“Nos seus dias Judá será salvo, e Israel habitará seguro; e este será o seu nome, com o qual Deus o chamará: O SENHOR JUSTIÇA NOSSA” (Jr 23:6).
O tempo é curto. Mais um pouco, e o Senhor Jesus virá em Sua glória. O julgamento será estabelecido e os livros serão abertos. “E todas as nações serão reunidas diante dele”. “Para que cada um receba segundo o que tiver feito por meio do corpo, ou bem, ou mal”. Os maiores segredos de todos os corações serão revelados; “e os reis da terra, e os grandes, e os ricos, e os tribunos, e os poderosos, e todo o servo, e todo o livre” juntos comparecerão perante o tribunal, e verão uns aos outros face a face, e um a um prestará contas de si a Deus diante de todo o mundo. Está escrito e, portanto, é verdadeiro e certo que acontecerá. E o que cada um de vocês pretende dizer naquela hora? Qual defesa você preparou para fazer? Que resposta você propõe dar? Qual causa você apresentará do porquê a sentença não deveria ser pronunciada contra ti?
Verdadeiramente, amados, temo que alguns dentre vocês não sabem. Você ainda não pensou sobre isto; resolveu ponderar o assunto algum dia em breve; ou não está muito certo no presente, e formulou um plano ingênuo, que cederá diante do critério da Bíblia. Oh, que terrível é o seu caso! A vida é, de fato, incerta; o mais justo e o mais forte talvez seja o próximo a ser levado – não há como estabelecer um acordo com a morte – e mesmo assim você não consegue nos mostrar onde encontrar conforto e descanso. Você não sabe quão breve soará a última trombeta, e ainda está incerto da base de sua esperança. Certamente, tal coisa não deveria suceder.
Alguns de vocês já visitou um tribunal de justiça antes dos prisioneiros serem interrogados? Vocês não notaram quão ansiosamente cada um consulta seus amigos e advogados quanto à defesa que ele fará; quão diligentes e cuidadosos para não deixar de virar nenhuma pedra que possa cooperar para provar sua inocência? Isso considerando que a maioria deles está suscetível à não mais que alguns meses na prisão, ou alguns anos de exílio; ou talvez sejam liberados por uma brecha na lei, ou por falta de evidência. Vejam agora com que indiferença vocês agem em relação aos assuntos da alma. No grande dia, não faltará testemunhas; seus pensamentos, palavras e ações aparecerão escritas num livro um após o outro. Seu Juiz sonda os corações. E, apesar de todos estes fatos, muitos de vocês continuam a dormir como se a Bíblia não fosse verdadeira e não têm ideia de como ou por que escapar da ira e condenação de Deus.
Então ouçam-me, se vocês amam as suas vidas, enquanto me esforço para instrui-los a partir das palavras de meu texto. A grande pergunta a ser respondida é “como um homem pode ser justo diante de Deus? Através de quais meios posso me aproximar do Senhor?” e desejo nesta manhã, se assim o Senhor permitir, leva-los a entender:
Que você precisa de alguma justiça, ou não será salvo.Que você não possui justiça de nenhuma sorte por si mesmo e, portanto, não pode ser salvo por si mesmo.Que o próprio Senhor deve ser sua justiça, e então você será salvo.
Que o Deus Espírito Santo, que pode converter os mais velhos, os mais despreocupados, os maiores pecadores (falo sobre o que conheço pessoalmente), acompanhe as palavras que pronunciarei e as torne proveitosas para suas almas!
1. Primeiramente, vou mostrar que lhes é necessária alguma justiça. A Bíblia expressa de forma clara “a ira de Deus se manifesta contra toda a impiedade e injustiça dos homens”; “os injustos não herdarão o reino de Deus”; “que a minha alma morra a morte dos justos”, clama Balaão, “e seja o meu fim como o seu”; “o Senhor ama o justo, mas transtorna o caminho dos ímpios”; “o justo tem esperança em sua morte”; “e todos do Teu povo”, diz Isaías a seu Deus, “serão justos”; “os malditos irão para o tormento eterno, mas os justos para a vida eterna”; “cingi-vos com a couraça da justiça”, diz Paulo aos efésios. E como alguém presumiria que pode entrar no céu sem uma justiça!
