O Mesmo Senhor Descerá do Céu

A volta do Senhor, amado irmão, é o assunto que gostaria de tratar. Antes da vinda do Senhor a este mundo, as Escrituras não mostravam muita coisa acerca do céu. Porém, tão logo Ele aqui chegou, veio do céu um testemunho dirigido aos pastores de ovelhas, que anunciava haver glória a Deus nas maiores alturas e paz na terra aos homens a quem Ele quer bem. E a primeira palavra a testemunhar do Senhor veio do céu – pela voz de Deus – dizendo: “Tu és meu Filho amado, em Ti me tenho comprazido” (Lc 3.22).

Em João 17 encontramos o Senhor aqui na terra conversando com Seu Pai no céu acerca do Seu povo celestial, com o coração transbordando de amor e cuidado para com os Seus. Então, depois de tudo consumado e de volta ao céu a fim de Se assentar à destra do Seu Pai, a glória pôde brilhar vinda das alturas, pois Deus quis que a glória do Seu amado Filho fosse vista. Essa glória foi a que literalmente brilhou quando Estêvão foi martirizado; ele viu o Filho do homem olhando para si e pôde falar com Ele. Na epístola aos Hebreus, vemos coisas maravilhosas pois este Homem, Jesus, está no céu. Todas as coisas tão diferentes que encontramos naquela epístola são apresentadas pelo Espírito Santo a fim de alimentar as nossas almas com coisas celestiais. Se minha cidadania é celestial, o que mais poderia esperar? Que deveria haver uma porção maior das coisas deste mundo em minha mente? Mais das coisas deste mundo em meu coração? Ou deveria eu esperar que houvesse mais das coisas do céu em minha mente; mais das coisas do céu em meu coração? Oh! certamente meu desejo deve ser que haja mais das coisas celestiais em minha mente e mais das coisas celestiais em meu coração!

Possuo, por assim dizer, o melhor de minha porção neste exato momento. Nós ainda não chegamos à casa do Pai, mas já temos o coração do Pai. E o que é melhor possuirmos – a casa do Pai ou o coração do Pai? Certamente que é o coração do Pai! Iremos,evidentemente, entrar na casa do Pai e então, com toda a certeza, poderemos conhecer melhor o coração do Pai; mas então, assim como agora, tratar-se-á do mesmo assunto, da mesma canção.

Vamos agora tratar da volta do Senhor, para o que gostaria de me valer da Epístola aos Tessalonicenses, a qual traz revelações a respeito desta verdade. Ali encontramos, por assim dizer, uma lâmpada a derramar sua luz sobre todas as circunstâncias,sobre tudo o que encontramos neste mundo.

A Fé, o Amor e a Esperança – Gostaria de me referir a dois versículos do primeiro capítulo, mas antes devo lembrar que a primeira Epístola aos Tessalonicenses trata da vinda do Senhor para o Seu povo, enquanto que a segunda Epístola nos fala da Sua vinda para o mundo.

“Sempre damos graças a Deus por vós todos, fazendo menção de vós em nossas orações. Lembrando-nos sem cessar da obra da vossa fé, do trabalho da caridade (amor), e da paciência da esperança em Nosso Senhor Jesus Cristo, diante de nosso Deus e Pai” (2-3). Estas três palavras, fé, amor e esperança, e aquelas que as acompanham, com seu significado enfatizado por estarem juntas, como obra da fé, trabalho do amor e paciência da esperança, nos mostram claramente como se encontravam os tessalonicenses, e quais as características que devemos ter.

Vejamos a “obra da vossa fé” ou, como diz em outra versão, a “operosidade da vossa fé”. Conhecendo a essência daquilo que temos diante de Deus nossa fé pode trabalhar enquanto ainda estamos aqui neste mundo. Quando subirmos para o lar então teremos descanso, mas enquanto estivermos aqui deve haver a operosidade da fé.

Em seguida encontramos “trabalho de amor”. Podemos notar que entre os tessalonicenses havia trabalho conectado com o amor que possuíam. Havia muitas coisas pelas quais eles tinham que passar. Os tempos eram difíceis. Porém, uma vez mais podemos encontrar esperança conectada a isso, e não somente esperança mas “paciência da esperança”. Não era algo que deveria sofrer desgaste. Tinha que durar e efetivamente durou.

