Como crentes salvos pela graça de Deus; é um dos temas mais sugestivos e de premente atualidade. Acima da atitude que tenhamos para com o mundo corrompido, é o que damos e fazemos que melhor define o nosso relacionamento com Deus e a Sua Obra. Este assunto, convenhamos, é de uma grande sensibilidade. Para o desenvolvermos com exatidão e aceitação, carecemos muito da sábia assistência do Espírito que está em nós.
A NOSSA CONTRIBUIÇÃO
Constrange-nos saber dos maus tratos que a doutrina sobre a contribuição dos crentes tem sofrido. Muitos são, infelizmente, os que, a este respeito, procedem na Dispensação da Graça como se ainda estivéssemos na Dispensação da Lei. Ninguém tem o direito de abusar da ignorância dos crentes. Daqueles crentes que não sabem mais do que aquilo que esses mestres lhes dizem.
Nenhum filho de Deus deve ser instigado a dar dízimo sob a ameaça de que, se o não fizer, haverá maldição na sua vida. Também não deve ser mentalizado no sentido de que, se ele for dizimista, Deus lhe dará mundos e fundos. Isso é uma barganha. É ensiná-lo a fazer qualquer coisa com os olhos postos no lucro. É o “dou-Te, para que Tu me dês”. É assim como que um “totodízimo” evangélico. A generosidade cristã seja exercida espontaneamente, mas nunca pressionada pelo medo ou motivada pela usura. Há razões muito mais convincentes e inquestionáveis, que se sobrepõem a quaisquer outros motivos, para honrarmos e servirmos com os nossos bens o Senhor que graciosamente nos salvou. Essas, sim, importam conhecê-las e concretizá-las.
Essas razões são-nos incutidas na mente e no coração pelo exemplo mais sublime, que é o amor divino, tanto do Pai como do Filho. São elas que nos inspiram o mais profundo sentido da gratidão, devida a Quem tanto fez e continua a fazer por nós e em nós.
“Deus amou o mundo de tal maneira que deu o Seu Filho Unigênito“. Deu o Seu Filho único. Não podia Dar mais do que deu. “Ninguém tem maior amor do que este: de dar alguém a sua vida pelos seus amigos” (Jo 3:16 e 15:13). Se a dádiva da vida pelos amigos é assim valorizada, de quanto maior apreço não é ela merecedora, sabendo-se que isso foi feito a favor de inimigos! O Senhor Jesus deu a Sua Vida por nós, quando éramos Seus inimigos . Também Ele não podia dar mais do que deu. “Cristo amou a Igreja, e a Si mesmo Se entregou por ela” (Ef 5:25). O Pai amou o mundo. Ele amou a Igreja. Cada Um deu o máximo que tinha pelo objeto amado. Nós éramos mundo. Agora somos Igreja. A dádiva da Sua vida envolveu a entrega de SI mesmo. Tudo isto nos diz diretamente respeito. Por consequência destas verdades lapidares, e muitas mais, também nós queremos dizer com Paulo: “Graças a Deus pelo Seu Dom inefável” (II Cor 9:15).
Pelo que vimos, a salvação gloriosa e eterna que agora possuímos é fruto das duas dádivas referidas. O efeito deste conhecimento deve ser tão fonte e decisivo sobre a nossa vontade que nos leve a também dizer como Paulo: “O amor de Cristo nos constrange!” (II Cor 5:14). Estas são algumas das muitas razões pelas quais cada crente é, ou deve ser um contribuinte agradecido e generoso. E assim, tanto o que fazemos como o que damos nada tem a ver com medo ou ambição. Somos tão somente constrangidos pelo amor de Cristo.
DÍZIMO
Não existe doutrina nem mandamento específicos relativamente à entrega do dízimo, no Novo Testamento. Isso teve força na Dispensação da Lei, a qual deu lugar à da Graça. O dízimo foi fixado e era exigido pelo Senhor em conformidade com as bênçãos prometidas a Israel. Ora, como sabemos, essas bênçãos, condicionadas pela obediência, eram de natureza terrena e temporal. Encontramo-las expostas ordenadamente em Deuteronômio 28:1-14.
