Nossa Associação Com Cristo

Colossenses 2:20-23; 3:1-4 – Temos aqui três aspectos de nossa associação com nosso bendito Senhor. Somos considerados como “mortos com Cristo”, como “ressuscitados com Cristo” e como os que, em breve, irão “aparecer com Ele em glória”.

Esses três aspectos de nossa associação com Cristo nos trazem algo bendito. Vemos que Deus em Sua infinita graça não pode nos ver separados de Cristo. Se Ele morreu, nós morremos com Ele, se Ele ressuscitou, nós estamos ressuscitados com Ele e, quanto à Sua futura aparição em glória para reinar, estamos tão conectados a Ele que, quando Ele aparecer, nós apareceremos com Ele. Deus não pode olhar para nosso bendito Senhor e Salvador, sem nos ver com Ele.

Primeiramente proponho que simplesmente consideremos estes três aspectos da nossa associação com Ele, e então seguiremos com o que envolve as responsabilidades de cada um desses aspectos.

Em primeiro lugar lemos, “Portanto, se morremos com Cristo”. Seria exagerado dizer que muitos de nós falhamos em entrar nesse aspecto de nossa associação com Cristo? Provavelmente cada um de nós conhece o perdão dos pecados. Seria muito perguntar se todos conhecem? Pois, às vezes, até mesmo na mesa do Senhor, encontramos alguém que não conhece o perdão de seus pecados. Supondo, contudo, e com esta palavra de aviso, que sabemos que nossos pecados são perdoados, deixe-me fazer uma pergunta que vai mais além: Todos nós sabemos o que significa: “mortos com Cristo”?

Isso é algo magnífico, e fazemos bem em considerar, porque nunca podemos conhecer a liberdade das almas até entendermos o fato da nossa associação com Cristo em Sua morte, pois, nesta morte, não temos somente o perdão de pecados, nossa culpa não se foi simplesmente, mas nós mesmos morremos. Conhecendo tal identificação com Ele, eu posso tomar o lugar do ‘meu eu’ estando completamente morto. Eu posso dizer como o apóstolo: “Estou crucificado com Cristo: todavia eu vivo, mas não eu, e sim Cristo vive em mim; e a vida que agora eu vivo na carne, vivo pela fé no Filho de Deus, quem me amou, e Se deu por mim”. Eu vivo, mas não eu, pois o meu eu se foi.

Permita-me insistir um pouco mais neste assunto antes de prosseguir. Deixe-me dar uma palavra sobre sermos libertos pela verdade de termos morrido com Cristo.

Se você ler Romanos 6, encontrará o primeiro aspecto daquilo que fomos libertos. Não entrarei em detalhes, mas simplesmente chamo sua atenção para as Escrituras. Nós lemos: “Sabendo isto, que nosso velho homem foi crucificado com Ele”, que o corpo de pecado pode ser, não “desfeito”, mas “reduzido a nada [anulado]”, e não sirvamos o pecado como escravos. Porque aquele que morreu está livre do pecado”. Destaco que é pecado, e não pecados. Então a primeira coisa da qual fomos libertos pela morte de Cristo foi do pecado.

Muitos de nós que sabemos do perdão que nos foi dado por Deus, somos frequentemente abatidos pela consciência de pecados interiores. Em primeiro lugar, depois de nossa conversão, houve grande alegria, mas logo depois, talvez a alegria tenha passado, e pecados inatos vieram à tona de tal forma que até mesmo tenha nos forçado a duvidar de nossas almas ao ponto de levantar a seguinte questão: “Eu fui verdadeiramente salvo?” Portanto, eu digo, se não formos além do mero conhecimento de perdão de pecados, nunca conheceremos a libertação do pecado.

Assim, o pecado não pode mais controlar quem quer que seja que tenha morrido com Cristo. Se houvesse um homem morto aqui diante de mim, eu não poderia em nenhuma hipótese tentá-lo para pecar. E não existe nenhuma outra maneira de resistir às tentações além de nos reconhecermos como mortos com Cristo. E por esse meio eu me torno imune aos ataques de Satanás, caso contrário, eu não teria nenhuma posição vantajosa. Como você poderia tentar a um homem morto? Não é uma triste realidade, que a experiência de muitos de nós tem sido de sucessivas derrotas? Eu creio que a causa disso é que nunca tenhamos entendido o que é ter morrido com Cristo, e então Satanás é capaz de nos enredar com seus ardis.

