O Que Você Pode Saber?

Poderás descobrir as coisas profundas de Deus, ou descobrir perfeitamente o Todo-Poderoso? Como as alturas do céu é a sua sabedoria; que poderás tu fazer? Mais profunda é ela do que o Seol; que poderás tu saber?” (Jó 11.6-8).

Essas surpreendentes palavras vieram dos lábios de Zofar, o naamatita, um dos três amigos que chegaram para confortar o patriarca Jó em sua aflição. Esses homens respeitáveis, sem dúvida, possuíam boas intenções; e uma compaixão merecedora de todo elogio em um mundo frio e insensível. Porém eles não entenderam completamente o caso diante deles, antes provaram ser “médicos que não valem nada“. Eles apenas irritaram o pobre sofredor, acrescentando isso aos seus problemas. Não obstante, é inegável que eles falaram coisas sábias e excelentes, e a passagem que dirige este trabalho é uma delas.

Os versículos diante de nós contêm quatro questões profundas. Duas delas, certamente, nós não podemos responder, mas as outras duas podemos. Uma pequena e breve discussão de todo o assunto para o qual esse texto aponta parece adequada para o tempo em que vivemos.

Nossa sorte é lançada em um dia quando uma onda de incredulidade está passando sobre o mundo, semelhante a uma onda de febre, cólera, difteria ou praga. É inútil negar isso. Todo observador inteligente dos tempos sabe que é desta maneira. Em momento algum eu digo que o avanço da ciência necessariamente produz homens incrédulos. Nada está mais longe dos meus pensamentos. Eu recebi a visita da British Association to Southport no palácio episcopal da diocese de Liverpool, em Lancashire, e sou grato por toda a adição ao nosso conhecimento anunciada por seus líderes anualmente. Eu duvido que a formal, organizada e sistemática infidelidade no raciocínio é tão comum como muitos supõem. Porém, digo existir no ar desses tempos uma disposição para questionar tudo o que é revelado na religião, e para suspeitar que ciência e revelação não possam ser reconciliadas. A fé de muitos frequentadores de igrejas e cristãos professos parece fria, débil e torpe. Eles continuamente estão insistindo em objeções modernas e mesquinhas sobre a Escritura. “Estas e aquelas coisas na Bíblia são realmente verdadeiras? Não foram pessoas cultas e entendidas que nos disseram que não deveríamos acreditar neles?” Esse é o tipo de conversa nociva frequentemente ouvida em muitos alojamentos. [1] Os objetivos que tenho em vista neste trabalho são oferecer antídotos simples contra esse espírito cético, para mostrar a irracionalidade disso, para encorajar e revigorar o cristão, para fazê-lo ver a força da sua posição, para ajudá-lo a se livrar de um espírito duvidoso e para capacitá-lo a compreender o seu antigo credo mais firmemente do que nunca.

Em primeiro lugar e acima de tudo, um cristão sábio deve sempre admitir a existência de muitas coisas na religião bíblica que necessariamente não podemos entender completamente. O livro da revelação, o Livro de Deus, contêm muito do que, como o próprio Deus, não podemos “descobrir perfeitamente”.

O catálogo dessas coisas difíceis não é pequeno, e eu lhe oferecerei apenas os casos fundamentais. Eu mencionarei o relato mosaico da criação, a queda e a entrada do pecado no mundo, a doutrina da Trindade, a encarnação de Cristo, a expiação pelo pecado feita pela morte de Cristo, a personalidade e a obra do Espírito Santo, a inspiração da Escritura, a realidade dos milagres, o uso e a eficácia da oração, a natureza precisa do estado futuro, a ressurreição do corpo após a morte; em cada um desses assuntos, eu digo, há muito do que não podemos explicar completamente, porque está acima do que as nossas faculdades podem alcançar. No Cristianismo do senso comum, eu acredito, ninguém fingiria negar isso. A mais humilde criança poderia perguntar questões sobre esses assuntos que até o teólogo mais sábio da cristandade nunca poderia responder.

Mas qual é o problema? Isso quer dizer que cuidamos em não acreditar em nada desses assuntos e rejeitá-los por inteiro por que não entendemos tudo sobre eles? Isso é justo e razoável? Lidamos assim com os nossos filhos quando exigimos que eles comecem o estudo da matemática, ou de qualquer outro ramo da educação? Permitimos que nossos meninos digam: “eu não aprenderei nada até entender todas as coisas?” Não exigimos deles a confiança em muitas coisas, e que para começar basta simplesmente acreditar? “Falo como a homens sábios, julgai vós mesmos o que digo”.

A verdade clara é que a recusa em crer nas doutrinas cristãs porque são acima de nossas razões, por não podermos entendê-las totalmente, é uma entre muitas provas do natural orgulho e arrogância do homem. Somos todos, no nosso melhor estado, pobres, fracos, criaturas defeituosas. Nosso poder de dominar qualquer assunto, e perceber tudo ao redor dele, é extremamente limitado. Nossa educação raramente continua por mais de vinte anos, e é frequentemente muito rasa e superficial. Depois dos vinte e cinco anos a maioria de nós acrescenta pouco ao conhecimento. Mergulhamos em uma profissão na qual temos pouco tempo para pensar ou ler, e estamos absorvidos e distraídos pelos negócios e cuidados dessa vida. Quando chegamos aos setenta anos, nossas memórias e intelectos começam a falhar, e em poucos anos somos levados até nossas sepulturas e vemos a corrupção. E é provável ou racional supor que uma criatura como essa possa alguma vez entender perfeitamente o Eterno e Todo Poderoso Deus, ou suas comunicações feitas ao homem? Antes, não será certo que existirão muitas coisas sobre Deus e Sua revelação das quais o homem não pode, por sua própria natureza, compreender? Eu não quero insultar meus leitores pedindo uma resposta. Eu afirmo, sem hesitação, que um cristão nunca precisará ficar envergonhado de admitir a existência de muitas coisas na religião revelada das quais não entende completamente, e não finge poder explicar. No entanto, ele crê nelas completamente e vive nesta convicção.