Há, porém, outra coisa que iremos notar, ou seja, que tudo isso estava “diante de nosso Deus e Pai”. Eu não somente tenho fé, esperança e amor, mas estou revestido de tudo isto diante de Deus. Ele olha para mim não apenas para ver se estas coisas estão com sua luz emanando de mim, mas procura ver se é em Sua presença que estas três coisas estão brilhando. Os pobres efésios perderam seu primeiro amor (Apocalipse 2). Havia abundância de obras, mas quando Deus olhou para seus corações não encontrou neles oamor. A obra da fé, o trabalho de amor e a paciência da esperança são coisas que devem estar juntas diante de Deus nosso Pai.

Mais adiante lemos: “não temos necessidade de falar coisa alguma; porque eles mesmos anunciam de nós qual a entrada que tivemos para convosco, e como dos ídolos vos convertestes a Deus, para servir o Deus vivo e verdadeiro. E esperar dos céus a Seu Filho, a Quem ressuscitou dos mortos, a saber, Jesus, que nos livra da ira futura” (8-10). A fé dos tessalonicenses dava testemunho do que tinha sido o trabalho de Paulo entre eles, e assim testemunhando, aguardavam o Filho de Deus vindo dos céus. Se o coração não pudesse obter a certeza de que Aquele que vem é o Libertador da ira que está por vir, essa vinda não seria suportada. Mas você sabe que somos “guardados na virtude de Deus para a salvação, já prestes para se revelar no último tempo” (1 Pe 1.5) e, sendo assim guardados por Deus para uma salvação assegurada, podemos pacientemente esperá-la, e não apenas esperar pela salvação, mas esperar por uma determinada Pessoa, o próprio “Jesus, que nos livra da ira futura” (1 Ts 1.10).

É este, amado irmão , o fulgor da esperança que tenho. No que diz respeito a mim mesmo, posso não estar com tudo tão correto quanto poderia desejar; posso não ter tudo em ordem em minha própria casa, e é com tristeza que o digo. Mas há um algo mais além! Ele diz, “Certamente cedo venho!” (Ap 22.20). E Ele certamente virá! Ele é Aquele cuja volta está nos planos de Deus. O propósito de Deus é que Ele venha e que, assim vindo, possa colocar todos os inimigos de Deus sob Seus pés, e estabelecer um novo céu e uma nova terra onde habita a justiça. Ele será fiel a Seu Deus e Pai; certamente cumprirá tudo o que Deus Lhe deu para fazer.

Não nos admira que quando olhamos para o nosso andar à luz de Sua vinda, nos consideramos indignos d’Ele. Eu não poderia esperar que nos sentíssemos de outra maneira. Mas eu gostaria que pudéssemos ter sempre diante de nossa mente a Pessoa do Senhor Jesus Cristo, levantando-Se de Seu lugar à direita do Pai a fim de vir nos buscar. Creio que bem cedo isto iria tornar o nosso andar mais consistente e colocaria as nossas afeições, nosso coração e pensamentos em perfeita ordem.

Acaso não é esta uma radiante esperança? Ele virá, e em Sua vinda irá reivindicar a Igreja para Si, pois diz em João 14.2-3: “Na casa de meu Pai há muitas moradas; se não fosse assim, eu vô-lo teria dito: vou preparar-vos lugar. E, se eu for, e vos preparar lugar, virei outra vez e vos levarei para mim mesmo, para que onde eu estiver estejais vós também”. Ele ainda não cumpriu Sua promessa feita a Pedro. Pedro já está com o Senhor, mas ainda não foi levado para a casa do Pai, e não o será até irmos todos juntos estar lá com Ele. Será que não há algo de afetuoso nisto? Acaso não existe nada de adorável na ideia de irmos estar na casa do Pai? Será que não existe nada de maravilhoso acerca do coração daquele Filho que, embora tendo estado assentado por quase dois mil anos à direita de Deus, continua pensando em voltar para o Seu povo aqui? Porventura não há algo extremamente amoroso em tudo isto?

Ele virá sobre a nuvem de glória. Ele virá para levar Seu povo para o lar. Nós nunca O vimos, mas então poderemos vê-Lo. Não podemos ficar sem Ele, e Ele não ficará sem nós! Nós O veremos com nossos próprios olhos! Nós O escutaremos com nossos próprios ouvidos! Em tudo seremos semelhantes a Ele na glória.