Amados, vamos entrar aqui no que Deus nos ensina sobre estar em Cristo, ou seja, que Ele nos considera como “mortos com Cristo”, que Ele está em Cristo e “condenou o pecado na carne”, então, Ele me condenou em Sua morte assim como aos meus pecados (Romanos 8:3).

Passando para o capítulo 7 de Romanos, encontramos que fomos, em segundo lugar, libertos da lei. Eu entrarei em uma verdade fundamental falando sobre este assunto. Encontramos, nesse capítulo, o apóstolo lidando com a lei. Se lermos o verso 6, Ele o faz por nossa causa. Lemos na “New Translation” (“Nova Tradução”, de John Nelson Darby) “Mas agora somos libertos da lei, tendo morrido para aquilo que estávamos presos; para que sirvamos em novidade de espírito, e não na velhice da letra”. Não preciso falar o que já nós é familiar, pois sabemos que a lei não tem uma aplicação, como regra de vida, para os que estão em Cristo.

Eu passo agora para a terceira coisa da qual nós fomos libertos, e que encontramos em Gálatas 6, onde lemos, “Mas longe esteja de mim gloriar-me, a não ser na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo, pela qual o mundo está crucificado para mim e eu para o mundo”. A morte de Cristo também nos liberta do mundo. Primeiramente nós fomos libertos do pecado, em segundo lugar, libertos da lei e também nós estamos mortos para o mundo, e consequentemente libertos dele. Tem sido dito que todos os vestígios do Egito são reprovados para os Cristãos. Se estou crucificado para o mundo e morto para ele pela cruz de Cristo, por cada ato ao qual me associo, eu declaro, na medida em que ajo, que eu morri com Cristo, ou ao contrário, eu nego isso.

Devemos nos analisar a esse respeito à luz da Palavra de Deus, que “é viva e eficaz, e mais penetrante do que espada alguma de dois gumes, e penetra até à divisão da alma e do espírito, e das juntas e medulas, e é apta para discernir os pensamentos e intenções do coração”. Se tomássemos corajosamente a posição de ter morrido com Cristo, seriamos libertos do mundo. Você não pode passar por uma rua de qualquer cidade sem ter o apelo, de todos os lados, da concupiscência dos olhos, da concupiscência da carne e da soberba da vida. Como devo reconhecer e resistir a essas atrações? Mantendo-me como um homem morto, eu tenho uma resposta para cada tentação que venha até mim, porque Deus em Sua graça me diz que eu morri com Cristo.

Assim, e somente assim, nós somos libertados do pecado, da lei e do mundo.

Voltando agora para a passagem lida em Colossenses, podemos ver que somos libertados do homem. “Se, pois, estais mortos com Cristo quanto aos rudimentos do mundo, por que vos carregam ainda de ordenanças, como se vivêsseis no mundo, tais como: Não toques, não proves, não manuseies? As quais coisas todas perecem pelo uso, segundo os preceitos e doutrinas dos homens; as quais têm, na verdade, alguma aparência de sabedoria, em devoção voluntária, humildade, e em disciplina do corpo, mas não são de valor algum senão para a satisfação da carne”. Vou parafrasear a última parte, já que é realmente diferente do que está escrito na versão acima, assim: “Essas coisas não têm qualquer valor, elas são somente para a satisfação da carne”.

Como sabemos, existem diante de Deus apenas dois homens: Adão e Cristo. Somos ensinados nas Escrituras que fomos dissociados do homem, de Adão, e conectados a Cristo. Se eu não conheço essa verdade, de que estou associado a Cristo, eu não serei capaz de escapar do homem. Não seria correto me comprometer com qualquer homem que tivesse autoridade sobre mim, especialmente quando suas reivindicações são religiosas como na passagem acima, pois estou sujeito somente a Cristo. Então por que, alguém perguntará, as esposas devem obedecer a seus maridos, os servos a seus senhores e os filhos a seus pais? Porque o Senhor pôs a cada um em lugar de sujeição. Eu assumo todas as relações em que o Senhor me põe, e nelas eu O obedeço. Assim eu passo através da cena como homem livre e estou completamente libertado do homem com todas as suas reivindicações religiosas, pois devo obediência somente ao Senhor e àqueles que Ele me diz para obedecer.

