No versículo 13 do trecho em pauta, o Senhor Jesus indaga de seus discípulos quem dizem os homens ser Ele. A resposta deles revela notavelmente a ignorância do povo em geral sobre a Sua Pessoa (14). Leia Mateus 16:13-18.
Mas Ele vai um pouco além e pergunta aos seus próprios discípulos quem dizem eles ser Ele, pois pelo tempo em que estavam juntos, certamente teriam alguma opinião formada (15). Pedro, imediatamente, em nome dos demais, declara: “Tu és o Cristo, o filho do Deus vivo” (16). Aqui está uma das maiores e mais importantes revelações sobre quem é, de fato, Jesus de Nazaré. Ele é o CRISTO! Portanto, o que foi revelado a Seus servos, foi Sua divindade.
Em seguida, Ele diz ser Pedro um homem bem-aventurado (17) porque coube a ele o privilégio de falar publicamente o que estava no coração de Deus. Portanto Pedro foi o veículo usado pelo Pai para, naquele momento especial, revelar Seu Amado Filho como igual a Si mesmo, antes do Seu sofrimento e morte na cruz do Calvário, confirmando o que o Senhor já havia declarado aos judeus, isto é, que o FILHO de Deus era o próprio DEUS (leia atentamente João 10:30-36).
Infelizmente, para muitos hoje em dia, Pedro tornou-se objeto de louvor por causa da declaração que Cristo fez a respeito dele, porém o que lemos no versículo 18a: “Também eu te digo que tu és Pedro”, indica que Pedro continuava sendo o mesmo. Nada de extraordinário mudou em sua natureza após aquela sublime revelação. Basta que o leitor compare os versículos 21 a 23 para notar a grande falha da parte de Pedro, que levou o Senhor Jesus a repreendê-lo severamente. Será muito importante frisar que para Pedro foi um privilégio ser usado por Deus para aquela revelação tão gloriosa, como foi para Maria, em sua virgindade, conceber e dar à luz o Santo Filho de Deus. Ambos foram privilegiados, mas nenhum deles deve ser venerado, pois eles foram apenas servos que Deus usou segundo Sua Soberana vontade e não por seus méritos. Portanto, toda a glória pertence a Deus.
No versículo 18b, notamos coisas grandes e profundas pronunciadas pelo Senhor Jesus com respeito à sua futura igreja. São as seguintes:
1º) Quando o Senhor Jesus disse: “Sobre esta pedra”, Ele não estava referindo-se a Pedro, mas sim à Sua própria Pessoa divina que acabara de ser objeto da extraordinária revelação. Cristo é a Pedra (Rocha) inabalável sobre a qual a igreja está sendo edificada. A confissão de Pedro implica o fato de que Cristo é Deus, que Ele tomou a forma humana, assumiu a posição de Servo e sofreu a morte mais cruel e vergonhosa – a morte de cruz (Fp 2:6-8), que Ele ressuscitou vitorioso, como estava determinado. No primeiro dia da semana, bem cedo, foi dada pelo anjo a nota mais sublime: “Ele ressuscitou, não está mais aqui; vede o lugar onde o tinham posto” (Mc 16:6). O Cristo vivo é o Alicerce da Igreja. Pedro afirmou ser Ele “a Pedra que vive” (1 Pe 2:4). De fato Ele ainda hoje está transformando pedras mortas (homens em seus pecados) em pedras vivas (homens perdoados e salvos), colocando-as na edificação da Igreja (I Pe 2:5), a qual é também chamada pelo apóstolo Paulo de “a casa de Deus, que é a igreja do Deus vivo” (I Tm 3.15). Jesus Cristo é o fundamento vivo e inabalável da Igreja (I Cor 3:10-11).
