O leão é admirável por sua força, ferocidade e aparência de rei. O cordeiro é admirável por sua mansidão e por fornecer lã para nossas roupas, com a humildade de um servo. O mais admirável de tudo, porém, é um cordeiro semelhante a um leão e um leão semelhante a um cordeiro. O que torna Cristo glorioso, conforme Jonathan Edwards comentou há quase 250 anos, é “um conjunto admirável de características excelentes e diversificadas“.
Por exemplo, admiramos Cristo por sua transcendência, mas o admiramos mais ainda porque a transcendência de sua grandeza se mistura com submissão a Deus. Maravilhamo-nos nele porque sua justiça inflexível é temperada com misericórdia. Sua majestade é adoçada com meiguice. Apesar de igualar-se a Deus, ele tem uma profunda reverência por Deus. Apesar de ser digno de tudo o que é bom, ele foi paciente para sofrer o que é mau. Seu domínio soberano sobre o mundo foi revestido de um espírito de obediência e submissão. Ele confundiu os orgulhosos escribas com sua sabedoria, mas foi simples a ponto de ser amado pelas crianças. Ele acalmou a tempestade com uma só palavra, mas não destruiu com um raio os samaritanos, nem fugiu do martírio da cruz.
A glória de Cristo não é fácil de ser compreendida. É um conjunto de qualidades extremamente diversificadas em uma só pessoa. Vemos isto no Novo Testamento, no livro de Apocalipse: “… Eis que o Leão da tribo de Judá, a Raiz de Davi, venceu para abrir o livro e os seus sete selos”. Eis o Cristo triunfante, semelhante a um leão, pronto para abrir o livro da história.
Mas o que lemos no versículo seguinte? “Depois vi um Cordeiro , que parecia ter estado morto, em pé, no centro do trono, cercado pelos quatro seres viventes e pelos anciãos. Ele tinha sete chifres e sete olhos, que são os sete espíritos de Deus enviados a toda a terra”. Portanto, o Leão é um Cordeiro – um animal fraco, inofensivo, humilde, fácil de ser capturado, que fornece lã para nossas roupas e é morto para nos servir de alimento. Cristo é um Leão semelhante a um cordeiro.
O Leão de Judá venceu porque se dispôs a representar o papel de cordeiro. Ele entrou em Jerusalém no domingo de ramos como um rei a caminho do trono, e saiu de Jerusalém na sexta-feira como um cordeiro a caminho do matadouro. Expulsou os ladrões do Templo como um leão devorando sua presa. E, no fim da semana, entregou seu majestoso pescoço à faca, e o Leão de Judá foi abatido como um cordeiro sacrificial.
Mas que tipo de cordeiro é esse? Apocalipse 5.6 diz que o “Cordeiro, que parecia ter estado morto, em pé … tinha sete chifres”. Observe duas coisas. Primeiro, o Cordeiro está “em pé”. Ele não está caído no chão e mergulhado em sangue como esteve antes. Sim, ele foi morto. Mas agora está em pé – em pé no centro do trono.
Em segundo lugar, o Cordeiro tem sete chifres. O chifre é símbolo de força e poder ao longo de todo o livro de Apocalipse (12.3; 13.1; 17.3, 12), bem como no Antigo Testamento (Dt 33.17; Sl 18.2; 112.9). E o número sete significa abundância e plenitude. Portanto, esse não é um cordeiro comum. Ele ressuscitou dentre os mortos e é totalmente poderoso em sua força multiplicada por sete. Ele é, de fato, um Cordeiro semelhante a um leão.
Vemos isso com grande temor em Apocalipse 6.16, quando os homens gritam às montanhas e às rochas: “Caiam sobre nós e escondam-nos… da ira do Cordeiro!” E vemos também em Apocalipse 17.14: “Guerrearão contra o Cordeiro, mas o Cordeiro os vencerá, pois é o Senhor dos senhores e o Rei dos reis…”.
Portanto, Cristo é um Leão semelhante a um cordeiro e um Cordeiro semelhante a um leão. Esta é a sua glória: “um conjunto admirável de características excelentes e diversificadas”.
Esse glorioso conjunto brilha com todo o seu esplendor porque se harmoniza perfeitamente com nosso cansaço e desejo de grandeza. Jesus disse: “Venham a mim, todos os que estão cansados e sobrecarregados, e eu lhes darei descanso. Tomem sobre vocês o meu jugo e aprendam de mim, pois sou manso e humilde de coração…” (Mt 11.28-29). A mansidão e humildade desse Leão semelhante a um cordeiro aliviam nosso cansaço. E nós o amamos por isso. Se ele apenas recrutasse de modo idêntico à Marinha, que exige força, estaríamos completamente perdidos.
Mas sozinha essa qualidade de mansidão não seria gloriosa. A mansidão e humildade do Leão semelhante a um cordeiro tornam-se brilhantes ao lado da autoridade ilimitada e eterna do Cordeiro semelhante a um leão. Só isso se encaixa em nosso desejo de grandeza. Sim, estamos fracos, cansados e sobrecarregados. Mas, pelo menos de tempos em tempos, arde em cada coração o sonho, Jesus disse : “Foi-me dada toda a autoridade nos céus e na terra. Portanto, vão e façam discípulos de todas as nações… e eu estarei sempre com vocês, até o fim dos tempos” (Mt 28.18-20).
O Cordeiro semelhante a um leão nos exorta a realidade. E, em toda a sua autoridade, ele nos lembra que estará conosco até o fim dos tempos. É disto que necessitamos – um campeão, um líder invencível. Também a nós, simples mortais, não é fácil compreender. Somos dignos de piedade, mas temos paixões arrebatadoras. Somos fracos, mas sonhamos realizar maravilhas. Nossa vida é transitória, mas a eternidade está escrita em nossos coração. A glória de Cristo brilha com todo o seu esplendor porque o conjunto de suas características excelentes e diversificadas se harmoniza perfeitamente com nossa complexidade.
Certa vez, esse Leão semelhante a um cordeiro sofreu opressão e aflição. Ele foi levado ao matadouro. Como uma ovelha que permanece em silêncio diante de seus tosquiadores, ele não abriu a sua boca (Is 53.7). Mas no final não será assim. O Leão semelhante a um cordeiro se transformará em Cordeiro semelhante a um leão e, com a serenidade de um rei, tomará seu lugar à beira do lago de fogo, onde seus inimigos impenitentes serão atormentados “com enxofre ardente na presença dos santos anjos e do Cordeiro… para todo o sempre” (Ap 14.10-11).
John Stephen Piper – Extraído do livro “Um homem chamado Jesus Cristo”, Editora Vida.