“E quase todas as coisas, segundo a lei, se purificam com sangue; e sem derramamento de sangue não há remissão” (Hb 9:22).
Lembro que quando vim a esse país com o Sr. Sankey em 1875, recebi uma carta de uma senhora que me dizia que tinha lido sobre nosso trabalho na Europa e estava muito animada e pensava que íamos ser usados nesse país, porem que ultimamente tinha lido um de meus sermões sobre a expiação e tinha renunciado a toda esperança. Dizia: “Onde Jesus nos ensina que somos salvos por Sua morte e sofrimentos? Isso Jesus nunca ensinou“. Sabem o que faço quando recebo uma carta assim? Vou a minha concordância bíblica para tirar mais textos e prego sobre a expiação mais que nunca – e se vou a algum lugar em que não creem na expiação, prego sobre ela mais do que nunca. A ideia de que Cristo não ensinou a expiação é estranha! Se vocês leem cuidadosamente o Evangelho verão que, em realidade, Cristo não ensinou nada mais que isso sobre o caminho da salvação.
Olhemos o princípio de seu ministério, quando desceu ao Jordão para ser batizado por João Batista. Quando se apresentou, o que lhe disse João? “Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo!” Os estudiosos da Bíblia nos dizem que a partir da instituição da Páscoa, em Israel não menos de um milhão de cordeiros eram sacrificados pelos judeus cada ano para a ceia da festa – contudo, jamais de fala de “cordeiros”, sempre do “Cordeiro”. Durante mil e quinhentos anos Deus havia estado educando os judeus respeito a esse ponto, e quando João começou sua pregação à naca, exclamou: “Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo”.
Que Cristo ensinou para Nicodemos? “E, como Moisés levantou a serpente no deserto, assim importa que o Filho do homem seja levantado; Para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna”. Ele nunca falou, creio, de Sua morte a não ser uma vez, sem mencionar o fato de que ia ressuscitar depois. Um ano antes de ser crucificado, a caminho de Carfanaum, disse a seus discípulos, segundo se encontra em Marcos 9:31 “Porque ensinava os seus discípulos, e lhes dizia: O Filho do homem será entregue nas mãos dos homens, e matá-lo-ão; e, morto ele, ressuscitará ao terceiro dia. Mas eles não entendiam esta palavra, e receavam interrogá-lo”. Isso um ano antes de Sua morte. Logo, em Marcos 10:32, lemos: “E iam no caminho, subindo para Jerusalém; e Jesus ia adiante deles. E eles maravilhavam-se, e seguiam-no atemorizados. E, tornando a tomar [consigo] os doze, começou a dizer-lhes as [coisas] que lhe deviam sobrevir, [Dizendo]: Eis que nós subimos a Jerusalém, e o Filho do homem será entregue aos príncipes dos sacerdotes, e aos escribas, e o condenarão à morte, e o entregarão aos gentios. E o escarnecerão, e açoitarão, e cuspirão nele, e o matarão; e, ao terceiro dia, ressuscitará”. Isso não dá a impressão de que morreria como mártir como se Ele não houvesse vindo ao mundo esperando morrer por um propósito especial. Marcos nos dá saber também da Sua transfiguração. Esse foi o concílio mais importante que se celebrou jamais sobre a terra. Estavam presentes nele Moisés, o grande legislador, e Elias, o grande profeta – Pedro, Tiago e João, que passaram a serem os fundadores da nova Igreja e da nova dispensação – Jesus, o Filho de Deus, e Deus o Pai. Marcos e Mateus nos deixam as escuras, não nos dizem nada do que foi dito, porem Lucas sim nos diz. Diz que falavam de “sua morte, que haveria de ter lugar em Jerusalém”. Esse foi o tema que interessava ao céu, e creio que é o mais importante que se possa discutir nesse mundo: o que Jesus Cristo veio fazer nesse mundo, o que sofreu, como sofreu e por que sofreu.
