O maravilhoso evangelista acabara de trazer uma alma aos seus pés. A bendita mensagem que saciou a sede espiritual daquela mulher a levou apressadamente a buscar seus amigos na cidade de Sicar, dizendo-lhes: “Vinde, vede um homem que me disse tudo quanto tenho feito: porventura não é este o Cristo?” (Jo 4:29). O diálogo de Jesus à beira daquele poço é deveras instrutivo e precioso para os ganhadores de almas. Busquemos nele instrução espiritual adequada.
O Objetivo de Jesus
O texto salienta o fato de que era necessário Jesus passar por Samaria (4). Ora, todo o viajante judeu utilizava-se de um caminho alternativo, pois evitava passar dentro do território de Samaria. As intrigas políticas entre judeus e samaritanos não permitiam um convívio pacífico, e portanto, nem um nem outro adentravam seus territórios.
O caminho escolhido por Jesus era usado por comerciantes ávidos por lucros, que para encurtar distância, passavam dentro do território dos samaritanos. A pressa de Jesus era para alcançar uma vida estragada pelo pecado, e não se importou em buscá-la atravessando o território inimigo.
Sem dúvida, aplicando o texto no campo espiritual, descobrimos que o Maravilhoso Evangelista, ao vir a este mundo hostilizado e escravizado pelo inimigo, sentiu o desejo em seu coração de buscar e salvar os perdidos. E não mediu esforços para conquistar almas sedentas e escravizadas. Que exemplo sem par Ele deixou para cada filho, qual seja o de buscarmos almas sedentas onde quer que elas se encontrem, com seus problemas, mágoas e pecados.
A Simpatia de Jesus
“Dá-me de beber”. (7) – A frase que deu início à conversa tão abençoada. A partir daí, o coração sequioso da mulher se abre para conhecer melhor o cansado judeu.
Quantas vezes perdemos boas oportunidades de falarmos do amor de Jesus. Ficamos temerosos, nos “fechamos”, nos escondemos em nosso mutismo e as oportunidades escapam. Falta-nos a mesma simpatia e compaixão de Jesus. Ele sabe perfeitamente o valor de uma alma, e muito mais, as consequências para as que se perdem.
Procuremos imitá-lo. As oportunidades que se nos apresentam são preciosas. Uma simples palavra, um sorriso, o afago numa criança, um parecer sobre a beleza do dia ou sobre a chuva que cai, são ferramentas preciosas para iniciarmos conversas que podem penetrar os corações.
O Diálogo e Seu Resultado
Jesus apontou para um de seus atributos: “Se conheceras o dom de Deus e quem é o que te pede: Dá-me de beber, tu lhe pedirias e ele te daria água viva”. (10).
Vivemos numa sociedade mergulhada em ansiedades, alheia a tudo que respira os céus, materialista, egocêntrica, e como Paulo já prevenira a Timóteo, amantes de si mesmos (II Tm 3:1-5).
Cumpre-nos apresentar com simpatia e compaixão àquele que mitiga a sede espiritual. Bem perto de cada um de nós estão os religiosos que utilizam cisternas rotas, águas salobras que não saciam a sede espiritual, uma vez que saem sem vida.
Embora cansado, sob o sol bem forte, Jesus demonstrou profundo amor por aquela alma, tão preciosa para Si e para seu Pai. Como onisciente que é, conhecia as ansiedades, preocupações e frustrações daquela mulher. E no desejo de salvá-la de seus pecados, procurou levá-la à descoberta mais importante de sua vida – o Dom de Deus … Ele mesmo! Nós, sob qualquer pretexto de cansaço, quantas vezes abandonamos as almas sedentas da água da vida. Deixamos para mais tarde, e quantas vezes descobrimos que realmente foi tarde demais.
Jesus viu naquela mulher o estrago que o pecado fez a toda humanidade. Talvez tenha olhado para dentro dos seus olhos e voltado, num relance, para um passado distante. Viu outra mulher, no meio de um lindo jardim, ainda sem passar pelas marcas do pecado. Depois chegou a serpente, entrou naquele jardim, encantou, seduziu e dominou o seu coração, levando-a a pecar. E esta serpente, o Diabo, estabeleceu seu reino, cujo domínio tem até os nossos dias.
“Vai, chama o teu marido e vem cá” (16) – Neste pedido residia um dos efeitos do pecado no coração da samaritana. E a voz firme e poderosa de Jesus percorre lhe todos os poros do seu corpo, balbuciando, quem sabe, a triste resposta: “Não tenho marido” (17). E mais uma vez o Salvador bendito contempla a destruição feita pelo pecado. “Bem disseste, não tenho marido: porque cinco maridos já tiveste e esse que agora tens não é teu marido” (17-18). Não há palavras ásperas, repreensão, lição de moral da parte de Jesus. Ele veio curar os enfermos e salvar os perdidos.
Quantas vezes nos defrontamos com pessoas cujas vidas se encontram dilaceradas pelo pecado, sob um caminho de lágrimas, afundadas num abismo profundo. E o que fazemos? O que falamos? Qual o sermão que pregamos? Olhemos para o exemplo de Jesus. Tanto aqui como em João 8 encontramos misericórdia e graça… nada de censura, mas amor em abundância!
O Resultado Frutífero
“Quanto à mulher, deixou o seu cântaro, foi à cidade e disse aqueles homens: Vinde comigo e vede um homem que me disse tudo quanto tenho feito. Será este porventura o Cristo?” (28-29).
O cântaro abandonado junto ao poço leva-nos a pensar que o mesmo perdera sua importância. Desejosa em levar as boas novas aos seus amigos, sem dúvida o cântaro seria um empecilho. Sem ele estaria livre para correr.
A mensagem que recebemos de Jesus, como bons despenseiros, devemos levá-la aos outros. E esta mensagem deve provocar nos corações o abandono de “cântaro de águas mortas” e um desejo ardente de contar a todos a descoberta de um grande Salvador.
E o resultado de nossas conversas como tem sido? Nosso amor e compreensão pelas almas doloridas têm produzido o sabor da nova vida dada por Jesus? Temos levado pessoas a se deliciarem aos pés de Cristo, ou as temos afugentado com nossa intransigência?
“Muitos samaritanos daquela cidade creram nele em virtude do testemunho da mulher, que anunciara: Ele me disse tudo quanto tenho feito” (39).
Uma vida transformada fala com poder e convicção. E foi desta forma que a samaritana convenceu seus amigos. E quando conheceram pessoalmente o Senhor Jesus, tão maravilhoso ficaram que creram nele por causa da sua palavra.
Quando Jesus fala com toda autoridade e poder há uma atração irresistível no coração da pessoa sincera. Foi assim com os homens da cidade de Sicar: “Já agora não é pelo que disseste que nós cremos; mas porque nós mesmos temos ouvido e sabemos que este é verdadeiramente o Salvador do mundo” (42). E a experiência foi tão extraordinária, que pediram a Jesus para permanecer com eles. “E ficou ali dois dias” (43).
Que o Senhor desperte em cada um de nós compaixão pelas almas perdidas, e que mesmo cansados, levemos as pessoas a exclamarem: “Já agora não é pelo que disseste, mas porque nós mesmos temos ouvido e sabemos que este é verdadeiramente o Salvador do mundo” (42).
Orlando Arraz Maz