O Ladrão Que Creu

“Então disse: Jesus, lembra-te de mim, quando entrares no teu reino. Respondeu-lhe Jesus: Em verdade te digo que hoje estarás comigo no paraíso” (Lucas 23:42-43).

Faz algum tempo que preguei sobre a história completa do ladrão moribundo. Não me proponho a fazer o mesmo no dia de hoje, somente quero vê-lo desde um ponto de vista específico. A história da salvação do ladrão agonizante é um exemplo notável do poder de salvação de Cristo, e de sua abundante disposição para receber a todos que vêm a Ele, em qualquer condição em que possam estar. Não posso considerar este ato de graça como um exemplo solitário, como tampouco a salvação de Zaqueu, a restauração de Pedro, ou o chamado de Saulo, o perseguidor.

Em certo sentido, toda conversão é única: não há duas iguais e, contudo, qualquer conversão é um modelos de outras. O caso do ladrão moribundo é muito mais semelhante à nossa conversão, do que diferente; de fato, seu caso se pode considerar mais como típico do que como um fato extraordinário, e assim o considerarei neste momento. Que o Espírito Santo fale por ele para alentar aqueles que estão à beira do desespero!

Recordem amados amigos, que nosso Senhor Jesus, no momento que salvou a esse malfeitor, estava em seu ponto mais baixo. Sua glória havia minguado no Getsêmani, e diante de Caifás, Herodes e Pilatos; mas agora havia alcançado seu nível mais baixo. Despido de sua túnica, e cravado na cruz, a atrevida multidão zombava de nosso Senhor que, agonizante, estava morrendo; então Ele “foi contado entre os transgressores” e foi feito como escória de todas as coisas. Contudo, ainda nessa condição, concluiu esse maravilhoso ato de graça. Vejam a maravilha produzida pelo Salvador despojado de toda Sua glória, e pregado no madeiro em um espetáculo de vergonha, à beira da morte! Quão certo é que pode fazer grandes maravilhas de misericórdia agora, visto que regressou a Sua glória, e está assentado no trono de luz! “Pode salvar por completo aos que por meio dele se achegam a Deus, posto que vive para sempre para interceder por eles”.

Se um Salvador agonizante salvou o ladrão, meu argumento é que Ele pode fazer ainda mais agora que vive e reina. Todo poder no céu e na terra Lhe foi dado; pode algo no momento presente se sobrepor ao poder de Sua graça? Não é somente a debilidade de nosso Salvador que faz memorável a salvação do ladrão penitente; é o fato de que o malfeitor moribundo o viu diante de seus próprios olhos. Você pode se pôr em seu lugar, e imaginar a alguém que está suspenso em agonia de uma cruz? Poderia facilmente crer que era o Senhor da glória, e que logo iria a seu reino?

Não seria pouca a fé para que, em um momento assim, cresse em Jesus como Senhor e Rei. Se o apóstolo Paulo estivesse aqui, e quisesse agregar um versículo ao Novo Testamento, ao capítulo onze do Livro de Hebreus, começaria certamente seus exemplos de fé admirável com a fé deste ladrão, que creu em um Cristo crucificado, ridicularizado e agonizante, e clamou a Ele como a alguém cujo reino viria com certeza. A fé do ladrão foi ainda mais notável porque estava sob uma terrível dor, e condenado a morrer. Não é fácil exercitar a paciência quando se é torturado por uma angústia mortal. Nosso próprio descanso mental às vezes se vê perturbado pela dor do corpo quando somos sujeitados por um sofrimento agudo, não é fácil mostrar essa fé que cremos possuir em outras situações. Este homem, sofrendo como estava, e vendo ao Salvador em um estado tão triste, contudo, ainda assim creu para a vida eterna. Fala aqui uma fé que raramente se vê.

Recordem, também, que estava rodeado de zombadores. É fácil nadar com a corrente, mas é duro ir contra ela. Este homem ouviu os sacerdotes orgulhosos, quando ridicularizavam ao Senhor, e a grande multidão do povo, todos a uma só voz, unirem-se no escárnio; seu companheiro captou o espírito da hora e também zombou, e ele talvez tenha feito o mesmo por um breve momento; mas pela graça de Deus foi transformado, e creu no Senhor Jesus apesar de todo seu desprezo. Sua fé não foi afetada pelo que o cercava; ele, pelo contrário, ladrão agonizante como era se reafirmou em sua confiança. Como uma rocha saliente, colocada no meio da torrente de águas, declarou a inocência do Cristo, de quem outros blasfemavam. Sua fé é digna de que a imitemos em seus frutos. Nenhum outro membro de seu corpo estava livre exceto sua língua, e a utilizou sabiamente para repreender a seu irmão malfeitor, e defender ao Seu Senhor. Sua fé tornou manifesto um valente testemunho e uma confissão ousada. Não vou elogiar o ladrão, ou a sua fé, mas a exaltar a glória dessa graça divina que deu ao ladrão uma fé assim, e logo imerecidamente o salvou por seu meio. Estou ansioso de mostrar quão glorioso é o Salvador, esse Salvador que salva de maneira completa, aquele que em um momento assim, pôde salvar a esse homem, e dar-lhe uma fé tão grande, e tão perfeita e rapidamente prepará-lo para a felicidade eterna. Vejam o poder desse Espírito que podia produzir tal fé em um solo tão pouco promissor, e em um clima tão pouco propício. Entremos de imediato no centro do nosso sermão.

