Os apócrifos não suportam a menor prova de autenticidade e inspiração divina. No contexto bíblico o termo apócrifo alude à coisas secretas, místicas, ocultas. termo á grego e tem este sentido literal. Já no campo religioso o sentido é não genuíno, impuro, falsificado. Tal sentido teve início com Jerônimo, quando da sua tradução da Vulgata Latina (382-405 d.C.). Quando a Bíblia foi inicialmente traduzida para o latim em 170 d.C. (Vetus Ítala), seu Antigo Testamento foi traduzido do grego da versão Septuaginta, feita antes da era cristã, e não do texto hebraico original.
Quando Jerônimo traduziu a Vulgata Latina, como acima mencionamos, com relutância incluiu os livros apócrifos, porque a isso foi compelido por seus superiores eclesiásticos, mas recomendou que esses livros não servia como fonte de fé e doutrina.
DETALHES SOBRE OS LIVROS APÓCRIFOS
Os livros apócrifos atuais são os que aparecem isentos nas Bíblias de edição católica-romana e também em certas edições protestantes, como, em resumo, esclarecemos a seguir.
Os líderes judeus ortodoxos nunca permitiriam a inserção desses livros na Bíblia, que consiste no cânon hebraico do Antigo Testamento. Na Bíblia de edição romana, o total de livro é de 71, e não 66, como a protestante, porque a Igreja Romana desde o concílio de Trento, em 1.546, aprovou e incluiu no cânon do Antigo Testamento, sete livros apócrifos então existentes e mais quatro apêndices e livros canônicos, somando ao todo onze escritos apócrifos nas Bíblias oficialmente adotados por esta igreja.
A primeira Bíblia a trazer os apócrifos, e muito mais que os atuais, foi a versão Septuaginta, feita do hebraico para o grego, em Alexandria, Egito, cerca de dois séculos antes da era cristã.
Seus tradutores, judeus liberais, trabalhando fora de sua pátria, e apenas como tradutores a serviço do trono do Egito, inseriram os apócrifos no cânon sagrado, como se eles fossem divinamente inspirado como os demais livros que compõem o referido Cânon.
Segundo a tradição em documentos da época, a Versão Septuaginta foi feita para prioritariamente enriquecer o acervo do que era na época a maior biblioteca do mundo a de Alexandria.
Da Septuaginta os apócrifos passaram para a Versão conhecida como Vulgata Latina, da qual fizemos referência. A Vulgata continua a ser a versão oficial Romana, o que foi há pouco mais de um século ratificado pelo concílio Vaticano I, em 1.870. O termo “apócrifo” aparece no novo testamento grego, em passagens como Marcos 4.22b, Lucas 8.17b e Colossenses 2.3, sendo variavelmente traduzido como qualquer leitor da Bíblia pode verificar.
“A Vulgata Latina continua a ser a versão oficial da Igreja Romana, o que foi há pouco mais de um século ratificado pelo Concílio Vaticano I, em 1.870”.
Jerônimo recomendou claramente que esses livros não podiam servir como fonte de fé e doutrina.
“Do ponto de vista religioso, uma cuidadosa comparação entre 1º e 2º Macabeus mostra que ele se contradizem. Há neles lendas extravagantes.
Livro de 2º Macabeus, que é mais religioso que o primeiro, justificava o suicídio e sancionava a prática da oração pelos mortos, além de outros ensinos extra bíblicos”.
Os líderes religiosos judeus jamais aceitaram os escritos apócrifos no cânon sagrado que eles, com fervor, cuidado e escrúpulo religioso, conservam como o seu maior tesouro desde os tempos de Moisés. Esses livros também nunca foram aceitos pela igreja primitiva nos seus primeiros séculos.
O movimento da Reforma Protestante que procurou reconduzir a igreja às suas bases, preceitos e princípio bíblicos, também os rejeitou terminantemente, como textos divinamente inspirados, e portanto, impróprios para integrarem o cânon das Sagradas Escrituras.
Os escritos apócrifos que circulam atualmente em certas Bíblias são:
- Tobias – Após o livro de Neemias;
- Judite – Após Tobias;
- Sabedoria de Salomão – Após Cantares de Salomão;
- Eclesiásticos – Após Sabedoria de Salomão;
- 1º e 2º Macabeus – Após Malaquias.
Estes são livros inteiros, mas há também quatro apêndice a livros canônicos:
- Cântico dos Três Santos Jovens – Após o capítulo 3 de Daniel;
- História de Susana – Após o capítulo 13 de Daniel;
- Bel e o Dragão – Após o capítulo 14 de Daniel;
- Ester e Mardoqueu – Este último livro apêndice é um dos mais longos.
RESUMO DO CONTEÚDO DOS APÓCRIFOS
Um artigo limitado como este não comporta uma análise detalhada de cada um dos livros e apêndice apócrifos. Damos apenas uma simples suma como segue.