Não um mártir. Agora quero rejeitar uma afirmação de que Jesus morreu como mártir. O povo diz que Ele estabeleceu certos princípios que finalmente o levaram para cruz, que a cruz foi algo acidental, não pode evitá-la, e que morreu como mártir por seus princípios. Isso não contém uma palavra de verdade! Cristo não morreu como mártir, e a Bíblia não diz que morreria como tal em parte alguma. Ele colocou sua vida voluntariamente. Querem uma prova disso? Escutem suas próprias palavras: “Por isto o Pai me ama, porque dou a minha vida para tornar a tomá-la. Ninguém ma tira de mim, mas eu de mim mesmo a dou; tenho poder para a dar, e poder para tornar a tomá-la. Este mandamento recebi de meu Pai”. (João 10:17-18) Jesus Cristo não estava sujeito à Lei [3]. A Lei não tinha demanda alguma sobre Ele. Se ele tivesse quebrado a Lei teria tido que morrer por seu próprio pecado, porem Ele era um Cordeiro sem mancha nem contaminação, e morreu como nosso substituto de modo voluntário. Esse é o ensino de Jesus Cristo.
Quando Pedro sacou a espada e cortou a orelha do servo, o Senhor o repreendeu, e lhe disse que poderia ter chamado doze legiões de anjos se tivesse sido necessário. Um anjo uma vez matou a 85.000 homens – o que poderiam então ter feito 72.000? Crêem que os soldados tinham poder para levar Jesus ao Calvário e a Cruz? Com um gesto de Sua mão poderia tê-los destruídos a todos. Todo o poder de Roma, do inferno e da terra combinados não teriam podido tirar a vida do Filho de Deus. “Ponho minha vida e volto a tomar”. Ele se entregou voluntariamente. Morreu como nosso substituto e essa é minha esperança do céu. Não tenho outra esperança – não quero outra. Quando as pessoas me acusam de pregar um Evangelho antiquado, dou graça a Deus por esse elogio que me fazem. Prego o antigo Evangelho. Tem 6.000 anos. O Evangelho que prego tem sua origem no Éden.
Em Mateus 26:28 lemos: “Porque isto é o meu sangue, o [sangue] do novo testamento, que é derramado por muitos, para remissão dos pecados”. Só dois dos quatro Evangelho relatam o nascimento de Cristo, mas os quatro nos falam de Sua morte e sofrimentos. Marcos diz no capitulo 14, versículo 24: “Esse é meu sangue do pacto que é derramado em favor de muitos” (Lucas 22:20).
Logo depois de ter passado pela tumba e ter ressuscitado na manhã do Domingo da ressurreição, diz, em Lucas 24:26-27: “Porventura não convinha que o Cristo padecesse estas coisas e entrasse na sua glória? E, começando por Moisés, e por todos os profetas, explicava-lhes o que dele se achava em todas as Escrituras”. É dito em outro lugar, que cita dos Salmos, que tinha que sofrer e como tinha que morrer.
Redimido com o sangue. Em 1 Pedro 1:18 lemos: “Sabendo que não foi com coisas corruptíveis, como prata ou ouro, que fostes resgatados da vossa vã maneira de viver que por tradição recebestes dos vossos pais, mas com o precioso sangue de Cristo, como de um cordeiro imaculado e incontaminado”.. O ouro e a prata não podem redimir nossas almas. Como procurei mostrar, tínhamos a vida perdida. A morte tinha entrado no mundo com o pecado, e não existia nada, exceto o sangue, que poderia fazer expiação pela alma. Portanto, diz Pedro “Não sois redimidos com prata e ouro”. Se o ouro e prata pudessem nos redimir, não creem que Deus teria criado milhões de mundos cheios de ouro? Teria sido bastante fácil para Ele. Mas não somos redimidos com essas coisas corruptíveis, mas sim com o sangue precioso de Cristo. A redenção significa “ser comprado de novo”; e nós nos tínhamos vendido por nada, e Cristo nos redimiu, nos comprou outra vez.
— Como posso ser salvo”, você pergunta? Aceite ao Redentor, ao Senhor Jesus Cristo, e descanse em Sua obra consumada. Quando Cristo no Calvário disse “Está consumado”, esse grito foi do Vencedor. Ele tinha vindo para redimir ao mundo, e então o tinha feito, e feito sem preço de dinheiro! E Seu grito ao mundo ressoa ao longo dos tempos: “A todos os sedentos, vinde as águas, e aos que não tem dinheiro: Vinde, comprai e comei. Sim, vinde, comprai e sem preço, vinho e leite”.
