Pessoas Más, Tempos Maus
“Saiba disto: nos últimos dias sobrevirão tempos terríveis. Os homens serão egoístas, avarentos, presunçosos, arrogantes, blasfemos, desobedientes aos pais, ingratos, ímpios, sem amor pela família, irreconciliáveis, caluniadores, sem domínio próprio, cruéis, inimigos do bem, traidores, precipitados, soberbos, mais amantes dos prazeres do que amigos de Deus, tendo aparência de piedade, mas negando o seu poder. Afaste-se desses também”.
“São esses os que se introduzem pelas casas e conquistam mulheres instáveis sobrecarregadas de pecados, as quais se deixam levar por toda espécie de desejos. Elas estão sempre aprendendo, e jamais conseguem chegar ao conhecimento da verdade. Como Janes e Jambres se opuseram a Moisés, esses também resistem à verdade. A mente deles é depravada; são reprovados na fé. Não irão longe, porém; como no caso daqueles, a sua insensatez se tornará evidente a todos” (2 Timóteo 3.1-9)”.
O tipo de pessoas sobre quem Paulo está falando são não cristãos. Ele diz que eles não são amantes de Deus, que se opõem à verdade, e até onde diz respeito a fé cristã, eles são rejeitados. Os vícios que ele lista nos versículos 2-4 são características não cristãs. Desde que comecei a ler a Bíblia quando criança, e muito antes de me deparar com o termo “depravação total”, sempre me foi claro que o Cristianismo descreve os incrédulos nos termos mais depreciativos.
Os não cristãos são pessoas injustas e desonestas, de forma que esperamos que eles protestem sobre a forma como eles são descritos na Escritura. Mas ficamos surpreendidos que aqueles que alegam crer na Bíblia e aqueles que ensinam a doutrina da depravação total sejam os que denunciam e até mesmo perseguem aqueles cristãos que aplicam esses mesmos termos aos não cristãos. As duas coisas são incompatíveis. Ou eles admitem que não creem de fato na Bíblia, que eles reprovam e discordam dos profetas, dos apóstolos e do Senhor Jesus, ou eles devem dar seu total apoio àqueles que falam sobre e aos não cristãos como a Escritura o faz.
O que está em jogo inclui o padrão correto de discurso social, mas muito mais importante do que isso, está a questão se afirmaremos ou negaremos a inspiração da Escritura, a justiça dos profetas, dos apóstolos e do Senhor Jesus, e, portanto, por implicação, a base da nossa salvação. Ao condenar o uso de invectivas bíblicas, esses hipócritas religiosos condenam-se ao exporem o tipo de pessoas que realmente são, e onde reside verdadeiramente sua fidelidade. Eles são muito melhores que os não cristãos e os falsos mestres descritos aqui? Eu aconselho-os a se examinarem, para ver se estão verdadeiramente na fé.Comparado a outras coisas, isso poderia parecer um erro pequeno, mas Jesus diz que se alguém é infiel com mui pouco, será infiel com muito também. Se uma pessoa não deixa a Bíblia lhe ensinar o que é amor e gentileza genuínos, e a forma correta de abordar os incrédulos, mas antes reverencia a filosofia do mundo na forma como ele fala e age perante os não cristãos, como se eles fossem seus mestres, deveríamos ouvir algo mais do que eles têm a dizer? Permitiríamos que ele permanece atrás de um púlpito para nos ensinar sobre verdade e erro, certo e errado? E eu não seria estúpido e insano, se aceitasse as críticas dele?
Paulo está falando sobre pessoas que exibem uma forma de piedade, mas negam o seu poder. O apóstolo provavelmente tinha pessoas ou tipos de pessoas específicas em mente, mas o princípio é universal. É sempre errado ter uma forma de piedade, mas negar o seu poder. Essas pessoas afirmam uma forma de religião, até mesmo a religião cristã, mas negam o poder dela. Elas têm uma forma de piedade, mas ainda são “ingratos, ímpios, sem amor pela família, irreconciliáveis, caluniadores, sem domínio próprio, cruéis”, e assim por diante. E, embora tenham uma forma de piedade, eles “resistem à verdade”. Portanto, neste contexto a negação do “poder” da religião inclui tanto caráter como doutrina.
