“Se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados e nos purificar de toda injustiça” (1 Jo 1.9).
“O que encobre as suas transgressões jamais prosperará; mas o que as confessa e deixa alcançará misericórdia” (Pv 28.13).
“Confessai, pois, os vossos pecados uns aos outros e orai uns pelos outros, para serdes curados” (Tg 5.16a).Penso que nós, como cristãos, temos uma porção de pecados a serem confessados.
Se você examinar os relatos nas Escrituras, verá que os homens que viviam em maior intimidade com Deus e que tinham mais poder diante dele eram aqueles que confessavam seus pecados e fracassos. Daniel confessou os seus pecados e os do povo dele. Entretanto, não existe menção de mancha alguma no histórico de Daniel. Ele era um dos homens mais irrepreensíveis na face da Terra, no entanto, sua confissão de pecado foi uma das mais profundas e quebrantadas que temos nas Escrituras.O comentarista Brooks faz a seguinte análise da confissão de Daniel:
Daniel usa seis termos diferentes para qualificar os pecados dele e os do povo, com o efeito de realçar e agravá-los. Primeiro, “temos pecado”, segundo, “cometemos iniquidade”, terceiro, “procedemos perversamente”, quarto, “fomos rebeldes”, quinto, “nos apartamos dos teus mandamentos e dos teus juízos”, e, sexto, “não demos ouvidos aos teus servos, os profetas, que em teu nome falaram aos nossos reis, nossos príncipes e nossos pais, como também a todo o povo da terra” (Dn 9.5-6).
Esses seis agravantes que Daniel utiliza em sua confissão são merecedores da nossa mais séria consideração.
Jó, também, era um homem santo, um príncipe poderoso; no entanto, foi preciso cair no pó e confessar os seus pecados (Jó 42.6). E, assim, você pode encontrar o mesmo padrão em toda a Palavra. Quando Isaías viu a pureza e a santidade de Deus, contemplou a si mesmo à verdadeira luz de Deus e exclamou: “Ai de mim! Estou perdido! Porque sou homem de lábios impuros” (Is 6.5).
Creio firmemente que a Igreja terá de confessar seus próprios pecados antes que possa acontecer uma verdadeira visitação de graça para o mundo. Precisa haver uma obra mais profunda no meio do povo de Deus. Às vezes, eu penso que está na hora de deixar de lado os ímpios e pregar só para os que se dizem cristãos. Se tivéssemos um padrão de vida mais elevado na Igreja, grandes multidões de pessoas afluiriam ao Reino.
Foi assim que aconteceu no passado, quando os filhos de Deus deixavam seus pecados e sua idolatria: o temor de Deus caía sobre o povo à sua volta. Examine a história de Israel e verá que, quando abandonava os deuses estranhos, o Senhor visitava a nação e realizava uma poderosa obra de graça no meio deles.
O juízo deve começar entre nós!
Precisamos hoje de um profundo e verdadeiro avivamento na Igreja de Deus. Não acredito que Deus alcançará as multidões por meio de uma igreja fria e formal. O juízo divino precisa começar entre nós (1 Pe 4.17)! Observe que quando Daniel recebeu aquela maravilhosa resposta à oração, no capítulo 9, ele estava confessando o seu pecado. É um dos melhores capítulos sobre oração na Bíblia toda.
“Falava eu ainda, e orava, e confessava o meu pecado e o pecado do meu povo de Israel, e lançava a minha súplica perante a face do Senhor, meu Deus, pelo monte santo do meu Deus. Falava eu, digo, falava ainda na oração, quando o homem Gabriel, que eu tinha observado na minha visão ao princípio, veio rapidamente, voando, e me tocou à hora do sacrifício da tarde. Ele queria instruir-me, falou comigo e disse: Daniel, agora, saí para fazer-te entender o sentido” (Dn 9.20-22).
De modo semelhante, quando Jó estava confessando o seu pecado, Deus mudou sua sorte e ouviu sua oração (Jó 42.10). Deus ouvirá nossa oração e mudará nossa sorte quando assumirmos nossa verdadeira responsabilidade diante dele e abandonarmos nossas transgressões. Foi quando Isaías clamou “ai de mim” diante do Senhor que a bênção chegou. Uma brasa viva foi tirada do altar e posta em seus lábios – e, a partir dali, ele pôde ser um instrumento poderoso para transmitir a Palavra de Deus ao povo e escrever um dos livros mais maravilhosos da Bíblia.