Faz alguns anos um amigo meu ia pregar em um domingo, quando eu e ele vimos a um jovem numa carruagem diante de nós. Uma senhora de idade o acompanhava:
— Quem é esse jovem?” perguntei a meu amigo. – Vê esse bonito prado e essa terra, mas alem, com a casa que está nela?”. – Sim” lhe contestei. – O pai desse jovem o perdeu tudo com a bebida”… Meu amigo contou- me a história toda. O pai era um bêbado que dilapidou a propriedade e tinha deixado a esposa num asilo. – Esse jovem, seu filho, foi a trabalhar, ganhou dinheiro e regressou para comprar a casa e a terra. Agora vive com sua mãe na casa e a leva a igreja”.
Penso que essa é uma boa ilustração para mim. O primeiro Adão, no Éden, nos vendeu por nada – mas o Messias, o Segundo Adão, veio e nos resgatou, voltou-nos a comprar. O primeiro Adão nos levou a um “asilo”, por assim dizer – o Segundo Adão nos faz reis e sacerdotes para Deus. Isso é a redenção. Obtemos em Cristo o que perdemos em Adão e muito mais.
Os homens veem o sangue de Cristo com desprezo, porem logo chegará o dia em que os homens verão que o sangue de Cristo é mais valioso que todos os reinos da terra. Suponhamos que essa noite você precisam cruzar as portas da morte, e entrar pela borda do Jordão para atravessá-lo, sem esperança em Cristo. Supondo que você é um milionário, de que lhe serviria seus milhões? O sangue de Cristo seria para você mais valioso que toda a prata e ouro do mundo.
As Duas Vozes
O sangue fala com duas vozes: uma me fala de minha condenação, a outra, de minha salvação. Se eu rejeito o sangue de Cristo, clama para mim condenação – se o aceito, clama para mim perdão e paz. O Sangue de Abel clamou contra seu irmão Caim. O mesmo pode dizer-se dos dias de Cristo.
Quando Pilatos tinha a Cristo em suas mãos, disse aos judeus; “Que farei com Ele?” Eles gritaram: “Fora, crucifica!” E quando lhes pediu a quem deveria soltar por ser a Páscoa, a Barrabás ou a Cristo, eles contestaram: “a Barrabás”. Logo, quando perguntou: “Que, pois farei com Ele?” surgiu um clamor geral por toda Jerusalém: “Crucifica-o! Não queremos saber nada dele” Pilatos se voltou e lavou as mãos, e disse: “Inocente sou do sangue desse justo”, e eles gritaram: “Seu sangue seja sobre nós e nossos filhos”. Nós aceitamos a responsabilidade de sua morte. Nós aprovamos o ato. Crucifica-lhe, e que Seu sangue seja sobre nós e nossos filhos! Queira Deus que haja um clamor geral que diga “Que seu sangue seja sobre nós, mas não para nos condenar”.
Paz Por Meio do Sangue
Vamos agora a Colossenses 1:20: “E que, havendo por ele feito a paz pelo sangue da sua cruz”. Posso dizer-lhes que não há paz no mundo. Há muitos que são ricos, que são pessoas importantes e que não possuem paz. Não, jamais vi um homem que conhecia a paz sem tê-la conseguido no Calvário. “Justificados, pois, pela fé, temos paz para com Deus, por meio de nosso Senhor Jesus Cristo!” (Romanos 5:1). Uma vez o pecado coberto, a paz chega. Não há paz para o malvado – são como o mar agitado que não tem descanso. O Calvário é o lugar no qual se acha a paz: paz para o passado e graça para o presente.
Porem, há algo melhor ainda: “E alegrem-se na esperança da glória de Deus”. Alguns creem que quando chegam ao Calvário já possuem o melhor – mas existe algo melhor que lhes aguarda: a glória! Não sei se estão próximos dela, mas é possível que alguns logo serão levados diante da presença do Rei. Um olhar Seu será bastante para nos recompensar de todo o que tenhamos tido que carregar aqui. Sim, existe uma paz para o passado, graça para o presente e glória para o futuro. Existem três coisas que todo filho de Deus deveria ter, Quando os anjos nos trouxeram o Evangelho, eles proclamaram:
— Glória a Deus, paz na terra e boa vontade para com os homens”.
