Onde Você Está?
“E o SENHOR Deus chamou a Adão e disse-lhe: onde estás?” (Gênesis 3.9)
Caro leitor,
A pergunta que está diante dos seus olhos é a primeira que Deus fez ao homem após a queda. É a pergunta que Ele fez a Adão no dia em que comeu o fruto proibido e se tornou um pecador.
Adão e sua esposa esconderam-se entre as árvores do jardim do Éden em vão. Foi em vão que tentaram se esconder dos olhos do Deus que tudo vê. Eles ouviram a voz do Senhor Deus andando na viração do dia. “E o SENHOR Deus chamou a Adão e disse-lhe: onde estás?” (Gn. 3.9). Pense por um momento no quão terrível deve ter sido ouvir essas palavras! Quais devem ter sido os sentimentos de Adão e Eva?
Caro leitor, passaram-se 6 mil anos desde que essa pergunta foi feita pela primeira vez. Milhões de filhos de Adão têm vivido e morrido, e têm tomado sua própria direção. Milhões ainda estão por toda a face da terra e cada um deles tem uma alma a ser salva ou perdida. Mas nenhuma pergunta jamais foi feita ou jamais poderá ser feita de modo mais solene do que esta que está diante de você: onde você está? Onde você está aos olhos de Deus? – Venha e me dê sua atenção enquanto lhe digo algumas coisas que podem iluminar essa questão.
Não sei quem você é – se você é membro de uma igreja ou um descrente, se você é culto ou inculto, se rico ou pobre, jovem ou velho: não sei nada sobre isso. Mas eu sei que você possui uma alma imortal e desejo que essa alma seja salva. Sei que você terá de se apresentar diante do trono de Deus e eu quero prepará-lo para isso. Eu sei também que você estará para sempre no paraíso ou no inferno, e quero que você escape do inferno e alcance o paraíso. Eu sei que a Bíblia contém muitas informações importantes e confiáveis sobre os habitantes da Terra e quero que todo homem, mulher e criança no mundo todo as conheçam e ouçam. Eu creio em cada palavra da Bíblia e, porque eu acredito, pergunto a cada leitor deste texto: “Onde você está aos olhos de Deus?”.
Em primeiro lugar, existem muitas pessoas, segundo a Bíblia, pelas quais eu devo temer e me preocupar. Caro leitor, você é uma delas?
Há aqueles que, se as palavras da Bíblia significam alguma coisa, ainda não se converteram e nasceram novamente. Eles não estão justificados. Não estão santificados. Eles não possuem o Espírito. Eles não têm fé. Eles não têm graça. Seus pecados não foram perdoados. Seus corações não foram transformados. Eles não estão prontos para morrer. Eles não estão preparados para o paraíso. Eles não são nem retos nem santos. Se isso tudo não é verdade, as palavras da Bíblia não possuem valor nenhum.
Algumas dessas pessoas, ao que tudo indica, pensam tanto em suas almas quanto um animal que perece. Não há nada que indique que elas pensem na vida que está por vir mais do que um cavalo ou um boi, que não têm nenhum entendimento. Evidentemente, seus tesouros estão todos na Terra. Aquilo para que elas dão valor está plenamente deste lado do túmulo. Sua atenção é engolida pelas coisas perecíveis do tempo. Carne, bebida e vestimenta, dinheiro, casas e terras, negócios, prazer ou política, casamento, leituras ou empresas, essas são as coisas que preenchem seus corações e as ocupam. Elas vivem como se a Bíblia não existisse. Elas seguem a vida como se a ressurreição e o julgamento eterno não fossem verdade. Já a graça, conversão, justificação e santidade são coisas com as quais, como Lucius Galio, não se importam (Atos 18: 14-15). São palavras e nomes que elas não conhecem ou desprezam. Todas essas pessoas irão morrer e todas irão ser julgadas. E, ainda assim, parecem estar ainda mais duras do que o diabo, pois parecem não crer nem tremer. Pobres homens! Que estado terrível para uma alma imortal se encontrar! E como isso é frequente!
Algumas das pessoas têm uma forma de religião, mas não é nada além de uma forma, no final das contas. Elas se declaram cristãs. Elas vão a um lugar de adoração aos domingos. Mas isso é tudo. Onde a religião do Novo Testamento é vista em suas vidas? Em lugar nenhum! O pecado simplesmente não é o pior inimigo delas, nem o Senhor Jesus é seu melhor amigo, nem a vontade de Deus é quem rege suas vidas, e também a salvação não é o grande propósito de sua existência. O espírito de inércia controla seus corações e elas são facilmente contentadas e autos satisfeitas. Sua forma de pensar está como em Laodiceia e elas imaginam que possuem uma religião suficiente.
Deus fala a elas continuamente, pelas Suas misericórdias, por meio de aflições, por sermões, mas elas não desejam ouvir. Jesus bate à porta de seus corações, mas elas não querem abri-la. Elas ouvem sobre a morte e a eternidade, mas não se preocupam. Elas são alertadas a respeito do perigo do amor ao mundo e se lançam nele sem culpa. Elas ouvem sobre a vinda de Cristo à Terra para morrer pelos pecadores, mas não se comovem. Parece haver um lugar para qualquer coisa em seus corações, menos para Deus. Há espaço para os negócios, para os prazeres, para o que é leviano, para o pecado, para o diabo e para o mundo. No entanto, assim como aquela pousada em Belém, não há espaço para Aquele que os criou: sem permissão para Jesus, o Espírito e a Palavra! Pobres homens! E como isso é frequente!
