Pedras Grandes e Preciosas
“E ordenou cortadores de pedras, para que lavrassem pedras de cantaria, para edificar a casa de Deus” (1 Cr 22:2).
Desnecessário é dizer que a construção do Templo de Salomão é um dos mais interessantes estudos da antiguidade; e quando aquele edifício no Monte Moriá é visto como o tipo do atual edifício celestial de Deus, o assunto torna-se infinitamente mais interessante.
A primeira coisa que nos é apresentada nessa edificação é esta: Davi, o pai, provê de antemão os materiais desse Templo; até mesmo as pedras, o ferro, e o bronze (algumas traduções trazem “cobre”) em abundância, sem peso. Disse Davi: “Eis que na minha opressão preparei para a casa do Senhor cem mil talentos de ouro, e um milhão de talentos de prata” (1 Cr 22:14). [Somente o ouro equivaleria, em valores atuais, a 42 bilhões de dólares!] Era essa a provisão de Davi para esse edifício tão caro, além de uma quantidade incalculável de bronze, ferro, madeira e pedra. Além disso, as riquezas de Salomão, o filho, eram bem semelhantes às de Davi, seu pai. 1 Reis 10 nos dá alguma ideia das riquezas de Salomão.
Mais de 150 mil homens foram empregados para erigir esse espantoso edifício (1 Rs 5:15). “E mandou o rei que trouxessem pedras grandes e pedras preciosas, pedras lavradas, para fundarem a casa” (1 Rs 5:17).
Bem, mas o que significam essas “pedras grandes”? Um construtor em meu país consideraria uma pedra medindo 1 metro de cada lado como uma pedra grande. Mas descobrimos que essas grandes pedras destinadas ao alicerce, serradas e lavradas, eram realmente grandes, eram “pedras de valor, pedras grandes; pedras de dez côvados e pedras de oito côvados” (1 Rs 7:10-11). Um côvado mede, no mínimo, quarenta e quatro centímetros, que era a medida do cotovelo à ponta dos dedos de um homem. Portanto, algumas dessas grandes pedras tinham, no mínimo, quatro metros e quarenta centímetros de lado, e outras, três metros e cinquenta centímetros de lado. Se você tentar calcular o peso delas, descobrirá que pesavam cerca de duzentas e cinquenta toneladas cada uma. Havia uma pedra no Templo, depois de sua restauração, que media nove metros, por quatro metros, por dois metros e vinte centímetros. Há pedras grandes como esta nas ruínas de Balbec, conhecida como Casa da Floresta do Líbano, a qual pode ter sido construída por Salomão. Salomão construiu três casas, o que, sem dúvida, nos fala da tríplice glória de Cristo; e já que pedras do mesmo tamanho formaram o fundamento de cada uma delas (1 Rs 7:1-11), assim também Cristo é a Pedra fundamental, igualmente, da Igreja de Deus nos lugares celestiais, do reino futuro de Israel e da bênção milenar para toda a Terra. Veremos que a cruz é a base de tudo.
Voltemos ao que nos tem ocupado até aqui, ou seja, o Templo. Imensas quantidades de árvores de cedro foram trazidas do Líbano. Mas durante muitos séculos tem havido uma certa dificuldade quanto a onde ou como essas pedras grandes e de valor foram obtidas. Um amigo que mora em Jerusalém contou-me, há alguns anos, que existem imensas cavernas debaixo de Jerusalém. E a quantidade de pedras quebradas, principalmente algumas grandes pedras semi-cortadas, deixa claro que aquelas grandes pedras foram tiradas de poços, usando-se a seguinte técnica: a parte de cima da pedra era aplainada e suas medidas marcadas; então suas laterais, e finalmente sua face inferior, eram serradas. Tente você imaginar quanto trabalho era necessário para levantar essas grandes pedras, tirá-las dos poços, movê-las e assentá-las cada uma em seu lugar. Isaías pode ter feito referência a essas cavernas quando falou do “covil de pedras” (Is 14:19).