Afinal, quando um cristão encontra um daqueles poucos homens da ciência que professa não crer em nada da religião a qual ele não entende completamente [2], faria bem se lhe perguntasse uma simples questão. Ele já investigou os fatos e doutrinas da Bíblia, as quais ele diz ser inacreditável, com o mesmo esforço cuidadoso que exerce quando usa seu microscópio, seu telescópio, seu espectroscópio, sua faca de dissecação, ou seu aparelho químico? Eu duvido disso. Aventuro-me a acreditar que se alguns cientistas infiéis examinassem o Livro de Deus com a mesma análise reverente usada diariamente para examinar o Livro da Natureza, eles achariam que as coisas “difíceis de entender” não são muitas e inescrutáveis como eles agora supõem, e que as coisas claras e fácies são um vasto campo o qual retribui ao cultivo. Que nós “não podemos descobrir perfeitamente o Todo-Poderoso” vamos sempre admitir. Porém nunca admitiremos descobrir nada e estar justificados em negligenciá-lo.

O segundo ponto que eu desejo apresentar é este: um cristão sábio deve sempre lembrar a existência de inúmeras coisas no mundo material ao nosso redor as quais não entendemos completamente. Há coisas profundas no Livro da Natureza, assim como na Bíblia. Nas páginas Livro da Natureza há assuntos difíceis e misteriosos, bem como no Livro de Deus. Em suma, existem coisas difíceis de compreender tanto na ciência quanto na fé.

Estou bastante certo de que os homens mais sábios e eruditos da ciência seriam os mais preparados para admitir a verdade que acabo de dizer. Se alguma coisa os tem caracterizado em cada época, tem sido sua profunda humildade. Quanto mais eles conhecem, mais confessam a extensão limitada de seu conhecimento. A memorável linguagem que é dita ter sido usada pelo Sr. Isaac Newton no fim de sua vida nunca deve ser esquecida: – “eu tenho sido nada mais que uma pequena criança levantando algumas conchas e pedras na costa do oceano da verdade”.

Quão pouco, para começar, o que sabemos dos céus que estão acima das nossas cabeças, ou da terra debaixo de nossos pés! O sol, a lua, os planetas, as estrelas fixas, os cometas, podem todos fornecer questões profundas as quais os mais sábios astrônomos não podem responder. No entanto, por tudo isso, quem, senão um tolo, poderia negar a obra de Newton, Halley [3], Herschel [4], de Arago [5] ou de Airey [6]? A idade do mundo em que vivemos, a data e a causa dos vários abalos que passaram muito antes do homem ser criado, a duração dos períodos entre cada mudança de clima e temperatura, qual geólogo sábio ousaria falar positivamente temas como esses? Eles podem especular, supor e propor teorias. Porém quantas vezes suas conclusões têm sido derrubadas! No entanto, quem ousaria dizer que Buckland [7], Sedgwick [8], Phillips [9], Lyell [10], Murchison [11] ou Owen [12] não tenham escrito nada digno de observação?

Quão pouco nós podemos explicar a ação de muitos venenos mortais, especialmente em caso de mordidas de cobra e hidrofobia! O vírus da mordida do cachorro louco muitas vezes permanecerá adormecido no sistema por meses, e depois se tornará ativo desafiando todo tratamento médico. Mas ninguém pode explicar o que é o vírus. São relatadas anualmente cerca de vinte mil mortes causadas por mordidas de cobra na Índia. Contudo, até hoje, a natureza precisa do veneno da cobra tem confundido todas as análises químicas, e uma vez recebido no corpo humano, os doutores mais hábeis acham que não podem prevenir a morte causada pelo veneno. Mas qual homem em seu juízo concluiria que a química e a medicina são indignas de respeito, e que Liebig [13], Fresenius [14], Hervey [15], Hunter [16], Jenner [17] ou Watson não conferiram benefício ao mundo?

Quão pouco os homens da ciência podem dar conta de todos os fenômenos da luz, do calor, da eletricidade, do magnetismo e da atividade química! Quantos problemas se encontram sob estas palavras “matéria, força, energia”, os quais ninguém pode resolver! Longe de eu desmerecer o extraordinário avanço que a ciência física tem feito nesta geração. Mas estou bem certo de que seus principais estudantes, de Faraday [18] para baixo, confessarão a existência de muitas coisas que ele não podem explicar.

Quão pouco nós sabemos sobre terremotos, erupções vulcânicas, furacões e epidemias! Eles vêm repentinamente, como a recente e terrível catástrofe em Ischia [19] e em Java [20], ou os eventos históricos em Pompéia [21] e Lisboa [22]. Eles causam imensa destruição de vida e propriedade. Porém porque eles vêm quando eles vêm, e que leis os regulam, de modo que os habitantes de um país possam estar preparados para eles, mesmo neste iluminado século XIX, nós somos totalmente e inteiramente ignorantes. Nós podemos apenas colocar nossas mãos em nossas bocas e ficarmos calmos. [23]

