“Quando vier, porém, aquele, o Espírito de verdade, ele vos guiará a toda a verdade“, disse o Senhor aos Seus discípulos. O nome deste “Outro” que viria a eles o Senhor dá primeiro como “O Consolador” – uma Pessoa tão verdadeira como Ele realmente era. Um outro que “fique convosco“, um “Paracleto“, significando muito mais do que a palavra “Consolador” transmite. Alguém chamado para defender, apoiar, aconselhar, socorrer e confortar. Em tudo isso nos regozijamos, pois não necessitamos de um Conselheiro neste mundo de sofrimentos, Alguém que nos defenda, apoie, aconselhe e socorra?Temos a tendência de esquecer que com o nome “Consolador” foi dado um acréscimo pelo Senhor, que define e limita seu significado. Ele disse, “Ele vos enviará outro Consolador… o Espírito de Verdade” (Jo 14:16-17); “Quando vier o Consolador… o Espírito de Verdade” (Jo 15:26). “Mas quando vier aquele Espírito de Verdade” (Jo 16:13).
O nome Consolador, portanto, descreve Sua obra, mas o nome Espírito de Verdade descreve Seu caráter essencial; tudo o que Ele faz nos e pelos homens como Consolador faz de acordo com Seu caráter como Espírito de Verdade. Se é invocado por algum crente para defender, suportar, aconselhar, socorrer e confortar, Ele só atua em todas estas formas como o Espírito de Verdade, defendendo, suportando, aconselhando, socorrendo e confortando em concordância com a verdade e somente com a verdade. O caráter essencial do Espírito de Deus, como o Espírito de Verdade, precisa ser enfatizado no tempo presente quando estamos dispostos a pensar n’Ele somente como o Espírito de Poder ou de Amor, na Sua obra na vida do crente.
Qual é a suprema evidência de que um homem é cheio do Espírito? Alguns dizem poder, enquanto outros dizem amor; mas se considerarmos cuidadosamente à luz da Palavra de Deus, veremos que a verdade vem antes do poder, e até mesmo antes do amor, e que para que o poder e o amor sejam verdadeiramente de Deus no crente, é necessário ter a verdade como fundamento. As marcas da natureza Divina que fazem distinção de todas as outras imitações são primeiro a verdade, então o amor. Isto com certeza é a verdade do Espírito de Deus, pois Ele é poder, e Ele é Amor, mas Ele antes de tudo é o Espírito de Verdade procedente do Pai, através Filho, no mundo.
Nas últimas palavras do Senhor aos discípulos antes da crucificação, Ele definiu muito claramente a obra do Espírito de Verdade, quando viesse habitar entre os homens. Isto pode ser brevemente sumarizado como segue:
a. Como o Espírito de Verdade Ele faz os discípulos saberem a verdade sobre:
- A união de Cristo com o Pai – “Estou em meu Pai”;
- A união do crente com Cristo – “Vós em mim”;
- A habitação de Cristo no crente – “Eu em vós” (Jo 14:20).
b. Isto sendo estabelecido por Sua habitação, o Espírito da Verdade então ensina aos crentes a verdade como personificada nas palavras de Cristo (Jo 14:26);
c. Dar testemunho de Cristo (Jo 15:26), e Guiar o crente em toda a verdade (Jo 14:26).
Não somente as verdades sobre Deus, mas as verdades concernentes a todas as coisas como são do ponto de vista de Deus; a condição do homem; a excessiva pecaminosidade do pecado; a verdade concernente ao arqui-inimigo do Filho de Deus – em resumo, a verdade sobre nós e em nós como vista pelo Deus da Verdade. O homem na sua condição de perdido é permeado com o espírito do engano – o espírito de Satanás – que outrora conheceu a verdade, mas não se firmou nela (Jo 8:44).
