Deus nosso Pai é Aquele que nos foi revelado como o Objeto da adoração; Aquele a Quem nossa adoração é apresentada. Isto é muito importante, pois demonstra a verdade de que fomos tornados adequados para ocupar nosso lugar diante d’Ele. O lugar que Deus nos deu não é um lugar qualquer dentro das portas. O precioso sangue de Cristo nos deu a confiança, não apenas para ocuparmos nosso lugar diante d’Ele agora, mas para sabermos que nossa adequação para a herança é na luz de Sua santa presença (Cl 1.12). Eu e você, tendo sido purificados pelo precioso sangue de Cristo, estamos tão prontos para ocupar nosso lugar agora mesmo na própria presença de Deus, como sempre estivemos desde que cremos.
O próprio Deus nos é revelado como o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo. Ele é Aquele que O sustentou em todo o Seu perfeito andar de graça, amor, paciência e humilhação. Todas as belezas que Deus sempre desejou, e sempre ansiou ver no homem, foram encontradas em Seu próprio Filho amado. O Pai de nosso Senhor Jesus Cristo foi o Objeto da adoração desse Ser sempre bendito na perfeição de Seu caminho aqui. Ele foi também o Deus de nosso Senhor Jesus Cristo, e o Deus a Quem Ele serviu. Ele foi o Deus em Quem, como Homem, Sua fé foi depositada. Deus foi diariamente o Seu prazer. Ele estava sempre no seio do Pai.
Em Cristo
No decurso do tempo, tendo o caminho sido aberto pela remoção de nossos pecados por haver sido completada a redenção, e tendo sido o Espírito Santo dado no dia de Pentecostes, o pecador esteve pela primeira vez capacitado a tomar seu lugar diante de Deus como plenamente abençoado, e “em Cristo”. A Igreja foi formada aqui pelo batismo do Espírito Santo. Todos os que eram de Cristo por graça foram unidos a Ele pelo Espírito Santo, e houve então uma nova unidade constituída sobre a Terra. Daquela hora em diante, todos os crentes estão unidos uns aos outros, e unidos a nosso Senhor Jesus Cristo.
Quanto ao nosso relacionamento com o Pai, o apóstolo João diz: “A nossa comunhão é com o Pai” (1 Jo 1:3). Nós tanto necessitamos da direção do Senhor, para estarmos em comunhão com Ele em gratidão e louvor, como para quando ministramos Sua Palavra. Nunca é demais frisar que a verdadeira adoração é a alma ser levada a Deus em toda a liberdade que Cristo dá pelo Espírito Santo em nossos corações. Então podemos apresentar o Senhor Jesus Cristo diante de Deus nosso Pai, encontrando, juntamente com Ele, gozo no Senhor. A comunhão resulta de nossa apropriação de Cristo, não meramente em concordância com os pensamentos do homem acerca da Palavra, mas pelas coisas que o Espírito Santo cumpriu para nós e em nós, e as quais Ele nos capacita a apresentar a Deus nosso pai.
1 Timóteo 3:14-16 indica, em poucas palavras, o que parece ser a bênção de nossa porção: “Escrevo-te estas coisas, esperando ir ver-te bem depressa; mas, se tardar, para que saibas como convém andar na casa de Deus, que é a Igreja de Deus vivo, a coluna e firmeza da verdade. E sem dúvida alguma grande é o mistério da piedade: Aquele que Se manifestou em carne, foi justificado em Espírito, visto dos anjos, pregado aos gentios, crido no mundo, e recebido acima na glória”.
Vemos que o apóstolo estava desejoso de que Timóteo pudesse ter plenitude de gozo no lugar onde se encontrava. Ele estava longe de Timóteo; iria voltar a encontrá-lo. O apóstolo escreve com a voz de Cristo para Seu servo, e escreve com a voz e coração de Cristo para Sua Igreja. Assim como o apóstolo estava voltando para seu filho Timóteo, também nosso bendito Senhor está voltando para nós. Pode nos parecer longo demais o tempo que o Senhor Jesus já permaneceu à destra de Deus.
Casa de Deus
Aqui o apóstolo está escrevendo para podermos conhecer como nos comportarmos na casa de Deus na ausência do Senhor. Deus nos levou para junto de Si como membros do corpo de Cristo, para ocuparmos nosso lugar na casa de Deus – a habitação de Deus pelo Espírito – na qual os santos são edificados juntamente (Ef 2). Deus tem uma habitação na Terra, e a porção do Senhor é o Seu povo. Temos os privilégios da casa em uma mão, e estamos sujeitos à disciplina da casa de Deus na outra. Deus por Seu Espírito habita na casa de Deus. O apóstolo explica isso mais adiante de uma maneira bendita: a casa de Deus é a Igreja – a assembleia do Deus vivo. Nos aproximamos do Deus vivo.