Quão pouco, para trazer o assunto a um ponto familiar, quão menos do que pouco, ou nada em realidade, podemos explicar da conexão entre as nossas mentes e os nossos corpos. Quem pode me dizer por que um sentimento de vergonha faz a face de uma criança ficar vermelha, ou um sentimento de medo faz a mesma face ficar pálida? Quem pode me dizer como minha vontade afeta os meus membros e como isso é o que me faz andar, mover ou levantar a mão sempre que eu desejar? Ninguém nunca me explicou isso, e ninguém nunca vai explicar. É uma das muitas coisas que confundem a toda investigação. [24]

Agora, o que diremos aos fatos que eu tenho apresentado? De que eles são fatos eu estou certo, nenhum homem de senso-comum negará. Se eu dissesse a um homem da ciência: “eu não acredito em nenhuma de suas conclusões, porque existem muitas coisas difíceis no Livro da Natureza as quais você não pode explicar,” eu estaria agindo muito tolamente. Eu não farei nada do tipo. Não tenho a menor simpatia com aqueles cristãos de joelhos fracos, os quais parecem pensar que ciência e religião nunca podem se harmonizar e que devem ficar sempre de cara feia e olhar desconfiado para o outro, como dois cachorros briguentos. Pelo contrário, eu sempre saudarei as descobertas anuais da ciência física com um caloroso bem vindo. Pelo contínuo progresso dos seus estudantes através do experimento e da observação, e pelo acúmulo anual de fatos, eu estou profundamente agradecido. Eu não tenho o menor receio de que a ciência alguma vez irá finalmente contradizer a Teologia Cristã (embora possa parecer fazer isso por uma temporada), se os estudantes da ciência forem apenas lógicos. Eu apenas temo que, no seu zelo, eles são aptos para esquecer o que é mais ilógico para traçar uma conclusão geral a partir de uma premissa particular, – para construir casas de teorias sem fundamentos. Estou firmemente convencido de que as palavras da boca de Deus e as obras de suas mãos nunca serão encontradas realmente em contradição uma com a outra. Quando eles aparecem para fazer isso, eu estou contente em esperar. O tempo desatará o nó.

Eu não esqueço que muitos filósofos jovens são achados falando das “Leis da Natureza”, e dizendo que elas não podem ser conciliadas com a Bíblia. Eles nos dizem que essas “Leis” são imutáveis, e que os milagres e as partes sobrenaturais da Revelação, as quais parecem contradizer as leis da natureza, são, portanto, inacreditáveis. Mas estes filósofos fariam bem em lembrar que não é de todo certo que conhecemos todas as Leis da Natureza, e que as mais altas e profundas Leis podem ainda não ter sido descobertas. De qualquer maneira, eles devem concordar que muitas das “Leis” existentes não eram conhecidas nem recebidas três ou quatro séculos atrás. Porém, certamente, se esse for o caso, podemos assumir convenientemente que muitas outras “Leis” ainda podem ser encontradas, e que muitos problemas os quais não podemos resolver agora serão resolvidos a seguir. [25]Duas coisas, no entanto, eu devo dizer antes de deixar esta parte do meu artigo.

(a) Por um lado, faço um apelo para os poucos homens da ciência que se desviaram do Cristianismo, e se recusam a crer devido às coisas difíceis nas quais sua crença exige que acreditem. Pergunto-lhes se isso é justo e correto. Nós não nos desviamos da ciência física por conter muitas coisas as quais eles próprios não podem explicar. Pelo contrário, oferecemos-lhes a ajuda de Deus, e desejamos sucesso para as suas pesquisas e investigações. Porém, em troca lhes pedimos para lidarem honestamente com o Cristianismo. Nós admitimos que ele contém dificuldades, como a ciência física; mas não podemos permitir que isso seja qualquer razão pela qual ele deveria ser rejeitado de modo geral.

(b) Por outro lado, eu faço um apelo aos cristãos tímidos cuja fé é abalada devido aos ataques que os homens da ciência às vezes fazem ao seu credo, e estão sempre prontos a lançar para baixo suas armas e correr. Eu pergunto-lhes se isso não é fraco, covarde e tolo? Ofereço-lhes a lembrança de que as dificuldades do homem cético da ciência são tão grandes quanto as do cristão. Rogo-lhes que permaneçam firmes e não tenham medo. Vamos francamente admitir a existência de coisas profundas e “difíceis de serem entendidas” em nosso credo. Porém vamos firmemente manter que isso não prova que ele não é verdadeiro e não é digno de toda aceitação.

III. O terceiro e último ponto para o qual pedirei a atenção dos meus leitores é este: enquanto é verdade que não podemos descobrir a perfeição do Todo Poderoso, não é verdade dizer que podemos descobrir nada em toda a religião. Pelo contrário, nós sabemos muitas coisas as quais são suficientes para fazer da incredulidade e agnosticismo indesculpáveis.

O que, então, nós sabemos? Deixe-me mencionar alguns fatos que nenhuma pessoa inteligente pode fingir negar.

(a) Encontramos a nós mesmos vivendo em um mundo cheio de sofrimento, dor, contenda e maldade, os quais o avanço da ciência, da aprendizagem ou da civilização não é capaz de prevenir. Observamos a nossa volta prova diária de que estamos todos, um após o outro, partindo deste mundo para a sepultura. Humilhante como é este pensamento, estamos todos morrendo diariamente, e esses corpos, pelos quais nós tomamos dores para alimentar, vestir e confortar, devem ver a corrupção. É o mesmo em todo o globo. A morte vem para todo homem e mulher igualmente, de todo nome, nação, povo ou língua; nem hierarquia, nem riquezas, nem intelecto, podem conceder isenção. Pó nós somos e ao pó voltaremos. De qualquer maneira, sabemos disso.

