Esta, a primeira das parábolas do Nosso Senhor, foi proferida em circunstâncias penosas. Os chefes dos judeus que há tempos vinham agindo de modo triste, chegaram agora ao ponto de atribuir o seu poder milagroso a Belzebu, a saber, ao príncipe dos demônios. Além disso, não poderiam ter ido em perversidade. Os chefes e o povo estavam em tal condição de alienação de Deus que as bênçãos prometidas a Israel não puderam vir naquele tempo. Desde então, o Salvador começou a usar a maneira enigmática de falar, que era entendida pela minoria piedosa, mas era obscura para a massa profana.
Como a nuvem nos dias de Moisés que ficou entre Israel e os Egípcios, as parábolas eram luz para uma e escuridão para outra.
O Salvador comparou-se a um semeador (Mt 13:3-8). Nisto podemos ver uma mudança da parte de Deus na sua maneira de tratar com os homens. Durante as épocas passadas, Deus procurava fruto dos homens e especialmente de Israel, como era realmente o Seu direito, mas Ele procurava em vão, porque a carne é incorrigivelmente má. A história do homem através dos séculos serve de prova disso. O homem violava a sua própria consciência, repudiava o testemunho das Suas obras; pisando a Sua lei debaixo de seus pés e matando os profetas que repreendiam as Suas obras más. Só restava assassinar o bem-amado Filho do Pai para encher completamente o cálice da iniquidade humana.
Deus já desistiu de procurar no homem alguma coisa que seja agradável aos Seus olhos. Ele está empenhado agora em semear a boa semente do Evangelho nos corações dos homens, para poder produzir, assim, o Seu próprio fruto. Esta obra Deus ainda está levando avante até nos nossos dias, mas o coração humano nem sempre está disposto a receber a boa semente da Palavra de Deus. O Senhor salienta isto e mostra que é por esta razão que a maior parte da semente que foi semeada, é desperdiçada. Os homens ouvem a boa palavra de Deus, mas não tiram proveito. Quatro classes de ouvintes são apresentadas: a interpretação do próprio Salvador torna bem claro o ensinamento.
Em primeiro lugar temos pessoas indiferentes, que ouvem mas não atentam, as suas mentes são tão distraídas que não tomam interesse. Como as aves do céu arrebatam o que foi semeado ao pé do caminho, assim Satanás tira destes até a lembrança das coisas que ouviram.
Depois, temos ouvintes que talvez desapontem mais do que todos: eles recebem logo a palavra com alegria e assim animam muito os que procuram o seu bem, mas não tem havido um verdadeiro arrependimento. Logo que as dificuldades surgem, abandonam a sua confissão de fé em Cristo. Essas são pessoas emocionais. São dispostas a chorar quando o Salvador lhes é apresentado, mas é apenas sentimento, nem a consciência, nem o coração foram tocados.
A terceira classe de ouvintes é comparada com o terreno onde havia ervas daninhas. A boa semente não podia brotar em tais condições. Estas são pessoas afadigadas e incluem tanto ricos como pobres. O rico, é tão ocupado com os seus bens e negócios que não tem tempo para os assuntos espirituais, e o pobre é sobrecarregado com os problemas e as dificuldades da vida. Nos dois casos as coisas terrenas ocupam o primeiro lugar e como resultado, a alma se perde.
Finalmente o bom terreno: aqui temos ouvintes que sentem o poder da palavra de Deus nas suas consciências, e, convencidos de sua culpa e ruína, arrependem-se e depositam toda a sua confiança no Salvador que morreu por seus pecados e ressuscitou. No caso destes vemos permanência e continuidade e é interessante ver entre os crentes verdadeiros como o fruto varia em quantidade: um produz cem, outro sessenta e outro trinta.
Bendito privilégio que nos cabe em obediência à ordem divina, cada crente um semeador de Sua palavra.
“Alimento para o Rebanho” – Periódico, 1970.