Isso é o que o sangue nos traz: cobre o pecado e o elimina, nos dá paz para o passado, graça para o presente e glória para o futuro.
Vamos agora para João 19:34: “Contudo um dos soldados lhe furou o lado com uma lança, e logo saiu sangue e água”. Sabemos que em Zacarias se predisse que se abriria na casa de Davi uma fonte para o pecado e para a impureza. Foi ai em João então que ela se abriu. O lado do Filho de Deus foi atravessado pela lança do soldado romano. Parece-me que esse foi o ato culminante da terra e do inferno: a culminação do pecado. Olhe ao soldado romano que empunha sua lança até ao próprio coração do Deus-homem. Que ato infame! Porem, o que é que ocorreu? O sangue cobriu a lança! Demos graças a Deus: o sangue cobre o pecado!
O mundo está agora em poder de um usurpador, porem Cristo logo o terá. O dia de nossa redenção se aproxima. Um pouco mais de sofrimento e Ele irá regressar e estabelecer Seu reinado e reinará sobre a terra. Ele vai rasgar os céus e Sua voz será ouvida. Irá descer do céu com um grito. Ele irá plantar seu cetro desde o rio até os extremos da terra. Os abrolhos e espinhos serão arrancados e o deserto se regozijará. Alegremo-nos também. Veremos dias melhores. A escuridão e o pecado serão varridos junto com a terra, que será descartada, e as ondas da morte e do inferno terão que retroceder… Oh, oremos para que o Senhor apresse Sua vinda!
Vamos agora ler Romanos 3:24: “Sendo justificados gratuitamente pela sua graça, pela redenção que há em Cristo Jesus”. O que Deus dá, o dá gratuitamente, porque Ele se agrada em fazê-lo. Notem essas palavras “Por meio da redenção que há em Cristo Jesus”. Depois, no capitulo 5, versículo 9, lemos: “Muito mais, tendo sido já justificados em seu sangue, seremos salvos da ira, por meio Dele”. O pecador é justificado com Deus por Sua graça incomparável, por meio do sangue de Seu Filho.
Justificado, isso é, como se nunca houvesse cometido pecado. Que coisa tão maravilhosa – nenhum pecado de que ser acusado! É como se alguém tivesse uma dívida e quando vai pagá-la, lhe fosse dito:
— Você não deve mais nada, tudo foi pago”. – Como? Como é possível? Eu comprei certas coisas aqui faz um tempo, porem não paguei a fatura, e quero fazê-lo agora”. – Você não deve nada”. – Porem, estou certo de que foi aqui que comprei isso e aquilo”. – Em meu livro de contas não há saldo devedor contra você; alguém veio aqui que o pagou tudo”.
Isso é a substituição. Eu sei quem pagou minhas dívidas espirituais. Foi o Senhor Jesus Cristo. Deus olha ao livro de contas: não há nada contra nós. Cristo foi levantado para nossa justificação. Ser justificado é um melhor trato do que ser perdoado. Suponhamos que você é detido por roubar 1.000 dólares, e você é processado e declarado culpado – mas suponhamos também que o juiz tem misericórdia e lhe perdoa: você até poderia sair do cárcere, mas com a cabeça baixa. Fui declarado culpado, e tenho que encarar ao mundo com minha culpa. Porem, suponhamos outra vez que você foi acusado de roubar e não foi possível se provar isso, e quando chega o dia do julgamento , se verifica que não há nenhuma prova contra você: foi justificado. Isso é uma grande diferença! Agora veja, Deus nos justifica por meio do sangue de Seu Filho. Isso é o que significa o sangue: o pecado é coberto, eliminado, tirado do meio: não existe nada contra nós. Não é isso boas notícias?