Caro leitor, solenemente eu pergunto à sua consciência, diante de Deus, você seria uma dessas pessoas que eu acabei de descrever? Há milhares de pessoas como essas em nosso planeta – milhares no Reino Unido e na Irlanda. Milhares em nosso país perecem, milhares em nossas cidades, milhares no meio de homens religiosos, milhares entre os descrentes, milhares entre os ricos e também entre os pobres. Agora, você é uma dessas pessoas? Se a resposta é sim, eu temo por você. Tremo e estou alarmado por você, além de muito preocupado.
O que exatamente eu temo? Tudo. Temo que você persista rejeitando a Cristo até que perca sua própria alma. Temo que seja entregue a uma mente depravada e que não acorde nunca mais. Temo que você chegue à tamanha morte e dureza de coração que nada além da voz de um arcanjo e da trombeta de Deus interrompa seu sono. Temo que você se apegue tanto a este mundo inútil que nada além da morte possa separá-lo dele. Temo que você viva sem Cristo, morra sem perdão, levante-se novamente sem esperança, receba o julgamento sem misericórdia e seja tomado pelo inferno.
Leitor, devo alertá-lo. Fuja da ira vindoura, assim como Ló. Eu imploro que se lembre de que a Bíblia é verdadeira e irá se cumprir, que o fim de seu modo atual de viver é o sofrimento e a dor. Lembre-se de que sem santidade ninguém verá a Deus, que os ímpios e todos aqueles que se esqueceram de Deus deverão ser lançados ao inferno, e que Deus um dia irá pedir contas sobre tudo o que você fizer. Lembre-se também que os pecadores sem Cristo como você nunca poderão entrar na presença d’Ele, pois Ele é santo e fogo consumidor. Ah! Que você considere tudo isso! Onde está o homem que pode deixar seu dedo na chama de uma vela por um minuto? Quem poderá viver em chamas eternas?
Eu conheço bem os pensamentos que Satanás colocará em seu coração à medida que você lê essas palavras. Conheço bem as desculpas que você usará. Você irá dizer: “a religião é boa, mas o homem deve viver”. Eu lhe respondo: “é bem verdade que o homem deve viver, mas é também é verdade que o homem deve morrer”. Você pode dizer: “o homem não pode morrer de fome”. Eu respondo que não quero que alguém morra de fome, mas também não desejo que alguém queime no inferno. Talvez você ainda me diga: “o homem deve se preocupar primeiramente com seus negócios neste mundo”. Eu lhe respondo: “Sim! E o primeiro negócio com que o homem deve se preocupar é aquele que é eterno: sua alma”.
Caro leitor, eu peço que você, de todo o coração, liberte-se de seus pecados, arrependa-se e converta-se. Eu peço que você mude seu curso – altere seus caminhos no que se refere à religião. Peço que saia da sua atual displicência em relação à sua alma e se torne um novo homem. Eu lhe ofereço, através de Jesus Cristo, o perdão de todos os seus pecados anteriores: perdão gratuito e completo! Perdão pronto, presente e eterno. Digo-lhe, em nome do meu Mestre, que se você se voltar ao Senhor Jesus Cristo, esse perdão será seu de uma vez por todas. Ah! Não recuse esse convite gracioso! Não ouça sobre como Cristo morreu por você, derramando Seu próprio sangue por você, esticando Suas mãos até você e continue indiferente. Não ame esse pobre mundo perecível mais do que a vida eterna. Ouse ser corajoso e decidido. Tome a decisão de abandonar a larga estrada que leva à destruição. Levante-se e fuja pela sua vida no tempo que se chama hoje. Arrependa-se, creia, ore e seja salvo!
Leitor, eu temo por você devido a seu estado atual. O desejo de meu coração é que Deus o faça temer por você mesmo.
Em segundo lugar, existem muitos que pensam que a Bíblia afirma que devem continuar em dúvida. Leitor, você é um deles?
Há muitos que eu devo chamar de “quase cristãos”, pois não conheço nenhuma outra expressão na Bíblia que descreva tão corretamente seu estado. Eles fazem muitas coisas que são corretas e boas, e até mesmo louváveis aos olhos de Deus. Eles vivem de maneira moral e estão livres de pecados evidentes. Eles mantêm hábitos decentes e apropriados. Eles costumam ser cuidadosos na prática da graça. Eles parecem amar a mensagem do Evangelho. Eles não se ofendem com a verdade presente em Jesus, mesmo que dita claramente. Eles não se opõem a companhias, conversas e livros religiosos. Eles concordam com tudo o que é dito sobre suas almas e tudo isso é bom.
