O Servo Vigilante

Ou A vinda do Senhor. O que caracteriza a vida cristã.

Proponho tratar de um assunto que sinto ser de profunda importância – a vinda do Senhor Jesus; e abordá-lo, não para prová-lo como doutrina, mas para demonstrar que, no princípio, esta era uma parte substancial do próprio cristianismo. A base está na primeira vinda de Cristo e em Sua morte expiatória; mas quando olhamos além do fundamento, então vemos que a vinda do Senhor Jesus não se trata meramente uma partícula de conhecimento, mas de uma parte substancial da fé da Igreja de Deus, da qual depende o estado moral dos santos, e até mesmo o da própria igreja. Ao ler as passagens que vou citar, você verá que elas se conectam e se mesclam com cada parte do cristianismo, caracterizando-o e conectando-o com cada pensamento e sentimento do cristão. Uma pessoa não poderia ler as Escrituras com uma mente sem preconceitos e ainda não enxergar isto.

Tome, por exemplo, a conversão. As pessoas perguntam: O que tem isto a ver com a vinda do Senhor? Faz parte daquilo para que eles foram convertidos, ou seja, “para… esperar dos céus a Seu Filho”. Essa espera pelo Filho de Deus vindo do céu caracterizava a conversão dos tessalonicenses; eles foram convertidos para servir a Deus, certamente, mas também “para esperar dos céus a Seu Filho” (1 Ts 1:10).

A posição do cristão quanto à vinda do Senhor é que ele está esperando por Cristo vindo conforme a Sua promessa. As pessoas dizem que Ele vem por ocasião da morte. Eu pergunto: Acaso você considera a morte igual a Cristo? Se fosse este o caso, Ele já teria vindo centenas de vezes. No entanto lemos acerca de apenas duas vindas (Hb 9:28). Posso dizer a você o que acontecerá quando Cristo vier? A ressurreição! Isto é algo bem diferente da morte. A vinda de Cristo deverá ser, para o santo, o fim da morte – exatamente o oposto da morte. Creio que ninguém poderá encontrar, nas Escrituras, um mínimo sinal da ideia de que Cristo venha na morte. Ao invés da vinda de Cristo ser morte, é ressurreição; na morte somos nós que vamos para Cristo, não é Cristo Quem vem a nós. É algo bendito “partir, e estar com Cristo” (Fp 1:23); “deixar este corpo, para habitar com o Senhor” (2 Cor 5:8). Todavia devo demonstrar que esta ideia da vinda de Cristo se mescla com a vida cristã e caracteriza cada parte dela.

Primeiro a vemos na conversão, como já foi dito. Eles haviam sido convertidos para esperar pelo Filho de Deus vindo do céu. Vou abrir em outras passagens que dá respaldo a isto, mas devo primeiro seguir pelo livro de Tessalonicenses. No segundo capítulo da primeira epístola, no final, o apóstolo fala do que se tratava o seu conforto e gozo no serviço. Ele havia sido privado do convívio com os tessalonicenses por causa da perseguição, e ao escrever-lhes fala de seu conforto em pensar neles. Mas como o faz? “Porque, qual é a nossa esperança, ou gozo, ou coroa de glória? Porventura não o sois vós também diante de nosso Senhor Jesus Cristo em Sua vinda?” (1 Ts 2:19). Ele não pode falar-lhes de seu gozo e interesse neles sem mencionar a vinda do Senhor Jesus. E mais uma vez, no tocante à santidade, “E o Senhor vos aumente, e faça abundar em amor uns para com os outros, e para com todos, como também abundamos para convosco; para confortar os vossos corações, para que sejais irrepreensíveis em santidade diante de nosso Deus e Pai, na vinda de nosso Senhor Jesus Cristo com todos os Seus santos” (1 Ts 3:12-13).Os que em Jesus dormem

No que diz respeito à morte de um santo, eles estavam tão ocupados com a vinda do Senhor que pensavam que, se uma pessoa morresse, ela não ficaria pronta para ir encontrar o Senhor. Eles estavam errados nisto, e o apóstolo corrige o seu erro. Porém agora as pessoas dizem que quando um santo morre, nós devemos segui-lo mais tarde, devemos ir pelo mesmo caminho que foi. Não há aqui nenhuma palavra a este respeito. Suponha que eu fosse e dissesse agora a um cristão, que tivesse perdido alguém que lhe era muito querido: “Não se preocupe, Cristo irá trazê-lo de volta com Ele”. Me considerariam louco, ou acabariam não entendendo; e, no entanto, é desse jeito que o apóstolo os conforta: “Aos que em Jesus dormem Deus os tornará a trazer com Ele” (1 Ts 4:14).