Mas desejo expor a tolice daqueles que falam da misericórdia de Deus numa maneira vaga e relaxada. Homens constantemente expressarão, se exortados a pensarem na sua salvação, que “de fato sei que não sou o que deveria ser; transgredi a lei do Senhor diversas vezes, mas Ele é muito misericordioso, e espero ser perdoado”. Decerto, creio que a religião de muitos não passa disso. Este é o único ponto de que tomam posse; a única rocha sobre a qual constroem: pressione-os a apresentar a razão de sua esperança, e não haverá resposta; peça-lhes para explicar a base de sua confiança, e eles não conseguirão fazê-lo. “Deus é misericordioso” é o Alfa e o Ômega, o princípio e o fim, o primeiro e o último, de todo o seu Cristianismo. Agora, tenho a ousadia de afirmar, amados, que esta é uma grande ilusão; um refúgio de mentiras que não resistirá às Escrituras, e, mais do que isso, não durará nem um instante no fogo da provação e da aflição.
Vocês nunca ouviram que Deus é um Deus de perfeita santidade – santo em Seu caráter, santo em Suas leis, santo em Sua habitação? “Diga ao povo de Israel”, declara o livro de Levíticos, “sejam santos, porque Eu sou santo”. “Ele é Deus santo”, diz Josué, “Ele é Deus zeloso, que não perdoará as vossas transgressões nem os vossos pecados”; “Tu és tão puro de olhos, que não podes ver o mal”, proclama Habacuque. “Sem santidade nenhum homem verá ao Senhor”. E o livro de Apocalipse, referindo-se ao céu, assegura: “e não entrará nela coisa alguma que contamine”. “Que se chamará o caminho santo”, atesta Isaías, “o imundo não passará por ele”. E você nos dirá, diante de todos estes textos, que o homem, impuro, corrupto e contaminado; como o melhor de nós certamente é, passará no ardente julgamento de nosso Deus e entrará na Jerusalém celestial por simplesmente confiar na misericórdia de seu Criador, sem um único pano para cobrir suas iniquidades e esconder sua impureza natural? Não pode ser: as demandas da santidade e da misericórdia de Deus precisam ser reconciliadas, e vocês ainda não o fizeram.
Por acaso vocês nunca ouviram que Deus é um Deus de perfeita justiça, cujas leis não podem ser quebradas sem a devida punição, cujos mandamentos tem de ser cumpridos sob pena de morte? “Todos os seus caminhos justos são”, diz o livro de Deuteronômio, “Deus é a verdade, e não há nele injustiça; justo e reto é”. “Justiça e juízo são a base do teu trono”, clama Davi. “O Senhor é justo no meio dela”, declara Sofonias, “Ele não comete iniquidade; cada manhã traz seu juízo à luz; nuca falta”. “Não pensem que vim abolir a lei ou os profetas”, advertiu Jesus, “não vim abolir, mas cumprir. Digo-lhes a verdade: Enquanto existirem céus e terra, de forma alguma desaparecerá da Lei a menor letra ou o menor traço, até que tudo se cumpra”. Não penso que estes versos jamais foram declarados inúteis; não consigo encontrar nenhum lugar indicando que a lei foi deixada de lado e não precisa mais ser cumprida; e como, então, posso ensiná-los que é suficiente olhar para a misericórdia de Deus? Só há duas soluções, de acordo com a Bíblia: Uma é cumprir toda a lei por si mesmo; e a outra é cumpri-la através de outro. Mostre-me, se puder, um único texto que ensina que um homem pode ser salvo sem que as exigências da lei tenham sido satisfeitas. Um príncipe terreno, é verdade, pode perdoar e desconsiderar as transgressões de um homem; mas, Deus jamais muda. Acaso Ele fala e deixa de agir? Asseguro a vocês que a justiça e a misericórdia de Deus precisam ser reconciliadas, e vocês ainda não o fizeram.
