O Paráclito ensina somente as coisas de Cristo; contudo, ensina mais do que Cristo ensinou: “Tenho ainda muito que vos dizer, mas vós não podeis suportar agora; quando vier, porém o Espírito da verdade, ele vos guiará a toda a verdade” (Jo 16.12-13). É como se Ele tivesse dito: “Eu apresentarei a vocês um pouquinho da minha doutrina; Ele vai apresentá-la por completo“.
Uma razão disso parece clara: o ensino de Jesus durante Seu ministério terreno aguardava a iluminação de uma luz inexistente – a luz da cruz, do sepulcro, da ascensão. Por isso, enquanto esses eventos não tivessem ocorrido, a doutrina cristã se encontrava num estado rudimentar e não podia ser transmitida por completo aos discípulos de Cristo. Mas não é só isso. A expressão “porque vou para o Pai” nos dá a chave para entender o que o Senhor quer dizer. O Espírito Santo “não falará por Si mesmo, mas dirá tudo o que tiver ouvido e vos anunciará as coisas que hão de vir” (Jo 16.13).
É maravilhosa essa indicação da convivência mútua da Divindade, onde se descreve o Paráclito (Paráclito: Aquele designado para ajudá-los, paracleto é usada na Septuaginta (Jo 16.2) com o sentido de “Consolador”, o termo parakletos ocorre no Talmude, significando “Intérprete”) ouvindo enquanto Cristo orienta, como se Ele prestasse atenção no céu às orientações do Pai e do Filho glorificado, ao mesmo tempo que concede direção invisível ao rebanho na Terra, comunicando-lhe aquilo que ouviu do Pai e do Filho. E nós deveríamos perguntar reverentemente: não teria Cristo glorificado mais coisas a nos anunciar do que Ele tinha nos dias da Sua humilhação? Na expressão “coisas que hão de vir”, não tem Ele segredos para repartir, que até aqui podem ter sido ocultos nos planos do Pai? Consideremos um simples exemplo das palavras de Cristo. Quando fala da Sua segunda vinda, Ele diz: “Mas a respeito daquele dia ou da hora ninguém sabe; nem os anjos no céu, nem o Filho, senão o Pai (“Nem o Filho”: “É mais do que nem; é nem ainda o Filho” segundo o comentarista Morrison). É melhor interpretarmos essas palavras com sinceridade, e em vez de dizer como alguns que Ele não sabia no sentido de não ter permissão de revelar, admitir que, enquanto se encontrava em Sua humilhação e sob o véu da encarnação esse segredo estava oculto aos Seus olhos.
Mas não seria insolente de nossa parte argumentar que por essa razão Ele não conhece agora o dia da Sua vinda? Quantas vezes o texto é citado como proibição decisiva e final de toda indagação sobre o tempo da volta do Senhor em glória. Porém aqueles que dessa forma utilizam essas palavras simplesmente nos aprisionam na infância da Igreja, nos amarram à menoridade dos dias anteriores ao dia de Pentecostes. Estamos esquecidos que, desde a ascensão de nosso Senhor para o Pai, Ele nos deu outra revelação, o maravilhoso livro do Apocalipse, que inicia e se encerra com uma bênção para com aqueles que leem e guardam fielmente as palavras dessa profecia? E um dos pontos salientes característicos desse livro são as predições cronológicas a respeito do tempo do fim, suas datas místicas, que têm levado muitos pesquisadores sérios da Palavra de Deus inquirir diligentemente “qual a ocasião ou quais as circunstâncias oportunas” indicadas pelo Espírito, ao dar-nos essas indicações de direção no deserto.Sendo assim, devemos perguntar: se não somos irreverentes ao concluir, juntamente com muitos expositores sérios, que nosso Salvador quis dizer exatamente o que disse, ao declarar que Ele não conhecia “ainda” o dia da Sua volta, será que seremos insolentes ao tomar literalmente as palavras iniciais do Apocalipse? “Revelação de Jesus Cristo, que Deus lhe deu para mostrar aos Seus servos as coisas que em breve devem acontecer”. Foi por causa da Sua ida para junto do Pai que maiores obras e maiores riquezas se aplicariam à Igreja após o dia de Pentecostes. Por que não atribuir à mesma causa também a revelação mais completa do futuro e a entrada numa verdade mais completa com respeito à bendita esperança da Igreja? Em outras palavras, se pensamos em Cristo ingressando em revelação mais ampla ao retornar à glória que Ele tinha com o Pai, não devemos também pensar numa comunicação mais ampla da verdade, por meio do bendito Paráclito?
Porventura não aprendemos alguma coisa da natureza e dos ofícios do Espírito Santo com o estudo desse Seu novo nome e de tudo que o Senhor diz no maravilhoso discurso em que O apresenta aos Seus discípulos? No mínimo o estudo deveria nos capacitar a distinguir dois termos inspirados, que têm sido confundidos sem necessidade por não poucos escritores, ou seja: as palavras Paráclito e Parousia. Esta última palavra, que constantemente ocorre nas Escrituras para descrever a segunda vinda do nosso Senhor, tem sido usada em várias obras eruditas para designar a vinda do Espírito Santo; e uma vez que Cristo veio na pessoa do Espírito, tem-se argumentado que a prometida vinda do Redentor em glória já ocorreu. Mas isso é confundir termos cujo uso na Palavra os distingue claramente um do outro. Veja a diferença entre eles: o Paráclito Cristo vem espiritualmente e de forma invisível; na Parousia Ele vem de forma física e em glória.
A vinda do Paráclito na verdade está condicionada à ausência física do Salvador de entre o Seu povo: “… se eu não for, o Consolador não virá para vós outros” (Jo 16.7). Por outro lado, a Parousia só se concretiza com o Seu retorno físico para o Seu povo:
“Pois quem é a nossa esperança, ou alegria, ou coroa em que exultamos, na presença de nosso Senhor Jesus em Sua vinda?” (1 Ts 2.19).
O Paráclito toma conta da Igreja nos dias da Sua humilhação; a Parousia introduz a Igreja no dia da Sua glória. No Paráclito Cristo veio habitar com a Igreja na Terra:
“Não vos deixarei órfãos, voltarei para vós outros” (Jo 14.18).
Na Parousia Cristo virá para levar a Igreja para habitar consigo na glória:
“… voltarei e vos receberei para Mim mesmo, para que, onde eu estou, estejais vós também” (Jo 14.3).
Cristo orou em favor da Sua Igreja desolada, para que viesse o Paráclito:
“E Eu rogarei ao Pai, e Ele vos dará outro Consolador…”. (Jo 14.16).
Agora o Espírito Santo ora com a Igreja peregrina para que se apresse a Parousia:
“O Espírito e a noiva dizem: Vem!” (Ap 22.17).
Essas duas palavras só podem ser compreendidas nessas referências mútuas. Cristo, que deu o novo nome ao Espírito Santo, pode nos explicar melhor esse nome ao tornar-Se conhecido a nós. Que esse nome seja para nós um símbolo tão real da Sua presença que, embora estrangeiros e peregrinos na Terra, possamos andar sempre na “paraclesis do Espírito Santo” (At 9.31).
Adoniram Judson Gordon – Extraído do livro “O Ministério do Espírito”.