No Evangelho de Lucas, Deus e o homem podem ser ouvidos fazendo precisamente a mesma pergunta. Consideremos rapidamente ambos. No capítulo 12 somos apresentados a um rico fazendeiro. Deus é encontrado coroando providencialmente toda a prosperidade que esse homem já possuía com a dádiva de uma colheita tão ricamente abundante que na realidade ele não possui nenhum celeiro para a inundante abundância. Ele observa seus campos de cereal ondulando ao vento e cuidadosamente calcula a capacidade dos depósitos existentes e, então, faz a significativa pergunta: “Que farei?”.
A resposta que se segue tão somente demonstra, de forma clara, onde está o seu coração. Quatro vezes em poucas linhas ele diz “EU”: “(Eu) farei”; “(Eu) derribarei”; “(Eu) edificarei” e “(Eu) recolherei” (Lc 12:18). Porém tudo isso em conexão com sua abundância e seu proveito próprio. Nada menos do que dez vezes em poucas linhas ele usa as significantes palavras “Eu” e “meu” ou “minha”. No que diz respeito a Deus, não há lugar para Ele nos pensamentos do homem. Deus está completamente excluído. Só há lugar para o eu, eu, e somente eu, desde o começo ao fim da história – “meus celeiros”, “minhas novidades”, “meus bens”. O seu egoísmo deve reinar supremo e Deus deve ficar de fora.
Devemos recordar aqui que todo fazendeiro em Israel era apenas um meeiro ou arrendatário. Todo judeu devia compreender isto. Ele possuía a terra sob certas condições divinamente estabelecidas. A terra era de Deus; e antes que qualquer desses arrendatários tivesse tomado posse dela, Deus havia estabelecido regras bem claras acerca da terra, e a mão de Seu servo Moisés havia escrito isso para que todos estivessem certos de compreender bem. Veja Levítico 25:23: “Também a terra não se venderá em perpetuidade, porque a terra é minha”. Em vez de reconhecer isto, o rico fazendeiro é visto expulsando completamente a Deus. Mas, o aviso de despejo que o homem recebeu (Lc 12:20) provou que, apesar de tudo, ele não passava de um inquilino, pois juntamente com o aviso de despejo vem a pergunta: “E o que tens preparado para quem será?” (verso 21).
Mas agora encontramos o agradável contraste. Na parábola da vinha (Lc 20) Deus nos é apresentado claramente como o dono da vinha. Como tal Ele naturalmente requer a porção do fruto que, por direito, é devida a Ele. Ao invés de receber fruto, no entanto, vemos que Seus servos recebem apenas ferimentos e contusões; e é em vista desse vergonhoso tratamento que parte de Deus a pergunta vital. Neste ponto nós O ouvimos perguntar: “Que farei?” (Lc 20:13).
Já vimos o homem fazendo a mesma pergunta, e ouvimos sua resposta – Isto farei; satisfarei a mim mesmo e deixarei Deus de fora. E será que Deus, por sua vez, irá deixar o homem de fora? Oh Deus de graça inigualável, qual será a Tua resposta? – “Mandarei o Meu Filho amado” (Lc 20:13). Que decisão três vezes bendita!
Se Deus houvesse dito, “Varrerei da face da Terra esses ingratos: eles são uma mancha em minha bela Criação; uma constante desonra ao meu santo nome, e vou, em juízo consumidor, pôr um fim a eles para todo o sempre” – quem é que poderia acusá-Lo de injusto agindo assim?
Mas, em vez disso, Ele disse: “Mandarei o Meu Filho amado” (verso 13). Esta foi Sua maravilhosa resposta. Ao invés de colocar de lado o homem para sempre, Ele decidiu enviar Seu amado Filho na forma humana, como Seu apelo final por fruto vindo do homem.
Quem é que não sabe o resultado, em como a finalidade do apelo de Deus tão somente expôs mais o homem à luz da completa estatura de sua impiedade e egoísmo? “Vinde, matemo-Lo”, eles disseram, “para que a herança seja nossa” (verso 14). Os anjos poderiam ter dito: “Com certeza isto irá selar a eterna perdição da raça humana”, mas não foi assim. Nem isso seria suficiente para frustrar os propósitos da graça. Deus usaria esse próprio ato de impiedade como o meio de tirar o pecado do homem e garantir-lhe o gozo de Sua própria presença eterna. Que maravilha! Leia um ou dois dos últimos versículos deste mesmo Evangelho, capítulo 24:46-47: “E assim convinha que o Cristo padecesse, e ao terceiro dia ressuscitasse dos mortos; e em Seu nome se pregasse o arrependimento e a remissão dos pecados, em todas as nações, começando por Jerusalém”. É como se Deus mesmo dissesse: “Digam ao pior de todos que eu estou preparado para perdoá-lo e abençoá-lo”. Que Deus!
Que maravilha, então, o contraste entre os planos do homem e os propósitos de Deus.
O homem diz: “Tudo que tenho vou segurar cuidadosamente para mim mesmo e, deixando Deus de fora, vou desfrutar de meus muitos bens por longos anos”.
Deus diz: “Darei tudo que tenho para assegurar a libertação do homem, e então introduzi-lo naquilo que Me pertence: no completo gozo. E isto ele desfrutará, não por longos anos, mas pela ETERNIDADE”.
Leitor, você já se reconciliou com Deus? Se ainda não, assegure-se de fazê-lo de uma vez para sempre.
George Cutting