Conosco, porém, não acontece o mesmo. Não nos é garantida a totalidade dos benefícios materiais e terrenos prometidos a Israel. Em vez disso – mas com grande vantagem – fomos abençoados “com todas as bênçãos espirituais nos lugares celestiais em Cristo” (Ef 1:3). Paulo, cheio do gozo que este conhecimento produz, orava para que os crentes de Éfeso – e nós também – com os olhos do entendimento iluminados soubessem quais são as riquezas gloriosas da herança que temos em Cristo. E ás mesmas chamou ele também “as riquezas incompreensíveis de Cristo” (Ef 1:18 e 3:8). Somos, por isto e pela parte restante que as Escrituras contêm, incomparavelmente mais devedores de gratidão ao Senhor do que quaisquer crentes de todas as dispensações passadas.
Com a Dispensação da Graça, Deus introduziu no mundo uma nova ordem, visando, particularmente, a Igreja e seu desenvolvimento. Este se processa harmoniosamente na área espiritual, com base numa fé viva, e na material, em função de uma vivência responsável e consagrada por parte de cada verdadeiro crente. Uma das primeiras noções de que o crente se dá conta, a seguir à conversão, é a de que foi salvo para servir. Este conhecimento que ele adquire é fruto de um ensino fiel e persistente, que nunca deve faltar nas igrejas locais.
I Coríntios 16:1-4 – Paulo aparece neste passo com o perfil de um mestre e pioneiro na missão de instruir os crentes quanto ao uso dos seus haveres. O que mais ressalta do ensino do nosso senhor, transmitido por meio do apóstolo, é que para o crente o seu contributo é, muito além de um dever, um grato privilégio. O Senhor Jesus disse e Paulo o lembrou que mais bem-aventurada coisa é dar do que receber” (At 20:35).
A COLETA
“Ora, quanto à coleta que se faz…“.
Paulo não usou meias palavras, como quem fala de alguma coisa proibida. Antes, tratou as coisas pelos seus próprios nomes. Os crentes apreciam a linguagem clara. Linguagem capaz de lhes explicar que coleta é dinheiro, e que sem dinheiro a obra de Deus é materialmente impossível. É que a mão que o dá deve ser movida por um coração cheio de gratidão e amor.
“Para os santos” – Este é o homem que disse, bem perto do fim da sua carreira: “De ninguém cobicei a prata, nem o ouro, nem vestido” (At 20:33). Para si, propriamente, Paulo nunca pediu. Mas em se tratando de necessidades, de crentes ou da Obra, do mesmo modo como ensinava acerca do privilégio de dar também sabia indicar o tempo em que isso devia ser praticado. Ao crente no Senhor Jesus, obreiro ou não, incumbe dar conhecimento de situações de carência que existam. Quanto às que lhe digam diretamente respeito, espere que outros falem delas. Paulo não ocultou as necessidades dos outros.
“Para os santos” – Os crentes coríntios estavam sendo exortados a darem do seu dinheiro, e esse dinheiro tinha um destino identificado: os santos em Jerusalém. E uma alegria sabermo-nos convidados pelo Senhor a fazer uso daquilo que Ele nos tem dado para fins claramente reconhecidos e justificados. Quem informa, assume uma enorme responsabilidade, tanto para com os crentes como em relação a Deus. Se uma entrega de quaisquer meios é feita às cegas, corre-se o risco de isso ter um destino errado e injusto e de se deixar em falta necessidades que são reais. Cuidado, porque isso é um pecado e uma perda!
“Fazei vós o mesmo que ordenei...”. O apóstolo não se pôs de joelhos nem pediu. “Ordenei” – diz ele. Mais importante que a sua autoridade, era a razão que lhe assistia. Em Jerusalém, havia crentes ameaçados pela fome. Não podiam contar com os seus bens, porque os repartiram, enquanto os tiveram (At 2:44-45; 4:32, 34-37). Agora, os crentes em Corinto possuíam muito mais do que eles.