A mera formalidade morta não irá satisfazer Seu coração e Seus pensamentos. A assembleia, da qual fazemos parte por graça se cremos no Senhor Jesus Cristo e tivermos sido selados pelo Espírito Santo, é a casa de Deus. Somos introduzidos nesta unidade, que compõe a assembleia do Deus vivo.
É tão verdade hoje como o era então, que onde dois ou três estiverem reunidos em nome do Senhor Jesus, estão ocupando seus lugares como parte da “assembléia de Deus vivo”. Pode ser uma débil expressão dela, talvez, mas em sua completa unidade ela compreende todos os santos sobre a Terra, os quais, pelo Espírito do Deus vivo, creem no nome do Senhor Jesus Cristo. Cristo é uma Pessoa viva que deseja juntar as nossas afeições a Si próprio, a fim de podermos, de nosso lado, apresentá-Lo em Sua amabilidade ao nosso Pai. Isto é adoração.
O Mistério da Piedade
O que temos aqui expressado é a inestimável herança da Igreja, “a assembleia de Deus vivo” – o “mistério da piedade”. É este conhecimento que faz a “casa de Deus” desfrutar, pela graça, da revelação do Filho, feita pelo Pai. Temos isto no caso de Simão Pedro em Mateus 16, “Tu és o Cristo, o Filho de Deus vivo” (Mt 16:16), ou na revelação de Si próprio a Saulo de Tarso no caminho para Damasco: “Eu sou Jesus, a quem tu persegues” (At 9:5). À Igreja de Deus hoje é comissionado o mistério da piedade. Somos assim confrontados com o fato de que o mistério da piedade não é nada mais do que o próprio Senhor Jesus Cristo, em todo o mistério de Sua divina e, de certo modo, inacessível glória. Ele é uma Pessoa divina, e ainda assim com aquela intimidade de um Cristo feito conhecido na humilhação e amor que O distinguiram como um Homem.
É fato de isto nos ter sido comissionado, e guardado com todo cuidado em nossos corações acima de tudo o mais, que faz da assembleia do Deus vivo “a coluna e firmeza da verdade” (1 Tm 3:15). Deus nos transforma, auxiliado por Sua Palavra e Espírito, em pessoas que sabem como “resistir no dia mau, e, havendo feito tudo, ficar firmes” (Ef 6:13). Devemos resistir às ciladas do diabo, e permanecer nesta bendita verdade que Deus tem manifestado no Filho. Deus em toda a Sua glória tornou-Se a Si mesmo conhecido a nós naquela aparência tão humilde.
O Verbo Feito Carne
Em João 1:14, o bendito Senhor Jesus é apresentado como “O Verbo se fez carne, e habitou entre nós… cheio de graça e de verdade”. O apóstolo escrevendo estas palavras com seu coração arrebatado em adoração e ações de graça diz: “E vimos a Sua glória”. Ele não quis dizer que a viu com seus olhos físicos; ele quis dizer que pela fé havia contemplado a beleza d’Aquele Homem agora à destra de Deus. Foi, não só a expressão daquilo que Deus buscava no homem, mas a apresentação a nós de Deus em toda a graça de Seu coração. Deus em toda a justiça de Sua natureza, Sua santidade e Sua verdade é tornado conhecido a nós neste Ser bendito. Tudo nos chega por revelação, Deus agindo no poder do Espírito de Deus. Somente o próprio Deus pode fazer-nos saber isto, mas trata-se do bem guardado tesouro nas almas dos santos coletivamente. Trata-se do conhecimento disto que produz verdadeira piedade em nós.
É maravilhoso que o próprio Deus tivesse ocupado esse lugar de um Homem em Seu próprio mundo, e, vindo como um humilde Estranho, “se manifestou em carne”. Em outro lugar nos é acrescentado que Cristo veio “em semelhança da carne do pecado” (Rm 8:3), conhecido somente daqueles cujos olhos podiam enxergar divinamente. “O Seu parecer estava tão desfigurado” (Is 52:14), e ainda assim Ele era “sobre todos, Deus bendito eternamente” (Rm 9:5).
Vemos, nos versículos seguintes, que o Espírito de Deus apresenta três cenas diferentes da vida do Senhor Jesus Cristo, para podermos permanecer n’Ele pessoalmente para adoração e louvor.