As Dificuldades – No primeiro capítulo os tessalonicenses passavam por uma difícil noite. Paulo nos mostra que só depois de nos encontrarmos fora de perigo é que podemos enxergar com clareza tudo o que passamos. Então, no segundo capítulo, Paulo toma as dificuldades pelas quais ele próprio teve que passar e, enquanto as contempla, não vê nenhuma delas separada de Cristo. Ele lhes diz: – Sofri tortura ao tentar chegar a vocês, e vocês têm sofrido coisas terríveis na minha ausência, mas quando estivermos no lar, na glória, então não haverá dificuldade alguma para eu estar com vocês! Todas estas dificuldades que passei, que foram permitidas para me manter longe de vocês, não existirão mais, e naquele dia vocês serão minha glória e meu gozo – e do Senhor também. Isto é uma verdade, e que bendita verdade; nós a receberemos juntamente com Ele. Nenhuma porção da glória ou da graça deixará de fluir por meio d’Ele, e eu direi: – Oh! conheço Aquele que cumpriu todas as coisas, o Responsável por toda esta glória!

Um trabalha em uma direção, outro em outra, mas, quaisquer que sejam os resultados, tudo se encontra verdadeiramente subordinado a Ele. Foi o Companheiro de Jeová (Zc 13.7) quem cumpriu tudo. Foi Ele quem executou todo o trabalho. E que gozo será para Ele ver os pequenos círculos ao redor de cada obreiro. Aqui, Paulo, cercado por seus queridos tessalonicenses, sua glória e coroa; e ali, mais adiante, algum outro obreiro, com o seu círculo ao seu redor; e em todos eles Cristo irá ver tudo o que a Sua própria graça produziu.

Não creio que meditamos o suficiente a respeito daquela comunhão na glória como réplica de nossa comunhão aqui neste deserto. Todos os detalhes e dificuldades da jornada pelo deserto terão seu correspondente na glória; será nossa coroa de regozijo em Cristo. É verdade que isto tem o seu lado triste, mas, como diz Paulo: – “porventura não o sois vós também?” (1 Ts 2.19). Naquele dia quando todas as dificuldades tiverem passado, minha glória e gozo será aquilo que Deus fez em vós por meio de mim!

Que coração Cristo tem! Não há um coração tão desinteressado como o dEle! Ele adora ceder a outros o privilégio de executar aquilo que Ele próprio poderia estar fazendo. Ele mesmo, lá da Sua glória, poderia ter convertido a todos, assim como fez com Saulo de Tarso, mas não desejou que fosse assim. Ele gosta de trabalhar por intermédio de outros. Mas será que existe trabalho afazer? Ora, porventura não existem olhos para serem enxugados? Acaso não há, entre os santos, corações partidos para serem tratados? Será que não existe nada assim para ser feito entre o povo de Deus? Bem… então vá fazê-lo! Demonstre a paciência de Cristo, pois estará reservado algo de bendito para aquele dia, conectado a todo o trabalho exercido entre os santos.

Com Todos os Seus Santos – No capítulo seguinte Paulo nos mostra algo mais. O Senhor é apresentado trazendo do céu, Consigo, todos os que são Seus. “Para confortar os vossos corações, para que sejais irrepreensíveis em santidade diante de nosso Deus e Pai, na vinda de nosso Senhor Jesus Cristo com todos os Seus santos” (1 Ts 3.13). “Com todos os Seus santos”. Isto é o que chamamos de Epifânia – a manifestação de Cristo. Após O havermos encontrado e termos subido com Ele para a casa do Pai, Ele nos traz novamente Consigo. Ele vem com todos os Seus santos.

