O Mistério de Cristo
Um estudo importante sobre a perfeita divindade e a igualmente perfeita humanidade do Senhor Jesus Cristo, reveladas pelo Espírito Santo nos escritos de João.
A última década do século I foi crítica para a Igreja recém-formada. Suas doutrinas fundamentais estavam sendo solapadas (abaladas) por ensinadores heréticos com ideias pagãs. Os principais destes eram os gnósticos. Seu nome significa “conhecimento”, e eles professavam ter informações específicas que os cristãos comuns não tinham. Havia dois partidos: um ensinava que Jesus era o filho natural de José e Maria, e que o Espírito Divino veio sobre Ele somente depois do Seu batismo, mas O deixou na cruz; o outro negava a realidade da Sua humanidade e do Seu corpo humano. Eles ligavam a carde com o mal e, portanto, diziam que o seu corpo era realmente e somente um fantasma ou aparição.
João escreveu dois livros para combater estes ensinos, reafirmando para sempre a verdade sobre a Pessoa de Cristo. A chave para os livros doutrinários de João está pendurada ao lado da porta. O seu Evangelho defende a Divindade essencial do Filho de Deus e, no primeiro parágrafo, quatro frases importantes afirmam este fato.
Da mesma forma, na sua primeira Epístola, no parágrafo inicial, temos quatro verbos que descrevem específicamente a Sua perfeita humanidade. As duas passagens são paralelas e devem ser estudadas juntas.
A Divindade de Cristo
Nas quatro frases de João 1:1-2 temos quatro muralhas que “protegem” a Pessoa de Cristo de ataques externos. Através deste capítulo João usa quatro títulos de Cristo: “O Verbo”; “O Cordeiro de Deus”; “O Filho de Deus”; e “O Rei de Israel”. Estes títulos apresentam quatro frases do Seu caráter e obra. O termo “O Verbo” revela nosso Senhor Jesus como o Porta-voz da Divindade. Ele é o intérprete da mente e propósitos de Deus, visível no tempo. Vamos, assim, considerar as quatro frases iniciais do Evangelho de João.
“No princípio era o Verbo”
Isto nos leva de volta à criação. Esta afirmação é paralela com a primeira frase da Bíblia: “No princípio criou Deus os céus e a terra”. Estas palavras simples têm vencido todos os ataques do evolucionistas, panteístas e ateístas. Os astrônomos citam figuras fantásticas em termos de anos luz para o nascimento dos sois, planetas, etc. As teorias mudam com os anos, mas nós podemos confiar plenamente na afirmação inspirada da Palavra de Deus. Na orígem de todas as coisas “O Verbo” já estava lá (Pv 8:22-36). A primeira afirmação de João é sobre a pré-existência eterna do Verbo.
“E o Verbo estava com Deus”
Isso implica, em primeiro lugar, uma personalidade distinta e uma comunhão entre, pelo menos, duas pessoas. A doutrina da Trindade é negada hoje em dia e embora as Escrituras não usem esta palavra, a mesma está entrelaçada firmemente na sua mensagem. Deus, o Pai, propõem; Deus, o Filho, redime; Deus, o Espírito dá seguimento e executa os propósitos da Divindade.
“E o Verbo era Deus”
Eis aqui a grande afirmação essencial. John Trapp, um clérico puritano, disse: “Este Evangelho todo é uma demonstração contínua da Divindade de Cristo, a qual começou a ser negada por Ebion, Cerinto e outros anticristos, enquanto o Evangelista ainda vivia”. Podemos acrescentar, também, “por muitos nos nossos dias”. João continua demonstrando que enquanto esteve aqui na Terra, Cristo possuía todos os atributos divinos e, ao mesmo tempo, Ele estava em completa sujeição à vontade do Pai.
“Estava no princípio com Deus”
Aqui a primeiras três afirmações são resumidas e enfatizadas. As quatro afirmações nos dão o cumprimento, a largura, a profundidade e a altura da Divindade essencial de Cristo. Elas apresentam “O Verbo” como sendo eterno, como sendo uma Pessoa em comunhão com Deus, e como sendo em Si mesmo divino. O retante deste Evangelho é o agrupamento das provas da Sua divindade, tendo como clímax a confissão do outrora cético Tomé que, ao ver o Cristo ressurreto, disse: “Senhor meu e Deus meu”.
A Humanidade de Cristo
A primeira Epístola de João foi escrita perto do final de sua vida. Nela há uma mudança de ênfase. O Evangelho segundo João foi escrito para provar que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus (Jo 20:31), enquanto que a Epístola foi escrita para mostrar que Jesus Cristo veio em carne (I Jo 4:1-4).