Apocalipse 1:5 “E da parte de Jesus Cristo, que é a fiel testemunha, o primogênito dentre os mortos e o príncipe dos reis da terra. Aquele que nos amou, e em seu sangue nos lavou dos nossos pecados”. Existem muitos que desejam ser salvos, mas que pensam que antes de sê-lo devem ser um pouco melhores. Se vocês esperam até que eliminem alguns de seus pecados, jamais serão salvos. Vocês não podem se libertar de nenhum pecado. Em vez de converterem-se melhores, irão se tornarem pior. Porem, graças sejam dadas a Deus que Ele nos ama, inclusive apesar de nossos pecados, mesmo antes de nos salvar de nossos pecados. “Ao que nos amou e nos libertou de nossos pecados com Seu sangue”. Nos amou primeiro – logo, nos libertou. Se tentarmos nos limpar a nós mesmos, não iremos fazer um trabalho satisfatório. O sangue nos cobrirá por inteiro com só que confiemos em Cristo. Quem acusará aos eleitos de Deus? Se Ele me há justificado, isso me basta.
Hinos Que Duram
Por que gostamos de cantar o velho hino:
Há uma fonte de sangue repleta Que sai das veia de Emanuel?
Por que irá perdurar entanto que exista a Igreja sobre a terra? Por que se ouve cantar por toda a Cristandade? Lembro como ele me alegrava a alma antes de eu me converter. Não podia dizer a razão disso. Graças a Deus que todo pecado é limpo nessa fonte. Encontrarão que esses hinos com o filo carmesim irão perdurar. Existe esse grande hino:
“Oh Cordeiro celestial, Foi ferido tu por mim, Paz, perdão, vida eterna Achei, Cristo, em Ti!”.
Esse nos fala do Cristo crucificado. Nunca será deixado de ser cantado enquanto dure a Igreja na terra. Logo, existe outro:
“Tal como sou, sem uma só escusa, Porque teu sangue deste em meu proveito, Porque me mandas que a teu seio volte Oh, Cordeiro de Deus, acudo e venho”.
Esse é outro que irá perdurar – nunca nos cansaremos dele. Seguirá sendo cantado enquanto a Igreja exista nessa terra, Lhes direi por que esses hinos são preciosos : o são porque nos falam do sangue.
Vejamos Hebreus 9:22 “E quase todas as coisas, segundo a lei, se purificam com sangue; e sem derramamento de sangue não há remissão”. Eu gostaria de perguntar aos que não creem no sangue:
― Que irão fazer com vossos pecados? Irão insultar ao Todo Poderoso oferecendo-Lhe o fruto de vosso corpo para expiá-los? Pode o homem expiar o pecado? Se houvesse aqui alguém dos que se burlam do sangue, quisera eu que nos reportassem o que é que irão fazer”.
Uma vez um senhor se dirigiu a mim e disse: “Se você tem razão no que diz, eu estou equivocado – se eu tenho razão, o senhor está equivocado”.
Vi que era um ministro e lhe disse: “Bem, nunca lhe ouvi pregar – se você me ouviu pode me dizer em que consiste a diferença entre nós dois: em que diferimos?”.
― Bom, você prega a morte de Cristo – eu prego Sua vida. Eu digo às pessoas que Sua morte não tem nada relativo com sua salvação. Você lhes diz que Sua vida nada tem haver com essa salvação e que é Sua morte somente a que pode salva-los. Eu não creio uma palavra do que o senhor diz”. ― Bem” respondi, “o que você faz com essa passagem: “O qual levou nossos pecados sobre Seu corpo no madeiro”? ― Nunca preguei sobre esse texto” foi a resposta.
O que você faz desse, pois: “Não sois redimidos com coisas corruptíveis, como prata ou ouro, mas sim com o sangue precioso de Cristo?”.
― Também nunca preguei sobre esse texto” me respondeu. ― Bem, o que você faz com esse: “Sem derramamento de sangue não há remissão de pecados?”. “Também nunca preguei sobre esse texto”, me respondeu de novo.
O que você faz com esse: “Mas ele, ferido por nossas transgressões, moído por nossos pecados, e o castigo de nossa paz foi sobre Ele?”. A resposta “Também nunca preguei sobre esse texto” ainda mais.
Então perguntei: “Sobre o que você prega então?”. Ele vacilou um pouco e, finalmente, disse: “Prego ensaios morais”.