É necessário ter com o que se vestir nas Bodas do Cordeiro. Você não diria que um assassino deve ser absolvido por ter pedido desculpas e por esperar ser perdoado; devem haver reparos quanto à justiça e santidade; não se podem ignorar as claras afirmações da Bíblia. Você deve possuir uma boa razão para apresentar sobre porque não ser julgado por todos os seus pecados e deslizes e terá que apontar algum motivo porque a punição de quebrar a lei de Deus não deverá recair em você; tem que haver satisfação dos seus pecados, ou você perecerá eternamente.
Você nos diz que não é o que deveria ser, mas Deus é misericordioso. Eu lhe respondo que isso não se manterá diante da Bíblia: O salário do pecado é a morte, aquele que quebra um dos mandamentos é culpado de todos. Deus o ama, mas terá Suas demandas totalmente pagas: sua dívida deve ser quitada ou por você ou por outro; escolha o que quiser, mas uma coisa é certa: o pagamento deve ser efetuado. Deus é, de fato, todo amoroso: Ele não tem prazer na morte dos ímpios; porém, não importa quão pequenas suas iniquidades sejam, elas não podem ser deixadas de lado até que o que a lei requer tenha sido satisfeito até o último centavo. De um modo ou de outro você tem que possuir justiça, caso contrário, está claro que você não pode ser salvo.
2. Prometi, em segundo lugar, mostrar-lhes que não possuímos justiça em nós mesmos, e, portanto, não podemos ser salvos por nós mesmos. Confio que não seja necessário me alongar neste ponto, então direi algumas poucas palavras para reforçar isto nas mentes de vocês.
Olhe para a lei de Deus e meça suas exigências. Ela não requer de todo homem uma perfeita e impecável obediência do começo ao fim, em pensamento, palavra e ação, sem uma única falha nos menores jotas e tils? E onde se encontra o filho de Adão capaz de reivindicar ‘tudo isto eu tenho feito’? Quem não é ciente de uma queda diária em tudo o que faz? Não me refiro tanto aos ladrões, mentirosos, adúlteros, beberrões ou coisa do tipo, pois estes caminham para o seu próprio destino, apoiados nos braços de Satanás. Falo, porém, daqueles que não vivem em vícios grosseiros; tomaria inclusive o caso do melhor cristão entre nós, e perguntá-lo-ia se pode mencionar sequer um dia quando não pecou de diversas formas. Oh, quanto ele contaria sobre seu vaguear nas orações, ou sobre a impureza em seus pensamentos, frieza em relação a Deus, falta de amor, orgulho, más disposições, vaidade ou mente mundana! E tudo isto, lembre-se, no coração de um daqueles que seguem o estreito caminho que leva à vida. Então como podemos crer, embora tudo nos persuada do contrário, que o homem possa comprar sua aceitação aos olhos de Deus? Tão verdadeiras são as palavras daquela esclarecida testemunha, o apóstolo Paulo, ‘pelas obras da lei nenhuma carne será justificada’.
Aproveito a oportunidade para responder àqueles fariseus, que levam os homens a crer que podem cooperar na obra da salvação por seu próprio desempenho. Não podem se submeter à ideia de que somos tão fracos naturalmente, e por isso buscam estabelecer sua própria justiça, de maneiras variadas.
Alguns nos dizem que arrependimento e reparação nos permitirá permanecer no grande dia, mas a Bíblia não o garante. Sem dúvida, nenhum de vocês entrará no reino de Deus sem estes; mas eles não tiram seus pecados nem resistem ao severo julgamento de Deus; não podem alargar aquele pequeno portão pelo qual vocês devem passar antes de entrar no caminho estreito, embora possam leva-los até lá; não podem apagar sequer uma página daquele livro negro onde suas iniquidades estão registradas. João Batista pregou o arrependimento, mas jamais disse aos seus ouvintes que isso os salvaria. Alguns alegam confiar em suas vidas bem gastas: nunca feriram a alguém; sempre fizeram seu melhor, e por isso esperam ser considerados justos. Amados, esta é uma banalidade miserável. Que eles nos mostrem um único dia no qual não quebraram a lei espiritual entregue no sermão do monte. O que? Jamais pensaram um pensamento indigno? Jamais olharam de forma impura? Jamais pronunciaram uma palavra maléfica? Jamais cobiçaram? Oh, o décimo mandamento, quão negligenciado parece ser – é listado junto com assassinato e adultério. Ou que nos informem de uma única hora na qual não deixaram de realizar algo dentro de suas capacidades; e prestarão contas por isso. Eles não podem fazê-lo; estão quietos; porém estas coisas estão escritas claramente na Bíblia. Não se torna evidente que não leem as Escrituras, ou negligenciam seus preceitos se as leem, e por isso, de qualquer forma, não estão fazendo seu melhor?