Primeiro, observem ao homem que foi o último companheiro de nosso Senhor na terra; segundo, observem que esse mesmo homem foi o primeiro companheiro de nosso Senhor na porta do paraíso; e terceiro, vejamos o sermão que nosso Senhor nos prega neste ato de graça. Oh, que o Espírito Santo abençoe este sermão do princípio ao fim!

I. Com muito cuidado OBSERVEMOS QUE O LADRÃO CRUCIFICADO FOI O ÚLTIMO COMPANHEIRO DE NOSSO SENHOR NA TERRA.

Que triste companhia nosso Senhor selecionou quando esteve aqui. Não se juntou com os religiosos fariseus nem com os filosóficos saduceus, senão que era conhecido como o “amigo de publicanos e de pecadores”. Como me regozijo nisto! Concede-me a segurança de que Ele não recusará associar-se comigo. Quando o Senhor Jesus me fez seu amigo, seguramente que não fez uma seleção que lhe trouxesse crédito. Crês que ganhou alguma honra quando te fez seu amigo? Acaso ganhou algo por causa de nós alguma vez? Não, irmãos meus; se Jesus não tivesse se inclinado tão baixo, talvez não tivesse vindo a mim; e se não tivesse procurado ao mais indigno, não teria vindo a ti. Assim o sentes, e estás agradecido, pois Ele veio “não para chamar a justos, senão pecadores”. Como o Grande Médico, nosso Senhor passava muito tempo com os enfermos: se dirigia para onde podia exercitar sua arte de curar.

Os sãos não necessitam de um médico: não podem apreciá-lo, nem oferecem a oportunidade para que ele exercite sua habilidade; por conseguinte, Ele não frequentou suas moradas. Sim, depois de tudo, nosso Senhor fez uma boa escolha quando te salvou e quando me salvou; em nós encontrou abundante campo para a sua misericórdia e graça. Houve suficiente espaço para que Seu amor pudesse trabalhar dentro dos terríveis vazios de nossas necessidades e pecados; e ali Ele fez grandes coisas por nós, pelas quais nos alegramos.

Para que não haja aqui alguém que se desespere e diga: “nunca se dignará a olhar para mim,” quero que estejais advertidos que o último companheiro de Cristo na terra foi um pecador, e não um pecador comum. Havia transgredido as leis do homem, pois era um ladrão. Alguém que se chama “bandido”; e suponho que provavelmente esse era o caso. Os bandidos desses dias mesclam o assassinato com seus roubos: era provavelmente um pirata armado contra o governo romano, fazendo disto um pretexto para saquear se a ele fosse apresentada a oportunidade. Ao fim, foi feito prisioneiro e foi condenado por um tribunal romano, que de forma geral, era usualmente justo, e neste caso, certamente o foi; pois o mesmo confessa a justiça de sua condenação. O malfeitor que creu na cruz era um ladrão convicto, que havia permanecido na cela dos condenados e logo sofreria a pena capital por seus crimes. Um criminoso convicto era a última pessoa com a qual nosso Senhor teve que tratar nesta terra. Que amante das almas dos culpados é Ele! Como se inclina até o mais baixo da humanidade! À este homem tão indigno, antes que deixasse a vida, o Senhor da glória falou com graça incomparável, falou-lhe com palavras tão maravilhosas como nunca se poderão superar ainda que procures em todas as Escrituras: “Hoje estarás comigo no paraíso”.

Não creio que em nenhuma parte deste Tabernáculo se encontre alguém que tenha sido convencido diante da lei, que nem sequer se possa culpar de uma transgressão contra a honestidade comum; mas se houvesse uma pessoa assim entre os meus ouvintes, a convidaria a que encontrar perdão e transformação em seu coração por meio de nosso Senhor Jesus Cristo. Podes chegar a Ele, quem quer que sejas; este homem o fez. Aqui há um exemplo de alguém que havia chegado ao fundo da culpa, e que o reconheceu; não procurou desculpas, nem buscou um manto para tapar seu pecado; estava nas mãos da justiça, enfrentando sua sentença de morte e, contudo, creu em Jesus, e disse uma humilde oração para Ele, e ali mesmo foi salvo. Como é a amostra assim é o todo. Jesus salva a outros do mesmo tipo. Por isso, deixem-me expor de forma muito simples, de maneira que ninguém me interprete mal, nenhum de vocês está excluído da infinita misericórdia de Cristo, por maior que seja a iniquidade de vocês: se creem em Jesus, Ele os salvará.