― Você deixa de lado a expiação?” “Sim” me respondeu o pregador. ― Bem,” lhe disse “A mim me pareceria uma impostura se o fizesse. Não poderia entender ela. Eu me encontraria em uma falsidade – não saberia o que pregar. Ensaios morais sem Cristo, sem falar de Sua morte!”
O jovem me contestou: “Bom, me parece o mesmo às vezes”. Ele foi bastante sincero para confessá-lo. Sem a expiação, toda a pregação é um mito. A crucificação de Cristo é o fundamento de tudo. Se um homem não tem uma base sólida sobre o sangue, tudo quanto diz é avariado. “Sem derramamento de sangue não se faz remissão de pecados”.
Dirijamo-nos agora para Hebreus 10:11. Hebreus está cheio de sangue. “E assim todo o sacerdote aparece cada dia, ministrando e oferecendo muitas vezes os mesmos sacrifícios, que nunca podem tirar os pecados; mas este, havendo oferecido para sempre um único sacrifício pelos pecados, está assentado à destra de Deus”. Um sacrifício pelos pecados, para sempre! Ele se ofereceu como sacrifício a Si mesmo. Já não é necessário cordeiros agora, nem bezerros. O Sumo Sacerdote ofereceu-se a si mesmo. O sumo sacerdote de antes não podia sentar-se e descansar – sua obra jamais terminava. Porem, nosso grande Sumo Sacerdote ascendeu ao alto e sentou-se a destra do trono do Pai: a obra estava feita.
― Consumado és”, disse. Todos os tipos e sombras estavam cumpridos Nele, e agora desapareceram.
Creio que se um homem pudesse entrar no céu sem o sangue de Cristo, ele não seria feliz lá. Ele não poderia se unir ao grande cântico que ressoa em volta do trono: não poderia cantar o cântico de Moises e do Cordeiro – não poderia dizer que foi redimido pelo sangue do Cordeiro. Perceber-se-ia num canto, fora de tom com respeito ao resto; não estará em harmonia com eles, e preferiria não estar ali. Mas não poderia chegar lá. A única maneira é por meio do caminho novo e vivo que Cristo abriu.
Vamos a Hebreus 10:19 “Ora, onde há remissão destes, não há mais oblação pelo pecado. Tendo, pois, irmãos, ousadia para entrar no santuário, pelo sangue de Jesus, pelo novo e vivo caminho que ele nos consagrou, pelo véu, isto é, pela sua carne”. Os judeus, antes que Cristo morresse, tinham que ter um sumo sacerdote que intercedesse por eles. Esse tinha de entrar uma vez ao ano no lugar santíssimo com sangue para fazer intercessão – porem, desde que Cristo veio, nosso Sumo Sacerdote, não necessitamos de nenhum Arão que interceda por nós. Quando Cristo morreu, abriu um caminho novo e vivo. Nos fez a nós todos reis e sacerdotes. Lemos que o véu que se rasgou era Sua carne. Quando morreu na cruz, e exclamou: “Consumado és”, o véu do Templo se rasgou em dois. Deus o rasgou com Sua própria mão! Já não há véu entre Deus e o homem agora! Não necessitamos que ninguém interceda por nós. Cristo morreu, sim, e também ressuscitou. Nós somos todos reis e sacerdotes agora – podemos entrar diretamente, nós mesmo, no santo dos santos. Não precisamos que nenhum homem interceda por nossas almas. No momento em que um homem é salvo pelo sangue passa a ser um rei e sacerdote. Deus lhe chama “filho meu”. É um herdeiro do céu e da glória. É redimido pelo sangue – foi feito próximo pelo sangue. Consegue a vitória sobre o mundo, a carne e o diabo por meio do sangue.
Existe um versículo muito solene em Hebreus 10:28-29.