2º) É muito importante a expressão do Senhor Jesus quando disse “edificarei”. O tempo verbal usado por nosso Senhor indica que naqueles dias a igreja ainda não existia. De fato, só veio a nascer no dia da festa de Pentecostes, como lemos em Atos 2. Sua declaração mostra-nos, também, que Jesus mesmo é o Edificador da igreja. Ele a está edificando por meio dos dons que lhe concedeu, conforme lemos em Efésios 4:7-16. Os dons aqui mencionados não são as capacidades dadas aos crentes, como em I Coríntios 12, mas sim certos homens por Ele dados à igreja, aos quais Ele concedeu aqueles dons. É bom lembrarmos que os apóstolos e profetas mencionados no versículo 11a fazem parte dos dons fundamentais. Estes foram dados pelo Senhor Jesus no início da igreja para lançar o fundamento, isto é, apresentá-Lo como o Cristo, o Homem perfeito que foi morto na cruz e ressuscitou dentre os mortos para a salvação de todo aquele que crer (I Cor 3:10-11; Ef 2:20-22). Eram, portanto, dons transitórios. Os demais dons (evangelistas, pastores e mestres), fazem parte dos dons permanentes, com os quais contam até hoje as igrejas locais, para aperfeiçoamento dos santos para o desempenho do seu serviço e para a edificação (Ef 4:12). Desta forma, Ele está ainda hoje edificando Sua igreja.
3º) Quando o Senhor Jesus disse “edificarei a minha igreja”, Ele quis dizer que a mesma pertence-Lhe por direito, mediante pagamento. E quão grande foi o preço que Ele pagou por Sua igreja! (Mt 13:44-46; I Cor 6:20; I Pe 1:18-19). Logo vem-nos também à mente Efésios 5:25: “Cristo amou a igreja e a si mesmo se entregou por ela”. Ele pagou o preço exato, do tamanho de Seu amor. Quão solenes são estas verdades!Quantos assenhoreiam-se desta propriedade divina como se fossem os donos da igreja, e isso não é justo, pois ao instruir os presbíteros diz: “… não como dominadores dos que vos foram confiados…”. Certamente aqueles que foram colocados pelo Espírito Santo à frente da igreja devem contentar-se com a posição de servos e, nunca, de senhores. Irmão, a igreja pertence ao Senhor Jesus.
4º) Finalmente, outra verdade que este versículo nos apresenta é que o inimigo lutaria (e como tem lutado!) contra a verdadeira igreja de Cristo, mas não prevaleceria contra ela, visto que Jesus Cristo é seu Fundamento, Edificador e Proprietário. Portanto, é impossível que o inimigo vença, pois Cristo, que a sustenta, é o grande Vencedor (Ap 5:5). Amém! Aleluia!
Quando lemos a história da igreja desde os tempos bíblicos, vemos como o diabo tem lutado contra ela usando seus diferentes ardis para destrui-la. No principio ele levantou perseguidores que impiedosamente matavam os crentes, degolando-os ou queimando-os vivos, atirando-os nas arenas para lutarem contra leões ferozes como espetáculo parta o povo. Tudo isto à vista de outros cristãos visando intimidá-los. Porém, quanto eram perseguidos, tanto mais os cristãos se multiplicavam.
Sábio e astuto como é, o diabo usa atualmente uma tática especial: a mistura. Hoje em dia quase não se consegue mais distinguir um cristão verdadeiro do não cristão; há muitos crentes que até parecem ser descrentes, enquanto há muitos descrentes que parecem ser crentes. O catolicismo romano hoje está cantando hinos, orando e usando em suas pregações a mesma linguagem dos crentes, levando suas Bíblias quando vão às suas reuniões e trabalhando ativamente no evangelismo pessoal de casa em casa, coisa que muitos dos verdadeiros crentes não fazem. Com estas coisas, o diabo pensa que vai destruir a igreja de Cristo, mas está muito enganado, pois Cristo tem a Sua igreja verdadeira sob os Seus olhares e anda no meio dela (Ap 1:12-14; 2:1). Além disso, em meio a esta confusão Ele retirará daqui a Sua amada igreja deixando para trás uma igreja falsa, dominada por Satanás.
Irmãos, estejamos confiados, pois Jesus Cristo é a Rocha, a Pedra fundamental da igreja, a qual jamais será abalada, pois está segura n’Ele, a Quem seja glória para todo o sempre. Amém!
Severo Miguel de Oliveira – “Vigiai e Orai”, Edição 98, Janeiro a Maio de 2003.