Alguns dizem esperar que sua sinceridade os mantenha seguros durante a provação. Talvez não tenham uma visão bem clara, mas sempre tiveram boas intenções, logo alimentam a esperança de serem aceitos. Não consigo encontrar nenhum lugar para estes no céu. Leio no livro de Reis que os sacerdotes de Baal clamavam ao seu deus metade do dia, e se cortavam com facas, segundo seus rituais, até que o sangue espirrasse neles. Isto era sinceridade e, no entanto, algumas horas mais tarde, Elias mandou que fossem mortos como idólatras destruidores da alma. Leio que o próprio Paulo, antes de sua conversão, era zeloso a Deus: pensava consigo mesmo que deveria fazer tudo quanto pudesse contra Jesus de Nazaré, aprisionando muitos santos, e mantinha excessivo ódio contra eles. Aqui estava sinceridade e seriedade; porém ouvimos ele mesmo expressar, após ter seus olhos abertos: ‘A mim, que dantes fui blasfemo, e perseguidor, e injurioso… Sou o menor dos apóstolos, o maior dos pecadores… Não sou digno de ser chamado apóstolo, pois persegui a Igreja de Deus’. Então parece que um homem pode ser sincero, e mesmo assim caminhar para o lugar de tormento.
Por último, alguns dizem cumprir todos os rituais e ordenanças da religião, e constroem sua reivindicação de justiça baseados nisso. ‘Não nos mandou Deus’, falam, ‘honrar Sua palavra, Sua casa, Seus ministros, Seus sacramentos? Tudo isto cumprimos, e Ele certamente nos aceitará’. Não vejo isto escrito. Mas bem me lembro que os judeus tinham abundantes cerimônias e observâncias; e encontrei diversos textos que parecem mostrar que os homens prestam bastante atenção a estas coisas, porém são abomináveis aos olhos de Deus. Ouça o julgamento de Samuel: ‘Tem porventura o Senhor tanto prazer em holocaustos e sacrifícios, como em que se obedeça à palavra do Senhor? Eis que o obedecer é melhor do que o sacrificar; e o atender melhor é do que a gordura de carneiros. Porque a rebelião é como o pecado de feitiçaria, e o porfiar é como iniquidade e idolatria’. Ouça a voz de Isaías: ‘De que me serve a mim a multidão de vossos sacrifícios, diz o Senhor? Já estou farto dos holocaustos de carneiros, e da gordura de animais cevados; nem me agrado de sangue de bezerros, nem de cordeiros, nem de bodes. Quando vindes para comparecer perante mim, quem requereu isto de vossas mãos, que viésseis a pisar os meus átrios? Não continueis a trazer ofertas vãs; o incenso é para mim abominação, e as luas novas, e os sábados, e a convocação das assembleias; não posso suportar iniquidade, nem mesmo a reunião solene. As vossas luas novas, e as vossas solenidades, a minha alma as odeia; já me são pesadas; já estou cansado de as sofrer. Por isso, quando estendeis as vossas mãos, escondo de vós os meus olhos; e ainda que multipliqueis as vossas orações, não as ouvirei, porque as vossas mãos estão cheias de sangue. Lavai-vos, purificai-vos, tirai a maldade de vossos atos de diante dos meus olhos; cessai de fazer mal. Aprendei a fazer bem; procurai o que é justo’. ‘Porque nunca falei a vossos pais’, diz o Senhor por Jeremias, ‘coisa alguma acerca de holocaustos ou sacrifícios. Mas isto lhes ordenei, dizendo: Dai ouvidos à minha voz, e eu serei o vosso Deus, e vós sereis o meu povo; e andai em todo o caminho que eu vos mandar, para que vos vá bem’.