― Quebrantando alguém a lei de Moisés, morre sem misericórdia, só pela palavra de duas ou três testemunhas. De quanto maior castigo cuidais vós será julgado merecedor aquele que pisar o Filho de Deus, e tiver por profano o sangue da aliança com que foi santificado, e fizer agravo ao Espírito da graça?” Se um homem desprezava a lei de Moises o tiravam da cidade e o apedrejavam. Pecador, deixe-me perguntar-lhe algo: o que você está fazendo com o sangue do Filho unigênito de Deus? Digo-lhe que é algo terrível desprezar o sangue, rir e ridicularizar da doutrina do sangue. Preferiria cair morto detrás desse púlpito do que fazer uma coisa semelhante. Tenho calafrios ao ouvir alguns homens falarem dele com desdém.
Faz algum tempo apoderou-se de mim um solene pensamento que causou uma impressão profunda em minha mente. A única coisa que Cristo deixou de Seu corpo na terra foi Seu sangue. Sua carne e Seus ossos foram levados, porem quando ascendeu, deixou Seu sangue aqui embaixo. O que irá fazer com o sangue? Irá desprezá-lo, lançá-lo fora? Que Deus nos dê a visão do Cristo crucificado!
Ao viajar de local a outro por toda a Cristandade, tenho visto que um ministro que deixe bem clara essa doutrina obtêm fruto. Um homem que cobre a cruz, ainda que seja um intelectual, e atraia grandes multidões, não tem vida, e sua igreja não é senão um sepulcro branqueado. Àqueles que pregam a doutrina da cruz e tem em alto a Cristo como a única esperança de chegar ao céu para o pecador, e como o único substituto para o pecador, ou seja, que dão importância ao sangue, Deus os honra. Na igreja que se prega o sangue de Cristo, almas são salvas.
Que Deus nos ajude a dar importância ao sangue de Seu Filho. A Deus lhe custou muito dar Seu Filho, e vamos procurar que não chegue ao mundo a noticia de que ele está perecendo por falta Dele? O mundo pode prescindir de nós, mas não de Cristo. Preguemos a Cristo em tempo e fora de tempo. Vamos aos enfermos e aos que morrem e apresentemos ao Salvador que veio para buscá-los e salvá-los, que morreu para redimir-lhes. “Venceram pelo sangue do Cordeiro e a palavra de Seu testemunho”.
Uma vez mais, em Apocalipse 7:14: “E eu disse-lhe: Senhor, tu sabes. E ele disse-me: Estes são os que vieram da grande tribulação, e lavaram as suas vestes e as branquearam no sangue do Cordeiro”. Pecador, como você conseguirá que suas roupas sejam limpas se não as lavou no sangue do Cordeiro? Como lavarão elas? Pode fazê-las limpas?
Imploro do Senhor que ao fim todos possamos voltar ao paraíso de acima. Ali estão cantando o doce cântico da redenção. Que seja nossa sorte feliz unir-nos a eles. No máximo faltam só alguns anos para que estejamos ali cantando o doce cântico de Moisés e do Cordeiro. Porem, se tu morres sem Cristo, sem esperança, sem Deus, onde irás parar? Oh pecador, seja sábio, não despreze o sangue!
Um ministro do Evangelho já ancião, em seu leito de morte disse:
― Traga-me a Bíblia”. Colocando seu dedo sobre o versículo: “O sangue de Jesus seu Filho nos limpa de todo pecado”, e disse: ― Morro na esperança desse versículo”. Ele não confiava em seus cinquentas anos de pregação, mas sim no sangue de Cristo. Que Deus nos conceda que quando chegue o momento em que tenhamos que apresentar-nos diante do grande trono branco, nossas roupas estejam lavadas no sangue de Cristo que purifica! Amém. Dwight Lyman Moody – Sermão pregado no século XIX, depois de 1875, na Inglaterra. Conhecido como um dos mais influentes evangelistas do século XIX, fundador do Instituto Bíblico Moody e da Moody Press. O ‘Sapateiro’, apelido cunhado por ter trabalhado na sapataria de seu tio, dedicou sua vida à pregação apaixonada do Evangelho de Cristo e ao cuidados com as crianças em Chicago, onde chegou a ter mais de 1000 delas frequentando a escola dominical. A fama da escola dominical de Moody foi tão grande que o presidente americano Abraham Lincoln fez uma visita para ver de perto o grande trabalho feito pelo evangelista.
[3] No sentido de culpa e transgressão (N.T).