“Entre vós haverá falsos mestres, os quais introduzirão encobertamente heresias destruidoras… por causa deles será blasfemado o caminho da verdade; também, movidos pela ganância, e com palavras fingidas, eles farão de vós negócio” (2 Pedro 2:1 a 3a).
O apóstolo Pedro começou a sua segunda epístola assim: “Simão Pedro, servo e apóstolo de Jesus Cristo, aos que conosco alcançaram fé igualmente preciosa na justiça do nosso Deus e Salvador Jesus Cristo“. É, portanto, a estes que ele dirige a advertência citada acima.
A palavra “crente” tem hoje um sentido pejorativo devido à sua derivação para abranger quem é crédulo e ingênuo. Os que alcançaram a fé preciosa de que fala Pedro, “crentes” no sentido bíblico da palavra (Atos 5:14, 10:45, Romanos 13:11, etc.), são admoestados a não irem na conversa dos falsos mestres que, movidos por ganância, farão negócio deles: isso é credulidade e ingenuidade.
Tendo terminado o primeiro capítulo declarando que “a profecia nunca foi produzida por vontade dos homens, mas os homens da parte de Deus falaram movidos pelo Espírito Santo”, Pedro agora informa que “houve também entre o povo falsos profetas, como entre vós haverá falsos mestres…”. Na medida em que Deus nos entregava a Sua Palavra, mediante os Seus profetas e o Seu Filho através dos Seus apóstolos, o diabo tem enviado de sua parte seus próprios mensageiros para seduzir e para enganar, sejam eles falsos profetas, falsos cristos, falsos apóstolos ou falsos mestres.
Pedro nos diz o seguinte a respeito dos falsos mestres:
Os falsos mestres ensinam erros destrutivos, mesmo heresias destruidoras, que levam à perdição eterna. Encontramos uma multiplicidade delas nas várias seitas que dividem o cristianismo.
Essas heresias são introduzidas encobertamente, sob uma capa de verdade. Hoje dizem que é “Evangelho”, e os falsos mestres estão dentro de instituições e grupos que tomam o nome de “igreja” e desavergonhadamente se dizem “cristãos”, e mesmo “evangélicos”, para encobrirem suas heresias escondidas à primeira vista.
Os falsos mestres na realidade rejeitam e recusam ouvir o grande Mestre enviado por Deus, sendo Ele o caminho da Verdade, o único Salvador e Redentor dos homens, pois pagou o preço da redenção de todo aquele que crê.
Tendo introduzido heresias destruidoras, eles trazem sobre si mesmos repentina destruição.
Em sua segunda carta a Timóteo, o apóstolo Paulo descreve muitas das características e artimanhas dos falsos mestres, e encontramos em seu terceiro capítulo, versículos 1 a 5, algumas facetas do seu caráter:Amantes de si mesmos: Narcisistas, egoístas, a paixão por si próprios abafa o amor a Deus e ao seu irmão. Querem ser elogiados, por isso falam o que o povo gosta de ouvir, usando palavras lisonjeiras. Em nossos dias evitam pregar sobre pecado, condenação e arrependimento, mas exaltam as suas audiências, destacando o amor de Deus por todos.
Gananciosos: Têm em vista exclusivamente o lucro, mesmo à custa da honestidade, lealdade e ética cristã. Exploram a ganância do povo, dizendo, sem qualquer base no ensino apostólico, que Deus tem recompensas terrenas para dar, como saúde e prosperidade para os que aceitam as suas doutrinas e contribuem financeiramente para o seu ministério (2 Timóteo 4:3). Paulo, ao contrário, exclama: “O amor ao dinheiro é raiz de todos os males; e nessa cobiça alguns se desviaram da fé, e se traspassaram a si mesmos com muitas dores” (1 Timóteo 6:10).
Presunçosos: Ostentam-se como se fossem superiores, mais inteligentes, mais capazes, mais santos, etc., do que os demais. Eles se gabam de feitos ou experiências notáveis, mesmo sensacionais e sobrenaturais, para neles construir a sua fama, angariando com isso o respeito e a credibilidade dos ingênuos e incautos.
Paulo continua fazendo uma longa lista das profundezas em que o mundo terá caído depois de ouvir (e recusar) a mensagem do Evangelho, embora mantendo “uma forma de piedade” (5), o que se percebe nas várias seitas do “cristianismo” e de outras religiões. Todas as características dadas neste trecho são comuns hoje em dia; o crente fiel tem que “fugir” de tais pessoas e não tê-las como companheiros e amigos (5), muito menos como mestres das doutrinas do Evangelho.
