Este artigo visa a estimular os crentes ao serviço cristão. Certamente o Senhor Jesus deseja ver cada um dos Seus discípulos ocupados com o Seu serviço, seguindo o Seu próprio exemplo. Dividiremos o estudo assim:
- A chamada para o serviço;
- O serviço;
- Os requisitos para o serviço.
1. A Chamada Para o Serviço – O Senhor disse: “Vinde após Mim” (17). Ninguém pode servir o Senhor Jesus Cristo se não for um seguidor d’Ele. Muitas pessoas querem “cargos” na Igreja, querem trabalhar, mas não querem seguir ao Senhor; por vezes os responsáveis nas Igrejas dão responsabilidades a tais pessoas, pensando em incentivá-las a aceitarem a Cristo; outras vezes, pensam que ficarão ofendidas, se o serviço que desejam lhes for negado. Nada mais errado! Antes de servir, é preciso atender ao chamado de Cristo. Primeiro a conversão, depois o serviço. Ele nos chama, nos transforma, e depois nos dá serviço. Sem conversão, nem trabalho, nem contribuição financeira são aceitáveis.
Porém, todo o cristão verdadeiro é chamado para o serviço. A conversão do pecador não visa unicamente à sua libertação da pena do pecado, mas também a habilitação para uma vida de serviço a Deus. Antes da conversão ao Senhor, o pecador é escravo do pecado, mas, uma vez libertado deste, ele é feito “servo da justiça” (Rm 6:17-19), e, se antes, os seus membros eram tão ativos a serviço do pecado, quanto mais ativos deveriam ser agora a serviço da justiça! Se nos convertemos dos ídolos, é para servirmos ao Deus vivo e verdadeiro (I Ts 1:9).
Notemos que os primeiros homens que o Senhor chamou, não foram “os sábios segundo a carne, nem os poderosos, nem os de nobre nascimento” (I Cor 1:26), mas os humildes pescadores galileus. Este fato é animador para nós que não possuímos grande cultura secular, nem temos prestígio ou influência sociais.
Com isto não estamos dando razão aos que se jactam na sua ignorância, pois os discípulos do Senhor não eram, de modo algum, homens analfabetos. Não devemos, como fazem alguns, dar tanta ênfase ao preparo intelectual, como se este fosse tudo quanto um obreiro necessita no serviço do Senhor, mas também não devemos chegar ao cúmulo de menosprezar o valor da instrução secular. Uma boa preparação intelectual é de imensa utilidade ao serviço cristão, desde que aliada à piedade, simplicidade e humildade. Que ninguém se orgulhe, pois, nem na sua capacidade, nem na sua falta de capacidade intelectual. Deus pode usar a ambos para a glória do Seu Nome. Paulo era um intelectual, Pedro um pescador; ambos atenderam ao chamado do Senhor, e, pela Sua graça, tornaram-se pilares do cristianismo. E a Igreja em todos os tempos tem contado com homens de grande capacidade intelectual e também com homens de escassa instrução que no poder do Espírito Santo fizeram grandes proezas. O importante é que cada um ouça o chamado do Senhor e O siga.
2. O Serviço – Disse o Senhor: “Eu vos farei pescadores de homens” (17). Aquele era o serviço inicial que o Senhor lhes ia dar. Mais tarde Ele ampliou essa responsabilidade, pois as almas ganhas necessitariam de cuidado e instrução.
Que privilégio tem o cristão de ser um instrumento nas mãos do seu Mestre para a propagação da Sua mensagem. Se cada crente pensasse nisso, não haveria tantos que nada mais fazem do que assistir às reuniões (quando lhes convém) apenas por um costume religioso.
Muitos queixam-se de não receberem oportunidade de trabalhar na Igreja. Pois o serviço de evangelização pessoal está ao alcance de cada um. Todos nós podemos carregar conosco bons folhetos para serem distribuídos na condução, no trabalho, aos vizinhos e aos moradores do bairro. Não há quem não possa testificar do Evangelho a um amigo ou parente. Ganhar almas é um serviço honroso que o Senhor dá aos Seus discípulos, e sábio é quem com ele se ocupa (Pv 11:30).
Também há serviços na Igreja que devem ser feitos voluntariamente pelos seus membros. Somos condiscípulos, e temos o dever de cuidar uns dos outros, quer espiritual, quer materialmente. Há necessidade de procurar os faltosos, e animá-los, confortar os abatidos, visitar os enfermos e orar com eles e socorrer na medida do possível aos irmãos necessitados materialmente. Todos estes serviços são de grande valor e o Senhor os aprecia.
Queremos lembrar às Igrejas que ganhar almas é uma parte importante do seu serviço na terra. Igreja Evangélica não é aquela que assim se denomina, mas aquela que tem espírito missionário, que se empenha por todos os meios dignos ao seu alcance, em anunciar o Evangelho. “Ide, pregai”, disse o Senhor. Porém muitas Igrejas que se chamam evangélicas, restringem a sua atividade evangelística a alguns minutos de pregação uma vez por semana. Não promovem serviços de evangelização mediante reuniões ao ar livre e distribuição da Palavra de Deus de casa em casa, nem utilizam outros meios para evangelizar.