No entanto, não há qualquer movimento em seus corações e nem mesmo um microscópio poderia detectá-lo. Eles são como aqueles que permanecem imóveis. Semanas e anos se passam diante deles e eles permanecem onde estão. Eles sentam-se diante de nossos púlpitos e aprovam nossos sermões. Ainda assim, não parecem melhorar apesar de tudo o que ouvem e leem. Há sempre a mesma regularidade, a mesma preocupação com os meios de graça, o mesmo desejo e a mesma esperança, o mesmo modo de se falar sobre religião, mas não há nada além disso. Não há progressos em seu Cristianismo. Não há vida, nem calor ou realidade nele. Suas almas parecem estar congeladas e, infelizmente, tudo isso está errado.
Caro leitor, você é uma dessas pessoas? Há milhares delas nos dias de hoje, em nossas igrejas e capelas. Peço que você dê uma resposta honesta a esta pergunta: é este o estado de sua alma diante de Deus? Se a resposta é sim, posso apenas dizer que sua condição não é satisfatória. Como o apóstolo disse aos gálatas, assim eu lhe digo: “temo que seus esforços sejam inúteis”.
Como posso me sentir de maneira diferente? Há apenas dois lados no mundo: o lado de Cristo e o lado do inimigo, e você nos deixa em dúvida quanto ao lado em que se encontra. Não me atrevo a dizer que você não se preocupa com religião, mas não posso dizer que você tenha se decidido. Não deveria contá-lo entre os descrentes, mas não posso colocá-lo entre os filhos de Deus. Você tem uma luz, mas estará ela guardando o conhecimento? Você tem um sentimento, mas seria a graça? Você não é profano, mas será que é um homem de Deus? Pode ser que seja parte do povo de Deus, mas você vive tão próximo à fronteira que não posso dizer com segurança a que nação você pertence. Talvez você não esteja espiritualmente morto mas, como uma árvore doente no inverno, também não posso saber se você está vivo. E assim você vive sem provas satisfatórias. Não posso evitar algumas dúvidas sobre você e certamente há um motivo para isso.
Não posso ler os segredos de seu coração. Talvez ali exista um pecado de estimação que você segura e do qual não quer abrir mão. Essa é uma doença que impede o crescimento de muitos cristãos confessos. Talvez você não avance por receio dos homens: você pode estar com medo ou vergonha de seus amigos. Essa é uma corrente de ferro que amarra a muitos. Talvez você seja negligente com suas orações pessoais e com sua comunhão com Deus. Esse é um dos motivos de tantos cristãos fracos e doentes espiritualmente. Entretanto, não importa qual seja a sua razão, eu o alerto a fim de que preste atenção no que está fazendo. Seu estado não é satisfatório nem seguro. Como os gibeonitas, você se encontra caminhando para Israel, mas semelhantemente a eles, você não possui nenhum direito à herança, ou às consolações e recompensas de Israel. Ah, desperte para o perigo em que se encontra! Esforce-se para que possa entrar.
Caro leitor, você deve sair de cima do muro se deseja aproveitar as boas evidências de sua salvação. É preciso que haja uma mudança em você. Não pode ficar parado! Não há um estado inerte no verdadeiro Cristianismo. Se a obra de Deus não está avançando no coração de um homem, a obra do inimigo é que está progredindo. E se um homem permanece sempre no mesmo lugar espiritual, a probabilidade é a de que ele não tenha uma religião verdadeira. Não basta vestir a armadura de Cristo, devemos também lutar em sua batalha. Não basta parar de fazer o mal, devemos aprender a fazer o bem. Ah, cuidado para não ser considerado um servo inútil, por não saber o que fazer com seus talentos, pois será sua destruição e sofrimento. Lembre-se: quem não está com Cristo, está contra Ele.
Leitor, nunca descanse até que descubra se você possui ou não a graça em seu coração. Desejos, bons sentimentos e convicções são excelentes, mas sozinhos não são suficientes para salvá-lo. Gosto de ver os botões e as flores em uma árvore, mas prefiro ver frutos maduros. Na parábola, os ouvintes que estavam à beira do caminho ouviram, mas a palavra não fincou raízes em seus corações: eles não foram salvos. Os ouvintes do solo pedregoso ouviram com alegria, mas a palavra não alcançou profundidade neles e não foram salvos. Os ouvintes do terreno cheio de espinhos conseguiram algo semelhante a um fruto, mas a palavra foi sufocada pelo mundo e eles não foram salvos. Você treme com a palavra? Assim também ficou Felix, mas ele não foi salvo. Você gosta de ouvir bons sermões e tudo aquilo que é correto? Herodes também gostava, mas ele não foi salvo. Você deseja ter a morte dos justos? Assim também desejava Balaão, mas ele não foi salvo. Você conhece a Verdade? Judas Iscariotes também conhecia, mas não foi salvo. E você será salvo se continuar da maneira que é? Duvido. Lembre-se da esposa de Ló.
Caro leitor, mais uma vez peço-lhe que preste atenção no que está fazendo. Se você se acomodar e não seguir em frente, como poderia não ficar em dúvida quanto à sua alma?
Porém, há aqueles sobre os quais permaneço na dúvida. Aqueles que estão até mesmo em situação pior do que a dos “quase cristãos”. Esses são aqueles que um dia fizeram uma pública profissão de fé, mas que hoje desistiram. Um dia foram reconhecidos como crentes verdadeiros, mas se voltaram para o mundo e caíram. Eles retrocederam e não mais se encontram onde haviam conseguido chegar. Não andam mais nos caminhos que pareciam ter escolhido. Em resumo, são apóstatas.