Ele segue mostrando como Deus fará isso. “Nós, os que ficarmos vivos… não precederemos os que dormem” (1 Ts 4:15). “Precederemos” é uma palavra que significa anteceder ou ir antes. A primeira coisa que o Senhor fará quando descer é ressuscitar os santos que dormem. Ele vai trazê-los junto com Ele. Se eles dormiram n’Ele, seus espírito terão estado com Ele nesse intervalo; mas então eles receberão glória, serão ressuscitados em glória, serão como Ele, assim como foram semelhantes ao primeiro Adão, e, indo encontrá-Lo nos ares, estarão para sempre com Ele; e quando Ele vier irá trazê-los Consigo, e virão com Ele em Glória. Compreendemos isto de uma maneira geral no quinto capítulo, onde o apóstolo deseja que o espírito, alma e corpo possam ser conservados irrepreensíveis na vinda de nosso Senhor Jesus Cristo. Esta esperança, portanto, faz parte da condição cristã em todos os seus aspectos. A conversão, o gozo no serviço, a santidade, a morte de um crente, o alvo de ser irrepreensível, tudo está conectado com a vinda do Senhor.

“Aí vem o Esposo!”

Abra agora em Mateus 25. As virgens sábias levam óleo em seus vasos, mas todas elas adormecem e se esquecem que o Noivo estava chegando. Mas o que gostaria de perguntar aqui é: Qual era o objetivo primeiro delas? A afirmação, clara e positiva, é que elas saíram ao encontro do Esposo, mas enquanto Ele tardava, todas elas tosquenejaram e adormeceram – todas elas se esqueceram de Sua vinda, tanto as sábias como as loucas. Mas à meia-noite ouviu-se um clamor, “Aí vem o Esposo!” (Mt 25:6). O que as levantou de seu sono foi o clamor, “Aí vem o Esposo!” Portanto, o alvo original da Igreja era sair ao encontro d’Aquele que viria; mas até mesmo os verdadeiros crentes se esqueceram disso. E então, o que os acorda de seu sono é o serem chamados para encontrá-Lo em Sua vinda. E na parábola dos “talentos”, a mesma coisa é apresentada em conexão com o serviço e a responsabilidade. Ele viaja e lhes diz: “Negociai até que eu venha” (Lc 19:13).

Outro notável fato acerca desta verdade é que ela é sempre apresentada como uma expectativa atual e operante. Você nunca encontrará o Senhor e nem os apóstolos falando da vinda do Senhor, com a suposição de que ela seria retardada para um tempo além do período de vida daqueles a quem era falado. Poderia ser no cantar do galo, ou pela manhã; mas eles deveriam estar esperando pelo Filho de Deus vindo do céu. Nas parábolas a que nos referimos, as virgens que adormeceram foram as mesmas que acordaram. Os servos aos quais foram confiados os talentos foram os servos que tiveram que prestar contas deles na Sua volta. Sabemos que séculos já se passaram; mas Ele não permitirá que exista qualquer pensamento de atraso. “Porque o Filho do Homem há de vir à hora em que não penseis” (Mt 24:44). “Bem-aventurados aqueles servos, os quais, quando o Senhor vier, achar vigiando” (Lc 12:37).Então, qual foi a causa da ruína da Igreja? Foi esta: “O meu Senhor tarde virá” (Mt 24:48). Não foi por dizer: “Ele não vem”; mas, “Ele tarde virá”. E então o servo começou a espancar seus conservos e a comer e beber com os embriagados, e isto acarreta o seu juízo. Se a esposa ama o Esposo, ela não pode senão desejar vê-Lo. O coração dela está onde Ele está. Quando a Igreja perdeu isto, acomodou-se e passou a desfrutar do lugar onde estava; tornou-se mundana e não se importou mais com a volta do Senhor.