Creio não ter sido inútil tomar tanto tempo para expô-los estas ilusões. São muito úteis de uma forma. Todas evidenciam como a consciência convence a todo homem que é necessário ter algo para apresentar diante de Deus. Agora, pretendo mostrar-lhes que não possuímos nada por nós mesmos; a doutrina pode soar dura e desagradável, mas são poucos os que não a aceitem numa hora importante de suas vidas, se jamais o fizeram antes. Quero dizer a hora da morte. Note quão ansioso quase todo homem se torna, quando Deus o permite ter domínio de seus sentidos. O dia do julgamento se revela na sua verdadeira luz. O homem se sente nu e vazio. Ele sabe que está prestes a ouvir aquela terrível pergunta, ‘o que tens a dizer, porque não deves perecer pela sua longa lista de pecados?’ e se ele não se equipou com a única resposta possível a ser dada, a visão de seus olhos não poderá ser diferente de aterrorizante, negra e sem esperança. Perguntem àqueles que foram levados à beira da morte por alguma doença se isto não é verdadeiro, e eles dirão a vocês. Resumindo, tanto as Escrituras como nossas próprias experiências provam completamente que nada do que fazemos resistirá ao exame de Deus; arrependimento, obras e serviços, todos necessários e úteis em si mesmos, são tão maculados, infectados e imperfeitos, que não podem nos justificar. Não temos justiça por nós mesmos, e, portanto, não podemos ser salvos por nós mesmos. ‘Todos nós somos como o imundo’, assevera Isaías, ‘e todas as nossas justiças como trapo da imundícia; e todos nós murchamos como a folha, e as nossas iniquidades como um vento nos arrebatam’.
3. ‘Mas o que devemos fazer?’, talvez vocês perguntem. ‘Você parece ter nos deixado sem esperança’. Primeiro nos disse que precisamos ter alguma justiça, e agora nos assegura que não a possuímos em nós mesmos. O que devemos fazer? Para onde nos tornaremos? O que você tem a nos dizer? Para quem olharemos?’. Graças a Deus, amados, por não ser obrigado a abandoná-los aqui. Não vou leva-los ao deserto e aterroriza-los para, então, não apontar nenhum caminho para a Canaã Celestial. Prometi, em terceiro lugar, mostrar-lhes como Deus pode ser um Deus justo e assim mesmo manifestar misericórdia ao justificar os mais indignos: e tudo isto está contido nas palavras de meu texto – ‘O Senhor’ deve ser ‘nossa justiça’.
Exponho a vocês um mistério de sabedoria e amor. O Senhor Jesus Cristo viveu da forma que deveríamos ter vivido, e sofreu aquilo que deveríamos ter sofrido; Ele tomou nosso lugar e se tornou nosso substituto tanto na vida como na morte, e tudo por causa de seres miseráveis, corruptos e ingratos como nós. Oh, não é seu nome devidamente chamado ‘o Senhor nossa justiça’?
Amados, devo permanecer neste ponto. É tão altamente importante ter uma visão clara disto, e Satanás faz tanto para impedir vocês de terem um olhar distinto, que preciso tentar desvendar diante de seus olhos, a fim de que estejam aptos a entender o que um ministro quer dizer quando os exorta a confiar no Senhor Jesus como sua justiça.
Considere: há duas coisas que precisariam ser feitas antes que um homem culpado pudesse ser salvo. A lei teria que ser cumprida, pois todos nós caímos; e a justiça teria que ser satisfeita, pois todos nós merecemos punição. E como isso foi realizado? Ouça! O Senhor Jesus Cristo, se compadecendo de nosso estado perdido, prometeu e se engajou em tornar-se nosso fiador e substituto; e quando chegou a plenitude do tempo, deixou a glória de Seu Pai e tomou a forma de servo aqui na terra, sendo gerado pela virgem Maria.