(b) Encontramos, além disso, que em todo o mundo a vasta maioria da humanidade tem um estabelecido e enraizado sentimento em vigor de que esta vida não é tudo, que há um estado futuro e uma existência além da sepultura. A ausência desse sentimento é exceção. Lá ele está. Assíria, Egito, Grécia, Roma, Hindustão [26], China, México e as tribos pagãs mais escuras, como uma regra geral, estão de acordo nesse ponto, por mais estranhas e diversas que sejam suas ideias de Deus, religião e alma. Alguém me dirá que não sabe disso?

(c) Encontramos, além disso, que a única coisa a qual tem sempre capacitado homens e mulheres a esperarem sem medo ansiosamente pelo futuro, e tem dado a eles paz na vida e esperança na morte, é a religião trazida ao mundo cerca de mil novecentos anos atrás por Jesus Cristo, na qual Ele mesmo é o sol, o centro, a raiz e o fundamento. Cristo, eu digo enfaticamente, Cristo e sua Divindade, Cristo e sua morte expiatória, Cristo e sua ressurreição, Cristo e sua vida no céu. Sim! Muito da religião de Cristo, da qual diversas pessoas nos dizem não receber devido aos mistérios e dificuldades do seu credo, produziu a marca moral mais profunda na humanidade que tem sido produzida desde que o homem foi criado. Nada chamado religião, quer o Paganismo Clássico, Budismo, Confucionismo ou o Maometismo já produziram efeitos nas consciências e condutas que possam ser comparados por um momento com os efeitos produzidos pelo Cristianismo. As mudanças ocorridas no mundo antes e depois de Cristo, e as diferenças atuais entre as partes do globo onde a Bíblia é lida e onde ela não é conhecida são fatos grandes e evidentes os quais nunca têm sido explicados. As vidas mais santas e as mortes mais felizes, vistas na terra por dezoito séculos, têm sido o resultado da teologia sobrenatural da Bíblia, da fé e obediência a Cristo, e da história da cruz. Eu desafio qualquer um a negar isso.

(d) Encontramos, acima de tudo, que o Fundador Histórico do Cristianismo, o próprio Jesus Cristo, é um grande fato acessível ao mundo há dezoito séculos, e ainda sempre tem confundido completamente todos os esforços dos infiéis e não cristãos de explicá-lo. Nenhum escritor cético já deu resposta satisfatória à questão “Quem foi Cristo? De onde ele veio?” A pureza super-humana da Sua vida confessada mesmo por homens como Rousseau e Napoleão [27] ; a sabedoria super-humana dos Seus ensinos; o mistério super-humano da Sua morte; o inexplicável incidente da Sua ressurreição; a inegável influência que Seus apóstolos obtiveram devido às suas doutrinas, sem ajuda de dinheiro ou armas; todas essas simples questões da história demandam a atenção de todo homem honesto que realmente deseja investigar o grande tema da religião. São fatos incontestáveis nos anais da história do mundo. Um impedimento a todos os que ousariam negar isso.

Agora o que diremos a esses fatos? Que são fatos, eu penso, ninguém de inteligência média pode possivelmente negar. Eu asseguro que eles formam uma massa de evidência a favor do Cristianismo a qual não pode ser negligenciada seguramente por qualquer mente honesta. “Que poderás tu saber?” disse Zofar. Eu respondo: sabemos o suficiente para justificar todo cristão repousando sua alma calma e confiadamente na revelação que Deus nos deu de si mesmo e de Cristo na Bíblia. Essa revelação é apoiada por tal enorme massa de evidência provável que podemos seguramente confiar ser verdade. Respondo, além disso, que “sabemos” o suficiente para nos mandar exortar cada cético a considerar seriamente, como um homem prudente, se ele não está ocupando uma posição muito perigosa e insustentável. Todas as probabilidades estão contra ele; e as probabilidades, na vasta maioria das coisas, são as únicas guias de escolha e ação. Ele não pode dizer que o testemunho de dezoito séculos é tão fraco e indigno que não merece atenção. Pelo contrário, isso é tão forte que, se ele não pode explicar de modo satisfatório, deveria ou baixar as armas da sua incredulidade, ou confessar que não está aberto à razão. Em uma palavra, ele não está disposto a ser convencido. Ele fechou os seus olhos e está determinado a não abri-los. Nosso Deus pode dizer bem, “Se não ouvem a Moisés e aos profetas, tampouco acreditarão, ainda que algum dos mortos ressuscite”. Ele muito bem “estava admirado da incredulidade deles” (Lucas 16:31; Marcos 6:6).

Agora, concluirei este artigo com duas observações gerais as quais recomendo à atenção de todos que o leem.

Por um lado, deixe-me tentar mostrar as verdadeiras causas da vasta quantidade de incrédulos deste tempo presente.

Que há uma boa quantidade de incrédulos nessa época é inútil negar. O número de pessoas que não frequentam nenhum lugar de culto e que parecem não ter religião é muito considerável. Uma espécie vaga de ceticismo ou agnosticismo é uma das doenças espirituais mais comuns dessa geração. Ela nos encontra a cada momento e surge subitamente em cada empreitada. Como a praga Egípcia dos sapos, ela faz seu caminho em cada família e casa, e não parece ter como manter isso fora. Entre altos e baixos, ricos e pobres, cidade e campo, Universidades e cidades industriais, castelos e casas simples, você encontrará continuamente alguma forma de incredulidade. Já não é uma peste que anda na escuridão, mas uma mortandade que assola ao meio dia. Ainda assim, isso é considerado inteligente e intelectual, e uma marca de uma mente pensante. A sociedade parece levedada com isso. Aquele que declara sua crença em tudo contido na Bíblia deve decidir, em muitas companhias, ser sorrido desdenhosamente, e ser achado um homem fraco e ignorante.