O Templo foi construído sobre uma rocha, à beira de um precipício medonho. Dizem os historiadores que em um dos lados, onde ficava o pórtico de Salomão, foi preciso construir um alicerce de 180 metros para alcançar o nível necessário. As pedras da fundação eram encaixadas, ou assentadas, com espantosa precisão, na própria rocha do solo. O encaixe era tão perfeito que era difícil encontrar a junta. Aquelas pedras foram, assim, enraizadas, engastadas e edificadas na própria rocha.
A construção do edifício era feita com pedras preparadas com antecedência; “de maneira que nem martelo, nem machado, nem nenhum outro instrumento de ferro se ouviu na casa quando a edificavam” (1 Rs 6:7). Assim, o silencioso crescimento desse Templo terreno prefigurava o edifício de Deus predestinado a ser celestial. Do mesmo modo como Davi, o pai, deu os materiais a Salomão, o filho, também Jesus diz: “Meu Pai, que mas deu, é maior do que todos; e ninguém pode arrebatá-las da mão de Meu Pai” (Jo 10:29). E também, “Lhe deste poder sobre toda a carne, para que dê a vida eterna a todos quantos Lhe deste” (Jo 17:2). “Tudo o que o Pai Me dá virá a Mim; e o que vem a Mim de maneira nenhuma o lançarei fora”. (Jo 6:37). “E a vontade do Pai que Me enviou é esta: que nenhum de todos aqueles que Me deu se perca, mas que o ressuscite no último dia” (Jo 6:39).
Sim, Salomão teria sido um construtor néscio se começasse a construir sem saber se teria material suficiente para terminar. E é algo bendito recordarmos que Deus, o Grande Construtor, conhecia de antemão cada pedra escolhida e preciosa, que está sendo, e que será, assentada no templo celestial.
Será que não é bem evidente que aquelas grandes pedras, pesando cada uma duzentos e cinquenta toneladas, nunca poderiam ter saído do poço sozinhas, por seus próprios esforços? Como costumamos dizer, elas nunca teriam visto a luz do dia se não tivessem sido tiradas do poço. Colocar lá uma escada com dez degraus, e dizer àquelas pedras para que subissem e saíssem das trevas, seria o mesmo que colocar os dez mandamentos diante de um pecador morto e dizer a ele para tentar subir e sair do poço do pecado. Jesus disse àqueles que há muito tempo tentavam esta técnica: “Ninguém pode vir a Mim, se o Pai que Me enviou o não trouxer; e Eu o ressuscitarei no último dia” (Jo 6:44).
No modo de ver de um construtor, não haveria como tirar aquelas grandes pedras do poço, a não ser que se entrasse no poço e as cortasse, içando-as depois para fora. E todas as que eram içadas para fora, ficavam do lado de fora; as outras não. Bem, acaso a cruz de nosso Senhor Jesus não revela o modo como Deus viu as coisas em relação aos pecadores? Se Davi pensou no custo daquele Templo terreno, em termos de ouro e prata, Deus também pensou no custo. O preço foi o sangue do Cordeiro. “Sabendo que não foi com coisas corruptíveis, como prata ou ouro… mas com o precioso sangue de Cristo, como de um cordeiro imaculado e incontaminado” (1 Pe 1:18-19).
Se aquelas eram pedras grandes e preciosas, certamente os crentes são pedras grandes e preciosas. Deus não poupou Seu Filho Unigênito, mas O entregou por todos nós. Não entendo muito de pedras, mas eu diria que um cubo de pedra medindo quatro metros e meio de lado não iria custar pouco. Portanto, querido crente, querida pedra no templo vivo, pense no quanto você custou.