Tomemos alguns exemplos como ilustração dessa verdade.

Vamos imaginar que alguém venha até você e diga: “nós estamos unidos para fazer algo grande e bom para o mundo, que irá beneficiar toda a humanidade, você nos ajudaria?” Eu respondo: “estou feliz que você irá fazer algo grande e bom, mas eu não posso tomar parte nisso a menos que tenha a autoridade de Cristo”.

Do mesmo modo, se um político procura me unir em cooperação com ele, eu tomo a posição de ter morrido com Cristo, para que, em seguida, eu recuse a política, pois, o que um homem morto tem a ver com o governo do mundo? Eu recuso sociedades e organizações humanas e recuso, enfim, todas as reivindicações, mesmo que elas sejam santas aos olhos dos homens, em razão de que, pela associação à morte de Cristo, eu saí da esfera na qual estas coisas têm seu lugar.

No segundo aspecto da associação com Cristo, podemos notar que o verso 20 de Colossences 2, está conectado com o verso 12, que é a primeira parte dele. E a última parte do verso 12 está conectada com o primeiro verso do capítulo 3, onde lemos: “Se já ressuscitastes com Cristo…”..

Se estamos ressuscitados com Cristo, nós perdemos nosso lugar neste cenário. Colossenses é peculiar a esse respeito. A Carta aos Romanos vai até termos morrido com Cristo, e não além disso. Mas quando chegamos à carta aos Colossenses nós não apenas morremos com Cristo – mas também estamos ressuscitados com Ele, mesmo que ainda estejamos neste cenário. Passando para a carta aos Efésios nós damos um passo adiante, nos encontramos assentados “nos lugares celestiais em Cristo Jesus”.

Mas a consequência de estarmos “ressuscitados com Cristo” é que de modo algum pertencemos a este cenário,assim, nós devemos “procurar as coisas que são do alto, onde Cristo se assentou a direita de Deus”. Às vezes uma pergunta é feita: “O que são essas coisas?” São todas as coisas que caracterizam o lugar onde Cristo está assentado à direita de Deus, toda a cena de glória na qual Ele é o centro, e nós pertencemos àquele lugar porque Ele está lá.

Usando uma ilustração do Antigo Testamento, às vezes dizemos, e é verdade, que os Salmos não são experiências propriamente cristãs, porém, ainda assim, quando vamos aos Salmos, podemos verdadeiramente dizer que estamos familiarizados com muitas expressões que são utilizadas neles? Abra comigo o Salmo 63 onde lemos, “Oh Deus, tu és o meu Deus, de madrugada te buscarei; a minha alma tem sede de ti; a minha carne te deseja muito em uma terra seca e cansada, onde não há água”. “Sem água”, diz o salmista! É esta a nossa experiência – de que não há uma única fonte de refrigério para nós aqui?

Deus frequentemente nos faz aprender esta lição. Quando um santo está andando de maneira próspera no mundo, ele tem êxito em tudo e pensa que está encontrando muita água e digo que ele “pensa”, porque não há nenhuma. Todos nós conhecemos casos assim. E o que Deus faz? Ele os ama muito para deixar que as coisas continuem assim e traz nuvem após nuvem sobre eles, com problemas e desapontamentos que vêm de todos os lados; Ele deixa a morte girar sobre eles, o que os fará aprender, de maneira prática, que “não há água” neste cenário.

Porém, o Salmista também diz no Salmo 87, “Todas as minhas fontes estão em Ti”. Não somente não há nada para nos refrescar aqui, sem água neste cenário, mas todo o meu refrigério está lá, todas as minhas fontes estão em Deus. Eu aprendi que a alma que responde à exortação da primeira parte do capítulo, será capaz de dizer isso; ela saberá o que é ter todas as suas fontes em Deus.

Todos nós poderíamos tomar essa posição? Aceitamos o fato de que “não há água” aqui? Todos nós sabemos disso teoricamente, pois sabemos que tudo aqui é vaidade, mas ainda assim o mundo, ou algo dele, tem tido tanto poder sobre nossos corações, que frequentemente temos algo separado de Deus como o recurso de satisfação e refrigério.