Justificado Em Espírito
“Grande é o mistério da piedade: Aquele que Se manifestou em carne, foi justificado em Espírito” (verso 16). Em sua inquebrantável comunhão com Deus Seu Pai, Ele andou em obediência e humilhação. Tudo o que disse e fez foi no poder do Espírito de Deus. Ele sempre viveu no poder d’Aquele Espírito, e o Espírito de santidade foi manifestado em toda a Sua vida. No final de Seu caminho terreno vemos que Deus O levantou de entre os mortos e O colocou à Sua própria destra em glória, em conformidade com o Espírito de santidade. “Justificado em Espírito”. Disso aprendemos algo para a adoração na Pessoa do amado Filho de Deus.
Visto dos Anjos
Este é um assunto ao qual as Escrituras se referem por diversas vezes na senda do Senhor Jesus. Quando aquele bendito Bebê nasceu nas planícies de Belém, havia uma multidão das hostes celestiais louvando a Deus e dizendo: “Glória a Deus nas alturas, paz na Terra, boa vontade para com os homens” (Lc 2:9-14). Eles puderam vê-Lo no primeiro momento de Sua existência como Homem sobre a Terra.
Passado algum tempo, já O vemos, como um perfeito Homem, indo encontrar-Se com o inimigo, não tendo nenhuma das vantagens que tinha o primeiro homem. Ele enfrentou Satanás em perfeita obediência e dependência na Palavra de Deus. Então nos é dito de como os anjos ministraram a Ele lá no deserto (Marcos 1:13).
Ao término de Seu ministério, quando estava no jardim e a cruz se aproximava, permaneceu na mais completa comunhão com Seu Pai, ainda que estivesse naquela angústia de alma que ninguém poderia jamais conhecer. Seu coração estava ocupado com tudo o que era devido à santidade de Deus, mas Ele iria seguir adiante em obediência à vontade do Pai. Em angústia, Seu coração foi ferido. Ele estava ali em perfeita fraqueza e confiança em Deus, e um anjo do céu O confortava enquanto Ele orava intensamente (Lc 22:43).
Quando as mulheres foram ver o lugar onde o Senhor jazia, Ele tinha sido visto pelos anjos (Lc 24:4-7). Bem disse Simão Pedro ao relembrar algumas das bênçãos da obra e do ministério do Senhor, “as quais coisas os anjos desejam bem atentar” (1 Pe 1:12).
Esses anjos são agora designados para ministrar àqueles que são herdeiros da salvação, e eles estão interessados em nós (Hb 1:14). E há também uma notável passagem na Epístola aos Efésios, que o apóstolo nos apresenta em sua oração, que diz que devemos “conhecer o amor de Cristo, que excede todo o entendimento” (Ef 3:19). Seu desejo para os santos é que “agora, pela igreja, a multiforme sabedoria de Deus seja conhecida dos principados e potestades nos céus” (Ef 3:10). Os anjos contemplam a sabedoria de Deus na assembleia.
Deus nos deu o lugar de irmãos diante d’Ele, dos quais Cristo é o Primogênito e tem a preeminência. Se Ele é o objeto de nossa adoração e se nossos corações estão ocupados com Ele, também nós seremos vistos dos anjos; também nós exalaremos o aroma de Cristo.
Quão benditas e cheias de plenitude são estas palavras, “visto dos anjos, pregado aos gentios” (verso 16). Aqui está Deus em Sua graça saindo ao nosso encontro; de nós que estávamos tão distante, assim como ao encontro dos judeus que estavam perto, a fim que ambos pudessem ter acesso a Ele em um Espírito com o Pai.
A Plenitude da Sua Pessoa
“Crido no mundo”. Simplesmente sobre o fundamento da fé disponível a pecadores dentre os gentios, a nós que estávamos tão longe e por meio deste Ser bendito, Deus confiou aos nossos corações o mistério da piedade e o mistério da Igreja. Temos Cristo diante de nós em toda a Sua preciosidade, Aquele que veio da glória e que foi recebido em glória nas alturas.
Esse Estranho celestial, nosso Senhor Jesus Cristo, surgiu entre nós “cheio de graça e verdade” (Jo 1:14), a fim de levar nossos corações ao conhecimento de Seu Deus como nosso Deus, e de Seu Pai como nosso Pai. Ele deu-nos de Seu próprio Espírito, e nosso lugar é a casa de Deus, a assembleia do Deus vivo, “a coluna e firmeza da verdade” (1 Tm 3:15). Temos a verdade que nos foi comissionada, “Aquele que Se manifestou em carne”, em toda a santidade de Sua própria Pessoa.
Que o Senhor possa receber a completa adoração de nossos corações quando nos reunimos. Enquanto estamos meditando, possa o fogo do amor divino queimar, sendo tocados, como no passado, com a brasa do altar. Possa ele arder a fim de adorarmos mais plenamente o Pai em nome do Senhor Jesus Cristo, em Espírito e em verdade.
F. Lavington