Desta forma, por uma obediência impecável à toda a lei, Ele estabeleceu uma perfeita e eterna justiça, e está tanto desejoso como pronto para dá-la a todos que n’Ele confiarem. E mais que isto: para completar Sua poderosa obra, Ele consentiu em oferecer-se em nosso lugar como vítima da ira de Deus, para sofrer ao invés de nós, e suportar a punição que nós merecíamos – e isto fez ao morrer na cruz. Foi ali que Ele satisfez as demandas da justiça. Foi ali que Ele pagou a pesada dívida escrita nos nossos nomes. Foi ali que Deus o Pai colocou sobre Ele todas as nossas iniquidades, e fez de Sua alma um sacrifício pelo pecado. Foi ali que Ele nos redimiu da maldição da lei, se fazendo maldito por nós. Aqui, então, vocês observam o plano de salvação oferecido a todo o mundo. A culpa do pecador que crê é afastada e colocada sobre Cristo, pois Ele carregou nossas transgressões, e todo o mérito da vida e morte de Cristo, e todo o valor de Seus sofrimentos, são passados ao pecador.
Note quão grande e gloriosa é esta troca entre Jesus e nossas almas: o Pai agora nos vê como membros de Seu querido Filho, em quem se compraz; Ele nos trata como se jamais tivéssemos pecado, como se nós mesmos tivéssemos cumprido toda a justiça; Ele olha para nós como um com Cristo, e nos reconhece como queridos filhos e herdeiros da glória eterna. Estou indo além das Escrituras? Penso que não. Ouça o apóstolo Paulo: ‘Àquele que não conheceu pecado, o fez pecado por nós; para que nele fôssemos feitos justiça de Deus’. Não são fortes estas palavras? Mas é a pura verdade. ‘Cristo foi considerado como um pecador e, logo, punido por nós; nós fomos considerados como justos e, portanto, glorificados n’Ele. Ele foi considerado como um pecador e, logo, foi condenado; nós somos contados como justos n’Ele e, portanto, justificados’, a lei de Deus foi satisfeita, e agora podemos ser salvos. O pecado foi punido, e agora pecadores podem ser libertos. Deus se mostrou um Deus justo, e ainda assim pode ser o Salvador de homens culpados.
Amados, não são maravilhosas estas coisas? Não são boas novas aos cansados e sobrecarregados? O próprio Senhor é a nossa justiça. Quem entre vós está gemendo sob o fardo do pecado, tremendo sob um senso de inúmeras transgressões? Não tema, mas venha a Jesus; Ele pagou sua dívida completamente; creia, e será liberto. Quem entre vocês é provado com diversas tentações, escorregando, tropeçando, caminhando na escuridão sem ver nenhuma luz, frequentemente pronto a dizer junto com Davi, ‘ora, algum dia ainda perecerei’? Não tema, mas olhe para Jesus; Ele assegurou a sua entrada no céu; Ele lutou e venceu a batalha por você. O Senhor é a nossa justiça. Essa será nossa defesa e súplica quando a terra e suas obras queimarem, e a trombeta soar, e os mortos forem revestidos de incorruptibilidade, e o Supremo Pastor vier julgar os filhos dos homens. Quem levantará acusação contra aqueles que se apegaram a Cristo? Poderá alguém alegar que eles não cumpriram tudo o que foi requerido? O Senhor, responderemos, é a nossa justiça; Ele é nosso substituto, nada fizemos, mas Ele tudo fez; Ele é o nosso tudo em todos. E quem é aquele que pode nos condenar? Pode a morte, o inferno ou Satanás tocarem em nós, e ousarem dizer que a justiça não foi satisfeita? O Senhor, responderemos, é a nossa justiça; de fato pecamos, mas Cristo sofreu; merecemos a ira, mas Jesus morreu e derramou Seu sangue para fazer expiação em nosso lugar. ‘Bem-aventurado’, clama o santo Davi, ‘o homem a quem o Senhor não imputa maldade’. ‘Regozijar-me-ei muito no Senhor’, clama Isaías, ‘a minha alma se alegrará no meu Deus; porque me vestiu de roupas de salvação, cobriu-me com o manto de justiça, como um noivo se adorna com turbante sacerdotal, e como a noiva que se enfeita com as suas joias ’.
Agora, preguei com muito pouco proveito, amados, se vocês não se perguntarem nesta manhã: “o Senhor é minha justiça ou não?”. Lembrem-se que este poderoso presente é oferecido a todos, mas colocado apenas nos que creem. A fé é a única mão que se veste de Cristo como justificação. Cristo é o único traje que pode cobrir sua natureza contaminada, e lhe apresentar imaculável perante Deus. Sem esta fé é claro que você não tem parte alguma nesta justiça. Não sei de mais importante questionário que eu possa propor; e ainda assim, temo, com tristeza, que muitos dentre vocês não pensarão que estou sendo sério, mas ao invés disso, suporão que a questão possa ser útil aos seus vizinhos, porém não tão necessária para vocês mesmos.