Assim Deus não viu outra maneira de tirar pecadores da morte senão enviando Seu Filho para morrer por eles. “Se Um morreu por todos, logo todos morreram” (2 Cor 5-14). E tendo morrido por nossos pecados, conforme as Escrituras, Ele foi contado com os mortos. Foi esse o fim de todo o juízo que era devido aos nossos pecados. O preço total do resgate foi pago. É verdade que Ele foi desprezado pelos homens; sim, nunca houve uma pedra tão rejeitada pelos construtores, como foi essa Pedra rejeitada pelos edificadores de Judá. Mas, oh! quais eram os pensamentos que Deus tinha acerca de Seu Filho bendito, enquanto Este estava ali na sepultura? Deus viu n’Ele a Pedra de esquina. Como nosso Substituto, todos os nossos pecados foram colocados sobre Ele. Assim Cristo levou os pecados de muitos. E agora, tendo sido feita a infinita expiação pelo Seu precioso sangue, essa Pedra, rejeitada pelo homem, foi levantada de entre os mortos por Deus. Portanto “Ele é a Pedra que foi rejeitada por vós, os edificadores, a qual foi posta por cabeça de esquina. E em nenhum outro há salvação, porque também debaixo do céu nenhum outro nome há, dado entre os homens pelo qual devamos ser salvos” (At 4:11-12). Palavras não podem expressar “qual a sobreexcelente grandeza do Seu poder sobre nós, os que cremos, segundo a operação da força do Seu poder, que manifestou em Cristo, ressuscitando-O dos mortos” (Ef 1:19,-20). Levantar aquelas grandes pedras era, com certeza, uma grande figura disto, mas imagine o poder que seria necessário se cada pedra do Templo tivesse sido levantada juntamente com a primeira pedra de esquina do alicerce!
O templo celestial, abençoado com todas as bênçãos espirituais nos lugares celestiais, foi escolhido em Cristo antes da fundação do mundo. No entanto cada pedra, neste templo vivo, um dia esteve morta em delitos e pecados – ah! morta como uma pedra qualquer. “Mas Deus, que é riquíssimo em misericórdia, pelo Seu muito amor com que nos amou, estando nós ainda mortos em nossas ofensas, nos vivificou juntamente com Cristo (pela graça sois salvos), e nos ressuscitou juntamente com Ele e nos fez assentar nos lugares celestiais, em Cristo Jesus” (Ef 2:4-6). Agora, quer pensemos no que éramos como pecadores perdidos, mortos e sepultados, ou no que foi a tremenda tarefa para Alguém Se fazer nosso Substituto, e suportar a pura e completa ira de Deus devida aos nossos pecados – ou no que seremos para sempre como pedras vivas no templo celestial – com toda a certeza o fato de Cristo, a Pedra principal do fundamento, ter sido levantado – ressuscitado de entre os mortos – e n’Ele a Igreja redimida, com seu destino eterno – com o destino de cada pecador salvo por todas as eras da eternidade dependendo d’Ele, eu diria que, com toda certeza, a ressurreição de Cristo, a Pedra fundamental, foi o maior evento, a maior obra, que Deus já efetuou. Oh, quão infinitamente estranho é isto: que em nossos dias seja dada tão pouca importância ao maior feito de Deus!
O Templo foi construído sobre a rocha de Moriá – o lugar onde o juízo divino foi mantido pelo altar das ofertas queimadas e das ofertas pacíficas; pois foi ali que o Senhor respondeu com fogo sobre o altar da oferta queimada (1 Cr 21:26). De igual modo, a oferta voluntária de Jesus, e o derramamento de Seu precioso sangue, é o fundamento de cada pecador salvo, por graça, da merecida ira de Deus. Uma coisa é certa: onde a pedra fundamental foi assentada, aí o Templo foi construído. Sobre aquela íngreme rocha de Moriá, “a casa que se há de edificar para o Senhor se há de fazer magnífica em excelência, para nome e glória em todas as terras” (1 Cr 22:5). Quando Deus ressuscitou Jesus – a Pedra fundamental – de entre os mortos, onde foi que O colocou?. “Acima de todo o principado, e poder, e potestade, e domínio, e de todo nome”… (Ef 1:21). “E Ele é a Cabeça do corpo da Igreja: o princípio e o Primogênito dentre os mortos, para que em tudo tenha a preeminência” (Cl 1:18). Deus não O ressuscitou de entre os mortos para aperfeiçoar a velha criação, mas para ser Ele o princípio da nova criação. Não para edificar uma casa terrena, ou uma sociedade terrena, mas um templo celestial. “Bendito o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, o qual nos abençoou com todas as bênçãos espirituais nos lugares celestiais em Cristo… e nos ressuscitou juntamente com Ele e nos fez assentar nos lugares celestiais, em Cristo Jesus” (Ef 1:3; 2:6).