3. Requisitos Para o Serviço – Consideremos alguns requisitos para servirmos ao Senhor Jesus Cristo.
a) Disposição e desprendimento – Simão e André, logo quando o Senhor os chamou “deixaram imediatamente as redes e O seguiram” (18). Pouco depois, Tiago e João também deixaram o barco, o pai e os empregados, e “seguiram após Jesus” (20). Houve boa vontade e decisão. Nem todos os discípulos de hoje são chamados a deixar os seus afazeres materiais para servirem o Senhor, mas todos devem serví-Lo com a mesma disposição e desembaraço como o fizeram os primeiros discípulos. Infelizmente, muitos dos discípulos de hoje estão completamente presos aos seus interesses materiais, mas nem estes, nem laços de família deveriam ser obstáculos ao obreiro cristão (II Tm 2:3-4).
b) Diligência no trabalho – O Senhor chamou homens laboriosos, que estavam em plena atividade. Nenhum preguiçoso pode ser um obreiro cristão. Homens como Moisés, Gideão, Davi, os apóstolos, e muitos outros, foram tirados do seu trabalho secular para desempenhar a grande função espiritual que Deus lhes deu. Assim, o obreiro que queira trabalhar exclusivamente no Evangelho, deve antes provar que é capaz de ganhar o seu próprio sustento mediante trabalho honesto e industrioso; só então poderá ser sustentado pelo povo de Deus.
c) Comunhão com o Senhor – “Vinde após Mim”, disse o Senhor em 3:14. Lemos que o Senhor os chamou “para que estivessem com Ele e para que os enviasse a pregar”. Era preciso conhecê-Lo, aprender d’Ele, do Seu amor e compaixão, de Sua espiritualidade e submissão ao Pai, de Sua santidade e pureza, e de Sua paixão pelas almas. Mais tarde, quando aqueles homens humildes compareceram perante o Sinédrio e testificaram com tanta ousadia, os Magistrados reconheceram cheios de admiração que eles haviam estado com Jesus (At 4:13).
d) Habilidades para o serviço (Ef 4:11-16) – O Senhor disse: “Eu vos farei pescadores de homens”. De fato, é o Cristo ressurreto, vitorioso, glorificado Quem habilita os Seus servos para os vários serviços, concedendo-lhes dons “com vistas ao aperfeiçoamento dos santos para o desempenho do serviço, para edificação do corpo de Cristo”. Os apóstolos e profetas tiveram a sua parte na fundação da Igreja, da qual Ele é a pedra angular (Ef 2:20), e a sua época já passou. Os evangelistas ocupam-se especificamente com o trabalho de ganhar almas, enquanto os pastores e mestres, ocupam-se com o cuidado espiritual das almas. O evangelista e o pastor, geralmente, têm seu campo de trabalho fora da Igreja local, por isso, são omitidos da lista de dons de I Coríntios 12.
Embora nem todos possuam os dons mencionados nesta lista, cada crente tem alguma coisa a fazer. Em I Coríntios 12, onde vemos a Igreja local em ação, verificamos que todos têm participação. “A manifestação do Espírito é concedida a cada um, para o que for útil” (7), e os dons são distribuídos a um, a outro… a outro… e a outro… Como membros do corpo todos nós temos uma função. Disponhamo-nos, pois, diligentemente ao trabalho, em comunhão com o Senhor, e seremos habilitados a serví-Lo.
É o Senhor Quem nos prepara e habilita para o Seu serviço. Os discípulos foram preparados aos pés d’Ele, o mais simpático, paciente e amoroso dos mestres. É aos pés d’Ele, também, que você deve preparar-se em oração e estudo da Bíblia, particularmente, nas reuniões de estudo, com auxílio de literatura e todos os recursos ao seu alcance.
Se você é um jovem, não perca a oportunidade de preparar-se intelectualmente também. Moisés foi instruído “em toda a ciência dos egípcios” (At 7:22), e isto, embora não fosse o único elemento de sua preparação, pelo menos foi um dos elementos. Daniel era “instruído em toda sabedoria, douto em ciência e versado no conhecimento” (Dn 1:4), e foi assim que pôde testificar do grande Deus ao rei e aos grandes de Babilônia. Paulo era versado tanto na Palavra, quanto em letras humanas, tanto que foi considerado “homem de muitas letras” pelo governador Festo (At 26:24).
Aos líderes nas Igrejas lembramos a necessidade da distribuição do serviço entre os membros, evitando a concentração do serviço nas mãos de uns poucos e deixando inativa a grande maioria dos membros. Que se promovam campanhas de evangelização, que se formem grupos para distribuição de literatura, que se pregue regularmente, como verdadeiros “pescadores de homens”. Enfim, preparemo-nos para o serviço, e mãos à obra!
Luiz Soares – “Vigiai e Orai”, Edição 88, Abril a Agosto de 1999.