De fato, estou persuadido de que há bastante pessoas em todas as congregações que se enganam pensando estar num tipo de meia via. Para ser exato, não fingem estar entre as pessoas boníssimas, mas se entristeceriam de ser contadas como ímpias. Elas possuem um grande respeito pela religião, e pretendem levá-la mais seriamente um dia ou outro – talvez quando se casarem e tiverem seu próprio lar (relatam os mais jovens), ou quando não tiverem tantas preocupações e lutas em suas famílias e relacionamentos, ou quando envelhecerem (dizem os de meia idade), ou num futuro distante, ou quando adoecerem (expressam os mais velhos e grisalhos). Mas no meio tempo, continuam vivendo e se movendo num estado de mente confortável, tomando as promessas de Deus e todas as partes suaves dos sermões para si, e deixando as advertências aos não convertidos e despreocupados para os outros.
No entanto, de uma vez por todas, digo a estes, se houverem alguns aqui, que suas meias vias parecem justas aos seus próprios olhos; mas procurei nas Escrituras, e não as achei. Não consigo encontrar com mais de duas descrições de caráter: leio sobre o caminho largo e o caminho estreito, sobre os homens convertidos e os não convertidos, sobre o céu e o inferno, sobre os que estão em Cristo e os que não estão em Cristo, porém não encontro em lugar nenhum este caminho no qual você confia, e não hesito em lhe informar que no final você descobrirá que este nada mais é do que uma pequena parte daquela larga estrada que conduz à perdição. Não pense que desejo ferir seus sentimentos; mas desejo acordá-lo e convencê-lo da tolice desta sonolenta religião pela metade, a fim de mostrar-lhe a necessidade de se decidir seriamente pelo lado de Cristo para que você não se perca para sempre.
Declaro tudo isto como um aviso, e agora repito a simples pergunta a todo homem, mulher e criança aqui presente: “O Senhor é a sua justiça ou não?”. Sei que há dois partidos aqui. Um responderia, se for honesto “temo que não”, e o outro diria, “confio que sim”. Pretendo, portanto, concluir este sermão com algumas poucas palavras para cada uma dessas duas classes.
Primeiro, então, oferecerei algum conselho àqueles preparados para afirmar: “O Senhor Jesus é, nós confiamos, nossa justiça”. Exponho, e creio ser seguro fazê-lo, o fato de vocês terem feito uma boa confissão; mas gostaria que vocês sondassem e avaliassem se não estão enganando a si mesmos. Atente para que sua língua não assegure mais do que o seu coração recebeu e conhece; certifique-se de que sua vida e seus lábios estejam em total acordo. Mostre a todo o mundo que Aquele em quem você confia é seu exemplo não menos que sua justiça, e enquanto você espera por Sua segunda vinda, esforce-se diariamente para ser mais semelhante a Ele. Estude para ser santo, tal como Aquele que o chamou e lavou com Seu sangue é Santo. Que a justiça do Senhor não seja profanada através de você, que Jesus não seja ferido na casa de seus amigos. Pense em Seu amor, e que isto o constranja à obediência – por ser muito perdoado, ame muito. Acautele-se para que os inimigos do Senhor não tenham ocasião para blasfemar. Eles o estão observando, e você não pode se esconder. Sempre pergunte a si mesmo: “o que farei, como me comportarei, a fim de demonstrar gratidão Àquele que carregou meus pecados e me deu Sua justiça?”. Mas se o mundo disser: “o que fazem estas pessoas a mais que as outras”, e se aqueles que vivem com vocês não conseguem notar que estão próximos de Jesus; se vocês não apresentam nenhum fruto de nenhuma sorte; se vocês não são habitualmente e diariamente sóbrios, justos, santos, moderados, humildes, mansos, amáveis, vigilantes, fervorosos em espírito, servindo ao Senhor, famintos e sedentos de justiça; se vocês não têm nada disso, vocês são pouco melhores que o metal que soa e o sino que tine, e estão arruinando suas próprias almas, e pleitearão no nome de Jesus em vão no dia do Julgamento. O Senhor dirá “não vos conheço; vós jamais viestes a mim; não posso ver meu selo em vossas testas, sobre o qual meu servo Paulo falou: ‘qualquer que profere o nome de Cristo afaste-se da iniquidade’”. ‘Haverá choro e ranger de dentes’.