Esta palavra, em Cristo, é muito preciosa. É precioso vermos isto no tipo que temos diante de nós: todas aquelas grandes pedras foram cobertas com madeira de cedro. “E o cedro da casa por dentro era lavrado de botões e flores abertas: tudo era cedro, pedra nenhuma se via” (1 Rs 6:18). Assim é também o edifício celestial: nenhum pecador é visto. Cada salvo, ainda que tenha sido antes um grande pecador, encontra-se agora revestido de Cristo – escondido em Cristo. E a pedra não só era coberta com madeira de cedro, mas a madeira era revestida de puro ouro. “E cobriu Salomão a casa por dentro de ouro puro… Assim toda a casa cobriu de ouro, até acabar toda a casa” (1 Rs 6:19-20). Amado crente, está escrito que “estais perfeitos n’Ele, que é a Cabeça de todo o principado e potestade” (Cl 2:10). Não eram as pedras que eram vistas, mas o ouro que as cobria: assim, não somos nós, mas Cristo sobre nós. Sim, a glória de Deus brilha na face de Jesus Cristo, em Quem estamos perfeitos. E tudo no interior da casa, quão perfeito era! Lindos entalhes de botões e flores abertas; tudo coberto com puro ouro.
Observe que tudo isso foi feito às pedras. Elas, de si só, não fizeram um só átomo disso. Elas foram cortadas, foram içadas do poço, foram assentadas na edificação do Templo, foram cobertas com cedro. E o ouro puro foi colocado sobre elas. O mesmo sucede com o pobre pecador. A salvação, do princípio ao fim, é toda de Deus. Olhe para o pobre filho pródigo. Nem um átomo de mérito cabia a ele. O pai o encontrou assim como ele estava, o abraçou e o beijou. Ele não precisou comprar uma nova veste. Não, o vestido estava pronto, as sandálias estavam prontas, o anel estava pronto. Assim como o ouro que cobria as pedras, o mesmo sucedeu com aquele excelente vestido novo: ele nem teve que vesti-lo por si mesmo. Não; o pai ordenou: “Vesti-lho” (Lc 15:22). O mesmo com Josué, quando os vestidos sujos lhe foram tirados. Deus disse: “Eis que tenho feito com que passe de ti a tua iniquidade, e te vestirei de vestidos novos… E puseram uma mitra limpa sobre sua cabeça” (Zc 3:4-5). Sim, a obra da nova criação é toda de Deus. “Assim que, se alguém está em Cristo, nova criatura é: as coisas velhas já passaram; eis que tudo se fez novo. E tudo isto provém de Deus” (2 Cor 5:17-18).
O que acontece é que tudo isso parece bom demais para ser verdade, e o pobre coração é lerdo para crer em Deus. No entanto, esta é a verdade, e se o Templo era para nome e glória em todas as terras, agora o edifício celestial de Deus é para a glória de Deus por todas as eras, predestinado “para louvor e glória da Sua graça, pela qual nos fez agradáveis a Si no Amado” (Ef 1:6). “Para mostrar nos séculos vindouros as abundantes riquezas da Sua graça, pela Sua benignidade para conosco em Cristo Jesus” (Ef 2:7). Sim, “para que agora, pela Igreja, a multiforme sabedoria de Deus seja conhecida dos principados e potestades nos céus” (Ef 3:10).
Se a mudança foi grande, tendo cada pedra sido extraída do fosso de trevas e assentada naquele Templo de deslumbrante luz e esplendor, que mudança se dá quando um pecador é tirado da masmorra de trevas, e edificado “sobre o fundamento dos apóstolos e dos profetas, de que Jesus Cristo é a principal Pedra da esquina; no qual todo o edifício, bem ajustado, cresce para templo santo no Senhor” (Ef 2:20-21). Oh, quantos milhares de pobres pecadores têm sido edificados neste templo celestial ultimamente! Ágil e silenciosamente Deus está extraindo as pedras designadas.
Contemple este imenso edifício
Veja como sobe sem parar;
Quão grande e complexo é esse ofício!
Quão perfeito foi seu planejar!
Oh, que empreitada colossal!
Oh, tremendo poder sem par!
Que tira pedras de um poço tal,
Para sobre a Pedra Viva as edificar!