Geralmente pensamos na mentira como o ato de falar o que não é verdade, não temos pleno entendimento de que a natureza de Satanás é a corporificação do engano, assim como Cristo – não somente em atos e em palavras, mas em natureza – era e é da verdade. O Senhor tornou isto claro em Suas palavras aos Fariseus quando disse de Satanás: “Não há verdade nele”; portanto, “quando ele profere mentira, fala do que lhe é próprio; porque é mentiroso, e pai da mentira”. O mundo todo está sob o controle do maligno e respira nele, por assim dizer, o genuíno ar do engano na mentalidade concernente a todas as coisas ao seu redor, e particularmente concernentes a eles mesmos. “O que é a verdade?” disse Pilatos, e “O que é a verdade?” os homens continuam a bradar, enquanto continuam cegados pela vida caída de Adão, cheia do veneno do inimigo de Deus que cega as mentes dos que não creem na verdade de Deus. Por esta razão o mundo está cheio de homens crendo no engano sobre Deus, sobre eles mesmos, e sobre Satanás – crendo até que o engano seja a verdade pela sutil cegueira do inimigo.
O Espírito de Deus veio a um mundo poluído pela mentira como o Espírito de Verdade, para revelar a verdade e produzir testemunho para a verdade, que em seu mais amplo significado pode ser descrita como a visão das coisas como Deus as vê – pois só isso é verdade.
A Verdade Liberta
Muitos homens, mesmo os religiosos, podem ignorar a verdade; é o que vemos através de uma das conversas do Senhor com os Fariseus. Aquele que é a Verdade disse “Conhecereis a verdade e a verdade vos libertará”. Que o véu do engano os envolvia, apesar de seu conhecimento das Escrituras, era evidente em sua rápida resposta, “nunca fomos escravos de ninguém!” “Aquele que comete pecado é escravo do pecado”, replicou o Senhor, que conhecia a verdade sobre o pecado e a real condição deles. Estes homens religiosos viviam e agiam dia a dia crendo numa mentira. Eles pensavam que eram justos e que nunca estiveram em escravidão, mesmo sendo escravos do pecado o tempo todo. Eles precisavam conhecer a verdade e nada mais do que a verdade poderia os tornar livres. Algo vital para todos nós é que deveríamos conhecer a verdade por revelação do Espírito de Verdade. Apenas Ele pode nos guiar em toda a verdade, e isto Ele somente pode fazer ao reconhecermos nossa necessidade da verdade, ao admitirmos que a vida caída de Adão é tão envenenada pelo espírito da mentira que não há verdade nela, e que a verdade, como Deus é a verdade, somente pode vir a nós por meio e diretamente do Espírito de Verdade.
A suprema evidência de que o Espírito de Deus possui e enche um crente é a presença nele do Espírito Santo como o Espírito de Verdade, que o faz amar a verdade, desejar a verdade, buscar a verdade, obedecer à verdade; testemunhar da verdade e sofrer pela verdade, porque ele não pode agir contrário à verdade que o iluminou e tomou posse de seu ser mais interior.
“Quando o Espírito de Verdade vier” disse o Senhor, “Ele os guiará em toda a verdade”. Que Ele habita no meio dos crentes cheios do Espírito como o Espírito de Verdade se percebe pelo fato de que o primeiro registro de agravo ao Espírito não foi por um pecado contra Ele como Espírito de amor, mas como Espírito de Verdade. Andar em Verdade mostrou ser a suprema condição para não extinguir a presença do Espírito de Deus dentre os crentes pelo severo julgamento do Espírito de Verdade, como aconteceu através de Pedro, no caso de Ananias e Safira. Pedro não sacrificou a verdade por amor em uma vã expectação de obter um acordo da comunidade, mas o amor foi conservado pelo severo tratamento da verdade. O pecado não poderia ser coberto ou minimizado. Ananias reteve parte do preço de sua terra mas o apresentou como se fosse o total. Não parece que falou uma mentira. Ele tentou parecer o que ele não era. Foi sua esposa que falou a nua mentira, mas o Espírito de Verdade, possuindo Pedro, revelou a verdade com poder incisivo, e com palavras sucintas e claras, descrevendo a ação como ela era no ponto de vista do Deus da Verdade. Exatamente como Cristo certa vez disse claramente a Pedro, “Arreda, Satanás”, porque viu a fonte de suas palavras, assim Pedro expôs ali Satanás como o pai da mentira dizendo a Ananias, “Por que encheu Satanás teu coração, para que mentisses ao Espírito Santo?”.