De modo semelhante, foi quando Davi reconheceu o que fez e disse: “Pequei contra o Senhor” (2 Sm 12.13), que Deus agiu em misericórdia com ele. “Confessei-te o meu pecado e a minha iniquidade não mais ocultei. Disse: confessarei ao Senhor as minhas transgressões; e tu perdoaste a iniquidade do meu pecado” (Sl 32.5). “Pois eu conheço as minhas transgressões, e o meu pecado está sempre diante de mim. Pequei contra ti, contra ti somente, e fiz o que é mau perante os teus olhos” (Sl 51.3-4). Observe a semelhança entre a confissão de Davi e a do filho pródigo em Lucas 15.21.
Deus não faz acepção de pessoas
Não há diferença entre o rei e o mendigo quando o Espírito de Deus entra no coração e o convence do pecado.
Richard Sibbes faz uma aplicação bem inusitada a respeito da confissão:
“Podemos dar glória a Deus da seguinte forma: abrindo nossa alma a Deus e lançando contra nós mesmos tantas acusações quanto o próprio diabo faria. Imaginemos o que o diabo usaria para nos acusar na hora da morte e do dia de juízo. Ele nos acusaria de tais e tais coisas? Então, façamos nós mesmos as acusações que ele faria e que, de fato, ele fará, muito em breve”.
Quanto mais aceitarmos as acusações e julgarmos a nós mesmos, estabelecendo um tribunal no próprio coração, mais experimentaremos uma paz inimaginável a seguir (1 Cor 11.31). Jonas foi lançado ao mar, e veio, a seguir, tranquilidade total ao navio (Jn 1.15). Acã foi apedrejado, e a fúria do Senhor se apagou (Js 7.25-26). Lance fora seu Jonas, lance fora seu Acã, e haverá quietude e paz na alma; sua consciência sentirá total tranquilidade!
De acordo com Thomas Fuller, “A única base que Deus pode usar para enxertar no homem a graça do auxílio divino é quando este reconhece sua própria fraqueza”.
Confissão implica humildade, e isso, aos olhos de Deus é de valor incalculável
Se houver profunda confissão de pecados entre os cristãos, o mesmo ocorrerá entre os que ainda não conhecem a Deus. Na minha experiência, esse princípio nunca falhou. Estou, agora, muito ansioso para Deus avivar sua obra no coração dos filhos dele, a fim de que todos vejam a extrema maldade do pecado!Muitos pais e mães estão ansiosos pela conversão de seus filhos. Já recebi até 50 mensagens, em uma única semana, de pais que queriam saber por que seus filhos ainda não eram salvos e para pedir oração por eles.
Eu arriscaria dizer que, via de regra, a culpa está à nossa própria porta. Pode haver algo na nossa vida que está impedindo a conversão deles. Pode existir algum pecado oculto que bloqueia a bênção. Davi caiu num pecado horrível e permaneceu nele por vários meses antes de Natã chegar com a mensagem de Deus (2 Sm 11.26,27).
Oremos para que Deus sonde o nosso coração. Se for um olho, vamos arrancá-lo; se for um braço, cortemo-lo fora, a fim de obtermos poder com Deus e com o homem (Mt 5.29,30).
Pecado não confessado é pecado não perdoado, e pecado não perdoado é o elemento mais maligno, mais sujo e mais tenebroso que existe em todo este mundo dominado por trevas.
Você não achará um caso na Bíblia em que alguém tenha sido honesto em lidar com o pecado, e Deus não tenha sido fiel para abençoá-lo. A oração do coração humilde e contrito é um deleite para Deus (Sl 51.17; Is 57.15). Nenhum som produzido nesta Terra amaldiçoada pelo pecado é tão doce aos ouvidos divinos quanto a oração do homem que anda retamente (Pv 15.8).
Quero chamar atenção à oração de Davi em que ele suplica: “Sonda-me, ó Deus, e conhece o meu coração, prova-me e conhece os meus pensamentos; vê se há em mim algum caminho mau e guia-me pelo caminho eterno” (Sl 139.23-24).
Eu gostaria que todos os leitores decorassem esses versículos. Se todos nós fizéssemos essa oração uma vez por dia, mudaria muita coisa na nossa vida.
“Sonda-me” – não o meu vizinho!
