A vida eterna não foi revelada até que Cristo veio ao mundo (Jo 10.10). Não dizemos que não existia antes, pois desfrutavam dela desde toda a eternidade o Pai e o Filho. A vida eterna, antes de ter sido manifestada neste mundo pela vinda de Cristo, tinha sua morada com o Pai na eternidade, “Porque a vida foi manifestada e nós a vimos, e testificamos dela, e vos anunciamos a vida eterna, que estava com o Pai e nos foi manifestada” (I Jo 1.2).
A CONVERSÃO NÃO É O MESMO QUE O NOVO NASCIMENTO
Uma pessoa pode nascer de novo uma só vez, porem a Escritura indica que ela pode se converter muitas vezes.
A Escritura usa a palavra “convertido” para descrever um crente que tem se apartado do Senhor em sua alma e tem voltado, assim como a pessoa que pela primeira vez volta a Deus. Por exemplo, o Senhor disse a Pedro, o qual já havia convertido (Jo 1.40; Lc 5.8-11; Jo 6.68), “Simão, Simão, eis que Satanás vos pediu para vos cirandar como trigo; mas eu roguei por ti, para que a tua fé não desfaleça; e tu, quando te converteres, confirma teus irmãos” (Lc 22.31; Tg 5.19-20).
A REGENERAÇÃO NÃO É O MESMO QUE O NOVO NASCIMENTO
A regeneração vai mais além que o nascer de novo. Ela fala da saída da velha ordem de coisas na qual uma vez nós estivemos, para entrar na nova ordem que está sob Cristo (Mt 19.28). Ela implica uma mudança de posição para um novo estado de coisas na nova criação (Tt 3.5-6).
A VIDA ETERNA É MAIS QUE SER NASCIDO DE NOVO
A vida recebida no novo nascimento e a vida eterna é a mesma vida, porem a vida eterna é a vida em abundância (Jo 10.10), vida em plena comunhão com o Pai e com Seu Filho Jesus Cristo (I Jo 1.3).
É possível que uma pessoa nasça de novo, porem não conheça as bênçãos da vida eterna.
A maioria dos cristãos pensa que o novo nascimento e a vida eterna são a mesma coisa; isto, entretanto não é correto. Isto pode trazer confusão porque a ideia de vida eterna na mente da maioria das pessoas é ter não mais que uma vida que dura para sempre.
É absolutamente verdade que quando uma pessoa recebe vida nova, é feita participante da vida do Deus eterno (II Pe 1.4) e que essa vida, é claro, é eterna em sua duração.
Porem isso não é o que a Escritura define como vida eterna.
Quando a Escritura fala de vida eterna, se refere a muito mais que a perduração da vida. Não é somente imortalidade como alguns se referem a ela como se chamasse vida imortal.
Toda vida humana é eterna em certo sentido, pois o espírito e a alma nunca morrem; muitos existirão eternamente no lago de fogo baixo o juízo de Deus, porem a Escritura não fala deles como tendo vida eterna.
A confusão sobre este ponto se encontra em não entender o que vida eterna significa. Não é uma descrição da duração da vida divina, senão uma descrição do caráter da mesma.
O Senhor disse, “E vida eterna é esta: que te conheçam, a ti só, por único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo, a quem enviaste” (Jo 17.3). Isto mostra que vida eterna é algo muito maior que a mera possessão de uma nova vida que não tem fim, maravilhosa como é em si mesma, senão que, também inclui o conhecimento consciente das relações com o Pai e com o Filho.
Ter vida eterna é ter a vida nova no caráter mais elevado; é o mesmo caráter da vida que o Pai e o Filho desfrutaram desde a eternidade. Isto também nos mostra que é algo maior que o ser nascido outra vez.
A vida eterna só tem sido trazida à luz pelo Evangelho da graça. O Filho unigênito, que está no seio do Pai, este o fez conhecer (Jo 1.18). A revelação do Pai e do Filho é a característica principal da vida eterna (Jo 17.3). Já que os santos do Antigo Testamento não conheceram a Deus como seu Pai, eles, portanto, não podiam ter conhecido a vida eterna.