Esta a razão pela qual Paulo lhes ordenou a partilha do que eles tinham com os que precisavam. E um pecado, grande pecado mesmo, ter conhecimento de uma necessidade autêntica, talvez aflitiva, e não lhe acudir, quando se tem possibilidade de o fazer. “Se o irmão ou irmã estiverem nus e tiverem falta mantimento quotidiano, e algum de vós lhes disser: Ide e paz, aquentai-vos e fartai-vos; e lhes não derdes as coisas necessárias para o corpo, que proveito virá daí?” (Tg 2:15-16).
UM ENSINO UNIFORME
“Às Igrejas na Galácia” – Um ensino uniforme relativo contribuição, foi levado às igrejas em quatro regiões, pelo menos: Antioquia, Macedônia, Acaia e Galácia (At 11:2 30; Rm 15:26; I Cor 16:1). Acontece não poucas vezes que em uma mesma terra as pessoas de dois lugares vizinhos diferem surpreendentemente nas suas maneiras de pensar e agir. Tomando isto por referência, é fácil calcular que diferentes seriam estes crentes uns dos outros. Paulo não desconhecia essa realidade no seu campo missionário. E que fez ele? Ministrou ensinos diferentes, porque as passo eram diferentes? – De modo nenhum.
Todos os crentes e igrejas em todos os lugares foram instruídos da mesma maneira porque outra não era, nem é, a vontade de Deus. E o ensino uniforme uniformizou todas aquelas Igrejas no pensamento, no sentimento e na ação. O Espírito do Senhor atuou com tanta graça nas mentes e nos corações daqueles crentes, que a generosidade deles atingiu, e muitos casos, as raias do que parecia impossível. As igrejas carecem de ensino cem por cento fiel no tocar à contribuição. Bem sei quão custoso é dá-lo. Todavia, o Senhor, que operou naqueles dias nas igrejas por meio de Paulo e outros, está pronto para fazer o mesmo hoje, por meio uns em relação aos outros com a mesma graça.
NO PRIMEIRO DIA DA SEMANA
I Coríntios 16:2 – A vida sistematicamente bem organizada é fator de segurança para e crente. Tudo que fazemos deve ser pautado por princípios de ordem e método. Isso garante maiores probabilidades de êxito e constitui uma notável prova de bom testemunho. O fato é tão importante e necessário que até o nosso Deus agiu com método e ordem na criação e disposição de todas as coisas. Estes breves pensamentos enquadram-se na sentença inspirada de Paulo: “No primeiro dia da semana”.
O Senhor é sábio e justo. O que Ele requer de nós baseia-se no que temos nunca no que não temos. O “primeiro dia da semana” também pode ser o primeiro do mês nos tempos atuais. Essa é a altura em que estamos na posse de tudo que granjeamos no mês ou semana anteriores. E então que, por termos mais, menos nos custa oferecer algo para o Senhor. Para contribuirmos com esta precisão necessitamos não apenas de meios, mas também, de ordem na vida.
CADA UM DE VÓS
A recomendação destina-se a crentes individuais, ainda que pertençam á mesma família. “Cada um” é a regra que temos. O Senhor instrui Paulo para escrever assim, por Lhe ser mais agradável receber esta forma de serviço de cada um dos Seus remidos. E, como facilmente se entende, cada um de nós deseja sentir em si mesmo o profundo prazer de dar. E que a prática de dar é um prazer verdadeiro, quando o coração se envolve nisso. Tanto basta para que nenhum de nós se prive ou deixe privar do gozo e moral que este privilégio nos causa. A minha mulher e eu sempre usamos a mesma bolsa para os gastos correntes. Para as coletas, cada um de nós faz a sua oferta independentemente.
Quando nossos filhos eram ainda meninos, já nós púnhamos nas suas pequenas mãos quantias iguais, que eles deitavam no saquinho das coletas. Assim eles adquiriram muito cedo o abençoado hábito de dar para Senhor. E Ele quis que vivêssemos até ao tempo em que eles fazem de moto-próprio aquilo que aprenderam na sua meninice.