Ninguém é tão independente de todas as coisas aqui como um Cristão, pelo simples fato de ser dependente de Deus, e, por isso, ele não quer mais nada. Suponha que amanhã algum de nós sofra um naufrágio em uma ilha deserta, tendo somente comida, abrigo e roupas, – mas sendo incapaz de se comunicar com outras pessoas. Poderíamos nestas circunstancias dizer: “Todas as minhas fontes estão em Ti?” Como alguém há muito tempo atrás disse: “Frequentemente nós queremos alguma coisa e Cristo”.

Fomos chamados para saber que este não é o nosso lugar, mas é onde Cristo está assentado à direita de Deus. Se alguém, um estranho em nosso país reclamar dos caminhos, dos acordos, das leis do país, certamente responderíamos a ele: “você não pertence a este país, então, essas coisas não devem ter muita importância para você”. Assim é o Cristão liberto das coisas aqui e de tudo o que o cerca, ele é um estranho no meio disso tudo, esperando seu Senhor retornar para levá-lo para estar com Ele, para que onde seu Senhor esteja, ele também possa estar.

O segundo verso precisa de uma explicação. “Fixe suas mentes nas coisas do alto”, não em suas “afeições” como nós fazemos. Quando ouvimos pessoas orando – certamente não devemos julgar tais orações duramente, pois, assim como um sacerdote separa o precioso do vil, nosso bendito Senhor, nosso grande Sumo Sacerdote separa, em nossas orações, o que é indigno d’Ele e o que Ele pode aceitar, e oferece a Deus – ainda assim a oração às vezes é oferecida para que nossas afeições possam ser fixadas nas coisas do alto – mas isso não é possível. “Onde o seu tesouro está, ali também estará o seu coração”. O marido não oraria pedindo para que ele pudesse amar sua esposa quando ele já a ama. Então o que desejamos é que a graça a beleza e a excelência de Cristo possa ter tal poder sobre nossas almas, que nossos corações possam ser atraídos em direção a Ele no lugar onde Ele está.

Portanto: “fixe suas mentes nas coisas de cima, não nas coisas terrenas, porque vocês morreram” – a mais completa afirmação na Palavra de Deus a este respeito. Deus vê você assim: você morreu e deve ter sua mente fixa nas coisas que estão no lugar onde Ele, com quem você está ressuscitado, está assentado. “Porque já estais mortos, e a vossa vida está escondida com Cristo em Deus. Quando Cristo, que é a nossa vida, se manifestar, então também vós vos manifestareis com ele em glória”.

Isso se conecta especialmente com a passagem da primeira carta de João: “Amados, agora somos os filhos de Deus; e não sabemos o que seremos em sua aparição: mas sabemos que, quando ele aparecer, seremos como Ele, por que O veremos como Ele é”. Nossa vida está escondida com Cristo em Deus, mas o tempo está chegando onde seremos revelados. Não pertencemos a este cenário onde estamos, e porque pertencemos ao cenário onde Ele está, nossos pensamentos devem ser ocupados com isto.

Mais uma palavra pode, talvez, ser dita sobre este terceiro aspecto da nossa associação com Cristo, antes de procedermos com a consideração da responsabilidade que está envolvida com estas verdades.

Eu, portanto, adicionaria, que esta associação com o Cristo ressurreto nos põe em uma atitude de espera. Ainda não estamos na graça na qual Ele partiu e a consequência é que estamos esperando pelo tempo quando estaremos. Estamos esperando pelo momento em que ele voltará e seremos revelados com Ele em Sua glória. É a passagem que estamos considerando que clareou a dificuldade que tive durante anos em minha mente. Ela me ensinou que eu devo estar com Ele antes de eu poder aparecer com Ele, e consequentemente a atitude adequada para o cristão deveria ser a de constante espera pelo retorno de Cristo que virá buscá-lo para estar com Ele.