Abra agora em Lucas 12, e você encontrará como é que esse esperar por Cristo caracteriza o cristão, e, por conseguinte, o serviço devotado a Ele enquanto está ausente. “Onde estiver o vosso tesouro, ali estará também o vosso coração” (Lc 12:34). Era para eles estarem com seus lombos cingidos e suas candeias acesas (Lc 12:35). Tal era a característica de um cristão. Eles deviam ser como homens que esperam pelo seu Senhor, para poderem abrir a porta para Ele imediatamente; com suas afeições em ordem e uma profissão integral de Cristo, enquanto aguardassem pela volta de Seu Senhor. Não se trata de meramente ter a doutrina da vinda do Senhor. A bênção está sobre aqueles que estão vigiando, “semelhantes aos homens que esperam o seu Senhor”. “Bem-aventurados aqueles servos, os quais, quando o Senhor vier, achar vigiando” (Lc 12:36-37). Eles devem estar cingidos; devem ter suas candeias acesas enquanto Ele está ausente, e devem vigiar por Sua volta; e então Ele os fará sentar para cear, e cingindo-Se, virá e os servirá. Agora os servos devem estar cingidos e vigiar; nosso descanso não está aqui. ‘Mas’, diz o Senhor, ‘quando Eu tiver tudo resolvido, vós vos sentareis para cear, e Eu Me cingirei, virei e vos servirei. Farei com que desfruteis do melhor que tenho no céu, e vo-lo ministrarei; tão somente ficai vigiando’.

Cristo é, para sempre, um servo em graça, bem de acordo com a forma que Ele assumiu. Ele está agora cingido conforme João 13. Os discípulos naturalmente iriam pensar que, se Ele partisse para o céu em glória, estaria terminado o Seu serviço para com eles; mas o Senhor lhes diz: Vou partir; não posso ficar aqui convosco, mas não vos abandonarei; mas por não poder ficar na terra convosco, vou tornar-vos aptos para estarem comigo no céu. “Se Eu te não lavar, não tens parte Comigo” (Jo 13:8). Aqui trata-se de água, e não de sangue, pois “Aquele que está lavado não necessita de lavar senão os pés, pois no mais todo está limpo” (Jo 13:10). A conversão que traz vida, bem como a salvação, são fatos consumados; mas se nos apega a sujeira do caminho, tanto no que se refere à comunhão, como ao nosso andar, a graça e a intercessão de Cristo como nosso Advogado estão ali para lavar nossos pés e nos tornar aptos, na prática, para estarmos com Deus no mesmo lugar para onde Cristo foi. Há, ou deveria haver, progresso no andar, mas no que concerne à imutável limpeza do novo homem, isto é inquestionável. Todavia, se eu não estiver vigilante, acabarei recolhendo a sujeira do caminho. Não posso ter tal coisa no céu, e nem na comunhão com tudo aquilo que lá está, e, na verdade, o que o Senhor diz é: ‘Não vos abandonarei por estar subindo para Deus e para a glória, e por isso devo manter-vos em condições adequadas à mesma glória, e, embora já estejam lavados (mas nem todos, pois Judas estava ali), devo manter-vos em ordem, restaurando-vos se porventura cairdes. Mas deveis estar vigilantes enquanto estou ausente.

Para mim é um conforto saber que todas as virgens acordaram a tempo, e creio que todos os Seus santos acordarão antes que o Senhor venha. A dificuldade que há para o coração que olha ao redor é que há muitos que não aceitam isto. Porém o verdadeiro serviço do Senhor está conectado à vigilância. Este é o estado ao qual estão ligados, tanto as bênçãos, como o banquete no céu.

Há mais uma coisa – servir enquanto Ele está ausente, e o resultado que advém disto é: “Em verdade vos digo que sobre todos os Seus bens o porá” (Lc 12:44). Como é dito de Israel, é muito melhor comer da flor da farinha, e isto na casa do Pai; mas se sofremos com Ele, com Ele reinaremos (2 Tm 2:12). Pelo serviço executado em Sua ausência sou habilitado a reinar, do mesmo modo que pela vigilância posso desfrutar do banquete celestial. O Senhor segue, então, fazendo menção daquilo que temos em Mateus 24:48: “O meu Senhor tarde virá”.

O ponto no qual o Senhor insiste com os discípulos acerca de vigiar e servir é: “Virei outra vez” (Jo 14:3). Esperai por Mim, como homens que esperam pelo seu Senhor. Esta deveria ser a característica deles como cristãos. Supondo que todas as pessoas desta cidade estivessem realmente vigiando, esperando pelo Senhor vindo do céu, sem que soubessem o momento exato em que Ele viria, você acha que a cidade toda não seria transformada? Certa vez alguém me disse que se todos cressem assim, o mundo não poderia seguir adiante. Na verdade, é o cristão que assim crê que não pode seguir adiante de modo mundano. Se as pessoas estivessem esperando pelo Senhor vindo do céu, todo o seu caráter e modo de vida seriam mudados. Posso ter a doutrina da vinda de Cristo, e não estar realmente esperando por Ele, mas não deveria ser achado amontoando dinheiro quando o Senhor viesse.