Leitor, é esse o estado de sua alma? Se a resposta é sim, saiba que é certo que sua situação não é satisfatória. Não importa quais foram as experiências que um dia você teve? Não importa que um dia você tenha sido contado entre os cristãos verdadeiros? Talvez tenha sido tudo um engano e uma ilusão. É para a situação atual da sua alma que eu olho agora e, enquanto faço isso, permaneço em dúvida.
Eu acredito que houve um tempo em que todos os santos de Deus alegravam-se ao vê-lo. Naquela época você parecia amar ao Senhor Jesus com sinceridade e desejar abandonar aquela estrada larga para sempre por amor a Deus. A Palavra de Deus parecia-lhe doce e preciosa, a voz dos ministros de Cristo soava agradável e na reunião do povo de Deus era onde você amava estar. Você nunca faltava aos encontros semanais. Seu lugar nunca estava vazio na igreja. Sua Bíblia nunca estava longe de suas mãos. Não havia dias em sua vida sem uma oração. Seu zelo era, de fato, fervoroso. Suas afeições espirituais eram verdadeiramente calorosas. Você foi bem por um tempo. Mas onde você se encontra agora?
Você voltou ao mundo. Você levou um tempo, olhou para trás e voltou. Temo que tenha deixado seu coração para trás. Você voltou aos atos e obras do velho homem. Você abandonou seu primeiro amor. Sua bondade era como as nuvens da manhã e, com o orvalho, dissipou-se. Suas convicções estão morrendo, enfraquecendo-se a cada dia. Elas estão murchando e mudando de cor como as folhas no outono, que logo caem e desaparecem. Os cabelos brancos, que revelam o tempo, estão chegando aos poucos à sua cabeça. A pregação, a qual você amava, hoje o cansa. Os livros que lhe davam prazer, hoje não mais o alegram. O progresso do Evangelho de Cristo não mais o interessa. A companhia dos filhos de Deus não é mais procurada. Eles ou você devem mudar. Você está ficando com vergonha do povo santo, está ficando impaciente com a repreensão e o aconselhamento, inseguro em seu temperamento, despreocupado acerca de seus pequenos pecados, sem medo de se misturar ao mundo. Um dia não foi assim – talvez você mantenha alguma religião, mas você está esfriando. Você já está morno e aos poucos ficará frio, e não demorará para que se torne congelado: religiosamente congelado e mais morto do que estava antes. Você está entristecendo o Espírito e logo Ele o deixará. Você está tentando o diabo e logo ele virá até você. Seu coração está pronto para ele e seu estado final será pior do que o inicial. Ah, leitor, endireite o que permanece e que está prestes a morrer. Como posso evitar a dúvida quanto a sua alma?
No entanto, não posso deixá-lo partir sem tentar ajudá-lo. Eu realmente sinto por você por estar tão infeliz. Eu tenho certeza. É inútil negar que isso seja verdade. Você tem estado infeliz desde que se afastou. Está infeliz em casa e infeliz fora dela. Infeliz quando com alguma companhia e também infeliz quando sozinho. Infeliz quando se deita e quando se levanta. Talvez você possa ter conquistado riquezas, honra, amor, obediência e amigos. Ainda assim, a angústia permanece. Existe uma estiagem de consolação em você, há uma carência total de paz interior. Seu coração está doente, você facilmente adoece, facilmente se descontenta com os outros, porque está descontente consigo mesmo. Você está semelhante a um pássaro que voou para longe de seu ninho – nunca sente que está no lugar certo. Você possui muita religião para curtir o mundo e pouquíssima religião para desfrutar a Deus. Você está cansado da vida e, mesmo assim, teme a morte. Verdadeiramente, as palavras de Salomão se aplicam ao seu caso: “Você está farto de seus próprios caminhos”.
Leitor, apesar de todos os seus desvios, há esperança até mesmo para você. Não há nenhuma doença da alma que o glorioso Evangelho não possa curar. Há um remédio até mesmo para o seu caso – humilhante, eu sei – mas um remédio certeiro, e eu sinceramente o incentivo a tomá-lo. Esse remédio é a fonte aberta e disponível a todos os pecados – a misericórdia gratuita de Deus em Jesus Cristo. Vá e lave-se nessa fonte sem demora e Jesus Cristo o tornará completo.
Pegue sua Bíblia rejeitada e veja como Davi caiu e cometeu um pecado imensamente reprovável por um ano inteiro e, mesmo assim, quando se arrependeu e voltou-se para Deus, houve misericórdia para ele. Tome a história do apóstolo Pedro e veja como ele negou a seu Mestre por três vezes e, ainda assim, quando chorou e se humilhou, houve misericórdia para ele. Ouça como são confortantes as palavras que nosso Senhor e Salvador envia a você neste dia: “Venham a mim todos os que estão cansados e sobrecarregados e eu lhes darei descanso”. “Mas você tem se prostituído com muitos amantes e, agora, quer voltar para mim?” “Embora seus pecados sejam vermelhos como escarlate, eles se tornarão brancos como a neve; embora sejam rubros como púrpura, como a lã se tornarão”. “Voltem, filhos rebeldes. Eu os curarei da sua rebeldia”. Que você possa tomar as palavras de Israel neste dia e responder: “Sim! Nós viremos a ti, pois tu és o Senhor, o nosso Deus”. (Mateus 11.28; Jeremias 3.1; Isaías 1.18; Jeremias 3.22).