Este homem não somente era um pecador; era um pecador que apenas havia despertado. Não creio que antes tivesse pensado seriamente no Senhor Jesus. De acordo com os outros evangelistas, parece que se tinha unido com seu companheiro ladrão para zombar de Jesus: se em realidade não utilizou palavras de opróbrio, no mínimo chegou a consentir com elas, de maneira que o evangelista não lhe fez injustiça quando disse, “também os ladrões que estavam crucificados com ele lhe injuriavam da mesma maneira”. Contudo, repentinamente, se desperta a convicção de que o homem que está agonizando ao seu lado é algo mais que um homem. Lê o título sobre a sua cabeça, e acertadamente crê: “Este é Jesus, o rei dos judeus”. Ao crer-lhe assim, fez sua petição ao Messias, que havia encontrado havia pouco tempo, e se encomenda em suas mãos. Querido leitor, vês esta verdade, que no momento em que um homem sabe que Jesus é o Cristo de Deus pode pôr de imediato confiança Nele e ser salvo? Certo pregador, cujo Evangelho era muito duvidoso, dizia: “vocês, que viveram no pecado por cinquenta anos, creem que em um instante podem ser limpos pelo sangue de Jesus?” Respondo: “Sim, certamente cremos que em um instante, por meio do precioso sangue de Jesus, a alma mais negra pode se tornar branca. Certamente cremos que em um simples instante podem ser absolutamente perdoados os pecados de sessenta ou setenta anos, e que a velha natureza, que ia se tornando cada vez pior, pode receber sua ferida de morte em um instante, enquanto a vida eterna pode ser implantada de imediato na alma”. Assim foi com este homem. Havia tocado no fundo, mas em um momento, se despertou a convicção de que o Messias estava junto a ele, e crendo, o viu e viveu.

Assim que, meus irmãos, se vocês nunca tiveram uma convicção religiosa em suas vidas, se viveram até agora uma vida totalmente ímpia, ainda assim, se neste exato momento creem que o amado Filho de Deus veio ao mundo para salvar aos homens do pecado, e sinceramente reconhecem seus pecados e confiam Nele, imediatamente serão salvos. Sim, enquanto digo estas palavras, a obra da graça pode ser consumada pelo Ser glorioso que foi ao céu com poder onipotente para salvar.

Desejo expor este caso de forma muito simples: este homem que foi o último companheiro de Cristo sobre a terra, era um pecador na miséria. Seus pecados lhe haviam encurralado: agora tinha a recompensa por suas obras. Constantemente encontro pessoas nesta condição: viveram uma vida de libertinagem, excessos e descuidos, e começam a sentir que caem em seus corpos as chamas de fogo da tempestade da ira; vivem em um inferno terreno, um prelúdio da condenação eterna. O remorso como uma áspide os picou, convertendo seu sangue em fogo. Este homem estava neste terrível estado, e mais, estava no extremo. Já não podia viver muito: a crucificação era inevitavelmente fatal; em pouco tempo as pernas lhe romperiam para pôr fim a sua existência infeliz. Ele, pobre alma, não tinha de vida senão um curto espaço do meio-dia ao pôr-do-sol; mas esse era o tempo suficiente para o Salvador, que é poderoso para salvar. Alguns têm muito medo que as pessoas adiem o momento de vir a Cristo se afirmamos isto. Não posso impedir o que os homens de má fé façam com a verdade, mas eu vou proclamá-la de todas as maneiras. Se estão a uma hora de morrer, creiam no Senhor Jesus Cristo, e serão salvos. Se não chegarem jamais a seus lares, porque poderão morrer no caminho, se agora creem no Senhor, serão salvos de imediato. Olhando para Jesus e confiando nele, Ele lhes dará um coração novo e um espírito reto, e tirará a mancha dos vossos pecados. Esta é a glória da graça de Cristo. Como gostaria de enaltecer sua graça com uma linguagem adequada! A última vez que foi visto na terra antes de morrer foi em companhia de um criminoso convicto, a quem falou da maneira mais amorosa. Venham, oh culpados, e Ele os receberá com abundante graça!

Mais ainda, este homem a quem Cristo salvou no último momento era um homem que já não podia realizar boas obras. Se a salvação fosse pelas boas obras, não poderia ter sido salvo; posto que estivesse atado de pés e mãos ao madeiro de seu destino funesto. Tudo havia terminado para ele quanto a qualquer ato ou obra de justiça. Poderia dizer uma ou duas boas palavras, mas isso era tudo; não podia executar nada bom; se sua salvação tivesse dependido de uma vida ativa de serviço, certamente que nunca poderia ter sido salvo. Como pecador que era não podia exibir um arrependimento duradouro do pecado, pois tinha curtíssimo tempo para viver. Não podia ter experimentado uma amarga convicção de seus atos, que tivessem durado meses e anos, pois seu tempo estava medido em instantes, e estava à beira da sepultura. Seu fim estava muito perto e, contudo, o Salvador o pôde salvar, e o salvou tão perfeitamente que antes do pôr-do-sol, estava no paraíso com Cristo.