Eu não quero supor que o apóstolo poderia abrir o seu coração de uma forma mais simples do que aquela que ele faz nestas palavras. Cristo foi preparar lugar para ali introduzir a Igreja – na casa do Pai; mas o amor divino irá nos trazer com Ele em glória manifesta. O desejo do apóstolo é que não manifestemos em nós mesmos, e enquanto estivermos aqui, qualquer coisa que venha a estragar o momento em que o Senhor nos trará Consigo. Acaso não existe algo de peculiar na expressão “para Se fazer admirável naquele dia em todos os que creem”? (2 Ts 1.10). Ele será admirado em Seus santos! Sendo assim, será que não existe qualquer separação, nem mesmo uma, entre Cristo e Seus santos? Nenhuma! Não há qualquer separação em razão de Seu sangue que foi derramado. Ele deu Sua vida em resgate pelos Seus e no céu não haverá separação. Antes de subir para o Pai, Ele procurou primeiro o Seu povo. Não há separação entre Ele e a Igreja. Ele virá com todos os Seus santos! Oh, que coração maravilhoso Cristo tem! E que mente é a que Deus possui! Ele escolheu Alguém em Quem pode amarrar com segurança todos os Seus planos. Se alguém deseja enrolar uma corda em algo onde ela possa ficar firmemente amarrada, precisa antes saber se pode fazê-lo com segurança. Ninguém enrolaria uma grossa corda em uma frágil varinha. E assim Deus não poderia, por assim dizer, ter qualquer um como o centro de todas as coisas, a não ser o Seu próprio Filho. Todos os Seu santos estão ao Seu redor, e Ele irá trazê-los Consigo em glória.

E o que dizer de meus sofrimentos aqui neste mundo? Com toda certeza há, neste exato momento, poder suficiente nesta esperança para encorajar o coração. E se me encontro agora sob o árduo peso das dificuldades? Devo ser visto com Ele; ser apresentado como quem mantém o mal sob vigilância e está, juntamente com Cristo, apto para ensinar o mundo a se regozijar. Devo ser visto com Ele.

O Mesmo Senhor – Vemos agora, no capítulo 4, que existem algumas coisas que são marcantes, e que nos são apresentadas conectadas com Sua vinda. A primeira delas é a ambição, ou, como o apóstolo a chama aqui, “paixão de concupiscência” (5). Trata-se do coração que não está satisfeito com Deus e com a porção que Ele fornece – ou seja, o esforço constante de se tirar proveito das coisas deste mundo. Isto nada mais é do que o poder do espírito ímpio influenciando o coração separado de Cristo, que ainda procura se satisfazer com as coisas deste mundo, vindo a descobrir, tal qual o jovem da parábola que tentava se alimentar com o alimento dos porcos, que de maneira nenhuma poderá se satisfazer com as bolotas dos porcos. Ele logo se verá na lamentável condição de estar procurando descobrir se existe algo na comida dos porcos que possa lhe fazer bem. Por fim descobrirá que as bolotas são apropriadas somente para o estômago de um porco, e que não há alimento para si.

Então encontramos lamento. O que pode ser considerada uma porção satisfatória? Não encontro nenhuma aqui neste mundo que possa ser considerada como tal. Devo esperar não apenas por um feliz encontro, mas pela Pessoa cujo poder inerente irá se revelar em meio às dificuldades em que encontrará Sua Igreja quando vier buscá-la.

Paulo disse aos tessalonicenses que Deus iria levar Consigo aqueles amigos e parentes que lhes eram mui queridos, os mesmos que eles pensavam ter perdido a chance de estar com Cristo na glória. E estas palavras vêm, desde então, satisfazer os anseios de cada coração que se encontra em uma circunstância semelhante. Tenho um pensamento e sei que ele me causa uma forte impressão. Penso que aquilo que emana de Cristo é o que nos dá o poder para olharmos para cima. “Não quero, porém, irmãos, quem sejais ignorantes acerca dos que já dormem, para que não vos entristeçais, como os demais, que não têm esperança. Porque, se cremos que Jesus morreu e ressuscitou, assim também aos que em Jesus dormem Deus os tornará a trazer com Ele. Dizemo-vos pois, isto, pela palavra do Senhor: que nós, os que ficarmos vivos para a vinda do Senhor, não precederemos os que dormem. Porque o mesmo Senhor descerá do céu com alarido e com voz de arcanjo, e com a trombeta de Deus; e os que morreram em Cristo ressuscitarão primeiro. Depois nós, os que ficarmos vivos, seremos arrebatados juntamente com eles nas nuvens, a encontrar o Senhor nos ares, e assim estaremos sempre com o Senhor. Portanto, consolai-vos uns aos outros com estas palavras” (1 Ts 4.13-18).