Leitor, oro a Deus que essas palavras não sejam trazidas a você em vão. Mas lembre-se que, até que você abandone a sua rebeldia, eu devo continuar em dúvida quanto a sua alma.
Em terceiro lugar, existem alguns pelos quais a Bíblia afirma que eu devo ter uma boa esperança. Caro leitor, seria você um desses?
Aqueles de quem falo descobriram que são pecadores culpados e têm fugido para Cristo pela fé na salvação. Eles descobriram que o pecado é algo triste e horrível e, sendo assim, odeiam-no e desejam ser libertos de sua presença completamente. Não enxergam nada além de fraqueza e corrupção em si mesmos, mas no Senhor Jesus enxergam as muitas coisas que suas almas exigem: perdão, paz, luz, conforto e força. O sangue de Cristo, a cruz de Cristo, a justiça de Cristo, a intercessão de Cristo: são essas as coisas nas quais suas mentes amam refletir. Suas paixões estão agora postas nas coisas do alto. Preocupam-se apenas em agradar a Deus. Vivendo, seu maior desejo é viver para Deus. Morrendo, seu único desejo é morrerem no Senhor. Após a morte, sua esperança é que eles estejam com o Senhor.
Caro leitor, é esse o estado de sua alma? Você conhece algo da fé e esperança, paixões e experiências que eu acabei de descrever? Você encontra algo em seu coração que responda às questões que acabei de fazer? Se a resposta é sim, agradeço a Deus por isso e parabenizo a você por sua condição. Tenho uma boa esperança quanto à sua alma.
Sei bem que você vive em um mundo cheio de provações. Você ainda está no deserto, você não está em casa. Sei bem que orgulho, descrença e preguiça estão continuamente brigando pelo controle dentro de você. Você tem lutas lá fora e medos aí dentro de você. Não duvido que seu coração seja tão traiçoeiro e falso que você fique frequentemente cansado de si mesmo e diga: “Nunca houve coração como o meu”. Mas, apesar de tudo isso, eu devo ter uma boa esperança quanto à sua alma.
Eu tenho esperança, pois creio que Deus começou uma obra em você que Ele nunca deixará ser destruída. Quem o ensinou a odiar o pecado e amar a Cristo? Quem o fez abandonar o mundo e se deleitar no serviço de Deus? Essas coisas não vêm de seu próprio coração. A natureza não produz tal fruto. Essas coisas são a obra de Deus que, onde Ele começa, sempre termina; que, onde Ele concede a graça, também dará glória. Certamente, trata-se de um cenário para a esperança.
Eu tenho esperança, pois creio que você tenha um interesse por uma aliança eterna, uma aliança organizada em tudo e certa. O selo do paraíso está em você. As marcas do Senhor Jesus estão em sua alma. Pai, Filho e Espírito Santo, todos se engajaram e se comprometeram a lhe entregar a salvação de sua alma. Há um cordão de três dobras em sua volta que nunca foi rompido. Esse é um cenário para a esperança, com certeza.
Eu tenho esperança, pois tenho um Salvador, cujo sangue pode limpar todo pecado – um Salvador que convida a todos e não lança ninguém que vem até Ele fora, um Salvador que não quebrará o caniço rachado, nem apagará o pavio fumegante, um Salvador que pode se comover e sentir nossas enfermidades e não se envergonha de chamá-lo de irmão, um Salvador imutável: o mesmo ontem, hoje e sempre, sempre capaz de salvar e sempre poderoso para salvar. Certamente, esse é um cenário de esperança.
Eu tenho esperança, pois o amor de Cristo é um amor que excede todo entendimento. Tão livre, gratuito e imerecido! Tão caro, custando a própria morte! Tão poderoso e capaz de conquistar o que for! Tão imutável e duradouro! Tão paciente e longânimo! Tão amável e cheio de compaixão! Verdadeiramente, nossos pecados superam o conhecimento e isso é o amor de que nossas almas precisam. Certamente esse é um cenário de esperança.
Eu tenho esperança, porque Deus deu a você inúmeras e maravilhosas promessas – promessas que serão mantidas até o fim; promessas de graça para cada momento de necessidade, e força de acordo com o seu dia. Promessas que jamais foram quebradas, todas garantidas em Cristo Jesus. Certamente, esse é um cenário de esperança.
Ah, leitor, se você crê, todas essas coisas são uma grande segurança. Se Deus é por nós, quem estará contra nós? Não há condenação para aqueles que estão em Cristo Jesus. Nada jamais os separará do amor de Deus que está em Cristo Jesus, nosso Senhor.
