquer objetivo definido aos resultados. Os homens fazem muitas coisas assim. Mas Jesus Cristo teve um objetivo claro em sua morte e também é capaz de assegurar os resultados. Nosso texto nos dá o propósito pelo qual Cristo morreu: foi para levar-nos a Deus.
Os homens, por natureza estão longe de Deus, Não é uma distância física entre nós e Deus. A distância é moral, é de culpa. A Justiça de Deus nos olha com desagrado, e assim aproximar-nos de Deus é receber o favor de sua Justiça. E não há o que nos possa reconciliar ao favor da Justiça de Deus menos que a morte de Cristo: “Mas agora em Cristo Jesus, vós, que antes estáveis longe, já pelo sangue de Cristo chegastes perto” (Ef 2:13).
4. A morte de Cristo foi poderosa; o maior de todos os milagres.
(1) Poderosa em sua natureza – Não poderia confiar em Cristo se ele fosse uma vítima sem poder para livrar-se a si mesmo em sua morte. Se fosse Cristo somente uma vítima em sua morte, ele nem poderia me ajudar em minha morte. Mas, Cristo Jesus morreu com o propósito de salvar o pecador da morte (Hb 2:14-15).
(2) Poderosa em seus efeitos – O sangue de Cristo não foi derramado em vão. Ele não morreu à toa e por isso não ficará desapontado com os resultados de sua morte. No Calvário, Cristo satisfez a lei da justiça de Deus no lugar do pecador eleito. Ele morreu para levar-nos a Deus e por isso trará muitos filhos à glória. O Príncipe da nossa salvação foi aperfeiçoado através do sofrimento! Não aperfeiçoado no seu caráter essencial, mas sim oficialmente, como Salvador. Jesus Cristo não tinha pecado e era perfeito mesmo, mas não podia ser um Salvador perfeito sem morrer.
“Na verdade, na verdade vos digo que, se o grão de trigo, caindo na terra, não morrer, fica ele só, mas se morrer, dá muito fruto” (Jo 12:24).
Deus disse sobre seu Filho:
“O meu servo, o justo, justificará a muitos; porque as iniquidades deles levará sobre si” (Is 53:11).
Se Cristo no Calvário levou minhas iniquidades, então minha justificação é certa. Ele não levaria os meus pecados e, então, deixaria de justificar-me: “E sabemos que todas as coisas contribuem juntamente para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu propósito. Porque os que dantes conheceu também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos. E aos que predestinou a estes também chamou; e aos que chamou a estes também justificou; e aos que justificou a estes também glorificou” (Rm 8:28-30).
Claude Duvall Cole