Abra agora em Filipenses 3. Paulo estava apostando uma corrida. “Esquecendo-me das coisas que atrás ficam, e avançando para as que estão diante de mim” (Fp 3:13). E como é que ele fala de Cristo no final deste capítulo? “Sede também meus imitadores, irmãos,… mas nossa cidade está nos céus, donde também esperamos o Salvador, o Senhor Jesus Cristo” (Fp 3:17, 20). A vinda do Senhor afeta todas as verdades do cristianismo. Cristo não está agora exatamente no Seu próprio trono. Ele está sentado agora, conforme Hebreus 10 (e também o Salmo 110), à destra de Deus, no trono de Seu Pai, conforme Ele próprio diz na promessa feita a Laodicéia (Ap 3:21). Em sua primeira vinda Ele resolveu, para os Seus, a questão do pecado, e estes agora não têm mais consciência de pecados; estão aperfeiçoados para sempre. E para os que esperam por Ele, voltará uma segunda vez sem pecado para salvação. Ele está nos céus aguardando até que Seus inimigos sejam postos por estrado de Seus pés. Por que é que Ele diz “Seus inimigos”? Porque Ele está sentado após haver terminado tudo o que precisava fazer para Seus amigos; isto é, para aqueles que creem n’Ele.

Acaso os seus pecados, leitor, já foram tirados da vista de Deus? Se ainda não, quando o serão? (1 Pe 2:24). Que você os deteste cada vez mais, está bem; mas se eles não foram levados sobre a cruz, quando serão? Pode você conseguir que Cristo morra outra vez? Pode você conseguir outro que o faça? Se a obra não está consumada, então nunca mais será consumada. Amados amigos, se a obra não estiver terminada, nunca estará. Mas está consumada, e portanto Ele diz que os adoradores que foram limpos dos pecados “nunca mais teriam consciência de pecado… Porque com uma só oblação aperfeiçoou para sempre os que são santificados” (Hb 10:2, 14).

Se agora você ler Colossenses 3, verá a mesma coisa em seu pleno resultado sendo prometida como nossa esperança. “Quando Cristo que é a nossa vida, Se manifestar, então também vós vos manifestareis com Ele em glória” (Cl 3:4). A primeira promessa que Ele deu aos discípulos ao partir foi que voltaria. ‘Não vos inquieteis, vou preparar-vos lugar. Não fiqueis intranquilos, não posso permanecer convosco, portanto devo levar-vos para estar Comigo lá em cima; e a primeira coisa é, “Virei outra vez e vos levarei para Mim mesmo” (Jo 14:3). Não se trata da morte de um de cada vez, mas da ressurreição dos mortos, e da transformação dos que estiverem vivos; de Sua real vinda para recebê-los, ressuscitados ou transformados, para que estejam junto com Ele onde Ele está; para sermos como Ele é e estarmos com Ele em glória.

E, mais uma vez, quando de Sua partida para ausentar-Se de Seus discípulos que foram deixados aqui, qual foi a última coisa que viram? Eles O viram subir diante de seus olhos, e os anjos que lhes disseram: “Por que estais olhando para o céu? Esse Jesus… há de vir assim como para o céu O vistes ir” (At 1:11). Sua vinda é parte integrante de todo o contexto da vida cristã.

Quais são as últimas palavras das Escrituras? “Certamente cedo venho. Amém. Ora vem, Senhor Jesus” (Ap 22:20). E o mesmo você encontra no inicio do mesmo livro, com um caráter de aviso e ameaça: “Jesus Cristo, que é a fiel testemunha, o Primogênito dos mortos, e o Príncipe dos reis da Terra… Eis que vem com as nuvens e todo o olho O verá” (Ap 1:5, 7). “Eu, Jesus, enviei o Meu anjo… Eu sou… a resplandecente estrela da manhã” (Ap 22:16). Agora entendo o que veem os santos que vigiam, e só eles. Não há estrela para ser vista quando o sol está no céu; eles veem a estrela da manhã enquanto é ainda madrugada, pois a noite é passada e o dia já vem. Aqui Ele chama a Si próprio “a raiz e a geração de Davi, a resplandecente estrela da manhã. E o Espírito e a esposa dizem: Vem” (Ap 22:16-17). Se a esposa entendeu o que é ser esposa de Cristo, ela deve desejar estar com o Esposo; não existe um amor autêntico a Cristo a menos que ela deseje estar com Ele. Abraão disse a respeito de sua esposa: “É minha irmã” (Gn 12:19), e então os egípcios – o mundo – a levaram para sua casa.