Agora, preste atenção e deixe-me dizer o que eu desejo que você e todo verdadeiro Cristão busquem. Desejo que vocês busquem mais esperança. Não quero que você fique satisfeito com aquela pequena confiança que forma muitos dos filhos de Deus. Desejo que você busque a convicção plena de esperança, aquela esperança viva que nunca deixa um homem envergonhado.
Eu falo isso como um amigo que também viaja pelo caminho estreito. Falo como alguém que deseja que sua própria esperança cresça e aumente a cada ano que vive, e deseja que a esperança de todos os seus irmãos na fé também possa crescer. Eu sei que escrevo tudo isso para trazer-lhe paz. Por todo o seu desejo de conforto para os momentos que estão por vir, eu imploro que procure a convicção plena de esperança.
Caro leitor, se você é, de fato, alguém que crê, você sabe bem que todos nós precisamos de exortações e conselhos mútuos. Você e eu, em nossa melhor forma, somos apenas crianças no culto a Deus. Nossas almas estão sempre prontas para voltarem ao pó. Podemos melhorar e progredir todos os dias. Ouça, então, algumas coisas que nunca devemos esquecer se desejamos um pouco mais de esperança; algo que nunca perderemos se soubermos como mantê-la quando a encontrarmos.
Se desejamos crescer em graça e ter mais esperança, devemos buscar mais conhecimento a respeito de nosso Senhor Jesus Cristo. Como sabemos pouco sobre Ele! Nosso amor frio por Ele testemunha contra nós mesmos. Nossos olhos não podem estar abertos para quem Ele é e para o que Ele faz por nós, ou então deveríamos amá-lo mais. Há alguns cristãos cujas mentes parecem estar sempre correndo para a doutrina da santificação e se esquecendo de todo o resto. Eles são capazes de defender calorosamente cada pequena prática e, ainda assim, estão frios no que diz respeito a Cristo. Eles vivem de acordo com as regras, vivem de maneira ética, fazem muitas coisas e pensam que, em pouco tempo, estarão muito mais fortes. No entanto, por todo esse tempo, eles perdem de vista a grande verdade: a de que nada santifica mais do que o conhecimento e a companhia do Senhor Jesus.
Ele diz: “Permaneçam em mim e eu permanecerei em vocês. Nenhum ramo pode dar fruto por si mesmo, se não permanecer na videira. Vocês também não podem dar fruto, se não permanecerem em mim”. Cristo deve ser a fonte de nossa santidade, assim como a rocha da nossa fé. Cristo deve ser tudo em todos. Eu tenho certeza de que Ele é precioso para você que acredita. Ele deve ser precioso por Seu ministério e precioso por Sua obra. Ele deve ser precioso por tudo o que já fez: Ele nos chamou e estimulou, lavou-nos e nos justificou. Deve ser precioso pelo que Ele está fazendo agora mesmo: dando-nos força, intercedendo por nós, compadecendo-se de nós. Ele deve ser precioso pelo que ainda fará: Ele irá nos manter salvos até o fim, levantar-nos e nos reunir na Sua vinda, apresentando-nos inculpáveis diante do trono de Deus e irá nos dar descanso com Ele em Seu reino. Mas, leitor, Cristo deve ser ainda mais precioso para nós do que Ele já tem sido. Eu quero dizer, ainda que fossem as últimas palavras da minha vida, que acredito que nada além do conhecimento de Cristo poderia alimentar a alma de alguém. Toda a nossa escuridão surge por não nos mantermos próximos a Ele. Os moldes da religião são úteis para nos auxiliar e os mandamentos são importantes para nos fortalecer. Entretanto, a doutrina a que devemos nos apegar deve ser a de Cristo crucificado em favor dos pecadores, Cristo visto por meio da fé, Cristo presente no coração, Cristo como o pão da vida e Cristo como a água da vida. Nada além disso jamais irá salvar, satisfazer ou santificar uma alma pecadora. Todos nós precisamos conhecer mais a Cristo. Se iremos crescer em graça e esperança, comecemos por aqui.
Se desejamos crescer em graça e ter mais esperança, devemos buscar conhecer melhor nosso próprio coração. Pensamos que o conhecemos bem, mas não conhecemos. Metade dos pecados que estão nele ficam escondidos de nossos olhos. Não temos a menor ideia de como ele pode nos enganar se tentado ou quais abismos criados por Satanás podem fazer muitos de nós cairmos. Porém, todos nós sabemos, por uma experiência amarga que, por confiarmos em nosso coração, já cometemos muitos erros. Às vezes cometemos tantos erros que perdemos a esperança e chegamos a pensar que não conseguimos nenhuma graça. Se desejamos ser cristãos felizes, paremos de confiar tanto em nosso coração. Aprendamos a não esperar nada dele além de fraqueza e debilidade. Paremos de enxergar molduras e sentimentos nele para nosso conforto. A esperança que for construída baseada em algo dentro de nós será sempre vacilante e instável.