Este pecador, que não pude descrever com cores demasiadamente negras, foi um que creu em Jesus, e confessou sua fé. Confiou no Senhor. Jesus era um homem, e assim ele lhe chamou; mas também soube que era o Senhor, e assim lhe chamou e disse: “Senhor, lembra-te de mim”. Tinha tal confiança em Jesus que se tão somente o Senhor pensasse nele, se tão-somente o recordasse quando chegasse ao seu reino, isso seria o que pediria dele. Ah, meus queridos leitores! A inquietude que sinto por alguns de vocês é que sabem tudo acerca do Senhor e, contudo, não confiam nele. A confiança é o ato salvador. Há alguns anos estavam no ponto de confiar realmente em Jesus, mas agora seguem tão distantes dele como estavam então. Este homem não titubeou: se agarrou a essa única esperança. Não guardou em sua mente a segurança no Senhor como Messias como uma crença seca, morta, senão que a transformou em confiança e oração, “Senhor, lembra-te de mim quando entrares no teu reino”. Oh, que muitos de vocês possam confiar neste dia, na infinita misericórdia do Senhor! Seriam salvos, estou seguro que seriam: se vocês, ao confiarem Nele não são salvos, eu mesmo teria que renunciar a toda esperança. Isto é tudo o que nós temos feito: temos visto, e temos vivido, e continuamos vivendo porque vemos ao Salvador vivente; oh, que esta manhã, ao sentir o pecado, vejam a Jesus, confiando nele, e confessando essa confiança! Reconhecendo que Ele é Senhor para a glória de Deus Pai, vocês devem e serão salvos.Como consequência de ter esta fé que o salvou, este pobre homem disse uma oração humilde, porém apropriada, “Senhor, lembra-te de mim”. Isto não parece que seja pedir muito, mas como ele o compreendeu, é tudo o que um coração ansioso poderia desejar. Ao pensar no reino, tinha uma tão clara ideia da glória do Salvador, que sentiu que se o Senhor tão somente pensasse nele, seu estado seria salvo. José na prisão pediu ao copeiro do rei que se lembrasse dele quando o rei restaurasse seu posto; porém o copeiro o esqueceu. Nosso José nunca esquece um pecador que clama a Ele dentro do mais profundo calabouço; em seu reino recorda os lamentos e queixas dos pobres pecadores oprimidos pelo sentimento de seu pecado. Não podes orar nesta manhã, e desta maneira assegurar-te um lugar na memória do Senhor Jesus?

Assim intentei descrever ao homem, e depois de ter feito o melhor que pude, falharei em meu propósito a menos que os faça ver que qualquer coisa que este ladrão tenha sido, não é senão uma descrição do que vocês são. Especialmente se foram grandes pecadores, e se viveram muito tempo sem se preocuparem pelas coisas eternas, são como este malfeitor; e, contudo, vocês, sim, vocês, podem fazer o que o ladrão fez; podem crer que Jesus é o Cristo e encomendar suas almas em suas mãos, e Ele os salvará tão seguramente como salvou ao bandido condenado. Jesus com graça abundante disse: “Ao que vem a mim, de maneira alguma o lançarei fora”. Isto significa que se vocês vêm e confiam Nele, não importa o que sejam Ele, por nenhuma razão, e sob nenhum fundamento, nem circunstância, os lançará fora. Compreendem esse pensamento? Sentem que lhes pertence, e que, se vão a Ele, encontrarão vida eterna? Regozijo-me se já percebem esta verdade.

Há poucas pessoas que tenham tanto trato com almas abatidas e desesperadas como eu. Pobres rejeitados me escrevem continuamente. Apenas sei o motivo. Não tenho um dom especial para consolar, mas com gosto me inclino a reconfortar aos afligidos, e parece que eles sabem. Que alegria tenho quando vejo a um desalentado que encontrou a paz! Tive esta alegria várias vezes durante a semana que acaba de terminar. Quanto desejo que alguns de vocês, que têm o coração destroçado, porque não podem encontrar perdão, quisessem vir ao meu Senhor, e confiar Nele, e descansar! Ele não disse: “Vinde a mim, todos os que estais cansados e oprimidos, e eu os aliviarei”? Venham e o ponham à prova, e o descanso será de vocês.

II. Em segundo lugar, OBSERVEM QUE ESTE HOMEM FOI O COMPANHEIRO DE NOSSO SENHOR NA PORTA DO PARAÍSO.

Não vou especular quanto ao lugar para onde foi nosso Senhor quando abandonou o corpo que estava pregado na cruz. Por algumas Escrituras parece que desceu ao centro da terra, para que pudesse cumprir todas as coisas. Mas Ele atravessou rapidamente as regiões dos mortos. Recordem que Ele morreu, talvez uma hora ou duas antes do ladrão, e durante esse tempo a glória eterna brilhou através do mundo subterrâneo, e estava fulgurando através das portas do paraíso justo quando o ladrão perdoado entrava no mundo eterno. Quem é este que entra pela porta de pérolas ao mesmo tempo que o Rei da glória? Quem é este favorecido companheiro pelo Redentor? É um mártir digno de honra? É um fiel apóstolo? É um patriarca, como Abraão; ou um príncipe, como Davi? Não, nenhum deles. Vejam, e assombrem-se com a graça soberana! O que entra pela porta do paraíso, com o Rei da glória, é um ladrão, que foi salvo em um decreto de morte. Não é salvo de uma maneira inferior, nem é recebido na beatitude de um modo secundário. Verdadeiramente, há últimos que serão primeiros!