Devo apenas acrescentar que você? tem expresso aqui todo o círculo das afeições da Igreja. “O Espírito e a esposa dizem: Vem. E quem ouve, diga: Vem”. Isto é, o cristão que ouviu a palavra da sua salvação se junta a esse clamor. Então aqueles que estão sedentos por água viva são convidados a vir. Embora ainda não tendo o Esposo em glória, Os santos da Igreja podem dizer que têm a água viva, e podem assim chamar, “Quem tem sede, venha”, e então dirigir o chamado num caráter universal: “Quem quiser, tome de graça da água da vida”. Isto eles têm, embora ainda não tenham o Esposo. Vejo, então, que na Palavra de Deus os pensamentos, sentimentos, conduta, obras e afeições dos cristãos estão identificados com a vinda de Cristo. Tome tudo isso e você verá que está tudo identificado com a vinda de Cristo.

Veja a primeira epístola da João, capítulo 3:1-2: “Vede quão grande amor nos tem concedido o Pai… Amados, agora somos filhos de Deus, e ainda não é manifestado o que havemos de ser. Mas sabemos que, quando Ele Se manifestar, seremos semelhantes a Ele; porque assim como é O veremos”. Amados, somos predestinados para ser “conformes à imagem de Seu Filho” (Rm 8:29). É isto o que Deus tem proposto para nós. Quando é que seremos conformes à Cristo em glória? Quando Ele vier. Não é quando uma pessoa morre, e seu espírito vai estar com Cristo; pois então ele será como Cristo quando Este estava na sepultura; e não quero ser como Cristo quando Ele estava na sepultura. Mas se morrer, serei como Cristo neste aspecto, mas não é isso o que desejo, embora seja algo bendito. Quero ser como Ele em glória. Quando será isto? Quando Ele vier, irá transformar nossos corpos mortais, e conformá-los ao Seu precioso corpo; portanto aqui pode ser que não aparentemos o que vamos ser, mas quando Ele vier seremos como Ele.

Anote agora as consequências práticas que vêm sobre o homem que em sua fé tem sido instruído nos propósitos de Deus. “E qualquer que n’Ele tem esta esperança purifica-se a si mesmo, como também Ele é puro” (1 Jo 3:3). Sei que serei perfeitamente como Cristo na glória, no entanto quero ser o mais parecido possível com Ele enquanto aqui. Vocês veem aqui mais uma vez que as Sagradas Escrituras são explícitas em ensinar que também a santidade é sempre mencionada ao fato de sermos conformados a Cristo na glória. Meu padrão deve ser possuir essa conformidade com Cristo em glória, e nada mais. Há uma passagem já mencionada: “Para confortar os vossos corações, para que sejais irrepreensíveis em santidade diante de nosso Deus e Pai, na vinda de nosso Senhor Jesus Cristo com todos os Seus santos” (1 Ts 3:13). A perfeição do cristão é ser como Ele, quando Ele vier. O que também encontro, com respeito aos cristãos em 1 Coríntios 15:43: “Semeia-se em ignomínia, ressuscitará em glória”. Temos a bendita certeza que acompanha a verdadeira e segura esperança da primeira ressurreição e de seus resultados.

Seremos perfeitamente como Cristo quando formos levantados dentre os mortos. Daremos contas de nós mesmos, mas isso quando formos como a Pessoa a Quem devemos dar contas. A plena eficácia de Sua primeira vinda tem estado perdida, e por esta razão as pessoas não se sentem confortáveis quando pensam em Sua segunda vinda. Todavia para o santo, “Cristo as primícias, depois os que são de Cristo na Sua vinda” (1 Cor 15:23). Seria Cristo “as primícias” do ímpio? Certamente que não. Assim como a ressurreição de Cristo foi o testemunho público da aprovação, por Deus, de Cristo e Sua obra, a ressurreição dos santos será um testemunho da aprovação de Deus dos que estão em Cristo. Como encontramos em Lucas 20:35-36: “mas os que forem havidos por dignos de alcançar o mundo vindouro, e a ressurreição dos mortos, nem hão de casar, nem ser dados em casamento; porque já não podem mais morrer; pois são iguais aos anjos, e são filhos de Deus, sendo filhos da ressurreição” (Lc 20:35-36).