Se desejamos crescer na graça e ter mais esperança, devemos procurar mais santidade e diálogos em nossa vida. Esta é uma lição humilhante de se meditar, mas na qual não devemos pensar por muito tempo. Há uma ligação inseparável entre andar próximo de Deus e encontrar conforto em nossa religião. Nunca esqueça isso! Verdadeiramente, muitos vasos na casa de Deus são fracos, entediantes e sujos. Quando olho em volta, vejo muitas coisas faltando em nosso meio e que Jesus ama. Sinto falta da mansidão e da gentileza do nosso Mestre: muitos de nós somos duros, grosseiros e críticos, e nos afirmamos com orgulho que somos fieis. Sinto falta da verdadeira coragem de confessar a Cristo diante dos homens: muitas vezes pensamos bem mais na hora de ficarmos em silêncio do que na hora de falarmos. Sinto falta da verdadeira humildade: poucos de nós gostamos de ficar com a posição mais inferior ou pensamos mais dos outros do que de nós mesmos ou ainda consideramos nossa própria força nossa maior fraqueza. Eu sinto falta da verdadeira caridade: não muitos de nós temos aquele sentimento altruísta e que não buscam sua própria vontade e felicidade. Sinto falta do verdadeiro espírito de gratidão: nós reclamamos e murmuramos, nós nos inquietamos e nos incomodamos repetidamente com aquilo que não temos e esquecemos aquilo que já possuímos. Raramente estamos contentes. Geralmente há um Mardoqueu em nosso portão. Sinto falta de uma firme separação do mundo: muitas vezes a divisão é confusa. Muitos de nós, como camaleão, fica sempre tomando a cor de nossa empresa; vamos ficando tão semelhantes ao incrédulo que fica difícil de perceber a diferença. Leitor, não é para ser assim. Se queremos mais esperança, devemos ser mais zelosos com as boas obras.
Se desejamos crescer em graça e ter uma esperança mais viva, devemos buscar mais vigilância nos momentos de prosperidade. Não conheço nenhum momento em que a vida e a alma de um crente estejam tão em perigo quanto nos momentos em que tudo está dando certo para ele. Não conheço nenhum momento em que seja tão provável que o crente tenha alguma doença espiritual e deposite todo o fundamento que adquiriu nos dias sombrios e de dúvida em si mesmo. Você e eu gostamos que o curso da nossa vida seja suave e é natural que homens e mulheres de carne e osso pensem dessa maneira. Mas você e eu sabemos muito bem como esse curso suave é perigoso para nossa religião. As sementes das doenças geralmente são plantadas na saúde. É nas férias que as lições são esquecidas. São as coisas doces – e não as amargas – que fazem mal às crianças. São as gentilezas do mundo que machucam os crentes muito mais do que as negações do mundo. Davi não adulterou enquanto fugia da presença de Saul: foi quando Saul estava morto e Davi se tornou rei e quando havia paz em Israel. Cristão, em “O Peregrino”, não perdeu seu diploma selado enquanto lutava com seu inimigo. Foi quando Cristão dormia sob uma árvore agradável e não havia nenhum inimigo por perto. Ah, se nós desejamos uma esperança viva, sejamos vigilantes nos dias de prosperidade e sejamos sóbrios.
Se desejamos crescer em graça e ter uma esperança mais viva, devemos buscar mais fé e contentamento em tempos de provação. A provação muitas vezes faz com que um homem reto e justo fale sem pensar e faça e diga coisas que se levantam como névoa entre sua alma e Cristo. A provação é um fogo que geralmente traz consigo muito entulho para a superfície do coração de um crente e que o faz dizer: “Deus se esqueceu de mim e não há esperança para minha alma. Fui lançado para longe da vista de Deus. Eu estou certo em reclamar”. A provação é a mão de um Pai nos disciplinando para nosso crescimento, mesmo que demoremos a percebê-la dessa forma. A vara vem geralmente como resposta de uma oração por santificação: é uma das formas com que Deus mantém seu trabalho de santificação que nós professamos desejar. Jacó, José, Moisés e Davi: todos passaram por isso. Abençoados são aqueles que suportam pacientemente os cuidados do Senhor – que aguentam a cruz silenciosamente e dizem “está bem”. Aflições que são bem suportadas são promoções espirituais. A paciência que persiste em tempos de aflição, cedo ou tarde, irá produzir uma colheita preciosa de esperança interior.
Se desejamos crescer em graça, e ter uma esperança viva, devemos buscar estar prontos para a segunda vinda de Cristo. Não conheço nenhuma doutrina mais santificadora e estimulante do que a doutrina da segunda vinda de Cristo. Não conheço nenhuma doutrina mais planejada para nos tirar do mundo e nos tornar um cristão cheio de alegria com uma só visão e um só coração. Mas como são poucos os cristãos que vivem como quem espera a volta de seu Mestre! Se alguém observasse os caminhos de muitos crentes será que pensaria que eles, de fato, amam e esperam a aparição de seu Senhor? Não é verdade que há muitos corações dentre os filhos de Deus que não estão muito prontos para receber Jesus? Esses encontrariam as janelas baixadas, as portas fechadas e fogo inconsumível. Seria uma recepção fria e desagradável. Leitor que crê, não é para ser assim. Nós desejamos mais do que um espírito de peregrinos: devemos estar sempre buscando nossa casa e nos apressando em direção a ela. O dia da vinda do Senhor é o dia do descanso, o dia da redenção completa, o dia em que a família de Deus estará, finalmente, toda reunida. É o dia em que não mais teremos que andar pela fé, mas pela visão: veremos a terra que está distante. Nós iremos contemplar o Rei em Sua beleza. Com certeza devemos dizer diariamente: “Venha, Senhor Jesus, deixe Seu reino vir”. Que vejamos a vinda de Cristo continuamente diante de nossos olhos. Que nós possamos dizer a nós mesmos a cada manhã: “O Senhor em breve voltará” e isso fará bem a nossas almas.