Sua introdução (I Jo 1:1-3) apresenta quatro verbos que descrevem claramente o Cristo histórico e Sua manifestação entre os homens. O primeiro parágrafo refuta os ensinos que prevaleciam nos últimos anos da vida de João, os quais negavam a verdadeira humanidade corpórea de Cristo. “O que era desde o princípio, o que ouvimos, o que vimos com os nossos olhos, o que temos contemplado, e as nossas mão tocaram da Palavra da vida”. Os quatro verbos – ouvimos – vimos – contemplado – tocaram. mostram que Ele era audível, visível, inteligível e tangível. Ele foi manifestado aos ouvidos, olhos, mentes e mãos do povo.
“O que era desde o princípio”
O princípio aqui é diferente daquele no Evangelho. Alí era o princípio de todas as coisas, a criação do Universo. Aqui é o princípio da Cristandade, isto é, desde Belém. As preposições em ambas as passagens são diferentes, e tornam esta distinção clara. No que diz respeito à divindade Ele estava em (“en”, grego) o princípio, mas quanto à sua humanidade Ele era desde (“apo”, grego) o princípio, isto é, desde a Sua manifestação entre os homens.
Os tempos dos verbos também são diferentes. Os primeiros dois (“ouvimos” e “vimos”) estão no passado e descrevem uma série de experiências guardadas como possessão permanente; os últimos dois verbos (“temos contemplado” e “tocaram”) são aoristos (tempo verbal do grego antigo que expressa ação passada), indicando um acontecimento decisivo na mente do escritor. Vamos considerá-los.
“O que ouvimos”
Primeiramente no Jordão, e depois durante cerca de três anos sob o Seu ensino incomparável, eles O ouviram. Depois de 60 anos as palavras ainda faziam parte do próprio João. Nesta Epístola ele cita muitas expressões vindas diretamente do ensino do Senhor no cenáculo: “permanece”, “amai-vos uns ao outros”, “vida eterna”, “a Palavras”, etc. Isto, verdadeiramente, é a manifestação de Cristo aos ouvidos e corações. “A fé vem pelo ouvir”. O testemunho daqueles que foram enviados para prender o Senhor Jesus foi: “Nunca homem algum falou como este Homem”.
“O que vimos com nossos olhos”
O Senhor é manifestado visivelmente ao olhar. O Evangelho de João começa dizendo: “Eis o Cordeiro de Deus” (Jo 1:29), e termina com a afirmação de Pilatos: “Eis aqui o Homem”; “Eis aqui o vosso Rei!” (Jo 19:5, 14). João cuidadosamente afirma que ele foi uma testemunha ocular. Ele diz: “E vimos a sua glória, glória como do Unigênito do Pai, cheio de graça e de verdade” (Jo 1:14). Ele viu as cenas na sala do sumo sacerdote (Jo 18:15), na sala de audiência de Pilatos (Jo 18:28). Na cruz, quando perfuraram o Seu lado, ele viu o sangue e a água (Jo 19:35). Repetidamente ele se refere Pa sua evidência ocular. Não foi nenhuma ilusão de ótica, mas algo que uma testemunha confiável viu e entendeu.
“O que temos contemplado”
A palavra “greaetheasametha” indica uma cena que se apresentou diante dos olhos de João, diz David Smith. Trata-se do tempo verbal definido (no idioma grego) que relembra um incidente específico na sua vida. Isto poderia ser ilustrado pela ocasião quando João e Pedro estavam diante do túmulo. Enquanto os dois observavam a disposição das roupas fúnebres e do lenço, à parte (“entulisso”, grego), no lugar onde estivera a cabeça, isto lhes revelou que um milagre havia acontecido. O corpo havia saído dos panos, deixando-os no formato e posição de como e onde o corpo estivera, e eles “viram e creram” (Jo 20:8).
“E nossas mãos tocaram”
O corpo físico do Senhor havia sido real; eles o tinha tocado. Aqui João usa a própria palavra usada pelo Senhor no dia da Ressurreição: “Apalpai-Me, e vede; pois um Espírito não tem carne e ossos, como vedes que eu tenho” (Lc 24:39). Esta era a evidência tangível que Tomé queria. Graças a Deus! Até mesmo o céptico (aquele que não crê, que duvida de tudo) Tomé ficou completamente satisfeito, e ele alcançou o ponto mais elevado de adoração neste Evangelho, quando exclamou: “Senhor meu e Deus meu!”.
Enquanto pensamos nestas grandes verdades, curvemos os nossos joelhos e reconheçamos que Ele é Senhor de todas as coisas.
T. E. Wilson – Counsel Magazine.