Só me resta agora endereçar palavras àqueles entre vocês que não podem dizer “o Senhor é a nossa justiça”. De fato, amados, a condição de vocês me perturba. Jamais consigo entender que argumentos vocês usam para anular os esforços do Espírito e para bloquear o formigamento de suas consciências. Na verdade, suspeito que nunca argumentem e nunca arrazoem; vocês fecham os olhos e tentam esquecer suas almas decadentes. Por acaso vocês não conhecem aquele verso da Bíblia que declara “os ímpios serão lançados no inferno, e todas as nações que se esquecem de Deus” – não os que ridicularizam, ou insultam, mas simplesmente todos os que se esquecem. E quanto àquele versículo: “como escaparemos, se negligenciarmos tão grande salvação?”. Não está escrito abusar, ou desacreditar, ou negar, mas simplesmente ‘negligenciar’, e isto, temo, é uma acusação da qual não podem desviar. Oh, pense na morte, talvez ela esteja à porta. Sua descuidada indiferença cessará, mas sem Cristo sentirá uma pontada naquela hora que poder algum jamais removerá. Pense na eternidade no inferno: nenhuma alegre companhia, nenhuma fofoca confortante, nenhuma festança à noite, nada a não ser imutável miséria, interminável tormento e indescritível aflição. Pense em seu julgamento: seu nome será chamado quando chegar sua vez, e você se apresentará perante milhões em assembleia – ministros, pai, mãe, esposa, filhos, parentes, todos lhe verão – e você terá que prestar contas de suas ações, e você sabe que será condenado. Mas quem dará o veredito? Não um anjo, nem mesmo Deus o Pai, mas o próprio Senhor – oh, que pensamento lacerante e terrível – o Senhor Jesus mesmo, cujo sangue e justiça você recusa neste momento, pronunciará sua condenação.
Estas coisas podem soar terríveis; talvez sejam tratadas como ridículas; mas está próximo o dia que trará todos a sensatez, e fará de todos sóbrios, e então descobrirão que são verdadeiras. Sabendo, portanto, dos terrores do Senhor, deixe-me persuadi-los a estar de acordo com o gracioso convite de nosso Salvador, e nunca descansarem enquanto não puderem dizer com seus corações “o Senhor é a minha justiça’.
Não conheço nada que possa impedir a salvação de vocês se forem desejosos e obedientes. Não consigo ver de que maneira sua felicidade na terra diminuiria. Vocês estão descontentes consigo mesmos, e os ofereço, no nome de Cristo, alegria, perdão e paz; vocês são pobres, e os ofereço insondáveis riquezas; estão nus, e os ofereço um manto imaculado com o qual se sentarão nas bodas do Cordeiro, e ninguém os lançará fora. Porém, lembrem, não os prometo nada além de hoje. ‘Eis aqui agora o tempo aceitável’. Até aqui venho, mas não posso dar nenhum outro passo em solo firme. Se rejeitarem o conselho de Deus agora, não prometo nem ao mais jovem de vocês outra oportunidade. Seu último lar pode ser fixado inalteravelmente antes de amanhã; a morte de amanhã pode interferir, ou Jesus pode vim para julgar, e seria tarde demais.
Vá para casa, e se você valoriza sua alma, faça das palavras do texto uma oração, e suplique ao Senhor para recebê-lo e ele se tornar sua justiça. Que assim seja, Senhor Jesus, venha depressa à cada coração. Amém e amém.
John Charles Ryle (10 de maio de 1816, Macclesfield – 10 de junho de 1900, Lowestoft – Inglaterra) – Sermão publicado no sétimo capítulo de “A Carreira Cristã”.
Fonte: Evangelical Tracts | Projeto Ryle – Anunciando a Verdade Evangélica.