Por fim, se desejamos crescer em graça e termos mais esperança, devemos buscar mais diligência com as obras da graça. É inútil supor que nossa esperança não seja dependente das dores que levamos ao cumprir os mandamentos de Deus. Ela é dependente. E muito. Deus sabiamente tem ordenado isso para que os cristãos preguiçosos raramente gozem de qualquer certeza de sua própria salvação. Ele nos diz que devemos trabalhar e nos empenhar para que asseguremos nosso chamado e eleição. Que os crentes se lembrem disso e guardem essa necessidade no coração. Suspeito que muitos dos que fazem parte do reino de Deus são bem preguiçosos em sua forma de fazer as obras. Conhecem pouco do espírito de Davi quando este disse: “Minha alma anela e até desfalece pelos átrios do Senhor”. Eu tenho minhas dúvidas de que haja muita oração particular antes e após os sermões. E, ainda assim, ouvir apenas não é tudo: quando tudo já foi dito no púlpito, apenas metade do trabalho está feito. Eu tenho minhas dúvidas de que a Bíblia seja lida tanto quanto deveria ser. Nada em minha curta experiência me surpreende tanto quanto a ignorância que prevalece entre os crentes acerca das Escrituras. Eu tenho minhas dúvidas se as pessoas levam a oração pessoal a sério como deveriam levar. Frequentemente achamos natural nos levantarmos sem realmente termos visto ou ouvido qualquer coisa de Deus ou de seu Filho. E tudo isso está errado: é a alma diligente que, de fato, goza de uma esperança viva.
Leitor, mantenhamos o que acabei de mencionar em nossos corações. Resolvamos, com a ajuda de Deus, deixar tudo isso diante de nós continuamente. Oremos por isso, lutemos por isso e nos empenhemos por alcançá-lo.
É assim que se é um Cristão útil. O mundo conhece muito pouco sobre Cristo além do que vê d’Ele através de Seu povo. Como essas cartas devem ser simples e claras! Um crente esperançoso e que cresce é um sermão vivo. Ele prega muito mais do que eu, pois ele prega por toda a semana, envergonhando os que ainda não são convertidos, afiando os convertidos, mostrando a todos o que a graça é capaz de fazer. Esse é alguém que realmente faz o bem através de sua própria vida e que, após sua morte, deixa um bom testemunho. Como é grande o valor e o poder de um cristão que cresce. Que Deus nos transforme em cristãos assim.
É assim que se é um cristão feliz. A felicidade é um presente de Deus, mas que nenhum homem duvide que haja uma relação muito próxima entre seguir a Deus de perto e a alegria completa. Um crente esperançoso e que está crescendo testemunha isso em si mesmo. Ele caminha sob a luz do sol e geralmente se sente iluminado e aquecido. Ele não sacia seu espírito com inconsistências contínuas e, assim, o fogo dentro dele raramente vai se consumindo. Ele conta com muita paz pois ama a lei de Deus de verdade, e todos que o veem são obrigados a reconhecer que é um privilégio e não uma escravidão ser um cristão. O conforto de uma consciência tranquila, um cuidado de Deus e uma caminhada de perto com o Pai. O Senhor faz com que todos nós tenhamos tal ânimo.
E agora, leitores de cada ala com quem falei, eu oro a Deus para que abençoe estas páginas em suas almas. Seja você um daqueles por quem eu temo, seja você um daqueles de quem estou na dúvida, ou um daqueles que eu olho com esperança, o desejo de meu coração e a minha oração é a de que você possa se tornar um homem ou mulher melhor e mais sábio.
Vivemos em tempos estranhos. O mundo parece estar ficando velho e agitado. As sombras estão surgindo. A noite parece estar vindo. A noite em breve estará diante de nós, quando nenhum homem pode trabalhar. Que cada leitor desse texto se volte a si mesmo e se pergunte: onde eu estou? O que eu sou? Para onde estou indo? Qual será o fim desse meu curso atual? Qual é a esperança da minha alma?
Leitor, mais uma vez peço que você não ignore minha pergunta. Pense nela e a considere: ore sobre ela. Que ela possa se apegar ao seu coração e nunca mais o deixar. Que ela possa ser para sua alma algo como a vida dentre os mortos. O tempo está rapidamente indo embora. A vida é uma vasta incerteza. A morte está se aproximando cada vez mais. O julgamento com certeza está por vir. Leitor, onde está você? Onde está você diante de Deus? Eu permaneço seu Amigo carinhoso,
JOHN CHARLES RYLE — Sermão pregado por John Charles Ryle, 1° bispo da Diocese da Igreja da Inglaterra em Liverpool, quando era ministro em Helmingham, Suffolk, Inglaterra e publicado em por volta de 1850 | Projeto Ryle – Anunciando a Verdade Evangélica.