Porem agora que Cristo veio ao mundo e revelou o Pai, nós podemos ter vida em abundância, conhecendo o Pai e o Filho (Jo 10.10). Esta é a vida eterna.
A VIDA ETERNA NO ANTIGO TESTAMENTO E NOS EVANGELHOS SINÓPTICOS
Há somente duas referencias de vida eterna no Antigo Testamento – Salmos 133:3 e Daniel 12:3.
Em ambos lugares referem-se ao futuro reino milenar. Este é o sentido em que a vida eterna é apresentada também nos Evangelhos sinópticos (Mateus, Marcos e Lucas), pois a sustância do ministério terrenal do Senhor era a apresentação do reino a Israel, como havia sido prometido nos profetas do Antigo Testamento.
Porém, isto é algo diferente ao sentido Cristão de vida eterna que temos tratado (como se nos apresenta no Evangelho de João e nas Epístolas).
Os santos do Milênio terrenal irão desfrutar de vida, como vida eterna em relação com as bênçãos do reino (Mt 25:46).
DOIS ASPECTOS DE VIDA ETERNA:
A POSSESSÃO ATUAL E AO FIM DO CAMINHO
Enquanto que João usualmente fala da vida eterna como uma possessão presente no crente (Jo 3:15-16, 36; 5:24; 6:47, 54; 10:10, 28; 1 Jo 5:11-13; etc.) Paulo fala da vida eterna como estando no final do caminho, quando chegarmos ao céu (Rm 2:7; 5:21; 6:22; 3:7; Gl 6:8; I Tm 1:16; etc) (João também ocasionalmente fala dela como estando ao final do caminho – Jo 4:36; 12:24-25).
Um se refere à vida eterna como o princípio de vida pelo qual o crente vive, o outro se refere a uma esfera de vida na qual o crente um dia viverá no estado glorificado.
É verdade que ele pode agora viver no desfrute dessa vida enquanto está, todavia, neste mundo, porém, naquele dia será realizado em plenitude.
Estas duas coisas podem ser vista no exemplo de um mergulhador.
Enquanto ele está trabalhando nas profundezas da água, ele permanece com vida graças a um tubo de ar que lhe traz ar da superfície e faz que ele respire a atmosfera que está acima enquanto ele está em uma esfera contrária a ela.
Assim é ter a vida eterna em nós. É a vida do céu onde Cristo está; porém a temos em nós enquanto caminhamos por este mundo aqui abaixo.
Quando o mergulhador termina seu trabalho, ele sobe e sai da água para a mesma esfera de coisas que é natural a ele. A vida eterna pertence ao céu (Jo 3:12; I Jo 1:2).
O crente deve lançar mão da vida eterna agora, por viver no desfrute prático das coisas celestiais (l Tm 6:12). Esta expressão se põe em contraste na Escritura, com o fútil intento de lançar mão das coisas temporárias desta vida na terra (l Tm 6:7-2).
Quando buscamos as coisas que são de cima, lançamos mão da vida eterna (l Tm 6:19).
Ao falar de que temos vida eterna em nós, não devemos pensar que a possuímos em nós mesmos, como se fosse algo independente de Deus.
Apesar de que a vida eterna está em nós, a Escritura sempre a conecta com o Filho de Deus. Deus nos tem dado vida eterna, e esta vida está em Seu Filho (I Jo 5.11).
Outra ilustração pode ajudar aqui. Uma folha em uma árvore tem nela todos os sinais de vida por sua frescura e verdor. Possui vida, porem não a possui em si mesma, em independência da árvore.
Se fosse assim, poderíamos arrancar a folha da árvore e ela permaneceria fresca e verde como quando estava na árvore. Isto certamente não é assim, porque a folha não tem vida independente.
A árvore, pelo contrário, a tem; e ela nos ilustra como Cristo tem vida em Si mesmo como a Fonte (Jo 1.4; 5.26).
Bruce Anstey – Ecos de Glória – Texto Adaptado por Bill Warr.