(a) Agora não há dúvida de que, como eu já disse, o quartel-general da incredulidade em algumas pessoas é a cabeça. Elas recusam aceitar a qualquer coisa que não possam entender ou pareça acima da razão. A Inspiração, os Milagres, a Trindade, a Encarnação, a Expiação, o Espírito Santo, a Ressurreição, o Estado Futuro, todas essas poderosas verdades são vistas com fria indiferença e como pontos discutíveis, se não absolutamente rejeitados. “Podemos inteiramente explicá-los? Podemos satisfazer suas faculdades racionais sobre eles?” Se não, eles devem ser desculpados se permanecem na dúvida. Aquilo que eles não podem compreender completamente, dizem-nos não poder acreditar completamente, e então eles nunca observam o Domingo, nunca mostram nenhuma religião enquanto vivem, embora, por estranho que pareça, apreciem ser enterrados de forma religiosa quando morrem.

(b) Mas enquanto eu admito isso, estou igualmente certo de que com alguns a real sede da incredulidade é o coração. Eles amam os pecados e os hábitos de vida que a Bíblia condena, e estão determinados a não abandoná-los. Eles tomam refúgio a partir de uma consciência preocupada tentando persuadir a eles mesmos de que o velho Livro não é verdade. A medida do seu credo é a sua afeição. Tudo aquilo que condena as suas inclinações naturais, eles se recusam crer. O famoso Lord Rochester, antes um devasso e infiel, mas no fim um homem verdadeiro arrependido, é recordado por ter dito ao Bispo Burnet, próximo do seu fim, “Não é a razão, mas uma vida má que é o grande argumento contra a Bíblia”. Um verdadeiro e pesado ditado! Muitos, eu estou persuadido, professam não crer, porque sabem que se cressem deveriam abandonar seus pecados favoritos.

(c) Por último, mas não menos importante, com o maior número de pessoas o quartel-general da incredulidade é a preguiça, a vontade indolente. Eles não gostam de nenhum tipo de problema. Por que deveriam negar a si mesmos, e se esforçarem pela leitura bíblica, oração, observância do Dia do Senhor e vigilância diligente sobre os pensamentos, palavras e ações, quando, depois de tudo, não é bem certo que a Bíblia é verdadeira? Isso, eu tenho pouca dúvida, é a forma de incredulidade que prevalece mais frequentemente entre os jovens. Eles não são agitados por dificuldades intelectuais. Eles não são muitas vezes escravos de quaisquer concupiscências ou paixão especial, e vivem toleravelmente vidas decentes. Mas no fundo nos seus corações há uma relutância em se decidir e ser decidido sobre qualquer coisa na religião. Então se deixam levar pela correnteza da vida como peixes mortos, flutuam impotentes, e são levados para lá e para cá, dificilmente conhecendo o que creem. E enquanto eles recuariam de lhe dizer que não são cristãos, estão sem qualquer firmeza de caráter em seu Cristianismo.

Agora, quer a cabeça, o coração ou a vontade esteja em falta, é algum conforto lembrar que, certamente, há provavelmente menos de real raciocínio incrédulo do que aparenta ser. Milhares, podemos estar certo, em seu íntimo não acreditam em tudo o que dizem com seus lábios. Muitos dizeres céticos são nada mais que um artigo emprestado, apanhado e recontado por aqueles que o dizem, porque soa inteligente, enquanto, na verdade, essa não é a linguagem do seu homem interior.

Sofrimento, enfermidade e aflição, frequentemente expõem o estranho fato que os tão chamados céticos não são céticos em tudo, e muitas falas céticas surgem meramente de um desejo de parecer inteligente e de ganhar aplausos temporários de homens inteligentes. Não questiono a existência da imensa quantidade de incredulidade nos dias de hoje; mas que muito disso é mero espetáculo e pretensão, a meu ver, é tão claro como o sol do meio dia. Nenhum homem, penso eu, pode fazer o trabalho pastoral, e aproximar-se das almas, visitar os doentes e atender os moribundos sem chegar a essa conclusão.

O conselho de despedida que ofereço aos corações céticos é simplesmente este. Deixe-me implorar para que você lide honestamente com sua alma quanto aos seus pecados secretos. Você está certo de que não existe maus hábitos, luxúria ou paixão, as quais, quase imperceptível a você mesmo, gostaria de saciar se não fosse por algum receio remanescente? Você está bastante certo de que suas dúvidas não surgem de um desejo de se livrar de restrição? Você gostaria, se pudesse, de fazer algo biblicamente proibido, e está procurando razões para desconsiderar a Bíblia. Oh! Se esse é o caso de qualquer um dos meus leitores, desperte-se para o senso de seu perigo! Quebre as cadeias que estão se fechando gradualmente à sua volta. Arranque o olho direito se for necessário, mas não seja um servo do pecado. Repito que o amor secreto a qualquer prazer vicioso é o real começo de uma vasta quantidade de infidelidade.

O conselho de despedida que ofereço aos céticos preguiçosos é este. Deixe-me implorar para que vocês lidem honestamente com suas almas sobre o uso de meios para adquirir conhecimento religioso. Você pode dizer, com toda a verdade, que realmente se esforça para descobrir o que é verdade? Não se envergonhe de orar por luz. Não se envergonhe de ler algum livro importante sobre os Credos e Confissões de sua própria igreja, e, acima de tudo, não se envergonhe de estudar regularmente o texto da sua Bíblia. Estou persuadido de que, nesses dias, milhares não sabem nada sobre o Livro Santo o qual afetam desprezar, e são inteiramente ignorantes da real natureza do Cristianismo do qual eles fingem não poder acreditar. Não deixe que este seja o caso com você. Aquela famosa “dúvida honesta”, a qual muitos dizem ser melhor que “metade dos credos”, é uma coisa bonita sobre a qual falar. Porém me atrevo a uma forte suspeita de que muito do ceticismo dos dias de hoje, se peneirado e analisado, seria encontrado brotando de uma completa ignorância das evidências primárias do Cristianismo.