PONHA DE PARTE
O ensino continua a incidir sobre a importância do método na vida cristã. Pôr de parte é destinar e separar aquilo, que reconhecemos pertencer ao Senhor; temos aqui e sentido da reciprocidade. Ele é magnânimo. Salvou-nos segundo a Sua graça, e tem-nos feitos participantes dos Seus benefícios, que não têm conta. E, por isto- mesmo, justo que O convidemos a tomar para Si uma parte do muito que Ele nos dá. “Quem sou eu, e quem é o meu povo, para que pudéssemos fazer ofertas tão voluntariamente? Porque tudo vem de Ti, e do que é Teu – da Tua mão – te damos” (I Cr 29:14).
Por muito que Lhe demos isso nunca passará de uma insignificância, em comparação, com a abundância que Ele nos dá. Não separar a parte do Senhor é correr o risco de gastarmos desordenadamente o que é d’Ele juntamente com e “nosso”. Mas quando pomos de parte o que pertence ao Senhor, isso é d’Ele definitivamente. Os nossos direitos cessaram pelo que não mais usaremos isso em proveito próprio.
O QUE PUDER AJUNTAR
A nossa contribuição é uma das formas de culto que prestamos a Deus. Ele, que a aceita, não pede de nós sacrifício. Porém, se e houver da nossa parte, terá de ser voluntário, porque o nosso coração assim e deseja. Ora a exortação diz: “O que puder”. Pensemos na mulher que ungiu o Senhor com bálsamo de nardo puro, “de muito preço”. Este ato de culto especial concitou contra ela a indignação de alguns. O Senhor depressa os moderou com a seguinte apreciação: “Deixai-a, para que a molestais? Ela fez-Me boa obra. Esta fez o que PODIA” (Mc 14) – Ela fez o que podia. O que fazemos é, ou deve ser também para o nosso Senhor. Terei eu feito nesta área sempre tudo que posso? E tu, meu irmão, também tens feito exatamente e que podes? Ou, pelo contrário, temos feito e dado menos do que pudemos? O ensino é sempre o mesmo: “Cada um de vós ponha de parte o que puder ajuntar”.
CONFORME A SUA PROSPERIDADE
Esta prosperidade resulta do que se adquire por meio do trabalho, ou do negócio ou de outros rendimentos. Na Dispensação da Graça não existe nenhuma tabela fixa que regulamente o nosso contributo para e Senhor. A lei do dízimo foi abolida. Muito cuidado, porém: A lei do dízimo terminou, mas e dízimo não.
“Cada um ponha de parte o que puder“. Ás vezes só se pode dar menos que o dízimo. Noutras, é precisamente o dízimo que se pode dar – nem mais, nem menos. Todavia também há ocasiões em que se pode dar mais que o dízimo – mesmo muito mais. O Senhor conhece bem a situação do cada um de nós. O “ensino não pode ser mais claro: Cada um de vós ponha de parte o que puder ajuntar, conforme a sua prosperidade“. Ou, dito doutro modo: Conforme os rendimentos de cada um no mês ou semana anterior. A inobservância desta doutrina é um grande pecado, que vai ser julgado no tribunal de Cristo. Em muitas igrejas locais as coletas são de miséria. São sempre iguais. Nunca mediram apesar dos seus membros verem os seus ganhos aumentados muitas vezes.
Também acontece, frequentemente, que um ou outro crente fica mais que contristado, depois de ouvir dizer quanto rendeu a coleta. Isto, porque ele sozinho contribuiu mais, ou quase mais do que os outros todos juntos! “O amor do dinheiro é a raiz de toda a espécie de males; e nessa cobiça alguns se desviaram da fé, e se traspassaram a si mesmos com muitas dores” (I Tm 6:10).
Estas palavras devem ser lidas e entendidas com santo temor. Elas dão-nos conta de que o Senhor entra em Juízo com os tais, apesar de crentes, mesmo antes do tribunal do Cristo. Deste modo fica explicada a magreza das dádivas de muitos que podem dar infinitamente mais do que dão.