Deus não diz a cada crente, “Sereis edificados”, mas “Sois edificados”. Oh, que cada leitor crente possa entrar no pleno gozo de estar perfeito em Cristo! Pois foi Deus quem deu esse bendito acabamento, tanto dentro como fora.
Alguém poderia perguntar: Se a salvação é tão completamente de Deus, o que precisa fazer a pessoa que é salva assim? Bem, certamente ela não pode fazer mais por sua salvação do que as pedras grandes e preciosas poderiam fazer para serem cortadas e tiradas do fosso. Mas vamos abrir em uma passagem em 1 Pedro 2:4-10: “E chegando-vos para Ele – Pedra viva, reprovada, na verdade, pelos homens, mas para com Deus eleita e preciosa. Vós também, como pedras vivas, sois edificados casa espiritual e sacerdócio santo, para oferecer sacrifícios espirituais agradáveis a Deus por Jesus Cristo”. Foi Deus Quem assentou esta Pedra de esquina, eleita e preciosa, “e quem nela crer não será confundido”.
Oh, o certo é que quanto mais eu entender o que Deus fez Cristo ser para mim, mais precioso Ele será; como está escrito: “E assim para vós, os que credes, é preciosa, mas, para os rebeldes, a Pedra que os edificadores reprovaram essa foi a principal da esquina”. Sim, aqui está o grande teste para cada coração: O que Cristo significa para você? Será que você pode dizer: Ele é tudo para mim; antes d’Ele eu não tinha nada, e depois d’Ele nada posso de mim mesmo? Não estou perguntando que religião você professa. Todo edificador religioso que, de um modo ou de outro, está tentando melhorar a humanidade, tem pouca consideração por Cristo. Todo este mundo é um imenso poço de escuridão, pecado e morte. Deus não tem, no Evangelho, nenhuma intenção de melhorar este poço escuro, assim como Salomão não tinha intenção de melhorar a caverna de perpétua escuridão, quando tirou as grandes pedras da lá. Ele tirou as pedras. Deus está agora tirando do mundo pecadores para Si. Mas o homem não dá valor a isto; ele não vê a necessidade de uma nova criação. O homem diz: Por que não edificar e melhorar a velha criação? E assim o templo da nova criação, edificado sobre o Cristo ressurreto de entre os mortos é quase esquecido entre os edificadores; e em lugar de aguardarem pela vinda do Senhor, e pela manifestação dessa edificação celestial, os homens estão sonhando, em vão, que a cristandade irá aperfeiçoar esta escura caverna de pecado. Os pedreiros de Salomão não teriam cometido um engano maior se, ao invés de cortarem as pedras e as tirarem para fora, tivessem começado a construir dentro da caverna escura.
Ah! meu caro crente; peço que olhe mais adiante, para o Cristo ressuscitado de entre os mortos. Veja ali a Pedra de esquina escolhida por Deus. Será que Ele é precioso para você? Será que você está edificado n’Ele? A fé que descansa n’Ele nunca será confundida. O Espírito de Deus diz a você: “Vós sois a geração eleita, o sacerdócio real, a nação santa, o povo adquirido, para que anuncieis as virtudes d’Aquele que vos chamou das trevas para a Sua maravilhosa luz” (1 Pe 2:9). É isso o que o pecador salvo deveria fazer.
Não há nada mais agradável a Deus do que mostrar uma adoração assim a Ele, que nos tirou das trevas, como pedras do fosso. E à medida que elas receberam sobre si as brilhantes lâminas de ouro que refletiam e mostravam as riquezas e a magnificência de seu grande construtor, assim também Cristo possa ser visto em cada um de nós, refletindo e revelando as extremas riquezas de divina graça. Oh, e que graça foi a que brilhou em todos os caminhos de Jesus! Mesmo quando crucificado no madeiro maldito a graça ainda brilhou: “Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem” (Lc 23:34). E, quando Estêvão foi apedrejado até à morte, houve um brilhante reflexo de Cristo. Era como se Estêvão dissesse: “Não ligue para isso; não coloque este pecado na conta deles”. Oh, quão bom seria se tivéssemos mais desse radiante brilho de Cristo em todos os nossos caminhos e em todas as nossas maneiras! Deus nos faria entrar no pleno gozo de podermos dar graças a Ele, “que nos fez idôneos para participar da herança dos santos na luz; O qual nos tirou da potestade das trevas, e nos transportou para o reino do Filho do Seu amor; em Quem temos a redenção pelo Seu sangue, a saber, a remissão dos pecados” (Cl 1:12-14).