Será que alguém poderia me mostrar uma só passagem acerca de uma ressurreição geral? Não existe um tal pensamento nas Escrituras. Costuma-se citar Mateus 25 a este respeito, dizendo-se que os bodes e as ovelhas representam as duas classes de pessoas; mas então Ele terá vindo em Sua glória a este mundo. Ali Ele não está sentado no grande trono branco: diante do qual o céu e a Terra fogem. Nesta passagem Ele vem e senta-Se em Seu trono. Quando Ele vier, e sentar-Se ali, congregará todos os gentios – as nações – para julgá-las. É o julgamento dos vivos. Há ali três tipos de pessoas, e não dois; e não há nada de ressurreição. Você encontra as “ovelhas”, os “bodes”, e os “irmãos” (Mateus 25:40). Isso está tão longe de se tratar de uma ressurreição geral, que nem existe uma referência à ressurreição; trata-se de um assunto bem diferente. Além do mais, a questão ali é sobre como eles trataram Seus irmãos, e as prerrogativas de um julgamento assim não se aplicariam a noventa e nove por cento das pessoas julgadas, caso se tratasse de um julgamento geral. Aqueles que estiveram de posse do testemunho do reino antes que Ele viesse julgar os vivos, serão tratadas em conformidade com a maneira como receberam os mensageiros de Deus, mas serão só essas pessoas que entrarão naquele julgamento.

E agora o ponto que volto a tratar é este: A vinda do Senhor influencia e conforma a vida do cristão na sua totalidade. Você não pode separar coisa alguma de todo o curso da vida do cristão da vinda do Senhor Jesus; e não só da primeira, como também da segunda vinda. Ele já veio uma vez e, para os que O esperam, virá uma segunda vez para salvação. É verdade que Ele vem e habita em nós; mas estamos nos referindo às passagens que falam da vinda real. Tanto faz se você trata da santidade, ou do serviço; da conversão ou do ministério, ou ainda de uma pessoa que já morreu; tudo está conectado à vinda de Cristo. Ele avisa para que sejamos achados vigiando. Eu poderia citar outras passagens, mas já citei um número suficiente para mostrar que a vinda do Senhor está ligada a tudo na vida cristã. Quando O virmos como Ele é, então, e só então, seremos como Ele é, em conformidade com o propósito de Deus. E agora pergunto: Você está esperando pelo Filho de Deus vindo do céu?

O fato de Ele haver carregado os pecados de muitos é a única base de esperança para qualquer pecador; isto é, a obra terminada que nos capacita, pela fé, a olhar para Ele quando selados pelo Espírito Santo. Então, pergunto, o que estou esperando? Estou esperando pelo Filho de Deus vindo do céu. Será que você pode dizer: “Estou aguardando Cristo”? Não sei quando Ele virá. “Bem-aventurados aqueles servos, os quais, quando o Senhor vier, achar vigiando!” (Lc 12:37). Não pergunto a você se você entende a respeito da vinda do Senhor. Foi para esperar por Ele que eles se converteram. O que acordou as virgens foi: “Aí vem o Esposo!” (Mt 25:6). Será que você está verdadeiramente esperando pelo Filho de Deus vindo do céu? Você gostaria que Ele viesse hoje à noite? Pedro explica a razão da demora. Ele diz que é a Sua longanimidade para salvação, não querendo que alguns se percam (2 Pe 3:9). O que você pensaria se soubesse que Ele vem hoje à noite? Será que seria exatamente o que sua alma estaria desejando? Há pessoas que pensam que o Evangelho pararia de ser pregado se ficássemos esperando o Filho de Deus vindo do céu. Será que ao aceitar o testemunho de Deus de que viria o dilúvio, Noé parou de pregar? Longe disso, foi exatamente o que estimulou a sua pregação. Que o Senhor possa fazer com que estejamos prontos, para que, quando Ele vier, nos encontre esperando por Ele.

John Nelson Darby (18 de novembro de 1800 – 29 de abril de 1882) – Foi um estudante de Direito e pregador anglo-irlandês e figura de grande influência entre os “Irmãos de Plymouth”. Desenvolveu a doutrina do dispensacionalismo. Realizou uma tradução da Bíblia baseada nos textos hebraicos e gregos, chamada em inglês “The Holy Scriptures: A New Translation from the Original Languages” by J. N. Darby, também traduzida para o alemão e francês.