TOBIAS – Contém fantasias que qualquer leitor, isento de preconceitos religiosos e bem intencionados, logo notará que são mitos. O conteúdo do citado livro favorece a superstição e coloca em destaque um anjo mentiroso e até mesmo blasfemo.
O livro ainda insinua sem rodeio a salvação mediante obras e também induz a pessoa a mentir.
Apresenta esmolas como uma forma de expiar o pecado. Destaca a prática da magia e do ocultismo; inclusive, discorre sobre um espírito mau que se apaixona à determinada mulher.
JUDITE – Apresenta em resumo uma narrativa fictícia de uma senhora judia, viúva da cidade de Nínive, que através de certas peripécias torna-se heroína. Os conceitos que aparecem no livro ensina que se o fim é útil e proveitoso, os meios utilizados para alcança-los, mesmo que sejam maus, são justificados. Ora, isto é sutileza e nada tem com a inspiração divina que perpassa pelos livros canônicos do Santo Livro.
SABEDORIA DE SALOMÃO – Este livro leva o nome deste terceiro rei de Israel, entretanto não tem conexão com ele. O dito livro deixa claro a falsa doutrina da reencarnação. Também a moral que o livro apregoa em seus provérbios e máximas vê-se que é deficiente em relação ao que a Bíblia ensina nesse particular, desde os seus primeiros capítulos.
ECLESIÁSTICO – É também chamado de sabedoria de Jesus, filhos de Siraque. Tem certa semelhança bem distante com o livro canônico de Provérbios, mas nota-se que não há nele nada de inspiração divina, como nos livros normais da Bíblia. Não há nada de peso espiritual nele que o iguale a um livro similar, seja do Antigo ou do Novo Testamento. O absurdo do livro de eclesiástico é ensinar o princípio do panteísmo e também o da moral comprometida.
BARUQUE – É uma espécie de lamento pela queda de Jerusalém, quando de sua tomada por Nabucodonosor. É o maior dos livros apócrifos, e contém 51 capítulos. No seu final, o livro contém a epístola de Jeremias, que em certas Bíblias que incluem os apócrifos, é considerado um livro à parte.
Esse Baruque é tido como o escriba do profeta Jeremias, da bíblia. Os Judeus nunca aceitaram esse fato como verídico.
1º e 2º MACABEUS – Ambos os livro contém abundante material histórico que conduz a outras fontes históricas da época.
Portanto, são livros de utilidade para pesquisas históricas, mas isso jamais os qualifica como livros divinamente inspirado, e genuinamente bíblicos.
Há neles detalhes impressionantes conducentes à revolta dos irmãos Macabeus, ocorrido no período Inter bíblico, entre os profetas Malaquias e o ministério de João Batista, o precursor de Jesus, já no Novo Testamento.
Do ponto de vista religioso, uma cuidadosa comparação entre 1º e 2º Macabeus mostra que eles se contradizem. Há neles lendas extravagantes. O livro de 2º Macabeus, que é o mais religioso que o primeiro, justifica o suicídio, e sanciona a prática da oração pelos mortos, além de outros ensinos extra bíblicos.
Quanto aos apêndices a livros canônicos já mencionado, o seu conteúdo é da mais simples interpretação e análise, mas todos eles contém impropriedades que os desacreditam como textos inspirados do cânon sagrado.
Por exemplo: a história de Bel e o Dragão apensa ao livro de Daniel, de um lado contém absurdos no seu relato, e por lado alguma coisa ridícula, indignas de escrito supostamente bíblico.
FATOS QUE IMPUGNAM OS APÓCRIFOS COMO LIVROS DIVINAMENTE INSPIRADOS
1) Eles foram escritos no chamado período Inter bíblico, isto é, entre o Antigo e o Novo Testamento, exatamente numa época em que o cânon das sagradas Escrituras hebraicas estava encerrado. Nenhum profeta literário Deus suscitou naquele tempo. Basta isto para tirar-lhes qualquer pretensão da canonicidade.
2) Quando os apócrifos foram aprovados pela Igreja Romana para constarem da bíblia, o cânon das escrituras hebraicas já era reconhecida, fixado e ratificado pelos judeus, desde o Concílio de Jamnio, em Israel, no ano de 90 d.C.. O Concílio de Trento foi convocado pela Igreja Romana para a tomada de medidas urgentes destinadas a conter o avanço do movimento religioso da Reforma Protestante que ameaçava de vários modos o Catolicismo Romano, o qual via nesses livros base para apoio de suas doutrinas antibíblicas, como:
- Salvação pelas obras;
- Oração pelos mortos;
- Tradição religiosa de igual autoridade que revelação divina;
- Meios justificando os fins. Os jesuítas adotaram este princípio maldito na famigerada Inquisição.