Será este o gozo do leitor? Pode você dar assim toda a glória a Deus? Onde é que você está: no fosso ou no templo? Coberto com pecado ou coberto com Cristo? Ah, de nada adiantaria haver cortado, serrado e lavrado um ou todos os lados da pedra se ela fosse deixada no fosso; se não tivesse um lugar no Templo; se não tivesse lâminas de ouro ou entalhes de botões e flores abertas. As pedras semi-cortadas nas cavernas de Jerusalém são um solene aviso para nós. Pode ser que você tenha sentido a talhadeira e a serra da convicção, mas, pergunto: Você já está fora da cova? Este deve ser um trabalho de Deus. Paulo plantou e Apolo regou, mas foi Deus Quem deu o crescimento. “Pelo que, nem o que planta é alguma coisa, nem o que rega, mas Deus, que dá o crescimento” (1 Cor 3:6). Deus é o Construtor. “Porque ninguém pode pôr outro fundamento, além do que já está posto, o qual é Jesus Cristo” (1 Cor 3:11). “Não sabeis vós que sois o templo de Deus, e que o Espírito de Deus habita em vós?” (1 Cor 3:16).
Hoje o modo como Deus consegue pedras é este: o Espírito de Deus usa o machado da convicção e dá um talho profundo; a Palavra de Deus é o poder para salvação de todo aquele que crê. Outro dia encontrei um pobre e idoso pecador que pensava não existir nenhuma pobre pedra que tivesse sido mais lavrada do que ele no fosso do pecado. O Espírito de Deus deu-me condições de apresentar a ele a morte e ressurreição de Cristo e, enquanto eu repetia estes versículos, ele saiu do fosso, liberto pelo poder de Deus. “Seja-vos pois notório… que por Este se vos anuncia a remissão dos pecados, e de tudo o que, pela lei de Moisés, não pudestes ser justificados por Ele é justificado todo aquele que crê” (At 13:38-39). Oh, como gosto de ver grandes pedras içadas para fora do fosso! Aquele idoso senhor disse: “Quão bendito será voltar para casa sabendo que estou salvo!” Sim, e disse a ele que prestasse atenção a estas palavras de Jesus: “Na verdade, na verdade vos digo que quem ouve a Minha palavra, e crê n’Aquele que Me enviou, tem a vida eterna, e não entrará em condenação, mas passou da morte para a vida” (Jo 5:24). Sim, do mesmo modo como Lázaro ouviu a palavra de Jesus quando ainda no sepulcro da morte, assim também aconteceu com aquele ancião “de novo gerado… pela Palavra de Deus, viva, e que permanece para sempre” (1 Pe 1:23). Vem a hora quando “os mortos ouvirão a voz do Filho de Deus, e os que a ouvirem viverão” (Jo 5:25). Se o leitor nunca escutou essa voz, possa ser esta a sua oportunidade. Deus garante que a partir deste momento você pode se entregar a Ele, como uma pedra nas mãos do construtor, e como barro nas mãos do oleiro.
Não devemos, no entanto, levar a figura muito longe; pois enquanto um pecador é, no que diz respeito ao que é bom, uma pedra morta, ainda assim, para o que é mau, ele está terrivelmente vivo. Sim; vivo e rebelde contra Deus – um obstinado e voluntarioso rejeitador de Cristo, a única Pedra de esquina. “Nunca lestes nas Escrituras: A Pedra, que os edificadores rejeitaram, essa foi posta por cabeça do ângulo; pelo Senhor foi feito isto, e é maravilhoso aos nossos olhos?… E quem cair sobre esta Pedra despedaçar-se-á; e aquele sobre quem ela cair ficará reduzido a pó” (Mt 21:42-44).
