Deus é glorificado na obra de redenção por este meio – qual seja, pelos remidos terem tão grande e universal dependência de Deus. O homem tem a maior oportunidade e obrigação de observar e reconhecer a perfeição e autossuficiência de Deus. Quanto maior a dependência da criatura na perfeição de Deus e maior interesse tiver por ela, maior a oportunidade que tem de observá-la.
Quanto maior interesse a pessoa tiver e mais dependente for do poder e graça de Deus, maior será a oportunidade de ela observar esse poder e graça. Quanto maior e mais imediata dependência houver na santidade divina, maior será a oportunidade de observá-la e reconhecê-la. Quanto maior e mais absoluta dependência tivermos da perfeição divina, como qualidade pertencente às pessoas da Trindade, maior será a oportunidade que teremos de observar e possuir a glória divina de cada uma delas.
E claro que aquilo que mais nos interessa recebe a maior parte de nossa observação e atenção. Este tipo de interesse por qualquer coisa, ou seja, pela dependência, tende a ordenar e obrigar a atenção e a observação. As coisas de que não somos muito dependentes são fáceis de serem negligenciadas, mas podemos temer não observar as coisas das quais temos grande dependência. Por causa de nossa tão grande dependência de Deus e de sua perfeição, em tantos aspectos, Ele e sua glória estão mais diretamente colocados em nossa visão em cuja direção voltamos os olhos.
Temos a maior oportunidade de observar a autossuficiência de Deus quando a nossa está toda direcionada a Ele. Temos a maior oportunidade de contemplá-lo como bem infinito e fonte de todo o bem. Tal dependência de Deus demonstra sua autossuficiência. Quanto maior for a dependência da criatura em Deus, maior será a incapacidade da criatura em si mesma. Quanto maior a incapacidade da criatura, tanto maior deverá ser a plenitude do ser que a enche. O fato de termos tudo proveniente de Deus mostra a plenitude do seu poder e graça. O fato de termos tudo através d’Ele mostra a plenitude do seu mérito e valor. O fato de termos tudo n’Ele mostra a plenitude de sua beleza, amor e felicidade. Os redimidos, por causa da grandeza da dependência que têm em Deus, desfrutam não apenas a maior oportunidade, mas a obrigação de contemplar e reconhecer a glória e plenitude de Deus. Quão irracionais e ingratos seríamos se não reconhecêssemos essa suficiência e glória das quais dependemos de forma absoluta, imediata e universal!
Por este meio, demonstra-se quão grande é considerada a glória de Deus em comparação com a criatura. O fato de a criatura ser tão total e universalmente dependente de Deus prova que a criatura não é nada e que Deus é tudo. Por este meio, evidencia-se que Deus está infinitamente acima de nós, que a força, sabedoria e santidade de Deus são infinitamente maiores que as nossas. Contudo, por maior e gloriosa que seja a compreensão que a criatura tenha de Deus, se não for sensata para diferenciar entre Deus e ela, para ver que a glória de Deus é grande em comparação com a própria, certamente ela não estará disposta a dar a Deus a glória devida ao seu nome. Se a criatura em qualquer aspecto se colocar no mesmo nível que Deus, ou se exaltar e competir com Ele, ainda que compreenda que grande honra e profundo respeito pertencem a Deus provenientes daqueles que estão a maior distância, ela não será tão sensível de ser dependente d’Ele.
Quanto mais os homens se exaltam, menos eles estarão dispostos a exaltar Deus. E certamente o que Deus visa na disposição das coisas na redenção (se permitimos que as Escrituras sejam a revelação da mente de Deus), que Deus apareça cheio e o homem vazio em si mesmo, que Deus apareça completamente e de modo algum o homem. E o desígnio declarado de Deus que os outros não se gloriem “perante ele”, o que implica que é sua intenção promover a própria glória comparativa. Quanto mais o homem se gloria “perante Ele”, menos glória é atribuída a Deus.
Por ser desta forma designada, é que a criatura deve ser tão absoluta e universalmente dependente de Deus. A provisão é feita para que Deus tenha toda nossa alma e seja o objeto de nosso respeito indiviso. Se tivéssemos nossa dependência em parte em Deus e em parte em alguma outra coisa, o respeito dos homens seria dividido a essas diferentes coisas das quais eles de pendem. Seria como se dependêssemos somente de Deus para uma parte de nosso bem, e em nós mesmos, ou em outro ser, para a outra parte de nosso bem; ou se tivéssemos nosso benefício somente em Deus e por outro que não fosse Deus, e em alguma outra coisa distinta de ambos, nosso coração estaria dividido entre o bem em si próprio e Ele, de quem e por quem o recebemos.
Mas hoje não há ocasião para isso, sendo Deus não só proveniente de quem, mas também através de quem temos todo o benefício. De forma que o que quer que atraia nosso respeito, a tendência ainda está diretamente orientada a Deus. Tudo se une a Ele como o centro.
Jonathan Edwards