Mas, posso dizer uma palavra ou duas sobre este ponto? Você irá permitir, estou certo disto, que eu pergunte: “não podemos nós estar esclarecidos acerca das verdades sobre a vinda de Cristo e ainda assim não estar à Sua espera?” Quantos de nós perguntamos a nós mesmos, hoje: “O Senhor voltará hoje”? Perceba que a espera implica em constante expectativa. Deixar de lado o retorno de Cristo rouba do Cristianismo sua completude, e, se me falta esta esperança eu posso cair em duas coisas: mundanismo ou judaísmo. Sabemos que há muitos do povo de Deus que não veem isso, e que nunca verão isso e, para eles, o resultado sempre é um ou outro. Não há poder para atravessar as coisas do presente como as que vivemos sem esperar por Cristo.

Suponha que eu tenha um servo responsável por minha casa enquanto estou longe por um tempo, e o aviso que posso retornar a qualquer momento sem estabelecer uma data. Se ele for fiel a mim , como eu o encontrarei ao retornar em qualquer dia? Cuidando de seus próprios interesses? Não, pois terá dito a si mesmo, eu devo me ocupar com as coisas de meu Senhor até o momento de seu retorno. Desse modo quão frequentemente uma amada esposa, cujo marido está, talvez, em uma viagem, pergunta a si mesma durante sua ausência, ao fazer uma modificação ou outra na casa: “Será que ele gostaria disto ou daquilo?”

Assim deve ser com o povo de Deus. Na medida em que espero por Cristo, eu procuro ter tudo adequado para Ele, e quanto mais adequado estou para Ele, mais intensa será a expectativa de Sua volta e meu desejo de vê-Lo. O bendito Senhor não descansará até que Ele mesmo retorne para tomar os Seus para Si mesmo e Deus não descansará até que Ele tenha nos manifestado na mesma glória com o nosso bendito Senhor e Salvador: “Quando Cristo, que é a nossa vida, se manifestar, então também vós vos manifestareis com ele em glória”.

Agora falarei sobre a responsabilidade envolvida por estarmos associados com Cristo em Sua morte, ressurreição e na glória que virá.

Para isso, chamo sua atenção para dois versos que indicam toda a nossa responsabilidade. Lemos no versículo 9 do capítulo 3 que estamos considerando: “Não mintais uns aos outros, pois que já vos despistes do velho homem com os seus feitos”. Eu me despi do velho homem e me revesti do novo. Quando eu me despi do velho homem? Na morte de Cristo. Quando me revesti do novo? Em sua ressurreição.

E agora deixe-me indicar o caráter desta responsabilidade. Desde que nos despimos assim do velho homem, nossa responsabilidade é a de nunca permitir que ele se expresse.

Há somente três maneiras nas quais a carne sempre procura se expressar. Se formos até Genesis 6:11, poderemos encontrar duas delas: “A terra, porém, estava corrompida diante da face de Deus; e encheu-se a terra de violência”. Corrupção e violência. A terceira, que não vemos em Gênesis, porque a verdade sobre Satanás não tinha sido completamente revelada até que nosso Senhor veio a terra, é a mentira. O Senhor disse aos judeus: “Vós sois do diabo, que é vosso pai, e quereis satisfazer-lhe os desejos. Ele foi homicida desde o princípio e jamais se firmou na verdade, porque nele não há verdade. Quando ele profere mentira, fala do que lhe é próprio, porque é mentiroso e pai da mentira”.

Então, as três maneiras na qual a carne se expressa são: corrupção, violência e mentira. No verso 3 deste terceiro capítulo de Colossenses temos a morte (corrupção), no verso 8 a violência e no verso 9 a mentira. A menos que estas três formas de manifestação da carne sejam percebidas, pareceria estranho a aparição da mentira aqui.

Claro que todos os santos admitem a necessidade de não permitir que a carne se manifeste. Mas ainda assim, enquanto nós condenamos as obras da carne, não seria obra da carne, por exemplo, a avareza vista entre os santos? Ou a raiva, em outro exemplo? Não há ninguém de nós que às vezes dizemos como Jonas: “Faço bem que me revolte até à morte”? Enquanto vemos aqui que a raiva é uma obra da carne, devemos ter clareza em todas estas coisas, devemos olhar para toda a lista e nos perguntar, eu me permito estar com raiva, me saciar com a ira, dar lugar à malicia, deixar que palavras blasfemas e sujas saiam de minha boca? Não posso permitir que minha vontade venha à tona, mas se isso acontecer eu peco.