No dia do juízo você não será condenado por ter estado no fosso de trevas, mas porque recusou ser tirado de lá. “E a condenação é esta: Que a luz veio ao mundo (o fosso escuro), e os homens amaram mais as trevas do que a luz, porque as suas obra eram más” (Jo 3:19). A recordação do amor de Deus enviando Seu Filho a este fosso escuro de pecado será como o bicho que nunca morre. Oh, que indizível remorso!
Porventura não foi por amor aos Israelitas mordidos pelas serpentes que Deus mandou Moisés levantar a serpente no deserto? Do mesmo modo foi levantado o Filho do Homem. Foi por pecadores que Jesus morreu – ímpios e perdidos pecadores. Sim; foi pessoas assim que Deus amou tanto. Se Deus tão somente tivesse ordenado a você que saísse do poço sozinho, você poderia dizer: Como é que eu posso fazê-lo, já que sou uma pedra incapaz? Mas Ele enviou Seu Filho, e você O rejeitou: você recusou-se a ser salvo. Oh, quão bendito teria sido se você tivesse o seu coração quebrantado ao sentir o Seu amor! Mas se não for assim, seu coração será esmagado diante d’Ele por ocasião do juízo, e sentirá a Sua eterna ira. Só mais um pouco e o fim desta cena chegará. A Pedra que foi cortada da montanha esmigalhará as nações, e elas se tornarão “como a pragana das eiras no estio” (Dn 2:34-45). Esse dia terrível termina com estas solenes palavras: “E irão estes para o tormento eterno, mas os justos para a vida eterna” (Mt 25:32-46).
Há, no entanto, um ponto de contraste que devemos notar, entre o Templo terrenal e o edifício celestial. Quem viu aqueles enormes blocos de pedra sendo edificados sobre a rocha pode ter pensado que eles permaneceriam ali para sempre. Mas chegou o tempo quando os caldeus os venceram. E, outra vez, após restaurado em épocas posteriores, conforme nosso bendito Senhor havia predito, os romanos demoliram o Templo até que não foi deixado pedra sobre pedra. Onde estarão aquelas colunas – Jaquim, que significa “Ele estabelece”, e Boaz, “na Sua força” – pilares de bronze quais nunca haviam sido forjados outros antes? Eles tinham pelo menos 8 metros de altura por 1 metro e oitenta centímetros de diâmetro; todavia foram removidos e não existe sequer um traço dessas fabulosas colunas. Mas Jesus, falando de Si próprio, o único fundamento, diz: “Sobre esta Pedra edificarei a Minha Igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela” (Mt 16:18).
Jesus não disse a Pedro: Tu és esta Rocha; mas, Tu é uma pedra. Sim; Pedro, uma pedra, precisava ser edificado sobre a Rocha tanto quanto qualquer outro homem. Ele descobriu essa necessidade tanto no pátio do sumo sacerdote, como em meio às ondas bravias. Cristo é a Rocha do alicerce; e esta Rocha não está em Roma, mas no céu. E onde está o alicerce, aí também deve ficar o edifício. Pergunte a qualquer construtor se não é assim. Sim; Deus não está construindo Sua Igreja em Roma, mas nos lugares celestiais em Cristo. Contra a Igreja, tão elevada, tão abençoada, tão segura, as portas do inferno não hão de prevalecer. E como poderiam? Eva não foi formada ou construída da carne de Adão; mas edificada de seu próprio osso, e daquele osso tão próximo do seu coração. E a Igreja, a imaculada noiva de Cristo, toda gloriosa por dentro e por fora, é também construída em Cristo, de modo que “somos membros do Seu corpo, de Sua carne, e de Seus ossos” (Ef 5:30 – Almeida Versão da Sociedade Trinitariana).
Há alguns que falam de Cristo deixar o santo escorregar por entre os Seus dedos. Não, o diabo teria que arrancar os dedos de Cristo antes que um de Seus pequeninos pudesse perecer. Não, quando não existir mais o tempo, este santo edifício de Deus será visto descendo do céu com “a glória de Deus; e a sua luz era semelhante a uma pedra preciosíssima, como a pedra de jaspe, como o cristal resplandecente” (Ap 21:11). Ah, então não será mais como ter lâminas de ouro cobrindo as pedras. Estaremos transformados. Seremos como Ele é, à semelhança do Seu corpo glorioso, como uma pedra das mais preciosas – nenhuma nódoa de pecado, nenhuma feia sombra de dor, nenhuma nuvem de tristeza – seremos como o cristal resplandecente.