A outra observação final que farei é esta. Eu tentarei explicar a razão porque muitos cristãos professos são continuamente amedrontados e abalados em suas mentes por dúvidas sobre a verdade do Cristianismo.

Eu tenho uma impressão muito forte de que esse é o caso de muitos. Suspeito da existência de milhares de guardadores do dia do Senhor e frequentadores de igrejas cristãs que repudiariam com indignação a acusação de ceticismo, e ainda são constantemente atribulados sobre a verdade do Cristianismo. Algum livro novo, palestra ou sermão surge a partir da caneta de homens como Darwin ou Colenso [28], e de uma vez só essas pessoas dignas estão assustadas e em pânico, e correm de clérigo a clérigo para derramar as suas ansiedades e medos, como se a própria arca de Deus estivesse em perigo. “Podem estas ideias novas ser realmente verdade?” eles clamam. “Devemos realmente abandonar o Velho Testamento, o dilúvio, os milagres e a ressurreição de Cristo? Ai! Ai! O que devemos fazer?” Em suma, como Acaz, “se moveu o seu coração, e o coração do seu povo, como se movem as árvores do bosque com o vento” (Isaías 7:2).

Agora o que é a causa dessa prontidão em ceder às dúvidas? Porque tanto abalados sobre a fé de dezoito séculos, e amedrontados fora dos seus juízos por ataques os quais não abalam as evidencias do Cristianismo mais do que o arranhão de um alfinete abala as grandes Pirâmides do Egito? A razão é logo dita. A resposta se encontra em poucas palavras. Grande parte dos cristãos modernos é inteiramente ignorante das evidências do Cristianismo, e das enormes dificuldades da infidelidade. A educação da vasta maioria das pessoas nesses assuntos é miseravelmente escassa e superficial, ou, de qualquer modo, não é educação. Nem um em cem frequentadores de igreja, provavelmente, já leu a página de Leslie, Leland, Watson, Butler, Paley [29], Chalmers, M’Ilvaine, Daniel Wilson, Porteus ou Whately. Não é de admirar se as mentes de pessoas como essas são como uma cidade sem muros, e inteiramente incapaz de resistir a esses ataques da mais comum infidelidade, quanto menos do refinado e polido ceticismo desses últimos dias.

O remédio para esse estado de coisas é óbvio e simples. Todo cristão professo deveria armar sua mente com algum conhecimento elementar das evidencias da religião revelada e das dificuldades da infidelidade, e então ser pronto para dar razão para a fé que ele professa. Ele não deveria meramente ler e amar sua Bíblia, mas ser capaz de dizer a qualquer um porque ele acredita que a Bíblia é a verdade. Ministros deveriam ocasionalmente pregar sobre evidências. Foi um dos conselhos do grande homem Cecil para um clérigo “Em seus sermões nunca esqueça os infiéis”. Escolas, faculdades e Universidades que tem qualquer pretensão de serem cristãs nunca deveriam omitir completamente as evidências em seu esquema de instrução para os jovens. Em suma, se nós queremos que a próxima geração retenha firmemente o Cristianismo, devemos fornecer-lhes armadura defensiva.

Com essas duas observações eu fecho o meu artigo. Graças a Deus! Nós viajamos para um mundo onde não há ignorância, ceticismo ou dúvida. Nós veremos em breve como temos sido vistos, e conheceremos como temos sido conhecidos. Ai! Que despertar permanece para muitos no momento em que o ultimo folego é desenhado! Não há incredulidade na sepultura. Voltaire agora sabe se existe um Deus que odeia o pecado; e David Hume agora sabe se há um inferno sem fim. A criança de dias, meramente morrendo, adquire um conhecimento que o filósofo mais sutil, enquanto na terra, professa sua inabilidade de alcançar. O Hotentote [30] morto sabe mais do que o Sócrates vivo. O verdadeiro cristão pode olhar para aquele mundo futuro calmamente, confiadamente e sem medo. Aquele que tem Cristo em seu coração, a Bíblia em sua mira, está em pé sobre uma rocha e não tem causa para temer. “Portanto, meus amados irmãos, sede firmes e constantes, sempre abundantes na obra do Senhor, sabendo que o vosso trabalho não é vão no Senhor”. (1 Coríntios 15:58). Se não podemos “descobrir o Todo Poderoso em perfeição”, podemos saber o suficiente para nos dar paz na vida e esperança na morte. O que nós “sabemos”, retenhamos firmemente.

Uma coisa finalmente é certa. Se nós “CONHECEMOS” pouco, podemos FAZER muito. Não está escrito, “se alguém quiser fazer a vontade dele, pela mesma doutrina conhecerá se ela é de Deus, ou se eu falo de mim mesmo”. (João 7:17)? – “As coisas encobertas pertencem ao Senhor nosso Deus, porém as reveladas nos pertencem a nós e a nossos filhos para sempre, para que cumpramos todas as palavras desta lei”. (Deuteronômio 29:29).

John Charles Ryle – 1° bispo da diocese da Igreja da Inglaterra em Liverpool | Evangelical Tracts, Projeto Ryle – Anunciando a Verdade Evangélica.