Existe tudo o que é necessário para despertar a atenção na forma como o assunto é introduzido: o mesmo Senhor descerá do céu. Quando? Será que diz isto ali? Não! Não nos é dado saber quando. Mas, oh! pensar Naquele sem o qual nada do que foi feito se fez; Naquele em cujas mãos tudo foi entregue por Deus – pensar Naquele Homem que está prestes a descer do céu outra vez!

O fato de existirem pessoas que insistem em afirmar que a morte dos santos é a vinda do Senhor revela a estupidez da mente humana! Se eu morrer hoje à noite, eu irei para o Senhor; o Senhor não desce do céu para que isto ocorra. Quando Estêvão estava morrendo, olhou para o alto e viu o Senhor que esperava por ele no céu; ele não viu o Senhor descendo do céu. Mas o Senhor irá descer. Ele sairá daquele trono no momento determinado. Ele descerá daquela glória sobre a nuvem. Ele descerá dos céus.

Há tudo o que é necessário, na forma em que nos é apresentado, para cativar a alma, despertando nela indagações; e então, mais além, é prudentemente anunciado: “o mesmo Senhor”. Existe apenas um Senhor.

E então, contemplaremos a glória! Oh! e não somente isto mas também a graça! É com a Sua palavra de ordem, com a voz do arcanjo, e com a trombeta de Deus. Nunca leio estas palavras sem que me ocorram certos pensamentos. Sua voz já foi ouvida neste mundo antes deste evento. Seus discípulos ouviram-No orar. No momento em que pediu que vigiassem com Ele, Sua voz se elevou em oração ao Seu Pai, e foi ouvido quanto àquilo que temia. Mas Ele não tomou para Si a direção dos acontecimentos. Ele deixou que Seu Pai fizesse tudo da maneira como desejasse. – Pedro, por que você agiu daquela maneira, desembainhando sua espada e arrancando a orelha do servo? O Senhor colocou Sua mão sobre o ferido e imediatamente o curou. O Senhor não poderia ser libertado pois tinha quedar Sua vida por Suas ovelhas. Por outro lado, está claro que Ele tomou a direção dos acontecimentos quando, ocultamente, permitiu que Saulo de Tarso estivesse presente por ocasião da morte de Estevão, e também quando lhe dirigiu o chamado na estrada para Damasco. Foi, por assim dizer, estando “detrás dos bastidores” que Ele falou e conduziu todas aquelas coisas, mas virá o momento, porocasião da Sua vinda, que Ele irá falar de uma forma bem diferente. O “alarido”, trata-se de uma “palavra de ordem” (Versão Atualizada), como o chamado para os soldados apresentarem as armas; e seu som será ouvido, anunciando que o tempo é chegado. Mas será também uma voz agradável! Ele próprio deixará o trono! Ele próprio chamará pelos Seus! Ele é Aquele que conduz todas as coisas!Ele é o Servo perfeito. Ele não sai do trono do Pai antes da hora, mas quando o fizer, será com um grito de chamada.

E então lemos da “voz do arcanjo”. O Senhor a faz elevar. O tempo é chegado, e que anjo nos céus não estaria disposto a se sujeitar alegremente a Ele? Lemos também que é soada a “a trombeta de Deus”. Deus a faz soar. O Senhor está vindo do trono de Seu Pai; é a ordem que coloca em cena as bênçãos.

Então, além de tudo (até aqui não há nada de novo para nós), há duas coisas que Ele apresenta. Ele diz, “Eu sou a ressurreição e a vida” (Jo 11.25). Nós já nos encontramos associados com Ele em vida-ressurreta nos lugares celestiais. Ele nos fez conhecer isto, porém irá nos dar uma nova exibição do que se trata.

Acaso você tem estado a imaginar como Cristo está conservando os corpos dos que morreram? Você conhece o coração que Ele possui e, portanto, sabe com que afeição está cuidando deles! Você sabe que Ele conhece exatamente onde se encontra o pó de Estêvão ou de Paulo, e que o Seu olhar não deixa passar uma partícula sequer! E Ele está pronto para transformar tudo quando o momento chegar. É Ele próprio Quem o fará. Ele não disse que enviaria algum tipo de poder a fim de dar o toque vital. É Ele próprio Quem o faz. Ele declara que os mortos em Cristo ressuscitarão primeiro. Oh! que porção de esperança é esta para aqueles que tiveram que batalhar contra a morte; para aquele que teve que tomar algum ente querido e baixá-lo na sepultura! Ausente do corpo, mas presente com o Senhor. Oh, morte! Eu serei sua ruína, diz o Senhor. Ele vem para por fim à disputa, e os mortos em Cristo ressuscitarão primeiro. Ele vem para expor Sua glória quanto à ressurreição. Vindo o Senhor, em todos os lugares o pó devolve os mortos que pertencem a Cristo! Ah, sim! É isto que Ele nos apresenta aqui!

