O Evangelho Que Aponta Para a Eternidade
O século XVIII foi uma era de grandes pregadores, homens a quem Deus levantou para proclamar a sua Palavra e marcar a geração em que viviam. Um levantamento sobre o cristianismo moderno, com certeza, identificaria o maior pregador da Grã-Bretanha durante o período do reavivamento evangélico como sendo João Wesley, um dos fundadores do Metodismo. Semelhantemente, uma enquete atual de observadores dos primeiros avivamentos na América, sem dúvida, nomearia Jonathan Edwards, considerado por muitos como o maior pastor-teólogo da América, como principal pregador do Grande Avivamento nas colônias.
Porém, se voltássemos no tempo e avaliássemos aqueles que viviam durante o século XVIII, quer em Londres, Edimburgo, quer nos Estados Unidos, não há dúvida de que a resposta seria uma só. Na verdade, até mesmo João Wesley ou Jonathan Edwards certamente nomeariam o mesmo homem. O homem considerado pelos contemporâneos como maior pregador de seu tempo foi George Whitefield.
Como ganhador de almas, Whitefield viveu para glorificar a Jesus Cristo e chamar pecadores perdidos ao arrependimento e fé nele. O foco de seu ministério extraordinário foi a simples proclamação do Evangelho e o apelo aos não convertidos para que entrassem pelo caminho estreito. Onde quer que estivesse – em uma igreja, em campo aberto, na praça de uma cidade, em um navio, numa casa – e com quem estivesse – quer fosse da realeza, carvoeiros simples, os mais cultos, os mais rudes – Whitefield, corajosamente, sempre estava exaltando a Cristo e chamando com fervor por seu veredicto. Ele tinha o propósito de não estar com ninguém por mais de quinze minutos sem confrontá-lo com as reivindicações de Cristo.
No coração do prolixo ministério de Whitefield estava a mensagem do Evangelho. Ele se deleitava nas verdades da livre graça de Deus na expiação substitutiva de Cristo. O próprio coração de Whitefield fora cativado pelo Evangelho enquanto ainda estudante em Oxford, e ele havia resolvido levar essa mesma mensagem transformadora de vida para as massas. Escolheu não esperar que os não conversos viessem a ele. Como um que vai atrás de uma ovelha perdida que se desviou do aprisco, Whitefield ardentemente buscava os perdidos, necessitados de Cristo. Era este o cerne de sua pregação. Em seu ministério evangelístico, ele continuamente apontava para a eternidade:
Apontando Para a Eternidade
Whitefield ainda impressionava seus ouvintes quanto à certeza da eternidade que estava diante deles. Ele lhes falava com poderoso senso de Deus e pesado senso de eternidade. Pregava como se o juízo final, céu e inferno estivessem assomando o horizonte imediato. Em quase todo sermão, Whitefield afirmava que o dia da eternidade estava próximo. O Juiz está à porta, exclamou ele, pronto a pisar em cena. Essa espécie de pregação pressionando para a eternidade – tanto do céu quanto do inferno – caracterizava o impulso evangelístico de George Whitefield.
Whitefield falava do céu como gloriosa realidade, e lar futuro para onde todos os santos iriam. Ele proclamava: “No céu o iníquo cessará de perturbar-vos, e vossas almas cansadas gozarão descanso eterno; os seus dardos chamejantes não poderão mais vos alcançar nessas regiões de felicidade: Satanás nunca mais virá perturbar, incomodar ou acusar os filhos de Deus, quando o Senhor Jesus Cristo tiver fechado a porta”. Estar livre do pecado, na presença de Cristo, é a bênção suprema do céu; a grande separação acontecerá, removendo os crentes dos descrentes e os justos dos injustos.
Com palavras gráficas e voz arrebatadora, Whitefield tinha a capacidade de representar de maneira dramática os horrores do inferno. Seu linguajar vivaz na descrição do lago de fogo fazia com que as pessoas sentissem estar prestes a cair a qualquer momento dentro do abismo sem fundo. Choro, gritos e soluços podiam ser ouvidos enquanto Whitefield pregava a respeito do castigo dos ímpios em chamas. Em um sermão, Whitefield desafiou assim os seus ouvintes:
Pensai com frequência nas dores do inferno; considerai, se não seria melhor cortar a mão direita ou o pé, e arrancar um olho direito, se esses nos ofendem (ou fazem que nós pequemos) “ao invés de serdes lançados no inferno, onde não morre o verme e o fogo não se apaga”. Pensai em quantos milhares estão agora ali reservados, com espíritos condenados em cadeias de trevas para o juízo do grande dia. […] Pensais vós, que imaginam Jesus Cristo como sendo mestre severo; ou melhor, não pensais que eles dariam dez mil vezes, dez mil mundos, se apenas pudessem voltar novamente à vida, e tomar o jugo suave de Cristo sobre eles, não o fariam? Poderemos suportar o fogo eterno mais do que eles?… Como poderemos suportar a sentença irrevogável: “Afastai-vos de mim, malditos, para o fogo eterno, preparado para o Diabo e seus anjos”?