Aqui gostaria que notassem a condescendência da eleição de nosso Senhor. O camarada do Senhor da glória, por quem o querubim deixa de lado sua espada de fogo, não é uma grande pessoa, senão um malfeitor recentemente convertido. E por quê? Penso que o Salvador o tomou com Ele como um exemplo do que Ele queria realizar. Parecia dizer a todos os poderes celestiais: “Trago um pecador comigo; é uma amostra do restante”.

Vocês não ouviram daquele que sonhou que estava em frente das portas do céu e enquanto estava ali, ouviu uma música doce de um grupo de veneráveis pessoas que seguiam seu caminho até a glória? Entraram pelas portas celestiais, e houve grande regozijo e exclamações. Ao perguntar: “quem são estes?”, lhe foi dito que eles eram a boa companhia dos profetas. Suspirou e disse: “Ai! Não sou um deles”. Esperou um pouco, e outro grupo de seres brilhantes se aproximou, e adentraram ao céu com aleluias, e quando perguntou: “Quem são estes e de onde vêm?”, a resposta foi: “Este é o glorioso grupo dos apóstolos”. Outra vez suspirou e disse: “Não posso entrar com eles”. Então veio outro grupo de homens com túnicas brancas e levando palmas em suas mãos, esses homens andaram em meio de grandes aclamações dentro da cidade dourada. Soube então que era o nobre exército dos mártires; e outra vez chorou, e disse: “não posso entrar com estes”. Ao final ouviu as vozes de muita gente, e viu uma multidão maior que avançava entre os quais percebeu a Raabe e Maria Madalena, Davi e Pedro, Manassés e Saulo de Tarso, e observou especialmente ao ladrão, o que morreu à destra de Jesus. E foram se aproximando das portas celestiais. Então ansiosamente perguntou: “quem são estes?” E lhe responderam: “esta é a hoste de pecadores salvos pela graça”. Então se pôs extremamente contente, e disse: “eu posso entrar com estes”. Ainda que pensasse que não haveria aclamações quando esta multidão chegasse ante as portas e que entrariam no céu sem cânticos; contudo, pareceu que se levantava um louvor sete vezes maior com aleluias para o Senhor do amor; porque há alegria entre os anjos de Deus pelos pecadores que se arrependem. Eu convido a qualquer pobre alma que não aspira servir a Cristo, nem sofrer por Ele, todavia, que, no entanto, venha à companhia de Jesus com outros pecadores crentes, pois Ele nos abre uma porta diante de nós.

Enquanto analisamos este texto, observem bem o bendito lugar ao qual o Senhor chamou a este penitente. Jesus disse: “Hoje estarás comigo no paraíso”. Paraíso significa jardim, um jardim cheio de deleites. O jardim do Éden é o tipo do céu. Sabemos que paraíso significa céu, pois o apóstolo nos fala de um homem que foi arrebatado ao paraíso, e em seguida lhe chama o terceiro céu. Nosso Salvador levou este ladrão agonizante ao paraíso de deleite infinito, e é para ai onde levará a todos nós, pecadores que cremos nele. Se confiarmos nele, ao final estaremos com Ele no paraíso.

A seguinte palavra é ainda melhor. Notem a glória da sociedade na qual é introduzido este pecador: “Hoje estarás comigo no paraíso”. Sim o Senhor disse, “Hoje estarás comigo,” não necessitamos que se agregue outra palavra; porque onde Ele está, é o céu para nós. Agregou a palavra “paraíso” para que ninguém se perguntasse para onde iria. Pensa nele, alma desprovida de graça; vais a habitar com o Todo Desejável para sempre. Vocês, pobres e necessitados, estarão com Ele em sua glória, em sua felicidade, em sua perfeição. Onde Ele está, e como Ele é, ai estarão e serão vocês. O Senhor olha esta manhã para os seus olhos chorosos, e diz: “Pobre pecador, tu estarás comigo um dia”. Penso ouvi-los dizer: “Senhor, essa é uma felicidade demasiadamente grande para um pecador como eu”; porém responde: “Te amei com um amor eterno, por conseguinte com misericórdia vou te atrair a mim, até que estejas onde eu estou”. A ênfase do texto está na rapidez de tudo isto. “Em verdade te digo, hoje estarás comigo no paraíso”. “Hoje”. Não permanecerás no purgatório por gerações, nem dormirás no limbo por tantos anos; senão que estarás pronto de imediato para a alegria, e de imediato irá desfrutá-la. O pecador já estava quase ante às portas do inferno, mas a misericórdia todo poderosa o levantou, e o Senhor disse, “Hoje estarás comigo no paraíso”. Que mudança da cruz à coroa, da angústia do Calvário à glória da Nova Jerusalém! Nessas poucas horas o mendigo foi levado do esterco e foi posto entre príncipes. “Hoje estarás comigo no paraíso”. Podem medir a mudança desse pecador, abominável em sua iniquidade quando o sol estava no alto do meio-dia, a esse mesmo pecador, vestido de branco puro, e aceito no Amado, no paraíso de Deus, ao pôr-do-sol? Oh, Salvador glorioso, que maravilhas podes fazer! Quão rapidamente podes realizá-las!