Estes chegam a ser traspassados com muitas dores, começando assim a sofrer os efeitos do pecado da sua avareza. Toda a igreja que é feita de crentes que idolatram e dinheiro nunca será missionária. Nem ela prosperará, nem os seus membros. “Semeais multo, e recolheis pouco; comeis mas não vos fartais; bebeis, mas não vos saciais; Vestis-vos, mas ninguém se aquece; e o que recebe salário, recebe salário num saco furado“.
PARA QUE SE NÃO FAÇAM COLETAS QUANDO EU CHEGAR
Paulo, que estava ausente do Corinto, transmitiu aos crentes o ensino que recebeu do Senhor. Fá-lo por escrito. Pouco depois, seguiria para lá. Ao escrever recomendou que as coletas fossem feitas antes da sua chegada, e não depois. O servo de Senhor procedeu desta maneira a fim de evitar que a sua presença exercesse alguma pressão psicológica sobre os crentes. Os corações deles deviam ser tocados e movidos semente pele Senhor e por uma boa consciência.
Eles deviam fazer tudo livre, voluntária e alegremente, sem a mínima coação humana. Eu próprio não simpatizo com quaisquer apelos insistentes, seja qual for e fim em vista, embora respeite quem os faça. Mas quando me expõem uma situação de necessidade, eu levo-a ao Senhor em oração. Depois, sim, se Ele move o meu coração nesse sentido, corresponde com muita alegria, porque o faço livremente. Acontece o mesmo contigo, meu irmão?
A GRAÇA DE DEUS
“Fazemos-vos conhecer, Irmãos, a graça de Deus às igrejas na Macedônia” (II Cor 8:1-9). Paulo faz referência a estas igrejas e ao seu espírito de sacrifício a favor dos outros nos termos mais encomiásticos e justos. Esta sua apreciação está em consonância com a recomendação também feita por ele: “Dai a cada um o que deveis: a quem honra, honra” (Rm 13:7). Se os homens nos honram, espontaneamente, por honrarmos o Senhor com todos os bens que temos, incluindo os materiais, também Ele nos honrará.
“A graça de Deus dada às Igrejas“. Logo que as necessidades dos santos em Jerusalém foram conhecidas na Macedônia, os crentes iniciaram uma recolha de fundos de tal envergadura que excedeu tudo quanto se poderia julgar humanamente possível. Foi a graça de Deus que fez isto. Fez, e faz ainda hoje. Esta graça traduz-se em pensamento e ação na nossa vida. Ela desencadeia em nós sentimentos e capacidades que supúnhamos inexistentes. Os santos macedônios experimentaram o poder desta graça ao serem tomados por uma grande vontade e um profundo desejo de darem o que tinham. Também eles podiam afirmar: “A Sua graça para conosco não foi vã” (I Cor 15:10).
“Em muita prova de tribulação“. Estes irmãos atravessavam tempos muito difíceis, quando chegaram de Jerusalém noticias tão dolorosas. Estavam sendo muito atribulados e sofriam “profunda pobreza”. Em face de este quadro, que faria eu? E tu, meu irmão, que farias também? E que fariam eles mesmos sem a graça de Deus a operar em seus corações? – Simplesmente nada! Sim mas a graça atuou e o milagre consumou-se, criando neles a bendita disposição de dar. E, porque do fraco saíram forças, houve abundância de gozo e riquezas de generosidade. Sem a menor dúvida, este gozo foi já uma parte da recompensa do Senhor para eles aqui na terra.
VOLUNTARIAMENTE
“Segundo o seu poder, e ainda acima do seu poder, deram voluntariamente“. Aos crentes da igreja em Corinto, foi dito: “Cada um de vós ponha a parte o que puder ajuntar“. Os macedônios, porém, não se cingiram ao que podiam. O exemplo da mulher que, ao ungir o Senhor, fez o que podia, não significou para eles o limite máximo. E de crer que tenham preferido a lição da viúva pobre. O nosso Senhor comentou o ato dela com estas palavras: “Todos ali deitaram do que lhes sobejava, mas esta, da sua pobreza, deitou tudo o que tinha todo o seu sustento” (Mc 12:44). Daqui se depreende que ela, depois disto, fica na total dependência de Deus para sobreviver. E os macedônios, como terão ficado depois do que fizeram?