Em contraste com os falsos mestres, Paulo declara: “nunca usamos de palavras lisonjeiras, como sabeis, nem agimos com intuitos gananciosos. Deus é testemunha, nem buscamos glória de homens, quer de vós, quer de outros, embora pudéssemos, como apóstolos de Cristo, ser-vos pesados; antes nos apresentamos brandos entre vós, qual ama que acaricia seus próprios filhos” (1 Tessalonicenses 2:5-7).Quando Paulo escrevia, havia os que ensinavam sutilmente, penetrando nas casas para enganar “mulheres néscias sobrecarregadas de pecados. Elas estão sempre aprendendo, e jamais conseguem chegar ao conhecimento da verdade” (2 Timóteo 3:6-7 – NVI). Isto é dado como exemplo, e que maneira mais sutil pode haver do que o rádio, a televisão e a internet de que dispomos hoje? Como aquelas mulherzinhas, quantos homens e mulheres mal informados e crentes descuidados se deixam enganar por programas que se dizem “cristãos”, mesmo “evangélicos”, e se deixam enlevar por discursos veementes e música ruidosa destinados a conquistá-los para algum movimento ou seita, porém nunca ao conhecimento da verdade! São vítimas dos “mercadores de crentes”, ávidos pela contribuição financeira.Paulo nos dá outro exemplo ainda mais sinistro: indo libertar o povo de Israel do cativeiro de Faraó, Moisés fazia sinais pelo poder de Deus diante de Faraó. Mas dois magos espíritas, Janes e Jambres, o resistiram, imitando enganosamente o que fazia (Êxodo 7:22). Os enganadores feiticeiros do tempo de Paulo eram do mesmo tipo: Simão Mago, Elimas e os filhos de Ceva (Atos 8:9-20; 13:6-11; 19:13-16).Já em nossos dias, multidões são atraídas por milagreiros: sejam eles os “santos” e suas estátuas de madeira, alvenaria ou metal, ou homens que se dizem dotados de poderes milagrosos, procurando arremedar os sinais apostólicos e com isto explorar os “crentes”. Apaixonados discursos feitos em nome de Cristo e expulsão de demônios e milagres são presenciados diariamente, nas plataformas de templos, nos palcos dos teatros e na televisão. O Senhor Jesus preveniu: “Muitos me dirão naquele dia: Senhor, Senhor, não profetizamos nós em teu nome? e em teu nome não expulsamos demônios? e em teu nome não fizemos muitos milagres? Então lhes direi claramente: Nunca vos conheci; apartai-vos de mim, vós que praticais a iniquidade” (Mateus 7:22, 23).
Os falsos mestres usam “palavras fingidas” (“plastois logois” no grego) para fazer negócio dos crentes. Como a matéria plástica pode ser manipulada e tomar diversas formas, suas palavras são moldadas para a sua audiência: dizem uma coisa aqui, outra ali, palavras lisonjeiras que Paulo não usava. A motivação é claramente denunciada por Pedro: “movidos pela ganância” e confirmado por Paulo “intuitos gananciosos”. A crendice é muito lucrativa, haja vista a receita das maiores instituições religiosas, dos maiores “evangelistas” da atualidade e dos movimentos milagreiros. Os do chamado “Evangelho da prosperidade” já chegaram a imprimir a sua própria bíblia, seguindo o exemplo dos russelitas que se chamam “testemunhas de Jeová”.
Em meio a tanto engano e perversidade por parte dos falsos mestres empenhados em fazer negócio dos crentes, assim “blasfemando o caminho da verdade”, não é de se admirar a relutância por parte dos incrédulos em ouvir a mensagem do Evangelho – afinal, poderia ser outro embuste visando a sua carteira. Pedro nos assegura que “a condenação dos quais (os falsos mestres) já de largo tempo não tarda e a sua destruição não dormita” (2 Pedro 2:3c).
Gostaríamos que sua destruição viesse já, pois os vemos como obstáculo no caminho da verdade. Talvez estaríamos até inclinados a nos levantar contra eles. Mas isso seria tomar o lugar de Deus, que nos diz, em Sua Palavra: “Não vos vingueis a vós mesmos, amados, mas dai lugar à ira de Deus, porque está escrito: Minha é a vingança, eu retribuirei, diz o Senhor” (Romanos 12:19). Ao procurar vingança, deixaríamos o caminho da fé.
Neste mundo sempre encontraremos joio no meio do trigo até a vinda do Senhor para reinar na terra. Cabe-nos, mais que nunca, vigiar e orar para não entrar em tentação, uma das quais poderia ser o desejo de enriquecimento aqui na terra (Lucas 12:22-34). Lembremos sempre o mandamento de Deus: “não creiais a todo espírito, mas provai se os espíritos vêm de Deus; porque muitos falsos profetas têm saído pelo mundo” (1 João 4:1). Aqui “espíritos” significam doutrinas. Estejamos sempre firmes na Palavra de Deus, para assim provar os mestres e evitar sermos explorados pelos “mercadores de crentes”.
Richard David Jones