Por favor, estejam advertidos também, sobre a majestade da graça do Senhor neste texto. O Salvador lhe disse? “em verdade te digo, hoje estarás comigo no paraíso”. Nosso Senhor dá sua própria vontade como razão para salvar este homem. “Te digo”. O disse quem reclama o direito de falar assim. É Ele quem terá misericórdia de quem Ele quiser ter misericórdia, e terá compaixão de quem Ele quiser ter compaixão. Fala com majestade, “Em verdade te digo”. Acaso não são palavras imperiais? O Senhor é um Rei em cuja palavra há poder. O que Ele diz ninguém pode contradizer. Ele, que tem as chaves do inferno e da morte te diz, “Te digo, hoje estarás comigo no paraíso”. Quem impedirá o cumprimento de Sua Palavra?Vejam a certeza disto. Diz: “em verdade”. Nosso bendito Senhor na cruz retomou sua antiga maneira majestosa, quando dolorosamente volveu sua cabeça, e viu ao seu ladrão convertido. Ele sempre inicia sua prédica com, “Em verdade, em verdade”; e agora que está agonizando utiliza sua maneira favorita, e diz, “Em verdade”. Nosso Senhor não jurava; sua mais forte asseveração era, “Em verdade, em verdade”. Para dar ao penitente a mais simples segurança, disse, “Em verdade te digo, hoje estarás comigo no paraíso”. Nisto tinha uma segurança absolutamente indisputável que ainda que tivesse que morrer, contudo viveria e se encontraria no paraíso com seu Senhor.

Desta maneira lhes mostrei que nosso Senhor passou pela porta de pérolas em companhia de um a quem Ele mesmo havia garantido a entrada. Por que você e eu não haveríamos de passar através dessa porta de pérolas a seu devido tempo, vestidos com Seu mérito, lavados em Seu sangue, descansando em Seu poder? Em um destes dias os anjos dirão de ti e de mim, “Quem é este que vem do deserto apoiando-se no Amado?” Os luminosos se assombrarão ao ver a alguns de nós indo. Se viveste uma vida de pecado até agora e, contudo, te arrependes e entras no céu, que assombro haverá em cada rua dourada ao pensar que chegaste ali! Nos primeiros anos da Igreja Cristã, Caio Mário Vitorino [1] se converteu; porém havia alcançado uma idade tão avançada, e havia sido um tão grande pecador, que o pastor e a igreja duvidaram dele. Deu, contudo, uma clara prova de haver experimentado a transformação divina, e então houve grandes aclamações e muitos gritos de “Vitorino se converteu em cristão!” Oh, que alguns de vocês grandes pecadores possam ser salvos! Com quanto gosto me regozijaria por vocês! Por que não? Não seria para a glória de Deus? A salvação deste convicto assaltante de caminhos fez nosso Senhor ilustre por Sua misericórdia ainda neste dia; Não faria o mesmo caso de vocês? Não exclamariam os santos: “Aleluia! Aleluia!”, se ouvissem que alguns de vocês saíram da escuridão para a luz admirável? Por que não seria assim? Creiam em Jesus e assim será.

III. Agora chego a meu terceiro e mais prático ponto: NOTEM DE TUDO ISTO, O SERMÃO DO SENHOR PARA NÓS.

O demônio quer pregar um pouco nesta manhã. Sim, Satanás pede para passar à frente e pregar-lhes; mas não se pode permitir-lhe. Vai-te enganador! Contudo não me assombraria se ele se aproximasse de alguns de vós quando termine o sermão, e lhes diga em voz baixa: “Vejam que podem ser salvos no último momento. Adiem o arrependimento e a fé; podem ser perdoados em seu leito de morte”. Senhores, vocês sabem quem é o que quer arruinar-vos com esta sugestão. Aborreçam seu ensino enganador. Não sejam ingratos porque Deus é bondoso. Não provoquem ao Senhor porque é paciente. Uma conduta assim seria indigna e ingrata. Não corra um risco terrível simplesmente porque alguém escapou ao perigo tremendo. O Senhor aceitará a todos os que se arrependam; mas como sabem vocês que vão se arrepender? É verdade que um ladrão foi salvo, mas o outro se perdeu. Um é salvo, e, portanto, não podemos nos desesperar; o outro está perdido e, portanto, não podemos nos vangloriar. Queridos amigos, confio que vocês não estão feitos de tão diabólica substância como para tirar da misericórdia de Deus um argumento para continuar no pecado. Se vocês o fazem, somente lhes posso dizer que a vossa perdição será justa; a haverá atraído sobre vocês mesmos.