Você encontrará poucos que tomam a posição de não ter desejos, mas o Cristão é aquele que não tem desejos próprios. E talvez você diga, ninguém chega a isto! Ainda assim, eu respondo, é o padrão de Deus para os Cristãos, e a menos que aceitemos completamente todo ele, em algum momento nos afastaremos desse padrão.

Passando agora para o lado positivo. “E vos revestistes do novo homem que se refaz para o pleno conhecimento, segundo a imagem daquele que o criou; no qual não pode haver grego nem judeu, circuncisão nem incircuncisão, bárbaro, cita, escravo, livre; porém Cristo é tudo em todos”. Cristo é tudo! Isto é, Cristo é a imagem de Deus, e Ele é a total expressão da responsabilidade de cada um que tem se revestido do novo homem. O Espírito de Deus apresenta, nessa passagem, a Cristo como o padrão para minha caminhada.

E somos chamados para isso como “eleitos, santos e amados”, três termos que são aplicados ao próprio Cristo, então o hino que às vezes cantamos é verdadeiro:

“Tão querido, tão limpo para Deus,Mais querido não poderei ser;O amor com o qual Ele ama ao Filho,Tal é o Seu amor por mim”.

Então nos é dito: “Revesti-vos, pois, como eleitos de Deus, santos e amados, de ternos afetos de misericórdia, de bondade, de humildade, de mansidão, de longanimidade”. Para ser prático, “bondade fraternal” – “Suportai-vos uns aos outros, perdoai-vos mutuamente, caso alguém tenha motivo de queixa contra outrem. Assim como o Senhor vos perdoou, assim também perdoai vós”.

Se vemos falhas em alguém, nós frequentemente vamos até ele para o exortar e o repudiar sobre tal assunto, e depois dizemos o quanto o amamos. Mas, o apóstolo começa aqui primeiramente com o amor e esse é o modo com o qual Deus lida conosco, pois Ele sempre nos mostra Seu amor. Isso me lembra de alguém bem conhecido por muitos dos nossos, quando, não muito tempo antes de sua morte, um parente disse a ele, “Você está a salvo debaixo da sombra de Suas asas”. Ele respondeu: “Debaixo da sombra de Suas asas? Eu estou no centro do coração do Pai!” As asas não eram nem de perto o bastante para satisfazer sua apreciação do amor do Pai.

Cada uma destas características de um Cristão é uma expressão do amor de Cristo. Por exemplo, quem tem compaixão dentro de si, tanta bondade, como Cristo? Veja a história da viúva de Naim em Lucas. Ele encontra no portão da cidade um homem morto sendo carregado, o único filho de sua mãe, e ela, uma viúva. É uma figura perfeita de desolação. E o que lemos? “Quando o Senhor a viu, Ele teve compaixão dela, e disse a ela, não chores”. Nós devemos ter o mesmo tipo de compaixão por cada um nestas circunstâncias.

É isso humildade de pensamento? E também mansidão, porque humildade e mansidão sempre se combinam. Ele disse, vocês se lembram, “Tomai sobre vós o meu jugo, e aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração; e encontrareis descanso para as vossas almas”.

Assim, então, “Suportai-vos uns aos outros, perdoai-vos mutuamente, caso alguém tenha motivo de queixa contra outrem”. Aqui faço uma alteração que temos na margem da Bíblia. Claro que espero que nenhum de nós venha a ter desavenças uns com os outros; mas se nós tivermos pequenas queixas de alguém, o que devemos fazer? Contar a outro, ao invés de perdoá-lo, como Cristo nos perdoou? Todas as coisas que são postas diante de nós podem ser traçadas na vida do nosso bendito Senhor e Salvador quando esteve na terra, e elas devem também nos caracterizar.

Os versos 15 e 16, de Colossences 3, são o que podemos chamar de complementares.

Amados, não é chegado o momento em que devemos apontar para estas pequenas coisas práticas como as que são necessárias para serem trazidas à luz na vida do povo de Deus? A verdade nos foi fartamente concedida . A questão é, nós a vivemos? O que é o uso da verdade, se não a vivermos? Claro que manteríamos a verdade mais persistentemente do que nunca, mas por em prática a verdade, vivê-la é o ponto. O apóstolo Tiago diz: “mostrarei minha fé pelas minhas obras”.