Muitos outros crentes se têm desfeito dos seus haveres – mesmo de riquezas, em alguns casos – no interesse da obra do Senhor. Fazem-no voluntária e confiadamente, por saberem que “Deus é fiel”. “Pedindo-nos com muitos rogos a graça e a comunicação deste serviço que se fazia para com os santos“. A expressão “para com os santos” parece indicar, com uma grande margem de segurança, que se tratou de um esforço especial, além da contribuição que eles costumavam dar.
O fato prova que eles não estavam submetidos a qualquer regra sobre o dízimo. Uma vez instruídos quanto à maneira de socorrerem os seus irmãos em dificuldades, eles agiram prontamente, sem a mínima imposição. Profundamente tocados pela graça do Senhor, pediram encarecidamente que lhes fosse concedido juntarem as dádivas do seu sacrifício de amor às dos outros crentes.
Examinando bem o texto, conclui-se que eles procederam com tal solicitude junto de Paulo como sentindo medo de que este privilégio lhes fosse negado, por causa da sua “profunda pobreza”. Assim se vê como a graça de Deus pode vencer todo o egoísmo e as nossas “inquietações pelo dia de amanhã”. Fica assim também provado que onde a graça de Deus opera ninguém é demasiadamente pobre para contribuir. E de que o amor fraternal é uma realidade atuante, mesmo em tempos difíceis. Foi deste modo que os crentes macedônios tomaram parte nas aflições dos de Jerusalém e estes participaram no amor sacrificial dos primeiros.
POR AMOR E NÃO POR UMA REGRA
“Primeiramente a si mesmos se deram ao Senhor, e a nós pela vontade de Deus“. O que foi feito pelos macedônios para o bem dos crentes de Jerusalém não obedeceu a qualquer regra relacionada como dízimo. Foi muito, além disso. Esta revelação do apóstolo oferece-nos um quadro vivo de uma entrega real e completa destes queridos irmãos. Foi, inegavelmente, um verdadeiro sacrifício de amor.
O princípio que os orientou neste comportamento deve ser observado à luz de Romanos: “Rogo-vos, pois, Irmãos, pela compaixão de Deus, que apresenteis os vossos corpos em sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso culto racional” (Rm 12:1). Estou a usar as palavras “entrega real e completa”, sabendo que uma consciência santificada pelo Espírito de Deus não se conforma com simples dádivas monetárias, por muito regulares e generosas que elas possam ser. “Fostes comprados por bom preço; Glorificai, pois a Deus no vosso corpo, e no vosso espírito, os quais pertencem a Deus” (I Cor 6:20).
Cada crente foi objeto de uma salvação total. Eis a razão pela qual tudo que somos, sabemos e possuímos pertence justamente ao Senhor. A Lei não se esgotou com o fim da sua dispensação. Parte da sua riqueza transitou para a Dispensação da Graça. Um exemplo: “Amarás, pois, o Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma, de todo o teu entendimento, e de todas as tuas forças: este é o primeiro mandamento” (Mc 12:30). Os macedônios assim o entenderam e cumpriram.
O DINHEIRO NÃO É TUDO
Meu irmão, não só o dinheiro, também as nossas forças, a nossa inteligência, o nosso tempo e tudo o mais em nossa vida devem estar tão disponíveis para o Senhor de quem somos que Ele possa dispor destes talentos e dons como e quando queira. Não O podemos glorificar com menos do que’ isto, podes crer. Todos nós somos mordomos daquilo que Deus nos confiou. De um momento para o outro seremos chamados a prestar contas da nossa mordomia no Tribunal de Cristo. Que o Senhor nos dê a alegria de sermos achados fiéis, mesmo no uso e prática das coisas mínimas.
José Fontoura, Refrigério Online