Considerem agora o ensino de nosso Senhor; vejam a glória de Cristo na salvação. Está pronto para salvar no último momento. Já estava morrendo; seu pé estava no umbral da casa do Pai. Então chega este pobre pecador, ao final da noite, na undécima hora, e o Salvador sorri e manifesta que não entrará se não for com este tardio vagabundo. Aí mesmo na porta declara que esta alma que o busca entrará com Ele. Houve muito tempo para que Ele tivesse vindo antes: vocês sabem como podemos dizer: “Esperaste até o último momento. Já me vou, e não posso atender-te agora”. Nosso Senhor tinha as angústias da morte sobre Ele e, contudo, atende ao criminoso que perece, e lhe permite passar através do portal celestial em Sua companhia. Jesus salva com muita facilidade aos pecadores pelos quais Ele morreu com tanta dor. Jesus ama resgatar aos pecadores de sua queda no poço. Estarás muito feliz se fores salvo, mas não estarás nem na metade de felicidade como Ele estará quando te salvar. Veja quão terno Ele é!

“Sua mão nos leva ao trono,

Nenhum terror vistes à sua frente;

Nem raios para lançar nossas almas culpadas

Às ferozes chamas do inferno”.

Se achega a nós cheio de ternura, com lágrimas em seus olhos, misericórdia em suas mãos, e amor em seu coração. Creiam que é um grande Salvador de grandes pecadores. Ouvi de alguém que havia recebido grande misericórdia que dizia: “Ele é um grande perdoador;” e gostaria que vocês dissessem o mesmo. Vocês verão suas transgressões apagadas, e os vossos pecados perdoados de uma vez para sempre, se vocês confiam nele.

A seguinte doutrina que Cristo prega desta maravilhosa história é a fé que se apropria da promessa. Este homem creu que Jesus era o Cristo. O que fez a seguir foi apropriar-se desse Cristo. O ladrão lhe disse: “Senhor, lembra-te de mim”. Jesus poderia ter dito: “O que tenho eu que ver contigo, e o que tens tu a ver comigo? O que tem que ver um ladrão com o Ser perfeito?” Muitos de vocês, boas pessoas, tratam de afastarem-se tanto quanto possam dos que erram e dos caídos. Poderiam contaminar sua inocência! A sociedade nos exige que não estejamos em términos de familiaridade com as pessoas que ofenderam suas leis.

Não devemos ser vistos associados com eles, porque cairíamos no descrédito. Bobagens infames! O que nos pode desacreditar, pecadores como somos, tanto por natureza como pela prática? Se nos conhecemos diante de Deus, não estamos suficientemente degradados em nós mesmos e por causa de nós mesmos? Depois de tudo, há alguém no mundo que seja pior do que nós quando nos vemos no espelho fiel da Palavra?

Tão pronto como um homem crê que Jesus é o Cristo, que se firme Nele. No momento que creias que Jesus é o Salvador, agarra-te a Ele como teu Salvador. Se me lembro bem, Agostinho chamou a este ladrão “Latro Laudabilis et Mirabilis,” um ladrão para ser louvado e admirado, que se atreveu, por assim dizer, a tomar para si ao Salvador como seu. Nisto deve ser imitado. Toma ao Senhor para que seja teu, e o terás. Jesus é propriedade comum de todos os pecadores que se atrevem a tomá-lo. Todo pecador que tem o desejo de fazê-lo pode levar para sua casa ao Senhor. Ele veio ao mundo para salvar aos pecadores. Tomem-no pela força, como os que roubam tomam seu despojo; porque o reino do céu sofre a violência da fé que se atreve. Agarre-o, e Ele nunca se separará de ti. Se confias Nele, deve te salvar. Estejam advertidos sobre a doutrina da fé em seu poder imediato.

“No momento que um pecador crê,

E confia em seu Deus crucificado,

Recebe de imediato seu perdão,

Redenção completa por Seu sangue”.

“Hoje estarás comigo no paraíso”. Assim que crê, Cristo sela sua fé com a segurança completa de que estará com Ele para sempre em sua glória. Oh, queridos corações, se vocês creem nesta manhã, serão salvos nesta manhã! Que Deus lhes conceda, por sua rica graça, que venha a salvação aqui, neste lugar, e de imediato!

O seguinte é, a proximidade das coisas eternas. Pensem nisto por um minuto. O céu e o inferno não são lugares distantes. Podem estar no céu antes de outro “tic” do relógio, está tão perto. Que possamos rasgar esse véu que nos separa do desconhecido! Tudo está ali, e tudo perto. “Hoje,” disse o Senhor; no máximo de três ou quatro horas, “estarás comigo no paraíso;” está tão perto. Um estadista nos deu a expressão de estar “em uma distância medível”. Todos estamos dentro de uma distância medível do céu e do inferno; se há alguma dificuldade em medir a distância, descanse em sua brevidade mais que em sua longitude.

“Um suave suspiro rompe as cadeias,

Apenas podemos dizer, ‘se foi’,

Antes que o espírito redimido,

Tome sua mansão próximo ao trono”.

Oh, que nós, no lugar de aceitar com leviandade estas coisas, porque parecem tão distantes, as tomássemos solenemente em conta, pois estão tão próximas! Este mesmo dia, antes que se ponha o sol, algum ouvinte, sentado neste lugar, pode ver em seu próprio espírito as realidades do céu e do inferno. Tem ocorrido frequentemente nesta congregação tão grande, que alguém de nossa audiência tenha morrido antes que chegasse o seguinte Domingo; pode ocorrer esta semana. Pensem nisto, e que as coisas eternas lhes impressionem ainda mais devido a sua proximidade.