3) Os tradutores e editores judeus, da versão septuaginta, incluíram por sua conta os apócrifos nessa versão e isso causou a impressão de serem canônicos, sem o serem. Ora isso aconteceu fora da Palestina de então, no Egito, e destinada inicialmente aos fins indicados neste artigo. Os líderes judeus da então Palestina nunca teriam feito isso, por temor a Deus, por ortodoxia religiosa e porque nunca haveria consenso entre eles nesse sentido. Em suma, não foi por serem canônicos que os apócrifos foram incluídos na Versão Septuaginta, mas a sua indevida inclusão deu esta impressão.
4) Os lideres cristão da Reforma publicaram inicialmente a Bíblia com os apócrifos, mas colocando-os como um apêndice no final do Antigo Testamento; não como livros inspirados, mas apenas com valor literário. Entretanto, a confusão que se seguiu foi inevitável entre o povo leigo, que não sabe distinguir entre um escrito apócrifo e um autêntico, em se tratando de texto bíblico. Até 1.827 a Sociedade Bíblica Britânica e Estrangeira publicou a Bíblia (em inglês) com os apócrifos, mas com as complicações surgidas e sempre crescente do público, decidiu descartar isso.
5) Nenhum livro do Novo Testamento cita qualquer dos apócrifos, os quais existiam naquele tempo. Este fato, por si só constitui um solido argumento para a recusa dos evangélicos quanto aos apócrifos. Os seus defensores invocam a Epístola de Judas (14 e 15), alegando que trata-se ali do livro apócrifo de Enoque, livro esse não aceito pela Igreja Romana. Trata-se de um livro de natureza apocalíptica, muito extenso. Judas, o escritor sacro, não fez uma citação desse tal livro de Enoque: ele cita uma profecia original de Enoque, o homem que andou com Deus, do livro de Gênesis. Uma coisa é que Enoque, o homem; outra é o livro apócrifo deste nome.
6) Flávio Josefo, o grande historiador judeu, rejeitou totalmente os apócrifo. Quem compulsar a sua obra notará a sua clareza nesse particular. E Josefo, como ser humano, é uma autoridade respeitável até hoje. Inclusive, as recentes descobertas em Israel através da arqueologia vieram comprovar muitas informações encontradas nas obras deste celebre historiador.
7) Jesus, o Filho de Deus e nosso bendito salvador, nunca os citou nos seus sermões e ensinos, e os apócrifos já existiam quando Jesus aqui viveu e ensinou. Se tivessem autoridade divina, Jesus os teria citado, como mencionou tanto outros escritos e mensagens dos sacros escritores da Palavra de Deus. Se Jesus silenciou nesse particular, vamos nós acolher e exaltar os apócrifos como sendo a Palavra de Deus?
8) Qualquer leitor cristão que se acerque da Bíblia com devoção, temor de Deus, oração, fé sincera e humildade, e depois lançar mão de um livro apócrifo, notará imediatamente que os apócrifos nada tem de inspiração divina.
9) Sempre que um determinado segmento da igreja cristã experimentar um real despertamento bíblico, como a história da igreja registra diversos, os apócrifos são esquecido e a igreja passa a cuidar de coisas mais edificantes para o Reino de Deus.
Mas, à medida que determinado segmento passa por calmaria e entra pelo caminho de secularização e do humanismo, ocorre o sutil e nocivo retorno passando a considerar os apócrifos como de importância bíblica, para a fé e a doutrina cristã.
Não estamos a falar de supostos avivamentos, promovidos pelo homem, mas de reais avivamentos do Espírito Santo.
INFORMAÇÕES FINAIS
Há ainda outros escritos religiosos não-canônicos relacionados, tanto com o Antigo como com o Novo Testamento. São chamados pelos eruditos de pseudos-epigráficos, isto é. falsos escritos. Os mais destacados somam 26 títulos. Os principais dos tempos do Novo Testamento somam 24. Inovações doutrinárias continuam a fustigar a Igreja, e não duvidamos que em qualquer dia algum desses pseudos-epigráficos, que são piores do que os apócrifos, sejam também invocados como suporte para a fé e a doutrinas cristã.
Os 39 livros canônicos do Antigo Testamento são chamados pelos católicos romanos de protocanônicos, querendo com isso dizer que trata-se dos livros da Bíblia que foram primeiramente aceitos ou aprovados, no sentido formal, humano. Os livros e apêndices que chamamos de apócrifos, os romanos os chamam de deuterocanônicos, e certos evangélicos também. O termo procura dizer que tais livros também são considerados aprovados, mas em segundo lugar; numa segunda leva, o que não é verídico. Já os livros que os evangélicos chamam de pseudos-epigráficos, os católicos os chamam de apócrifos.
Evitemos, uma confusão de terminologia religiosa.
Extraído da Revista Obreiro, CPAD.