Mulheres Em Silêncio

A proibição à manifestação oral das mulheres encontrada em 1 Coríntios 14:34-36 e 1 Timóteo 2:12 é absoluta para todos os trabalhos da igreja?

Vejamos a proibição transmitida pelo apóstolo Paulo nessas passagens da Bíblia:

“As mulheres estejam caladas nas igrejas, porque lhes não é permitido falar; mas estejam sujeitas, como também ordena a lei. E, se querem aprender alguma coisa, interroguem em casa a seus próprios maridos; porque é indecente que as mulheres falem na igreja. A mulher aprenda em silêncio, com toda a sujeição. Não permito, porém, que a mulher ensine, nem use de autoridade sobre o homem, mas que esteja em silêncio”.

É importante lembrar que na Bíblia a palavra “igreja” nunca se trata de um objeto físico como uma construção ou recinto, mas de uma congregação, neste caso constituída de crentes em Cristo reunidos para oração, ceia do Senhor, culto a Deus e ministério da Palavra.

A igreja geralmente é composta de homens e mulheres, e quando ela se reúne dessa forma, seja onde for, não é permitido às mulheres falar, ensinar, usar de autoridade sobre homem e nem fazer perguntas. Devem estar em sujeição, aprendendo em silêncio. Esse é o alcance da proibição de que lemos aqui. O princípio segundo o qual a mulher não deve ensinar ou exercer a liderança sobre o homem na igreja baseia-se, segundo Paulo esclareceu, no fato que “primeiro foi formado Adão, depois Eva. E Adão não foi enganado, mas a mulher, sendo enganada, caiu em transgressão” (1 Timóteo 2:13,14).

Entende-se que Adão, por ser o primeiro a ser formado, foi dotado com todo o discernimento necessário para a sua sobrevivência. Eva lhe foi dada por companheira, tendo assim uma natureza mais maleável e menos crítica. Formado o casal, o homem foi o líder natural assumindo a responsabilidade conjunta enquanto a mulher lhe deu companhia e acrescentou seus talentos aos dele.

Por este motivo a serpente considerou, com a sua sagacidade, que Eva era mais vulnerável aos seus argumentos, transmitiu a ela as suas insinuações contra Deus, e teve sucesso em levá-la à desobediência. Essas características continuam no gênero humano, e tem sido constatado através dos tempos que as mulheres são convencidas mais facilmente do que os homens. Disto se aproveitam os ensinadores de doutrinas falsas (2 Timóteo 3:6). Algumas mulheres também têm introduzido sérias heresias que nos perturbam em nossos dias.

Essas passagens são claras, imediatamente compreensíveis por qualquer leitor, sem necessidade de maiores explicações. No entanto, são surpreendentes os esforços que têm surgido, de um lado para diminuir o rigor da proibição nas reuniões da igreja, de outro para estender a proibição para outras atividades da igreja que não se qualificam como tais.

A Palavra de Deus evidencia claramente que as mulheres não estão de forma alguma condenadas a um mutismo absoluto em todas as suas atividades, particulares ou nas da igreja, em função desta doutrina. Isto seria uma extravagância.

As mulheres têm grande potencial para contribuir para o trabalho de Deus com seus talentos, e Deus as tem usado através dos tempos para a Sua glória. Elas tiveram partes relevantes no ministério do Senhor Jesus.

Durante a crucificação e imediatamente após a ressurreição do Senhor Jesus, é destacada a presença das mulheres entre os discípulos, tanto que foram elas que receberam a incumbência de levar a primeira mensagem do Senhor, após a Sua ressurreição, aos demais discípulos (Marcos 16:7, João 20:17).

O mesmo apóstolo Paulo que escreveu os textos acima, também nos deu os nomes de numerosas mulheres que se destacaram pelo seu serviço na igreja e em seu ministério, por exemplo, Febe, Priscila, Maria, Júnia, Trifena, Trifosa, Pérside, Júlia e Olimpas (Romanos 16).

Uma mulher que se destacou pelo seu trabalho de evangelismo na igreja primitiva foi Priscila, a esposa de Áquila, um judeu que havia sido obrigado a sair de Roma (Atos 18:2). Ela sempre é mencionada junto com o marido, duas vezes seu nome vem antes do dele (Romanos 16:3, 2 Timóteo 4:19), e Paulo os apresenta a ambos como seus cooperadores em Cristo Jesus. Ela, junto com seu marido, levou para casa Apolo, “um varão eloquente e poderoso nas Escrituras” e “lhe declarou com mais clareza o caminho de Deus”. Uma igreja se reunia em sua casa em Corinto (1 Coríntios 16:19) e também em Roma mais tarde (Romanos 16:3-5).

Não consta haver algum impedimento às orações e intercessões feitas por mulheres fora das reuniões gerais (Atos 1:14, 12:12, 21:5). Mas alguns entendem que, ao orar na presença de irmãos, uma irmã estará tomando para si a liderança do grupo e neste caso estará pecando. Nem todos concordam, mas convém evitar causar escândalo se houver esse entendimento. Muitas igrejas têm reuniões de oração só para as mulheres, para evitar críticas.

As mulheres também não estão proibidas de ensinar em toda e qualquer circunstância. Fora das reuniões gerais da igreja, mencionadas no início deste artigo, e desde que não tomem a liderança sobre os homens, elas têm liberdade e mesmo autoridade para ensinar particularmente ou em grupos. Paulo, por exemplo, mandou que “as mulheres idosas … ensinem as mulheres novas” (Tito 2:3,4). Paulo reconheceu que Timóteo havia aprendido as “sagradas letras” desde a meninice, provavelmente com a sua avó Lóide e a sua mãe Eunice, mulheres de fé (2 Timóteo 1:5, 3:15).

O ensino sistemático em classes, como se faz nas escolas dominicais, geralmente depende muito da disponibilidade de professoras competentes para as crianças e para as mulheres mais novas. Existem vários outros trabalhos e atividades da igreja em que as irmãs podem tomar parte ativa, com proveito para todos. Trabalhos na área de hospitalidade, serviços aos santos e socorro aos aflitos (1 Timóteo 5:10, Tiago 1:27), na área administrativa, secretaria e tesouraria, na área de ministério musical, em corais e no uso de instrumentos musicais, e outros mais que poderão existir.

O “silêncio” concerne falar, perguntar e ensinar. As mulheres estão livres para cantar (Efésios 5:19, Colossenses 3:16), desde que, com isso, não estejam ensinando ou usando de autoridade sobre os homens.

Finalmente, lembremos que as mulheres se distinguiram na Bíblia, entre outras coisas, por:

  1. Terem permanecido junto ao corpo de Cristo até o Seu sepultamento (Mateus 15:47).
  2. Terem sido as primeiras a comparecer ao túmulo na madrugada da Ressurreição (João 20:1).
  3. Terem sido as primeiras a proclamar a ressurreição (Mateus 28:8).
  4. Uma mulher ter sido a primeira pessoa a anunciar o Evangelho em Jerusalém (Lucas 2:37,38).
  5. Terem assistido à primeira reunião de oração depois da Ascenção (Atos 1:14).
  6. Terem sido as primeiras pessoas europeias a receber o Evangelho de Paulo e Silas (Atos 16:13).
  7. Uma mulher ter sido a primeira pessoa convertida a Cristo na Europa (Atos 16:14).

Nunca menosprezemos o grande valor das mulheres na igreja de Cristo!

Richard D. Jones