NOTAS:

[1] Nos dias do Bispo Ryle muitos acadêmicos ingleses, por influência alemã, começaram a analisar os textos bíblicos de forma cientifica, analisando somente as estruturas dos textos, os documentos achados por arqueólogos e outros tipos de mecanismos que não levavam em conta o texto bíblico como autoritário em si mesmo. Isso levou ao surgimento do movimento chamado “Alta Critica”, que contestava a fidelidade dos textos bíblicos com relação as intenções e modos como os autores sagrados compilaram a Bíblia (Nota do Revisor). [2] Deve-se notar o contexto desse texto, a sociedade vitoriana onde era respeitável ser cristão, mesmo que nominalmente (nota do Revisor). [3] Edmond Halley (1656 — 1742) foi um astrônomo e matemático britânico, célebre por ser o descobridor do cometa Halley, em 1696. [4] Sir William Herschel (1738 —1822) foi um astrônomo e compositor alemão naturalizado inglês; ficou famoso por sua descoberta do planeta Urano, assim como de duas de suas luas (Titania e Oberon). [5] François Jean Dominique Arago (1786 —1853) foi um físico, astrônomo e político francês. [6] Sir George Biddell Airy (ou Airey) (1801 — 1892) foi um matemático e astrônomo britânico. Foi Astrônomo Real Britânico, de 1835 a 188. Estabeleceu Greenwich como localização do primeiro meridiano. [7] William Buckland (1784 — 1856) foi um teólogo, geólogo e paleontólogo. Ele fez a primeira coleta e descrição completa de um dinossauro, nomeado megalossauro. [8] Adam Sedgwick (1785 — 1873) foi um geólogo britânico. Foi um dos fundadores da geologia moderna. [9] John Phillips (1800 — 1874) foi um geólogo e naturalista britânico. [10] Sir Charles Lyell (1797 — 1875) foi advogado e geólogo britânico. Sua obra “Principles of Geology” foi o trabalho geológico mais influente no meio do século XIX. Lyell foi defensor do uniformitarianismo, teoria de que a terra foi moldada praticamente inteiramente por forças lentas agindo por um longo período de tempo, e influenciou Charles Darwin na sua teoria das espécies, mesmo que Lyell não apoiasse a ideia da seleção natural como causa da evolução. [11] Sir Roderick Impey Murchison (1792 — 1871) foi um geólogo escocês. [12] Sir Richard Owen (1804 — 1892) foi biólogo, anatomista comparativo e paleontólogo britânico. É considerado depois de Charles Darwin o segundo mais significativo naturalista da era vitoriana. Owen foi o primeiro a sugerir o termo dinossauro (lagarto terrível) para indicar os répteis de ossos gigantes que encontrara no sul da Inglaterra. [13] Justus von Liebig (1803 — 1873) foi um químico e inventor alemão. [14] Carl Remigius Fresenius (1818 — 1897) foi químico alemão, especialista em química analítica. [15] Provável referência a William Harvey (1578 — 1657) foi um médico britânico que pela primeira vez descreveu corretamente os detalhes do sistema circulatório do sangue ao ser bombeado por todo o corpo pelo coração. [16] Provável referência a John Hunter (1728 — 1793) foi um cirurgião escocês. [17] Edward Jenner (1749 — 1823) foi um naturalista e médico britânico conhecido pela invenção da vacina da varíola. [18] Michael Faraday (1791 —1 867) foi um físico e químico inglês. Suas contribuições mais importantes e seus trabalhos mais conhecidos trataram dos fenômenos da eletricidade, da eletroquímica e do magnetismo. [19] Terremoto que aconteceu em 28 de julho de 1883 na cidade de Casamicciola, na ilha de Ischia, Itália,, de 5,8 na escala Richter. [20] Em 27 de agosto de 1883, a erupção do vulcão Krakatoa, em Java, destruiu 165 cidades e matou mais de 30 mil pessoas (Fonte: Guia do Estudante Abril). [21] A erupção do Vesúvio em 79 foi uma das mais conhecidas e catastróficas erupções vulcânicas de todos os tempos. [22] O Terramoto de 1755 em Lisboa, ocorreu no dia 1 de novembro de 1755, resultando na destruição quase completa da cidade. Foi um dos evento mais emblemáticos do século 18 e mais mortíferos da história. [23] [Essa nota é do editor desse original desse texto, a Drummond Tract “logo após a morte do Bispo Ryle em 1900]. A ciência avançou desde que o Bispo Ryle escreveu essas linhas: ainda seu raciocínio é valido para hoje. A teoria bacteriana ou dos Germes das doenças não esclareceram todo o mistério relacionado com a sua origem e natureza. Novamente, no que diz respeito à constituição definitiva da matéria e força, as conclusões realizadas até recentemente pelos homens da ciência têm sido derrubadas pela descoberta do notável metal rádio e o estudo de seus fenômenos. Por fim, as convulsões mais recentes, vulcânicas e sísmicas, que ocorreram em St. Pierre, San Francisco, e Messina, têm com enorme perda de vidas, provando que o progresso da ciência ainda deixa a raça humana tão indefesa como sempre na presença desta classe de calamidade. [24] Deve-se lembrar que Ryle escreveu isso no fim do século XIX, e como ele bem diz no texto todo, a ciência não conhece todas as páginas do livro da Natureza mas aos poucos ela tem avançado algumas páginas (Nota do Revisor). [25] A seguinte página de Carlyle “Sartor Resartus” contém tantos pensamentos úteis sobre os milagres e as chamadas leis da natureza que não peço desculpa por dar-lhe aos leitores deste artigo, e recomendar isso a atenção deles. Dando isso eu não devo ser suposto como um admirador indiscriminado do escritor ou do seu estilo peculiar.