Verdadeiramente Deus tem nos mostrado muitas verdades nestes últimos dias, mas quanto mais verdades temos, mais humildes elas deveriam nos tornar, porque é simplesmente a graça soberana que nos tem dado estas verdades ao invés de a outros, e o bendito Senhor nos mostrou o seguinte princípio: a quem muito é dado, muito é cobrado. Se eu somente tenho as verdades sobre meus lábios, e minha vida não corresponde a ela, a mesma verdade que eu proclamo será a minha condenação. Que nunca nos esqueçamos de aceitar a total responsabilidade de cada exortação na Palavra de Deus.

Temos em seguida: “Seja a paz de Cristo o árbitro em vosso coração, à qual, também, fostes chamados em um só corpo; e sede agradecidos”. É tudo sobre Cristo neste capítulo. Só posso mencionar isto agora: Sua paz deve governar nossos corações! Ele mesmo disse: “A minha paz vos dou”. Quão facilmente estaremos capacitados para enfrentar cada dificuldade se tivermos a paz de Cristo em nossos corações! Vá até as margens de um rio quando a tempestade estiver soprando, quando os ventos estiverem furiosos, veja as correntes vindo e se quebrando na superfície. Mas vá mais fundo daquela superfície turbulenta e tudo estará perfeitamente calmo. Assim é com o Cristão enquanto ele passa pelas tempestades aqui. “A paz de Cristo”, aquela paz que ele apreciou como homem aqui na terra, aquela paz deve habitar em seu coração, e mantê-lo em perfeita calma não importando a tempestade ao redor.

E Sua palavra deve “habitar em vós ricamente em toda sabedoria”. A Palavra deve habitar em mim, antes que eu venha a ensinar outros. Eu posso citar uma passagem em conexão com isto. Em Provérbios 22 nós lemos no verso 17: “Inclina o ouvido, e ouve as palavras dos sábios, e aplica o coração ao meu conhecimento. Porque é coisa agradável os guardares no teu coração e os aplicares todos aos teus lábios”. Percebe que a Palavra deve ser “guardada,” em primeiro lugar e somente depois “aplicada aos teus lábios”? Eu primeiro tenho que fazer minha a Palavra, então ela virá à tona vindo de dentro, pois é aí então que ela fluirá para ensinar e admoestar aos outros.

“Com salmos, e hinos, e cânticos espirituais, com gratidão, em vosso coração. E tudo o que fizerdes, seja em palavra, seja em ação, fazei-o em nome do Senhor Jesus, dando por ele graças a Deus Pai”. Passo agora para o último verso, que é uma palavra muito importante, porque proporciona um teste para tudo.

Jovens crentes, especialmente, quando seu coração estiver se afastando de Deus, farão perguntas como: Que mal há em ir a tais lugares? Não posso ir a um show? Para uma amostra de flores? Eu respondo, sim, se puder fazer isto em nome do Senhor Jesus. O teste se aplica a cada área da vida. Cristo deve ser tudo para minha vida agora. Eu chamo isso de expressar Cristo na minha vida, e Ele deve ser o motivo de todas as minhas ações, a fonte de tudo que eu faço. Os lábios e a vida são os dois únicos canais nos quais podemos expressar alguma coisa, e Cristo deve aparecer nos meus lábios e nas minhas ações.

É tudo muito simples, mas eu creio que o Espírito de Deus nos mostrará de uma nova forma aos nossos corações. A primeira coisa é conhecer nosso lugar como estando mortos com Cristo, sido ressuscitados com Ele e estando prontos para aparecer com Ele em glória, e então não devemos nos desviar da responsabilidade anexada com tudo isso. Assim, enquanto andamos com Ele aqui na terra, todas as tristezas e dificuldades do caminho serão somente ocasiões para ações de graças e louvores a Deus.

Edward Dennett (1831-1914) – Foi um britânico Membro da Igreja Anglicana; Pregador do Movimento Batista na Inglaterra; Escritor; Editor; Dispensacionalista; Líder Adenominacional do Movimento Irmãos Unidos, também conhecido como Irmãos de Plymouth, Assembleia dos Irmãos em Portugal, Casa de Oração no Brasil, ou simplesmente Os Irmãos.