Este registro sobre Ananias mostra que o Espírito de Verdade é a primeira prova da pureza e poder do Espírito quando possui um homem. Este é o poder do Pentecostes que a Igreja de Deus precisa. Esta clara visão da verdade em si mesma, da condição dos homens, da obra de Satanás e da santidade de Deus. O poder afiado como faca no tratamento com tudo aquilo que é contrário à verdade é a marca suprema de que o Espírito de Verdade possui e controla os crentes em Seu mais amplo poder.
O Espírito de Verdade foi o co-testemunho da verdade sobre a morte e ressurreição do Senhor Jesus, e que capacitou os apóstolos a corajosamente proclamar a verdade ao povo de Jerusalém, sabendo que Deus levantaria testemunhas para Seu Filho. Foi o Espírito de Verdade que então os usou para impor sobre a nação a verdade de que haviam matado o Cristo de Deus.
“O Reino de Deus não constitui em palavras, mas em poder”, escreveu o apóstolo Paulo aos Coríntios. Não em falar, mas em efetuar! “E Ele”, o Espírito de Verdade, “quando vier, convencerá”. Esta é a necessidade da Igreja neste tempo, convicção do pecado, da justiça e do juízo, para ver a verdade sobre o pecado como Deus a vê, e ter assim o Espírito de Verdade habitando em cada crente para que, hora após hora, seja guiado em toda verdade concernente às coisas ao seu redor e dentro de si como elas são na visão de Deus; afim de ser uma testemunha fiel da verdade em todos os tempos e em todos os lugares.
Está muito claro que a natureza Divina é primeiro Verdade e então Amor, e que a característica da natureza Divina comunicada a um crente pela vinda, habitação e enchimento do Espírito Santo traz as mesmas marcas. A alma, cheia como estava a de Pedro no Pentecostes, será cheia do Espírito de Verdade. O crente possuído pelo Espírito Santo da mesma forma com que Paulo foi terá o mesmo discernimento aguçado sobre o que é a verdade e a mesma abnegada fidelidade em obediência ao Espírito de Verdade, “falando a verdade em amor” (Ef 4:15) e será também compelido pelo Espírito nele para reconhecer o mesmo Espírito de Verdade em outros.
Verdade Reconhecível Pela Verdade
Verdade é verdade em todo lugar e traz convicção da verdade a todo aquele que conhece o Espírito de Verdade. É este fato que o apóstolo João descreve em palavras que parecem muito fortes e também sensatas à luz do Espírito de Verdade interior. “Nós somos de Deus; quem conhece a Deus nos ouve; quem não é de Deus não nos ouve. Assim é que conhecemos o espírito da verdade e o espírito do erro” (I Jo 4:6). Então há algo mais profundo para testar o que é verdade e o que é erro, até mesmo a prova dos espíritos pelo teste de I João 4:2, de acordo com estas palavras do Apóstolo João. Cristo não pode ser dividido! Nem pode o Espírito de Verdade em um crente ser contrário ao Espírito de Verdade em outro crente ao mesmo tempo. Foi assim que o Senhor Mesmo declarou quando disse, “Todo aquele que é da verdade ouve a minha voz”.
A verdade é verdade, e a verdade vencerá todas as coisas opostas a ela. Ela exigirá o reconhecimento pelo co-testemunho do Espírito de Verdade. “Pela manifestação da verdade, nós nos recomendamos à consciência de todos os homens diante de Deus” (II Cor 4:2), escreveu o apóstolo. A consciência humana reconhece a verdade. Ela não precisa de argumentos, nem defesa, ou apoio. Ela requer apenas testemunho, Deus fará o resto! Deixemos que o Espírito de Verdade nos guie em toda a verdade, pela revelação da verdade, por nosso desejo pela verdade, pela nossa obediência à verdade, pelo nosso andar em verdade e pelo nosso falar a verdade, até que o Espírito de Verdade então sopre através de nós que Ele pode convencer e revelar a verdade a outros que buscam a luz da verdade.
Jessie Penn-Lewis – Extraído da revista “O Vencedor”.