É tão fácil orar por outras pessoas, tão difícil alcançar o próprio coração. Tenho receio de que nós, que estamos ocupados na obra do Senhor, estejamos em perigo de negligenciar a própria vinha (Ct 1.6). Nesse salmo (139), Davi conseguiu atingir o próprio coração.
Existe uma diferença entre Deus me sondar e eu sondar a mim mesmo! Posso sondar o meu coração e declarar que está tudo em ordem; entretanto, quando Deus me sonda, com a luz divina, muitas coisas virão à tona, algumas delas talvez desconhecidas até a mim.
“Prova-me”
Davi foi provado quando caiu – quando tirou os olhos do Deus de seu pai Abraão.
“Conhece os meus pensamentos”
Deus olha para os pensamentos. Nossos pensamentos são puros? Temos abrigado no coração pensamentos contra Deus ou contra seu povo – contra qualquer pessoa no mundo? Se a resposta for sim, não estamos certos aos olhos de Deus. Oh, que Deus nos sonde, a cada um de nós! Não conheço nenhuma oração que seja melhor para nós do que essa oração de Davi.
Se Deus nos sondar, com certeza teremos uma porção de coisas na nossa vida a serem confessadas. Se formos provados e testados pela lei de Deus, muitas coisas terão de ser mudadas.
Vamos orar e pedir que Deus nos sonde e nos prove para ver se há algum caminho mau em nós. Se os homens santos, que vemos nas Escrituras, sentiam que eram falhos, não devemos também tremer e nos empenhar para ver se há alguma coisa na nossa vida que Deus quer que lancemos fora?
Olhe, mais uma vez, para a oração de Davi no Salmo 51:
“Compadece-te de mim, ó Deus, segundo a tua benignidade; e, segundo a multidão das tuas misericórdias, apaga as minhas transgressões. Lava-me completamente da minha iniquidade e purifica-me do meu pecado. Pois eu conheço as minhas transgressões, e o meu pecado está sempre diante de mim. Pequei contra ti, contra ti somente, e fiz o que é mau perante os teus olhos… Purifica-me com hissopo, e ficarei limpo; lava-me, e ficarei mais alvo que a neve. Faze-me ouvir júbilo e alegria, para que exultem os ossos que esmagaste. Esconde o rosto dos meus pecados e apaga todas as minhas iniquidades. Cria em mim, ó Deus, um coração puro e renova dentro de mim um espírito inabalável. Não me repulses da tua presença, nem me retires o teu Santo Espírito. Restitui-me a alegria da tua salvação e sustenta-me com um espírito voluntário. Então, ensinarei aos transgressores os teus caminhos, e os pecadores se converterão a ti” (Sl 51.1-4, 7-13).
Um amigo me disse, há alguns anos, que ele repetia essa oração, como se fosse a sua própria, toda semana. Creio que seria muito bom se a oferecêssemos frequentemente – com palavras que saiam de fato do nosso coração!
Se temos sido orgulhosos, irritados ou sem paciência, não devemos confessar isso imediatamente? Não é tempo de começarmos em casa e endireitarmos a própria vida? Então, veremos com que rapidez as pessoas que não conhecem a Deus começarão a perguntar pelo caminho da vida! Quem é pai ou mãe, comece a colocar em ordem sua própria casa e seja cheio do Espírito Santo! Em pouco tempo, seus filhos começarão a perguntar o que devem fazer para se encher do mesmo Espírito.
Sem dúvida, a Igreja cristã está produzindo, por meio de sua mornidão e formalidade, mais descrentes do que todos os livros já escritos ou opiniões já divulgadas por céticos e ateus. Tenho muito mais medo da frieza e da formalidade daqueles que se dizem cristãos do que das palestras e discursos dos ateus! Uma reunião de oração como aquela do dia de Pentecostes abalaria permanentemente os ateus e agnósticos do mundo inteiro!
Nosso maior desejo, nossa maior necessidade é de ter poder com Deus por meio da oração! Não alcançaremos as massas perdidas com grandes pregações. Queremos “mover o braço que move o mundo”. Para fazer isso, precisamos estar transparentes e retos diante de Deus.
Pois, se o nosso coração nos acusar, certamente, Deus é maior do que o nosso coração e conhece todas as coisas. Amados, se o coração não nos acusar, temos confiança diante de Deus; e aquilo que pedimos dele recebemos, porque guardamos os seus mandamentos e fazemos diante dele o que lhe é agradável. (1 Jo 3.20-22).
Dwight Lyman Moody