Muitas pessoas amam suas fórmulas e rituais religiosos, mas não têm nenhum poder para viver uma vida santa. Os sacerdotes católicos romanos podem parecer piedosos num sentido perverso e antibíblico. Pelo menos seus paroquianos, que não entendem nada de cristianismo, consideram-nos homens santos. Mas muitos desses sacerdotes molestam crianças secretamente. Eles têm uma forma de religião, vestem-se como palhaços e murmuram tolices em latim, mas não existe nenhum poder espiritual verdadeiro neles.
Então, muitas pessoas se consideram piedosas, e até mesmo alegam ser cristãs, afirmando uma forma de religião, mas negam seu poder num sentido doutrinário. Alguns a rejeitam a inspiração divina da Escritura. Outras rejeitam a soberania, a onisciência e a onipotência de Deus, de forma que talvez afirmem várias versões de dualismo, teísmo aberto, arminianismo, e assim por diante. Há aqueles que alegam afirmar a autoridade da Escritura, mas rejeitam o nascimento virginal, ou a ressurreição de Cristo, ou os milagres dos apóstolos. Embora confessem a Deus e a Jesus Cristo, visto negarem as doutrinas bíblicas com respeito ao pecado, a confissão deles consiste do mero movimento físico de expressão, emitindo sons no ar com nenhum significado ou importância. Não há nenhuma crença real, nenhum poder real e nenhuma salvação.
Tempos terríveis são feitos por pessoas terríveis. Pessoas terríveis são aquelas que rejeitam a santidade bíblica e o ensino bíblico. Ainda pior são aqueles que dizem ser religiosos, que exibem uma aparência de espiritualidade, mas negam o poder da verdadeira religião no seu caráter e na doutrina. A lista de vícios nos dá a impressão que Paulo refere-se a pessoas especialmente terríveis, mas tais pessoas são inúmeras hoje. Elas estão em toda parte. Sai na sua varanda e atire uma pedra, e provavelmente você acertará uma delas. Como se isso não fosse ruim o suficiente, a pessoa que você acerta provavelmente vai à sua igreja, pois as igrejas estão cheias dessas pessoas terríveis, que têm uma forma de piedade, mas negam o seu poder.
Paulo diz não ter nada a ver com elas. Isso não significa virar para o outro lado e correr delas. Elas já estão entre nós. Mas significa que quando descobrimos essas pessoas em nossas igrejas, devemos julgá-las perante a igreja, e quando forem consideradas culpadas, devemos excomungá-las, e expulsá-las de nossas comunidades e encontros. Significa que devemos evitar a contratação de professores de seminário que tenham uma forma de piedade, mas neguem o seu poder no caráter e doutrina deles. Se já contratamos alguns, devemos rescindir o contrato e removê-los da propriedade do seminário. Significa que nunca devemos apoiar igrejas, conferências e projetos que forneçam uma plataforma para hereges falar.
Algumas vezes as pessoas pensam que mesmo hereges têm algo bom a oferecer, e tudo está bem se apenas não permitir que eles promovam suas heresias quanto estiverem entre nós. Isso é tolo e ingênuo. É também desobediência à instrução bíblica. Paulo escreve que não devemos “participar dos pecados dos outros” (1Tm 5.2). Dar a hereges qualquer sinal de respeito, apoio ou endossamento é compartilhar do pecado deles. É adultério espiritual, um sinal de infidelidade ao Senhor Jesus. É bem melhor seguir o mandamento apostólico: “Afaste-se desses também”. Vincent Cheung – “Reflections on Second Timothy”, pags. 62-64.