Você Gostaria de Ver a Ressurreição Cumprida – cada canto desta terra abrindo-se para deixar sair do pó aquele que está dormindo? Há amor supremo para os mais fracos e temerosos cujos corpos estejam dormindo no pó.

E então vemos o que sucede para “os vivos”! Isto diz respeito a você e a mim. Se Ele viesse hoje mesmo, derramaria tamanho manancial de vida em nós que não nos sobraria nada a não ser imortalidade. Costumamos escutar as pessoas citarem Hebreus 9.27 de maneira errada. Costumam dizer: “a todos os homens está ordenado morrerem uma vez”. O correto é “aos homens está ordenado morrerem”, e não “a todos os homens”. Se o Senhor viesse esta noite, não nos seria necessário deixar o corpo.

O apóstolo nos mostra em seguida o conforto que é isto para nós. O que nos traz conforto? A ressurreição e a vida? Não! O que nos traz conforto é o Senhor que é tudo isso para nós!

Conservados Irrepreensíveis – No último capítulo nos é apresentado um pouco do estado em que se encontrará o mundo quando o Senhor fizer tudo isso. Eles não têm nem ideia da vinda do Senhor. Pertencem à noite; mas nós não somos da noite. O povo do Senhor está esperando por Ele,mas Ele nos mostra que as pessoas deste mundo não são assim.

Então o Senhor demonstra o Seu próprio desejo, e também do Espírito Santo. “E o mesmo Deus de paz vos santifique em tudo; e todo o vosso espírito, e alma, e corpo, sejam plenamente conservados irrepreensíveis para a vinda de nosso Senhor Jesus Cristo” (23). Aqui está uma palavra fortíssima e abençoada, ainda que simples. Os pensamentos do Espírito de Deus e os pensamentos do apóstolo não estavam no fato de eu ser levado a conhecer as coisas celestiais, de Deus e de Cristo, para depois estragar o meu andar pelo relacionamento com as coisas de Sodoma e Gomorra. Pelo contrário, o pensamento do Senhor é que nosso “espírito, e alma, e corpo, sejam plenamente conservados irrepreensíveis para a vinda de nosso Senhor Jesus Cristo. Fiel é o que vos chama, o qual também o fará”. Ele não está falando de livrar meus membros da lei do pecado e da morte. Ele não está falando de me colocar em um lugar onde não terei mais conflito. Ele não está falando de me tirar do deserto. Mas Ele está, isto sim, falando de Sua graça que irá me conservar inculpável. Ele não está dizendo que naquele dia Deus nos verá inculpáveis. Pelo seu próprio andar, o apóstolo estava persuadido de que Cristo seria magnificado em seu corpo, fosse pela vida, fosse pela morte. E quando fez tal afirmação, ele estava certo de que Cristo seria magnificado; não lhe passava pela cabeça a ideia de ser desaprovado em seu próprio andar. Não! Esta palavra é para fortalecer os corações dos filhos de Deus. Foi Ele Quem os chamou e Ele o fará.

Se Deus vai mantê-lo inculpável, então, ponha isto em sua mente, você é invencível! Pense bem nisto: você está destinado a vencer! Lembre-se bem: você não irá fracassar! Você vencerá pois Ele o manterá inculpável. Vejo Deus Se colocando diante de mim, dizendo: – “EU SOU a Pessoa que irá mantê-lo inculpável até àquele dia”.

John Nelson Darby (18 de novembro de 1800 – 29 de abril de 1882) – Foi um teólogo e pregador anglo-irlandês e figura de grande influência entre Irmãos de Plymouth. Desenvolveu a doutrina do Dispensacionalismo. Realizou uma tradução da Bíblia baseada nos textos hebraicos e gregos, chamada em inglês “The Holy Scriptures: A New Translation From The Original Languages by J. N. Darby“, também traduzida para o alemão e francês.