Muitas eram as vezes em que Whitefield fazia perguntas desafiadoras a seus ouvintes, forçando-os a pensar aonde passariam a eternidade. Por suas próprias respostas, os que o escutavam, muitas vezes, condenavam a si mesmos.
Como podereis estar diante do tribunal de um Juiz que se ira e vinga do pecado, vendo tantos discursos que desprezastes, tantos ministros, que ansiavam e labutavam em prol da salvação de vossas preciosas e imortais almas, apresentadas como tantas testemunhas velozes contra vós? Será que bastará então alegar que só fostes ouvi-los por curiosidade, para passar o tempo ocioso, para admirar a oratória ou ridicularizar a simplicidade do pregador?
Nenhuma decisão por Cristo, Whitefield asseverava, poderia ser feita após nossa morte. Ele implorava: “Enquanto não forem vossos pecados arrependidos, estais em perigo de morte, e se morrerdes, perecereis para sempre. Não há esperança para qualquer que viva em seus pecados, a não ser de habitar com os diabos e espíritos condenados por toda a eternidade”. A não ser que as almas perdidas recebam a Cristo nesta vida, não haverá esperança para os condenados na eternidade de escapar da punição.Eram tão poderosos os apelos de Whitefield em seus sermões que “os zombadores eram silenciados, e as fortalezas de Satanás eram derribadas”. Conta-se que em certa ocasião, em um clube de bebedeiras em Filadélfia, havia um menino que costumava imitar as pessoas para seu divertimento. Persuadido pelos senhores, o rapaz (ainda que relutantemente) levantou-se e imitou Whitefield, dizendo:
“Digo a verdade em Cristo, eu não minto; se não vos arrependerdes, sereis todos condenados”. Essa palestra inesperada (citada de um dos sermões de Whitefield), desfez o clube, que nunca mais se reuniu.
Embora estivesse fisicamente ausente, os apelos de Whitefield ressoavam pelos bares e vielas de todas as cidades onde pregava.
A mensagem alarmante para o auditório de Whitefield era que, se não cressem em Cristo, as suas almas perdidas com certeza entrariam em uma eternidade da ira de Deus: “Ó pecador! Imploro-te a arrepender-te, para que a ira de Deus não se acenda! Que os fogos da eternidade não sejam acesos contra vós!”. Seu fervor o levava a forçar as realidades do céu e do inferno sobre o coração de seus ouvintes. Whitefield sempre vivia à luz da eternidade, e pregava como quem sentisse o dia se aproximando cada vez mais.
O zelo evangelístico de George Whitefield fluía de seu amor pelo glorioso Evangelho da graça. Foi esse amor e essa dedicação suprema que o impeliam a procurar os perdidos, revelar o pecado, exaltar a cruz, convocar a vontade, e apontar para a eternidade. De teologia totalmente calvinista, este fervoroso evangelista apresentava a única mensagem salvadora que existe para os pecadores culpados. Ele se deleitava em chamá-los para a fé em Cristo e deixar os resultados para Deus, pois somente ele pode salvar.
Arnold Dallimore escreveu: “Seu ministério apresenta exemplo sem paralelo da declaração da soberania de Deus, juntamente com o livre oferecimento da salvação a todos quantos cressem em Cristo”. Whitefield oferece exemplo ímpar de quem tinha em uma mão as doutrinas da graça e na outra mão o livre oferecimento do Evangelho. Saber isso a respeito de Whitefield é conhecer o homem, e conhecer o homem é ter um mui excelente exemplo a seguir.
Carecemos de semelhante coragem, como de pedra, em nossa mensagem do Evangelho. Precisamos voltar para Paulo, para Agostinho, Lutero, Calvino e os Reformadores, para os Puritanos, e enfim, para Whitefield. Precisamos novamente de arautos como estes, que não se envergonhavam de pregar sobre pecado e juízo, céu e inferno, arrependimento e fé, justiça e santidade. Temos de pregar a necessidade da transformação radical de vida, que só provém da realidade do novo nascimento. Que Deus levante em nossos dias uma multidão de vozes de clarim, que proclamem esta mesma mensagem do Evangelho.
Steven J. Lawson – Trecho do livro “O Zelo Evangelístico de George Whitefield“, lançamento da Editora Fiel de Abril de 2014, do autor Steven J. Lawson.