Mais ainda, saibam que se creram em Jesus estão preparados para o céu. Pode ser que tenham que viver na terra por vinte, ou trinta, ou quarenta anos para glorificar a Cristo; e, se assim é, agradeçam o privilégio; mas se não vivem uma hora a mais, essa morte instantânea não alteraria o fato de que quem crê no Filho de Deus está pronto para o céu. Seguramente se algo fosse necessário além da fé para nos tornarmos dignos do paraíso, o ladrão teria sido retido um pouco mais de tempo aqui; mas não, ele está na manhã em sua natureza, ao meio-dia entra no estado de graça, e ao anoitecer está no estado de glória. A pergunta nunca é, se um arrependimento no leito de morte é aceito se é sincero. A pergunta é: É sincero? Se assim é, se o homem morre cinco minutos depois de seu primeiro ato de fé, está tão seguro como se houvesse servido ao Senhor por cinquenta anos. Se tua fé é verdadeira, se morres um momento depois que creste em Cristo, serás admitido no paraíso, ainda que não tenha desfrutado de tempo para produzir boas obras e outras evidências da graça. Ele que lê o coração lerá tua fé escrita nas tábuas de carne, e te aceitará por meio de Jesus Cristo, ainda que nenhum ato de graça se tenha feito visível aos olhos dos homens.

Concluo dizendo outra vez que este não é um caso excepcional. Comecei com isso, e com isso quero terminar, por haver tantos falsos pregadores do Evangelho, terrivelmente temerosos de pregar a graça imerecida com plenitude. Li em algum lugar, e creio que é verdadeiro, que alguns ministros pregam o Evangelho da mesma maneira que os asnos comem espinhos, ou seja, muito, mas muito cuidadosamente. Pelo contrário, eu pregarei atrevidamente. Não tenho a menor apreensão acerca deste assunto. Se alguém de vocês faz mau uso do ensino da graça gratuita, não o posso impedir. Aquele que será condenado pode arruinar-se por perverter o Evangelho como por outra coisa qualquer. Não posso impedir o que os corações baixos possam inventar; mas o meu intuito é pregar o Evangelho em toda a sua plenitude de graça, e assim o farei.

Se o ladrão foi um caso excepcional, e nosso Senhor não atua usualmente desta maneira, haveria uma indicação de um fato tão importante. Teria sido posto um cerco de proteção para esta exceção a todas as regras. Não teria dito o Salvador tranquilamente ao moribundo: “És o único a quem tratarei desta maneira”? “Não o menciones, pois senão terei muitos me assediando”. Se o Salvador quisesse que fosse um caso solitário, lhe teria dito em baixa voz: “Não deixes que ninguém saiba; mas hoje estarás no reino comigo”. Não, nosso Senhor falou abertamente, e os que estavam ao redor ouviram o que disse. Ademais, o inspirado escritor o assentou assim. Se fosse um caso excepcional, não teria sido escrito na Palavra de Deus. Os homens não publicam suas ações nos periódicos se sentem que ao registrá-las podem conduzir outros a esperar o que não podem dar. O Salvador fez que esta maravilha da graça se reportasse nas notícias diárias do Evangelho, porque Ele quer repetir essa maravilha a cada dia. O todo será igual a amostra, e por isto lhes põe frente à amostra a cada um de vocês. Ele é capaz de salvar por completo, pois salvou ao ladrão que agonizava. O caso não teria sido exposto para alentar esperanças que Ele não poderia cumprir. Todas as coisas escritas então, foram escritas para que aprendêssemos e não para que nos desalentássemos. Por isso, lhes rogo, se alguns de vós todavia não estão confirmados no meu Senhor Jesus, venham e confiem Nele agora. E então cantarão comigo:

“O ladrão agonizante se regozijou ao ver,

Essa fonte em seu dia,

E ali eu também, tão vil como ele,

Lavei todos os meus pecados”.

Charles Haddon Spurgeon – Original: “THE BELIEVING THIEF”, volume 35. Sermão especial de Páscoa pregado na manhã de Domingo, 7 de Abril de 1889 no Tabernáculo Metropolitano, Newington, Londres | Todo direito de tradução protegido por Lei Internacional de Domínio Público.

[…]

[1] Caio Mario Vitorino conhecido também como Victorino Africano (Cartago 300-Roma 382) foi um filósofo neoplatónico, retórico de fama mundial na época, e após sua conversão do paganismo, polemista cristão. Victorinios converteu-se por volta de 355, em idade avançada, como fiucou notório. Escreveu comentários dos Evangelhos e epístolas, e mesmo quando do reinado de Juliano o Apostata (que queria expurgar o cristianismo patrocinando o paganismo) Victorinus manteve-se firme na fé e não retrocedeu, tendo renunciando a seu posto como orador e professor de retórica de Roma por ocasião da perseguiçao de Juliano a professores cristãos (Wikipédia).