É esta, querida pedra companheira, a nossa eternidade. Os mais elevados arcanjos ficarão maravilhados. “A praça (rua) da cidade de ouro puro, como vidro transparente” (Ap 21:21). Nossos pés, que agora trilham as sujas ruas desta Terra desfigurada pelo pecado, logo estarão pisando a rua de ouro da cidade de Deus. Quem poderá imaginar o que será estar lá? Lá não haverá templo para limitar e esconder a glória. Não; Deus e o Cordeiro estão ali. Eles são o seu templo. “A glória de Deus a tem alumiado, e o Cordeiro é a sua lâmpada” (Ap 21:23). E de todos vocês também, queridos irmãos. Sim, ainda que seja luz demais para olhos mortais. Mas espere só mais um pouco. Só mais algumas lutas, só mais algumas vitórias sobre a vontade-própria, sobre o pecado e Satanás, por meio de Cristo que fortifica. Sim, embora Jaquim e Boaz tenham sido removidas e se perderam, “a quem vencer, Eu o farei coluna no templo do Meu Deus, e dele nunca sairá; e escreverei sobre ele o nome do Meu Deus, e o nome da cidade do Meu Deus, a nova Jerusalém, que desce do céu, do meu Deus, e também o Meu novo nome” (Ap 3:12). Assim diz Jesus, a testemunha fiel e verdadeira, o princípio da criação de Deus. Escuta! Ele dirige-Se também a Deus: “Pai, aqueles que Me deste quero que, onde Eu estiver, também eles estejam Comigo, para que vejam a Minha glória que Me deste” (Jo 17:24). Bendito Jesus, Tua vontade será feita: logo estaremos Contigo. Nada mais pedimos. Não há nada mais que Tu poderias ter pedido do que nos ter junto Contigo.
Apenas mais um ponto, e terminarei. “E Davi deu ordem a todos os príncipes de Israel que ajudassem a Salomão, seu filho, dizendo: Porventura não está convosco o Senhor vosso Deus, e não vos deu repouso em roda?… Disponde pois agora o vosso coração e a vossa alma para buscardes ao Senhor vosso Deus; e levantai-vos, e edificai o santuário do Senhor Deus, para que a arca do concerto do Senhor, e os vasos sagrados de Deus se tragam a esta casa, que se há de edificar ao nome do Senhor” (1 Cr 22:17-19). Se Davi ordenou assim aos príncipes de Israel para que ajudassem Salomão, dizendo, “porventura não está convosco o Senhor vosso Deus, e não vos deu repouso em roda?”, quanto mais nós, a quem Deus deu repouso e perfeita paz por meio do sangue do Cordeiro. E agora Deus diz: “Ide por todo o mundo, pregai o Evangelho a toda a criatura” (Mc 16:15). “E eis que Eu estou convosco todos os dias, até à consumação dos séculos” (Mt 28:20). Se o leitor ainda não tem este “repouso em roda”, então não pense que vai consegui-lo pregando ou fazendo qualquer coisa; deixe-me mostrar-lhe Quem dá o repouso, deixe-me mostrar-lhe Jesus. Mas se você já tem paz com Deus, então “disponde pois agora o vosso coração e a vossa alma para buscardes ao Senhor vosso Deus; e levantai-vos, e edificai” (1 Cr 22:19).
Há trabalho para cada construtor, e para cada homem que encontrou descanso para a sua própria alma. Alguns podem estar derrubando os altivos cedros, outros brandindo a picareta da convicção nas profundezas da mina, outros arrastando pedras com as poderosas cordas do amor divino, e outros preparando juntos a construção. Não diga: Não há nada para eu fazer. “Porventura não está convosco o Senhor vosso Deus?… levantai-vos, e edificai” (1 Cr 22:18-19). Que Deus nos dê mais disposição de coração, mais singeleza de olhos, mais simplicidade de fé; e à medida que o edifício cresce em silencioso poder, sim, quando a derradeira pedra destinada ao seu topo for colocada com um brado, a Ele seja dado todo o louvor!
Charles Stanley – “Great Stones and Costly”