Você se separou do sistema religioso criado pelos homens por desejar estar reunido somente ao nome do Senhor. É importante que o objetivo não é “reunir conosco”, mas com o Senhor e onde ele colocou o seu nome, ou seja, sua autoridade.
“Dos outros, porém, ninguém ousava ajuntar-se a eles; mas o povo tinha-os em grande estima. E a multidão dos que criam no Senhor, tanto homens como mulheres, crescia cada vez mais” (At 5:13-14).
Em outras palavras, o objetivo não é você ajuntar-se a nós, mas é o Senhor quem faz a obra de ajuntar e é a ele que ele próprio ajunta. “Porque quem não é contra nós, é por nós… Quem não é comigo é contra mim; e quem comigo não ajunta, espalha” (Mc 9:40; Mt 12:30). Repare que existe nestes versículos uma clara distinção entre os termos “nós” e “comigo”.
Se fizermos da expressão “nós” o nosso referencial – sendo esse “nós” “os irmãos reunidos ao nome do Senhor” —, então juntar-se a esses (os “nós”) não passa de sectarismo, e qualquer um que venha a se unir a essa comunhão com um motivo assim logo ficará desapontado ao descobrir que”nós” não somos diferentes de quaisquer outros cristãos sobre a face da Terra. Eventualmente nossa moral será repreensível, podemos às vezes ter má doutrina, más práticas, más atitudes, mau testemunho… Mas o ponto é, se o Senhor está no meio, então existe um recurso e autoridade para corrigir essas coisas que eventualmente estejam erradas, e para isso é usada a disciplina sempre que necessário.
Se, todavia, nos reunimos a “ELE”, no sentido de quando Jesus diz “comigo”, então ELE nunca irá nos desapontar. Nunca devemos perder este foco e referencial. Além disso, se estou reunido a Cristo, e você está reunido a Cristo, então estaremos reunidos juntos. Mas jamais devo, como primeiro motivo, me reunir com você, ou você comigo, mas devemos ambos estar reunidos ao Senhor Jesus Cristo, e assim descobriremos que ali eu e você estaremos também em comunhão um com o outro.
Mas sua dúvida é o que fazer agora. Não existe um formulário ou um questionário para ser respondido para se cadastrar entre irmãos reunidos ao Nome do Senhor. Isto porque também não existe um governo central fora do céu onde o Senhor está assentado como a Cabeça de seu corpo. “Porque nós, sendo muitos, somos… um só corpo” (1 Cor 10:17). “Todos os membros, sendo muitos, são um só corpo” (1 Cor 12:12). “Assim nós, que somos muitos, somos um só corpo em Cristo, mas individualmente somos membros uns dos outros” (Rm 12:5). Você já é membro do corpo de Cristo, se é que já creu verdadeiramente nele para a salvação de sua alma.
Porém existe uma diferença entre pertencer ao corpo de Cristo e praticar essa verdade. O sinal prático dessa unidade é o partimento do pão – literalmente o participar da ceia do Senhor. “O pão que partimos não é porventura a comunhão do corpo de Cristo?” (1 Cor 10:16). Existe uma diferença entre o corpo de Cristo e a comunhão do corpo de Cristo. Mas não cabe a nós começarmos partindo o pão por nós mesmos, pois se a Palavra em Efésios 4:4 diz que “há um só corpo”, o que vem imediatamente antes, no versículo 3, é que devemos procurar “guardar a unidade do Espírito pelo vínculo da paz” (Ef 4:3). Temos de reconhecer que já existe a comunhão do corpo na Terra, e nosso dever é guardar ou manter a união na prática.
Quando nos dias do Livro de Atos o Evangelho se espalhava pelo mundo, vemos que sempre foi mantida a comunhão entre as assembleias por meio das visitas dos irmãos. “Os apóstolos, pois, que estavam em Jerusalém, ouvindo que Samaria recebera a palavra de Deus, enviaram para lá Pedro e João” (At 8:14). “E a mão do Senhor era com eles; e grande número creu e se converteu ao Senhor. E chegou a fama destas coisas aos ouvidos da igreja que estava em Jerusalém; e enviaram Barnabé a Antioquia. O qual, quando chegou, e viu a graça de Deus, se alegrou, e exortou a todos a que permanecessem no Senhor, com propósito de coração” (At 11:21-23). A igreja tinha começado em Jerusalém, mas agora começava em outras cidades também. Para manter a unidade na prática os irmãos de Jerusalém chegavam a esses lugares e reconheciam o que o Senhor estava fazendo. Eles não iam a fim de estabelecer nessas cidades “a Igreja de Jerusalém”, mas simplesmente para demonstrar a comunhão do “um só corpo” que existia em ambas as localidades.
Se a ceia do Senhor – o partir do pão – serve para mostrar na prática a verdade do “um só corpo” por meio da comunhão, então para que a mesa do Senhor seja estabelecida num lugar é preciso que alguns que já participam desse “mesa” cheguem à nova localidade e partam o pão lá com os membros do corpo de Cristo ali que têm o desejo de manter a unidade do Espírito e a comunhão do corpo de Cristo. Antes de fazerem isso é preciso que fique bem claro que é o Senhor quem está fazendo a obra naquele novo lugar, pois a “mesa” é dele, não nossa. É ele quem estabelece a “mesa”, mas também nós, que já participamos dessa comunhão, devemos ativamente manter essa comunhão e unidade onde ficar evidente que o Senhor está levantando um testemunho ao seu nome. Darby escreveu que “a fé tem um duplo caráter – a energia que vence e a paciência que espera em Deus e confia nele”. Precisamos destas duas coisas também nesta questão: energia e paciência.
Devemos também saber que, embora todos os membros do corpo de Cristo têm o seu lugar à mesa do Senhor, nem todos podem estar ali por causa do pecado que traz desonra pública ao nome do Senhor, a saber pecado moral, doutrinal ou eclesiástico. Sim, pode ser que eles sejam membros do corpo de Cristo, verdadeiros filhos de Deus, mas na assembleia existe uma disciplina, pois o Senhor está ali e é nosso dever manter a santidade do testemunho reunido ao seu nome (1 Coríntios 5). É por isso que as Palavra diz: “A ninguém imponhas precipitadamente as mãos” (1 Tm 5:22). A razão é que não sabemos se alguém está andando de modo errado até termos tido tempo para conhecer melhor a pessoa. Além do triste assunto do pecado, não existe outro motivo para manter um membro do corpo de Cristo fora da comunhão do mesmo corpo de Cristo. Não existe diferença entre os membros neste aspecto. Sim, pode existir “diversidade de dons” espirituais entre os membros do corpo (1 Cor 12:4), e há também diferentes níveis de crescimento e entendimento na vida cristã (1 Jo 2:12-13), mas mesmo assim estas coisas não pesam na dignidade do crente em Cristo para que venha a tomar seu lugar à mesa do Senhor.
Paul Froese