“Mas não é um milagre simplesmente uma violação das Leis da Natureza?” Pergunte a muitos. Quem me responde por essa questão nova, O que são as Leis da Natureza? Para mim, talvez, o levantar de um dos mortos não foi uma violação dessas Leis, mas uma confirmação; foi alguma Lei muito mais profunda, agora pela primeira vez penetrada, e por Força Espiritual, como também as demais foram todas exercidas sobre nós com a sua força material.

“Aqui, também, alguns poderiam perguntar, não sem espanto, ‘Por qual motivo poderia um que pode fazer o ferro flutuar, vir e declarar, portanto, que pode ensinar religião?” Para nós, verdadeiramente, do século dezenove, tal declaração foi inapta suficiente, a qual, no entanto, para os nossos pais, do primeiro século, era completamente significativa.

‘Porém não é a Lei mais profunda da natureza que ela seja constante?’ Clama uma classe iluminada. ‘Não é a Maquina do Universo fixa para mover leis inalteráveis?’ Provável o suficiente, bons amigos; ou melhor, eu também devo crer que o Deus quem os antigos homens inspirados afirmam ser ‘sem mudança ou sombra de variação’ nunca muda de fato; que a Natureza, que o Universo, os quais ninguém a quem isso tanto agrada pode ser impedido de ligar uma Máquina, fazendo ela se mover pelas regras mais inalteráveis. E agora de você, também, faço uma velha interrogação, ‘Quais dessas mesmas regras, formam o completo estatuto do livro da Natureza, pode ser possível?’.

“Eles estão escritos em nossas Obras de Ciência’ diz você; ‘Nos registros acumulados de experiência do homem”? ’ Estava o homem com sua experiência na Criação para ver como tudo se passou? Têm de algum modo indivíduos profundamente científicos que já mergulharam a fundação do Universo, e medidos todas as coisas lá? O Criador os tomou dentro de seu conselho, que eles leem sua planta incompreensível de tudo; e dizem ‘Isto está marcado nele e nada mais que isso? ’ Ai! Ninguém! Esses indivíduos científicos não têm lugar, mas onde também estamos, temos visto alguns palmos mais profundos do que vemos na profundidade que é infinita, tanto sem fundo, como sem costa.

“Sistema da Natureza! Para o homem sábio, amplo como é sua visão, a natureza permanece de profundidade bastante infinita, de expansão bastante infinita; e toda experiência dela se limita a poucos séculos computados e milhas quadradas medidas. O curso das fases da natureza, nesta nossa pequena fração de um planeta, é parcialmente conhecido por nós: Mas quem conhece do que os cursos mais profundos dependem, de que maneira infinitamente o nosso epiciclo gira em torno do maior ciclo (de causas)? Para Minnow cada recanto, seixo, qualidade e acidente das suas pequenas rachaduras nativas pode se tornar familiar; mas o Minnow entende a maré do oceano e correntes periódicas, ventos alísios, monções e eclipses lunares; por todas as quais a condição desse pequeno mundo é regulamentada, e pode de tempo em tempo (não miraculosamente o suficiente) ser bastante alterada e revertida? Tal Minnow é homem; a enseada deste Planeta Terra, seu oceano todo imensurável, suas monções e correntes periódicas o misterioso curso da Providência de era em era!’’. [26] Hindustão: antiga denominação para região do subcontinente indiano. Incluía toda a região situada entre as repúblicas da Geórgia, Irão, Paquistão e China e o Oceano Índico [27] A linguagem de Rosseau sobre Cristo, referida nesse sermão, é tão notável que penso que ela deve ser proveitosa para dar-lhes inteiramente:

“É possível que Ele, de quem a história do Evangelho registra, não ser mais que um mero homem? Ele fala no tom de um entusiasta, ou de um sectário ambicioso? Que brandura, que pureza em suas maneiras! Que tocante graça nas suas instruções, que elevação em suas máximas! Que profunda sabedoria em seus discursos! Que presença de mente! Que engenho e que justiça em suas respostas! Que governo de suas paixões! Que preconceito, que cegueira ou má fé deve ser que se atreve a comparar Sócrates, filho de Sofrónisco, com o filho de Maria! Que diferença entre esses dois! Sócrates morrendo sem dor, sem desgraça, facilmente sustenta sua parte até o fim. A morte de Sócrates filosofando tranquilamente com seus amigos é a mais suave que poderia ser desejada: a de Jesus expirando em seus tormentos, injuriado, escarnecido, amaldiçoado por todas as pessoas, é a mais terrível que pode ser temida. Sócrates, tomando a taça envenenada, abençoa aquele que se apresenta a ele com lágrimas. Jesus, em meio a um castigo terrível, ora por seus executores. Sim, se a vida e a morte de Sócrates são as de um sábio, a vida e a morte de Jesus são as de um Deus.” – Emile Rousseau.

As palavras de Napoleão em Santa Helena no fim de sua vida foram estas: “Eu conheço homens, e vos digo que Jesus não é um homem”. [28] John William Colenso (1814 — 1883) foi bispo da diocese anglicana de Natal, África do Sul, teólogo e ativista social. Em 1861, criticou a doutrina do castigo eterno e posteriormente criticou partes do Antigo Testamento, colocando em duvida a historicidade de trechos bíblicos. Foi acusado de contradizer a infalibilidade das Escrituras. [29] William Paley (1743 — 1805) foi um teólogo e filósofo britânico. Autor da obra Natural Theology, argumentou que a complexidade e adaptações dos seres vivos eram prova da intervenção divina na criação, no que se veio chamar “analogia do relojoeiro”. [30] Hotentote: termo usado para denominar certos grupos tribais africanos considerados incultos.

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